Com os ventos gerais também vem a poeira e as queimadas. Sem falar naquele calor para vendedor de picolé nenhum botar defeito. Mas para compensar tem as praias, não é mesmo?! Apesar que com o lago da usina temos praia o ano todo. No entanto a temporada oficial é diferente. As exposições agropecuárias e as festas juninas formam a trinca que movimenta a vida cultural, fazendo desse período, um período diferenciado. Por isso que quando os ventos gerais começam é como se o ano de fato começasse.
De certa forma, no interior nortista o tempo é vivido de um modo cíclico. Indo portanto, numa perspectiva contrária ao modelo de tempo linear que o calendário tenta nos impor. É a partir dessa compreensão que podemos entender a representatividade dos ventos gerais para a vida local. Pois em última análise estamos falando do início de um novo ciclo, mais relacionado com os fenômenos da natureza do que com o calendário.
Para mim os ventos gerais trazem saudades. Lembro da minha infância, da baixa Preta, da chácara dos meus avós, da Ilha da praia, dos parentes e amigos que partiram. Tomo consciência que o tempo está passando – ainda que no interior ele parece se mover mais devagar. Mas de repente quando você percebe, o rio não é mais o mesmo, a Ilha verde não é mais a mesma, as festas não são mais as mesmas, seus vizinhos não são mais os mesmos, você já não é mais o mesmo.
De repente você está falando: - Ah, no meu tempo as coisas eram diferentes. Quer prova maior de que você está ficando velho? O pior não é envelhecer e morrer. O pior é ver pessoas queridas partir (algumas partem mesmo antes de morrer). Numa conversa qualquer, numa esquina, numa fotografia você se dá conta que fulano de tal não está mais aqui. Ai vem na sua memória a bela canção do Elomar Figueira Melo:
“Mas cadê meus cumpanhêro, cadê/ qui cantava aqui mais eu, cadê/ Na calçada no terrêro, cadê/Cadê os cumpanheros meus, cadê/Cairo na lapa do mundo, cadê/Lapa do mundão de Deus, cadê...”.
Mas assim é a vida, camarada. Ela é constituída das memórias dos encontros e desencontros que vamos tecendo ao longo da caminhada – de uma caminhada que um dia terá um fim, afinal de contas somos finitos. E talvez ai esteja a beleza da vida – o fato de que ela um dia acaba. De modo que devemos nos esforçar ao máximo para que essas memórias, além de saudade, nos traga orgulho do que vivemos – da história que construímos, das amizades que fizemos.
Por Pedro Ferreira Nunes – Apenas um rapaz latino americano, que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.
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