“o rinoceronte é mais decente,
do que essa gente demente,
do ocidente tão cristão...”.
Belchior
Por Pedro Ferreira Nunes
Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) escreveu diversas obras, entre elas: “Assim falava Zaratustra”, “Humano, demasiado humano”, “A Gaia Ciência”, “A origem da Tragédia” entre outros. Na sua extensa produção filosófica surge um conceito fundamental “ubermensch” que traduzindo para o português significa: além-do-homem ou super-homem como é comumente utilizado em suas obras traduzidas no Brasil. A filosofia de Nietszche é um grito em defesa da vida – de uma vida plena sem as amarras do moralismo cristão. Para compreende-la há seis chaves fundamentais: O niilismo, Morte de Deus, A vontade de Potência, Super-homem, transvalorização e o eterno retorno.
O niilismo é dividido em duas vertentes – o passivo e o ativo. O niilismo passivo é o que nega a vida e está representado pelo cristianismo e pelo platonismo. Já o ativo afirma a vida – e a afirmação da vida se dá pela “morte de Deus”. A “morte de Deus” nos possibilita sair do niilismo passivo para o ativo e nos libertar dos valores cristãos (como ordem, prudência e obediência) e criar novos valores – esses novos valores são criados a partir da vontade de potência que nos levará ao super-homem. Já em relação a questão da transvaloração se dá no momento que a gente supera os antigos valores, por exemplo, a questão do bem e do mal, e na busca pela construção de uma vida expansiva, agressiva e afirmativa. É assim que chegamos ao eterno retorno – que é quando alcançamos uma vida que não teríamos nenhum problema em vivê-la eternamente. Mas só o super-homem chega a esse ponto.
Essas questões não estão numa obra especifica de Nietzsche. Elas perpassam por todo o seu trabalho, caracterizando assim a sua filosofia. Mas para termos uma ideia melhor de como o filósofo trabalha essa problemática analisemos alguns trechos de uma obra especifica sua, a saber, “O anticristo” – que ao contrário do que o título pode sugerir, o foco da contundente critica nietzschiana não é a figura do cristo, mas seus seguidores – os cristãos. Aliás, para Nietzsche só existiu um cristão e esse morreu na cruz, os seus seguidores o que fazem é desvirtuar o seu exemplo.
Cristo foi um super-homem já os seus seguidores caminham na contramão ao negar a vida e cultivar valores medíocres que diminui nossa potência de agir. Devemos buscar o que aumenta a nossa vontade de potência – o que é bom. E o que é bom segundo Nietzsche é aquilo que “eleva o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio poder no homem”. E não a sua submissão.
Para Nietzsche a compaixão ativada pelo cristianismo é mais nocivo que qualquer vício. Portanto deve ser evitado. O cristão é um homem doente que nega a vida e o cristianismo é aquilo que tomou partido pelos mais fracos. E foi além, nas palavras do filósofo – “transformou em ideal aquilo que contraria os instintos de conservação da vida forte”. Isso é, transformou valores fracos em algo bom, quando na verdade é mau. Transformou aquilo que diminui a nossa potência em algo a ser almejado. “Meu argumento é que todos os valores que agora resumem o desiderato supremo da humanidade são valores de décadence”.
E Nietzsche continua descarregando sua metralhadora de crítica ao cristianismo. Pontuando o culto que estes fazem de valores e afetos que deveriam ser evitados, pois ao invés de afirmar a vida, nega-a. É o caso da compaixão. A compaixão é o afeto que caracteriza o cristianismo – um afeto que deveria ser evitado, pois tem um efeito depressivo. “O indivíduo perde força ao compadecer-se”. E para Nietzsche o que não nos fortalece deve ser destruído. Os cristãos transformaram a compaixão numa virtude e para nosso filósofo isso é inaceitável, pois “através da compaixão a vida é negada”.
Diante desse contexto Nietzsche deixa claro quem é a antítese da sua filosofia – os teólogos. “a esse instinto de teólogo eu faço guerra: encontrei sua pista em toda parte. Quem possui sangue de teólogo no corpo, já tem ante todas as coisas uma atitude enviesada e desonesta”. São estes senhores que estabelecem os conceitos de “verdadeiro” e “não verdadeiro”. Isso deve ser superado pelos espíritos livres, que já são o exemplo da tresvaloração de todos os valores.
Para Nietzsche é preciso fazer uma declaração de guerra e vitória em relação a todos os velhos conceitos de “verdadeiro” e “não verdadeiro”. Superando assim essa visão distorcida defendida pelo cristianismo e que tem nos teólogos os seus porta-vozes.
REFERÊNCIA
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. O Anticristo. Tradução: Paulo César de Souza. Editora Companhia das Letras. São Paulo, 2007.
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