segunda-feira, 6 de abril de 2020

Crônicas da quarentena: A difícil tarefa de ficar em casa no verão tocantinense.

Abril chegou e trouxe com ele uma nova estação. Saimos do período quente e entramos no extremamente quente. Pois por essas bandas do norte não tem outra opção. Por aqui não há primavera e outono, mas apenas o inverno (periodo das chuvas) e o verão (periodo da seca). A partir de agora a chuva é um elemento cada vez mais raro e o sol é aquele de 50 graus na sombra. Mas para compensar os rios, lagos e córregos se transformam num refúgio ideal para quem quer se refrescar e relaxar.

Oficialmente o período de praia só inicia lá para o mês de junho quando a chuva some de vez. Em julho, devido às férias escolares, temos o auge da temporada. E em agosto, o mês mais crítico devido ao longo período sem chuvas, a temporada é encerrada. Mas para o povo que mora por essas bandas não tem isso de esperar o período oficial de praia. O negócio é fugir do calor como dá. E parece que nem a ameaça da COVID-19 irá mudar isso. Pelo menos é o que tenho notado pelo movimento de gente nos pontos de banho em Lajeado. E olha que abril não é nem tão quente assim como os meses que estão por vim. Mesmo assim as pessoas já não estão conseguindo ficar em casa. Imagine os próximos meses.

Entre morrer de calor em casa ou correr o risco de ser infectado pelo novo coronavírus. Muita gente tem optado pela segunda opção. Até por que como diz o presidente da República, o vírus não passa de uma gripezinha. O problema é quando essa gripezinha começar a fazer os estragos que está fazendo em outros países. Aí o discurso muda, mas será tarde de mais. Não adiantará rezar pois não haverá deus que nos acuda. Nos restará então contar nossos mortos como se tem feito em países como China, Itália,  Espanha, Inglaterra e Estados Unidos. 

Por enquanto tudo isso parece muito distante. Apesar de haver, segundo o G1 Tocantins, a confirmação de 16 casos no Tocantins – nos municípios de Palmas (11), Araguaína (4) e Dianópolis (1). Mas ninguém ainda morreu de COVID-19 no estado corroborando com a tese daqueles que vêem um certo exagero nas medidas governamentais. Daí a pressão para que aja uma  flexibilização das medidas de contenção do novo coronavírus. Pressão que surtiu efeito em vários municípios como Araguaína, Porto Nacional, Paraíso, Pedro Afonso e Miracema. A justificativa é de que o comércio não pode parar pois as pessoas precisão sobreviver.

E falando em sobrevivência a temporada de praia não é só um período para as pessoas fugirem do calor mas é também fonte de sobrevivência para muitas famílias. Desse modo não faltará lobby para que aja, por parte do governo, uma flexibilização nesse setor, se até lá essa situação não tiver sido superada. E se por acaso não houver essa flexibilização, na prática ocorrerá o que já está ocorrendo – as pessoas não respeitarão e o governo  (tanto em nível local, estadual e federal) fará vista grossa, isto é, fingirá que não está vendo. Tanto é assim que levantamentos (Revista Exame) apontam que entre os Estados brasileiros, o Tocantins está na última posição no índice de isolamento.

Se mau entramos em abril e já estamos assim imagine de agora em diante. A tendência é as pessoas irem abandonando o isolamento na medida que o calor vai aumentando e as águas dos rios vão baixando – os ventos gerais vão ganhando força e as queimadas farão seus estragos. É camarada, não será uma tarefa fácil convencer as pessoas a ficarem isoladas nas suas casas nesse clima cruel do Tocantins. No tempo das chuvas até que vai, mas quando entra o verão não há campanha que sensibilize o povo. Desse modo creio que o maior desafio que o governo (do Estado e dos municípios) terá de agora em diante para manter um isolamento eficaz, será a questão do clima.

Pelo que observei no primeiro final de semana do mês de abril será uma tarefa árdua manter esse isolamento de agora em diante. As pessoas começaram a se rebelar e os gestores municipais de olho nas eleições não fazem tanto esforço para conter a rebelião. Por outro lado, em cidades turísticas como Lajeado, quando se consegui convencer as pessoas a ficarem em suas casas, vem a turistada, sobretudo de Palmas (onde tem o maior foco de COVID-19 no Tocantins), e coloca toda a população local em risco. De modo que não tem muito para onde fugir. 

Por fim, o jeito é esperar que o verão tocantinense com suas temperaturas vulcânicas seja uma barreira mais eficaz contra a expansão do novo coronavírus. Pois a depender do isolamento da população, sobretudo no período de estiagem, pode começar a preparar o aumento da produção de caixão. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular. 

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