Brancão (como era carinhosamente apelidado o ônibus que fazia o transporte dos universitarios de Lajeado) não era só um ônibus. Ele era sobretudo um passaporte de um futuro diferente para muitos lajeandenses – um futuro com mais dignidade. De modo que foi com muito pesar que o vi tomado pelas chamas naquela que seria a sua última viagem.
Foi nele que viajei boa parte dos quatro anos da minha via crussis rumo a UFT para me graduar em filosofia. E não fui o único. Se hoje Lajeado tem entre seus filhos: pedagogos, educadores fisicos, engenheiros, enfermeiros, assistentes sociais, tecnicos em enfermagem, técnicos ambientais, eletrotécnicos, administradores, advogados entre outros – o brancão tem uma enorme cota de contribuição. De modo que sei que o sentimento de pesar não é apenas de minha parte mas de todos aqueles que usufruiram dos seus serviços.
É fato que algumas vezes ele nos deixava na mão, e nos últimos anos então nem se fala. Mas também com a jornada que ele fazia não há veículo que suporte. Além de transportar os universitários de segunda á sexta (de Lajeado para Palmas e Palmas para o Lajeado). Também transportava os alunos da rede municipal de ensino, os idosos do grupo de convivência da terceira idade, usuários da saúde para fazer exame em Palmas. Além das viagens esporádicas nos finais de semana para atender eventos particulares.
Já se tinha consciência que o brancão precisava reduzir suas atividades ou até mesmo se aposentar. Por isso cobravamos da prefeitura um novo veículo para atender exclusivamente os universitários. Mas até então essa aquisição ficara apenas como promessa de campanha. E assim quando o brancão nos deixava na mão tínhamos que nos virar ou se apegar com o amarelinho. E que tortura não era viajar no amarelinho.
- Alguém tem notícia do brancão?
- Será que hoje é o brancão?
- Aquele amarelinho ninguém merece.
- Eh, pelo que vi falar o brancão não tem jeito mais não.
Mas contrariando os prognósticos o brancão voltava. E quão felizes não ficávamos ao vê-lo. Pois significava que teríamos uma viajem com o mínimo (do mínimo, do mínimo, do mínimo) de conforto e num tempo menor (dava até para ir na copiadora tirar xerox e não chegar atrasado na aula e chegar antes da meia noite em casa).
É, sabíamos que a hora do brancão estava chegando, mas já mais poderíamos imaginar que seria assim. Queríamos que ele tivesse uma aposentadoria digna. Afinal de contas, após tanto serviço prestado aos cidadãos dessa pequena cidade, tinha esse direito. Mas não foi esse o seu fim. Acabou sucumbido pelo fogo naquela que se tornou a sua última viajem. E agora será apenas uma lembrança na nossa memória.
Por Pedro Ferreira Nunes – “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário