domingo, 5 de fevereiro de 2023

Resenha: Jeff Beck e Johnny Depp - 18

Capa do disco
A relação entre música e cinema não é de agora. E não estou falando de trilha sonora. Mas de artistas que transitam entre esses dois mundos. Geralmente é mais comum vermos cantores se aventurando como ator, mas também temos o contrário como é o caso do Johny Depp.

Famoso por interpretar entre outros personagens icônicos no cimena – o Capitão Jack Spirrow – Johnny Depp juntamente com o guitarrista Jeff Beck – lançou o álbum 18. Composto por canções originais e releituras de outros artistas temos um trabalho de qualidade ao contrário do que nos tenta fazer crer algumas análises preconceituosas. Entre os destaques está a balada “This is a Song for Miss Hedy Lamarr” (com letra de Depp e música de Beck), a releitura de “Isolation” de John Lennon e “The Death & Resurrection Show” da banda Killing Joke. 

É importante ressaltar que a relação de Johnny Depp com a música não é de agora. Há alguns anos ele faz parte da banda Hollywood Vampires, ao lado de lendas do rock como  Alice Cooper e Joe Perre (guitarrista do Aerosmith). Na banda – que além de cover também tem composições próprias – Johnny Depp toca guitarra base e assume os vocais em algumas canções.

Se voltarmos ainda mais no tempo encontraremos Depp antes da fama, tocando guitarra na banda Rock City Angels – antes dele fazer sucesso em hollywood em filmes como “Edward - mãos de tesoura”, “A lenda do cavaleiro sem cabeça”, “Alice no país das maravilhas” e na franquia “Piratas do Caribe”. 

O amor de Depp pela música, em especial pelo Rock também pode ser visto na relação de amizade e admiração que ele nutre por figuras como a cantora Patti Smith e o guitarrista da banda Rolling Stone – Keith Richards. 

Jeff Beck por sua vez dispensa apresentação para quem minimamente aprecia rock in roll. Na ativa desde a década de 1960, foi considerado um dos maiores guitarrista da história. Tendo participado da clássica banda inglesa Yardbirds e construido uma carreira solo respeitável, ele certamente não colocaria o seu nome num projeto qualquer. 

Creio que o disco teria tido uma melhor recepção se não fosse as polêmicas envolvendo o nome de Depp. Sobretudo as acusações de violência doméstica que devastou a sua vida e o tornou uma “persona non grata” em Hollywood. E assim, mesmo que em 2022, ele tenha tido decisões favoráveis nos tribunais contra tais acusações, parte da opinião pública boicota deliberadamente os projetos em que seu nome esteja envolvido. 

Algumas críticas são bem desonestas como no caso da assinada por Felipe Branco Cruz na coluna “Som e fúria” da Revista Veja.

De acordo esse crítico, Depp faz mais pose do que música. Salientando o seu desempenho como guitarrista. No entanto, no álbum 18 a performance principal do nosso artista é no vocal e na composição. Por tanto uma crítica honesta deveria ser focada no seu desempenho enquanto cantor e compositor e não como guitarrista. E mesmo como guitarrista, Depp toca guitarra base. E como tal desempenha muito bem o seu papel. De modo que o crítico parece não entender muito bem de música. 

A conclusão do Felipe Branco Cruz é a seguinte: “não dá para dizer que Johnny Depp não sabe tocar guitarra, mas daí a afirmar que ele é um bom guitarrista há uma distância muito grande” (https://veja.abril.com.br/coluna/o-som-e-a-furia/a-nova-e-barulhenta-aposta-de-johnny-depp-apos-barraco-com-ex/). Ora, onde está a crítica ao álbum 18?

O equívoco desse tipo de crítica está no fato de que ao invés de analisar o produto, faz uma crítica pessoal ao artista. Ora, esse deve ser criticado pelo seu desempenho na obra analisada e não por outra coisa que não tem nada haver. Se o que se pretende é analisar o desempenho de Depp como guitarrista o mais honesto seria focar na sua performance na Hollywood Vampires e não na sua parceria com Jeff Beck no álbum lançado. 

Mas enfim. O fato é que independente das críticas a parceria de Johnny Depp e Jeff Beck produziu um dos melhores álbuns de rock in roll de 2022 (inclusive indicado ao prêmio de álbum do ano pela Brit Awards e avaliação positiva de 96% no Google). O nome que faz alusão ao espírito de juventude que os tomou quando se encontraram pode ser sentido sobretudo nas performances ao vivo na turnê realizada em 2022 onde percebemos os dois se divertindo, acompanhados de músicos excepcionais, com destaque para baixista – Rhonda Smith e a baterista – Annika Niles. 

Por fim, outro motivo que faz desse álbum algo especial foi a morte, no dia 10 de Janeiro de 2023, do lendário Jeff Beck. Fazendo assim com que  18 fosse o seu último trabalho lançado em vida. Há um registro de um  excelente cover de “Gimme some truth” do John Lennon, compartilhado no instagram do Johnny Depp, que não saiu no álbum. O que pode ser indício de que há material registrado para mais um trabalho da dupla. Aguardemos. Por enquanto, apreciemos esse excelente trabalho que nos legaram.

Por Pedro Ferreira Nunes – um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 


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