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Sim, eu ti amo muito. Mais do que tudo nessa vida.
-
Ama não. Você só tá me enganando, só quer me usar e depois me
jogar fora. Como já fez com tantas outras.
-
Eu ti amo. Como você pode pensar isso de mim? Logo eu que joguei
tudo para o alto para vir atrás de ti. Juro que ti amo.
-
Então prova!
-
Como? O que eu faço?
-
Mata o meu marido e foge comigo.
Rodrigo
recebeu com uma grande surpresa a proposta de Isabela. – Matar?!
Nunca havia passado por sua cabeça matar alguém, mas para atender
ao pedido de sua amada ele era capaz de fazer loucuras.
-
Você sabe que enquanto ele viver não podemos assumir o nosso
romance e sermos felizes. Tá vendo essas marcas pelo meu corpo? Ele
me bate, me maltrata, me tortura. Se descobrir nosso romance matará
nós dois.
Rodrigo
continuava com a cabeça baixa – pensativo. Ele sabia que Luiz –
o esposo de Isabela – Batia nela. Aquilo o deixava furioso, não
entendia o porquê que com toda a humilhação que ela passava ao
lado do marido, ainda continuava casada com ele. No entanto, mesmo
com todo o ódio que ele tinha pelo marido de Isabela, nunca passara
por sua cabeça mata-lo.
Rodrigo
e Isabela eram primos – cresceram juntos e juntos descobriram o
amor – ele foi o primeiro homem de sua vida e ela a sua mulher.
Apaixonaram-se e até sonhavam casar. Mas tal sonho não era fácil
de realizar, sobretudo devido à oposição de seus familiares e a
mentalidade conservadora da cidadezinha do interior onde viviam. E
de fato não se realizou – a vida levou-os por caminhos diferentes.
Isabela deixou a cidadezinha interiorana e foi morar na capital.
Conheceu Luiz – um policial militar com quem se casou. Porém ela
nunca conseguira esquecer o grande amor de sua vida – seu primo
Rodrigo. Ele sofreu muito no dia que soube do casamento de Isabela.
Foi em um bar, tomou todas e mais algumas. Não acreditava na noticia
que recebera de que seu grande amor iria se casar com outro.
-
Então não passavam de mentira as juras de amor que ela me fazia?
Pensava consigo Rodrigo. A resposta era sempre sim. – Só me resta
esquece-la. E assim ele tentou fazer.
Tempos
depois Rodrigo decidiu deixar a pequena cidade do interior onde
morava para seguir até a capital e ali quem sabe construir uma nova
vida. No fundo do seu coração também carregava a esperança de
reencontrar sua amada e quem sabe construir uma nova historia juntos.
Não demorou muito para que Isabela soubesse que Rodrigo estava
morando na capital. O que ocorreu bem no período em que ela
atravessava uma crise tremenda no seu casamento. O fato é que ela
nunca fora feliz ao lado de Luiz. Casara-se com ele mais por
necessidade do que por amor. Luiz era machista e extremamente
violento. Mantinha a esposa tal como uma prisioneira, uma escrava.
Assim ela não pensou duas vezes em se jogar nos braços de Rodrigo.
Quando se viram não conseguiram esconder um do outro que ainda se
amavam perdidamente. E mesmo sobre forte risco passaram a ter um caso
secreto. A vida ao lado de Luiz tornava-se cada dia mais insuportável
para Isabela. No entanto ela sabia que o esposo já mais aceitaria um
pedido de divorcio. Ao contrario, se soubesse que ela estava o
traindo, ele a mataria sem nenhuma duvida. Assim a única forma que
ela acreditava ser possível para livrar-se do marido, seria
matando-o. E ninguém melhor para executar o serviço do que seu
amante.
-
Eu sei que não deveria pedir isso para ti. Ele é mais forte que
você, mais preparado. Seria muito arriscado. Você não daria conta.
-
Você pensa isso mesmo? Acha que só por que ele é policial militar
tenho medo dele? Acha mesmo que não tenho coragem de mata-lo? Nos
conhecemos desde criança e mesmo assim parece que tu não me
conhece.
-
Não é isso. Sei da tua coragem. Mas o fato é que é muito
arriscado. É melhor esquecermos isso. Talvez seja mesmo minha sina
suportar aquele monstro que me espanca todos os dias, que desconta em
mim as frustrações do seu trabalho.
-
Quando disse a ti que te amo acima de tudo, não estava brincando e
que sou capaz de fazer qualquer coisa para provar o meu amor também
não era apenas força de expressão. E para provar que te amo ti
livrarei daquele monstro. Vou mata-lo.
-
Você jura? Você é capaz de fazer isso por mim, por nós, pela
nossa felicidade?
-
Sim meu amor.
Isabela
abraçou Rodrigo e beijou-o loucamente. Despiram-se e transaram
alucinadamente ao som do Motor Head, tal como já mais transaram até
então. Aquela transa selava um pacto entre os dois – o pacto pela
morte do Luiz.
Isabela
tinha tudo planejado há muito tempo: - Amanhã o Luiz vai dar
plantão à noite. Quando ele for para o trabalho eu ti ligo e tu vai
lá para minha casa. Dormimos juntos, ai vou arranjar uma arma para
ti – o Luiz tem um revolver que ele deixa escondido em casa, sei o
lugar pego e passo pra ti. Quando ele retornar do trabalho, quando
abrir a porta de casa você estará lá esperando por ele, dai você
descarrega a arma nele.
-
Amanhã? Já? Questionou Rodrigo.
-
Sim, amanhã. Não podemos perder tempo. Vai ser tranquilo. Ele já
mais vai imaginar que você estará lá em casa esperando por ele de
tocaia.
-
Ok, então. Vai ser amanhã.
-
Olha lá, não vai dar pra trás. Agora tenho que ir, pois se ele
chegar em casa e eu não estiver, vai ser mais uma sessão de
tortura.
Beijaram-se
e se despediram, agora era só esperar o momento que tudo aconteceria
e fazer acontecer. Isabela voltando para casa imaginava consigo: –
agora só basta àquele covarde desistir, mas ele não é louco de
fazer isso comigo. Rodrigo por sua vez estava receoso no que poderia
acontecer. Não o assassinato em si, pois era só apertar o gatilho,
o problema era o que aconteceria depois – a morte de um policial
militar e toda a perseguição que sofreria – tanto ele como sua
amada. E assim não foi pouca ás vezes que ele imaginou desistir, em
não cometer aquele crime, mas pensava no quanto seria decepcionante
para sua amada se ele desistisse. Uma decepção que poderia
significar o fim do romance deles.
Chega
então o dia tão aguardado. Luiz sai para o trabalho e duas horas
depois Isabela liga para Rodrigo: - Meu amor, ele já foi para o
trabalho, pode vir. Já estou com a arma em minhas mãos. Vem logo
que estou louca pra ti ver. E não se preocupe que tudo vai dá
certo. Tudo vai ficar bem e seremos muito felizes.
-
Ah aquela voz. A voz doce de Isabela no telefone, sussurrando no
ouvido de Rodrigo o deixava maluco. Ele se esquecia de tudo, só
pensava em esta com ela, em abraça-la, beijar todo o seu corpo e
transarem alucinadamente tal como da ultima vez que se encontraram.
Ao chegar a casa dela, ele não se arrependeu tiveram uma noite de
amor incrível com muito sexo, drogas e rock in rol. A noite foi tão
maravilhosa que passou rapidamente, tão rapidamente que eles nem
perceberam que já começava raiar o sol de um novo dia.
-
Rodrigo, Rodrigo, tá na hora ele esta chegando, o Luiz tá chegando.
Esconda-se que eu vou abrir a porta pra ele, quando ele entrar atire.
-
Amor, cheguei, abra a porta. Falou Luiz
-
Já vai. Gritou Isabela. Em seguida virou para Rodrigo dando lhe um
beijo e dizendo – é agora meu bem.
-
O que você estava fazendo que demorou tanto para abrir essa porta?
Gritou Luiz com Isabela.
Mas
antes que ela respondesse e que ele se quer colocasse os dois pés
para dentro da casa ouve-se então os disparos – Pum, pum, pum. Sem
nenhuma reação Luiz cai morto no chão. Rodrigo está tremulo com o
revolver na mão olhando para o corpo do Luiz já sem vida, não
acreditando no que acabara de fazer. Isabela por sua vez tinha um
estranho sorriso nos lábios, um sorriso macabro. Ela vai até o
marido que está morto no chão, senti o seu pulso e diz: - Ele esta
morto. Rodrigo continua paralisado com a arma na mão, parecendo esta
em estado de choque. Isabela por sua vez pega a arma que Luiz trazia
na cintura vira para Rodrigo e lhe dá três tiros – pum, pum, pum.
Em seguida ela liga para policia e conta tudo que havia acontecido.
-
Meu primo Rodrigo invadiu a minha casa para roubar. Meu querido
marido tentou reagir, eles trocaram tiro e se mataram.
Pedro
Ferreira Nunes – É escritor popular tocantinense.