Óbvio, que historicamente os políticos tocantinenses acabam se aliando com quem está no poder. De modo que a tendência após o primeiro de janeiro é essa. O discurso já mudou. Como pudemos perceber na fala do Governador Wanderlei Barbosa na conferência do clima da ONU. E não será nenhuma novidade se deputados como Carlos Gaguim (ferrenho defensor do Bolsonaro) compor a base do futuro governo Lula. Para esses políticos a sobrevivência política está acima de questões ideológicas. De modo que a preocupação é em ter força política para retribuir o apoio e fortalecer suas bases eleitorais nos municípios.
Wanderlei e Dorinha
Não precisa ser um expert no assunto para apontar que Wanderlei e Dorinha foram os maiores vitoriosos nas eleições estaduais. Não só por terem conseguido ser eleitos. Mas sobretudo como foram eleitos, isto é, com uma vantagem expressiva sobre seus adversários. Além disso, no caso do Governador, elegeu uma base de apoio confortável.
É importante salientar que tanto Wanderlei como Dorinha não são novidades na política tocantinense. Ambos são políticos com uma longa trajetória na vida pública. Mas que agora chegam ao seu ápice. Ele ao ser eleito Governador, ela a Senadora.
Desafios do Governo Wanderlei
Por todo esse histórico na política torna-se bastante previsível o que teremos pela frente – um governo aliado aos interesses do agro. Mas que no entanto deverá conciliar esses interesses com a pauta da sustentabilidade exigida no cenário Internacional. Não será uma tarefa fácil pois trata-se de um setor que acredita que o Estado deve estar ao seu serviço tanto na concessão de benefícios fiscais como ignorando crimes ambientais como desmatamento ilegal, grilagem e uso abusivo de agrotóxico.
Além disso, o Governo Wanderlei também não tem como fugir do enfrentamento a pobreza, em especial a fome, a falta de condições básicas de moradia e a segurança pública. Na saúde e educação então, nem se fala. É cada vez mais insustentável a não realização de concursos públicos, sobretudo na área da educação que tem nos seus quadros hoje uma quantidade substancial de contratatos. Outro ponto é a necessidade de adequar, do ponto de vista estrutural, as escolas para atender o novo ensino médio. Já na saúde será necessário um investimento maior nos hospitais do interior, descentralizando o serviço de alta complexidade. A cultura, tão desprezada nos últimos governos, assim como o esporte, precisaram de ações concretas e permanentes. Nesse sentido espera-se que a volta do salão do livro não fique apenas como promessa de campanha, bem como a disponibilização de editais culturais para todas as áreas.
Diante disso, se por um lado Wanderlei contará com uma base de apoio confortável para que possa governar com certa tranquilidade. Por outro lado temos um cenário desafiador diante do contexto de crise que o país está passando. Bolsonaro deixa um país quebrado que não será fácil recuperar tão facilmente. Sobretudo por que do ponto de vista internacional a situação também não está nada boa. De modo que o governo Wanderlei precisará estabelecer prioridades. Quais serão? Aguardemos.
Aos perdedores...
Mesmo não tendo disputado nenhum cargo público nas eleições de 2022 o Senador Eduardo Gomes sai como um dos grandes derrotados. Tido como um dos políticos tocantinenses mais hábil, com uma capacidade de articulação inquestionável, não conseguiu eleger o seu candidato ao Governo Estadual, e como líder do Governo Bolsonaro no Senado, assistiu sua derrota para Lula no Tocantins tanto no primeiro como no segundo turno. Agora lhe resta 4 anos de mandato no Senado para que possa se refazer, afastando-se do Bolsonarismo e reconstruindo sua base no Estado para a disputa de 2026 – onde poderá concorrer a reeleição ou se aventurar ao Governo Estadual.
Outra derrota que chamou atenção, que nos surpreendeu, foi a do MDB. Este que é certamente a organização partidária mais tradicional do Tocantins amargou um duro resultado ao não eleger nenhum candidato para a Assembléia Legislativa e Congresso Nacional. Com uma forte raiz no interior, o MDB sempre conseguiu votações expressivas, tanto que nas eleições municipais é sempre um dos partidos que mais elege prefeitos. Dessa vez nem o casal Miranda conseguiu ser eleito. E olha que o Marcelo estava disputando o cargo de Deputado Estadual.
Outra derrota, essa nem um pouco surpreendente, foi da família Abreu. Tanto a candidatura aventureira de Irajá ao Governo como da Kátia ao senado não obtiveram êxito. No caso da Kátia, que nos últimos anos passou por uma espécie de metamorfose política assumindo um tom mais moderado, a vitória do Lula lhe beneficiará pois ela certamente terá algum espaço nesse novo governo. Irajá por sua vez tem quatro anos no senado para, assim como Eduardo Gomes, se refazer.
Ainda no hall dos derrotados temos Amastha, que teve uma merecida lição após o golpe dado no pré-candidato a senador Wanderley Luxemburgo. E com isso acabou prejudicando o seu partido que não teve crescimento a nível eleitoral apesar de ter eleito um parlamentar para a assembléia legislativa. Com isso precisará trabalhar bastante para chegar em condição de competitividade as eleições municipais de 2024 – onde poderá disputar a prefeitura da Capital.
Ainda nesse sentido, não poderíamos deixar de falar do Partido dos Trabalhadores (PT), que mesmo com a vitória do Lula no primeiro e segundo turno no Tocantins. E uma votação expressiva do Paulo Mourão. Não conseguiu eleger nenhum candidato para a Assembléia Legislativa e nem para o Congresso Nacional.
Enfim, esse é o cenário político no Tocantins pós-eleições de 2022. Um cenário construído a partir de uma breve análise dos vencedores e perdedores. Assim como dos desafios que terão pela frente. Esse cenário não é estático. Para modifica-ló ou mantê-lo, dependerá de como esses atores se movimentaram no tabuleiro do jogo político no Tocantins. Há outros nomes certamente, mas os destacados aqui são aqueles que tem uma relevância maior no cenário político local.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.