segunda-feira, 20 de março de 2023

Cíntia e o Transporte Público de Palmas

Um dos grandes problemas das cidades brasileiras é a mobilidade urbana. Agravada por um transporte público de péssima qualidade. Palmas, capital do Tocantins, não foge a regra. O que se dá em grande medida pelo fato das empresas responsáveis pelo serviço estarem preocupadas com o lucro e não com a qualidade do transporte público. De modo que uma mudança de paradigma nesse sentido seria o poder público assumir esse serviço. E foi isso que fez a Prefeita Cíntia Ribeiro (PSDB).

Não deixa de ser surpreendente que a responsável por essa proeza seja do partido que introduziu a política privatista no Brasil. Mas a bem da verdade é que Cíntia tem tido posturas que a coloca num patamar acima dos demais políticos Tocantinenses. Por exemplo, no contexto da pandemia sempre se posicionou favorável a ciências e contrário ao discurso negacionista. Ao contrário da maioria dos políticos com mandato no Tocantins não fez campanha para eleição do Bolsonaro e no episódio do 8 de Janeiro foi a primeira a se posicionar de forma enfática contra a ação terrorista perpetrada pela extrema direita. Além de ser uma gestora que tem uma sensibilidade maior em relação às demandas dos servidores, sobretudo se comparado com a gestão Amastha. 

Óbvio, que nem tudo são flores. Quem vive o dia a dia da capital certamente terá um conjunto de problemas a apontar na sua gestão. No entanto, vivemos tempos tão difíceis, que encontrar um político lúcido, mesmo que não seja do espectro político que defendemos, é motivos para comemorar.

Ao enfrentar a máfia do transporte, Cíntia se coloca em outro patamar. Não só a nível regional como também nacional. Condições para ofertar um serviço de qualidade o poder público Municipal tem. Óbvio que será necessário investimento e uma mudança de perspectiva. Ou seja, a preocupação não deve ser com o lucro, mas com a oferta de um serviço de qualidade que proporcione uma melhor qualidade de vida para o usuário do transporte público de Palmas – a gratuidade do transporte público aos finais de semana é um passo gigantesco nesse sentido. 

É necessário estabelecer uma tarifa justa e manter o programa de gratuidade anunciado. E assim avançar para uma política de tarifa zero como defende movimentos como o Passe Livre. Aliás, esse movimento lembra que o transporte é um direito social garantido na constituição. No entanto, muitos não tem esse acesso a esse direito. Sobretudo por que os interesses empresariais se sobrepõem ao bem comum.

Nesse sentido não é de se estranhar que tenha, e ainda esteja, ocorrendo reações contrárias a medida tomada pela Gestão Cíntia Ribeiro. Ora, Palmas está avançando para 400 mil habitantes. Parcela significativa desses utiliza transporte público. Imagina o tanto de dinheiro que as empresas não perderão ao deixar de ofertar esse serviço. Sobretudo por que lucravam e não investiam na melhoria do transporte.

É nesse contexto que compreendemos as críticas por parte dos adversários políticos da Prefeita. São figuras do mundo empresarial que estão mais preocupados com o interesse desses grupos do que com a população que utiliza o serviço. 

A crítica dos usuários por sua vez são compreensíveis. Eles não estão preocupados em saber quem é o responsável pelo serviço – querem saber de um serviço minimamente de qualidade que atenda as suas necessidades. E como a transição não foi pacífica (não precisa ser especialista para afirmar que houve sabotagem para colocar os usuários contra a Gestão) gerando instabilidade na operação, não se poderia esperar outra coisa. Ainda mais por que faltou mais planejamento por parte da Gestão Cíntia Ribeiro. 

De todo modo não justifica a crítica de que “piorou algo que já era ruim”. E que portanto deveria retornar a gestão do serviço as empresas concessionárias. Ora, uma afirmação nesse sentido é no mínimo apressada. Não dá para comparar anos de uma prestação de serviço com outra que acaba de completar 100 dias apenas. Isso tanto para o aspecto negativo como positivo. 

Como já falamos nesse artigo o poder público municipal tem total condição de gerir o transporte público da capital ofertando um serviço de qualidade a população. Para tanto é importante que os usuários continuem apontando os problemas e criticando aquilo que precisa ser criticado. E a gestão por sua vez, que saiba ouvir essa críticas, absolva-as e busque melhorar.

Se trabalhar como deve ser trabalhado a gestão do transporte público de Palmas pode ser modelo para muitas cidades brasileiras. E quem ganha com isso, claro, é a população. Mas também a Prefeita Cíntia Ribeiro que crescerá muito mais politicamente do que tem crescido e a partir daí vislumbrar vôos mais alto na vida política. E isso certamente tem incomodado muita gente.

Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP Lajeado.


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