segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Os afetos que circulam entre os muros das escolas III

Estamos em outra escola, aqui os professores não deixam de ter os seus traumas pessoais, as condições de trabalho não são as melhores, a valorização salarial também não – o que exige a necessidade de fazer alguns “bicos” para complementar a renda. Mesmo diante de todo esse quadro eles exercem a docência até com um certo entusiasmo, inclusive indo além, se comportando quando necessário como psicólogos e assistentes sociais, tendo em vista a condição do seu alunado. Esse alunado já tem uma certa experiência de vida, já são trabalhadores, pais, avós, e acreditam que a educação pode ser o único caminho para fugirem de uma dura realidade – dominada pela desigualdade e pela violência.


Esse é, de forma bem sucinta, o enredo do seriado brasileiro Segunda Chamada que teve a sua primeira temporada exibida em 2019 na Rede Globo de Televisão, dirigido por Joana Jabace. O seriado mostra o cotidiano numa escola da periferia de São Paulo, no período noturno com turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Entre os vários afetos que circulam naquele ambiente, a esperança é o que prevalece. A esperança da direção e dos professores de, através da educação, oportunizar uma condição de vida digna para os seus estudantes. E dos estudantes que buscam uma vida diferente daquela de sofrimento e privações que estão vivendo. A questão é que a esperança - que Espinoza (2014, p. 65) define como “uma alegria inconstante, originada da ideia de uma coisa futura ou passada, cuja ocorrência duvidamos até certo ponto” - sempre vem acompanhada de outro afeto, a saber, o medo – que nosso filósofo define (2014, p. 65) como “uma tristeza inconstante, originada da ideia de uma coisa futura ou passada, cuja ocorrência duvidamos até certo ponto”. 


Isso se dá por que existe o elemento da dúvida que faz com que quem é afetado pela esperança também seja afetado pelo medo. O estudante tem esperança de conseguir o que almeja, mas nada garante que de fato conseguirá, aí vem o medo. Por outro lado, nada garante que não irá conseguir, e aí vem à esperança. O problema é que se cai num círculo sem saída, um círculo que nos limita de desenvolver toda a nossa potencialidade e que pode nos levar a outro afeto, a saber, o tédio.


Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino do Tocantins no CEMIL Santa Rita de Cássia.

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