segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

José Porfírio: Símbolo da luta por reforma agrária no norte do Brasil.

...temos a certeza de as pessoas honestas de Goiás, quando tomarem conhecimento da verdadeira situação de Formoso, irão concluir que os bandidos e invasores não somos nós, posseiros, que há tantos anos desbravamos essas terras e que as custas de um trabalho duro e muitas vezes heroico a valorizamos. Invasores são os grileiros, que agora tentam outra vez nos expulsar de nossas posses... e que só não nos assassinaram ainda porque temos as nossas carabinas e com elas defendemos as nossas vidas.”
José Porfírio
Por Pedro Ferreira Nunes

Era a década de 50. O camponês José Porfírio vivia com sua família no norte do estado de Goiás, o município de Pedro Afonso (hoje estado do Tocantins). A vida por ali não era fácil, José Porfírio trabalhava para sustentar sua família em terras alheias, no entanto o seu sonho era ter o seu próprio pedaço de chão para produzir e viver dignamente.

Foi então que ele ficou sabendo de um tal programa do governo federal que estava dando terras para os camponeses sem terra. Era o governo Vargas e o programa era a tal marcha para o oeste. José Porfírio decidiu partir com sua família e outros tantos camaradas em busca do tão sonhado pedaço de terra.

No lombo de animais de carga José Porfírio partiu em busca do seu sonho. Foi então que chegou a Uruaçu em uma região que era conhecida como Formoso das trombas. Nessa região havia uma grande área de terras devolutas que pertenciam ao governo federal, foi essa área que fora ocupada por José Porfírio e outras centenas de camponeses pobres de diversas regiões de Goiás e do Brasil.

Com o projeto de construção da BR153 (Belém/Brasília) as terras ocupadas pelos camponeses pobres começaram a supervalorizar, a burguesia agrária da região logo cresceu o olho nas terras ocupadas pelos camponeses, e assim montaram um grande golpe com o objetivo de se apropriar da área e expulsar os camponeses que legitimamente ocupavam aquelas terras.

Os poderosos da região conseguiram por seu plano em prática, grilaram documentos, isto é, forjaram e falsificaram documentos que falsamente lhes dava a posse daquela área, que na verdade eram terras devolutas que pertenciam ao governo federal.

Com isso os falsos donos da área começaram a pressionar os camponeses pobres que ocupavam aquelas terras a dar parte do que eles produziam para os falsos proprietários, os que não aceitavam sofriam violência e eram expulsos por jagunços de suas parcelas.

José Porfírio desde o inicio se negou a cair na chantagem dos grileiros, desempenhando um importante papel na organização dos camponeses pobres bem como se colocando na linha de frente da luta pela posse daquelas terras. Com isso tornou-se uma das figuras mais perseguidas, teve sua casa queimada e sua primeira esposa fora assassinada, quando de uma viajem que ele fizera buscando solucionar o problema que eles enfrentavam, isto é, conseguir a posse verdadeira daquelas terras.

Mesmo com esse golpe brutal José Porfírio não desistiu da luta, ao contrario, foi a partir desse duro golpe e de perceber a omissão do estado em buscar solucionar aquela questão, o que não é novidade, pois ao longo da historia do nosso país vemos o estado brasileiro, independente de qual governo de plantão sempre se colocando ao lado dos mais poderosos, da burguesia, do capital.

Diante desse quadro José Porfírio e seus companheiros perceberam que só havia uma alternativa lutar com armas nas mãos pelo que pertencia a eles de fato. A terra que eles cultivaram e o alimento que eles produziam com muita dificuldade não seriam dados de mãos beijadas para aquela corja de bandidos que queriam roubar suas terras.

Como também eles não mais aceitariam ver seus companheiros sendo assassinados, suas mulheres e filhos sendo violentados e eles de braços cruzados. Aqueles camponeses pobres até poderiam ser expulsos daquela área, mas para tanto teriam que mata-los, pois eles estavam dispostos a resistir lutando com armas nas mãos.

E foi assim, com arma nas mãos que os camponeses pobres liderados por José Porfírio e outros valorosos camaradas resistiram à tentativa da burguesia agrária da região de formoso das trombas de tomar suas terras. Defensor da necessidade de organização e da luta coletiva José Porfírio juntamente com seus companheiros criaram uma associação dos camponeses pobres para continuarem lutando pela posse de fato daquela área como também por melhorias para região.

Devido a seu importante papel como defensor ferrenho da causa camponesa foi que José Porfírio foi eleito deputado estadual por Goiás, o primeiro camponês a ser eleito deputado na historia do Brasil. E José Porfírio ao contrario do que muita gente faz, que depois que é eleita vira as costas para quem o elegeu e esquece das causas por que sempre lutou, ele não.

Ele passou a ser uma das figuras mais conhecidas no cenário nacional, desempenhando um papel importantíssimo na organização do campesinato goiano e brasileiro, bem como fazendo da sua cadeira no parlamento uma trincheira em defesa da reforma agrária. José Porfírio que sabia da importância da terra para o campesinato pobre, para sua subsistência, para se viver com dignidade, ele que sofrera na pele juntamente com seus companheiros a violência por parte da burguesia agrária goiana, não iria agora virar as costas para o povo que o elegeu e a causa pela qual tantos camaradas seus incluindo sua esposa perdera a vida.

Com o golpe militar em 1964 e a perseguição a todos aqueles que acreditavam e lutavam por um país justo e igualitário aumentou. José Porfírio que estava na trincheira dos que lutavam por um país melhor, não teve destino diferente. Seu mandato de parlamentar foi cassado. Por quê? Porque defendia uma causa justa? Por que defendia o campesinato? Por que defendia a reforma agrária? Que crime a nisso? Mas os militares o viam como criminoso, tanto que ele foi preso.

Mesmo perdendo o mandato de deputado, José Porfírio não desistiria da luta e passou a defender com veemência assim como Carlos Marighela, o Capitão Lamarca, os guerrilheiros do Araguaia e outros tantos valorosos camaradas a necessidade de resistir através da luta armada a ditadura militar. Mas infelizmente teve pouco tempo para lutar.

A história oficial aponta que ele desapareceu no ano de 1972, quando voltava para casa após sair da prisão em Brasília, o ultimo lugar onde foi visto foi à rodoviária da capital federal. No entanto sabemos que ninguém desaparece do nada, sem deixar nenhum rastro. Os arquivos militares que na sua maioria ainda não veio à luz, com certeza mostraram que fim levou José Porfírio.

No dia que desapareceram com José Porfírio da rodoviária de Brasília, os militares que o assassinaram e jogaram o seu corpo em um lugar onde não podia ser encontrado. Pensaram que o mataram, mas José Porfírio não morreu. Pois aqueles que lutam por um ideal justo, que se dedicam e sacrificam por uma causa não morrem. Os mártires do povo, da classe trabalhadora da cidade e do campo não podem ser mortos, eles ‘são sementes que quando jogados no seio da terra dão frutos’. Já dizia o poeta.

E José Porfírio deu muitos frutos que continuam sua luta, em especial nas margens das rodovias do nosso país na luta por reforma agrária e justiça no campo. São milhares de José Porfírio que resistem bravamente em barracas de lona nas margens das rodovias enfrentando sol, chuva, a fome, a falta de politicas públicas que atendam minimamente as necessidades da população campesina. São milhares de José Porfírio em marcha, ocupando latifúndios improdutivos, defendendo o meio ambiente e produzindo para alimentar a nação. São milhares de José Porfírio que resistem as balas genocidas dos latifúndios, a omissão do estado e a impunidade da justiça.

José Porfírio é um símbolo da luta por terra e justiça no campo no Tocantins, em Goiás, na região norte, em todo o nosso país. Ele continua vivo, seu exemplo, sua luta. E a maior homenagem que podemos prestar a este grande símbolo da nossa região, a esse grande mártir da luta camponesa do nosso país. – É continuarmos a luta por uma reforma agrária de fato no Brasil. Uma reforma agrária radical. Que acabe com o latifúndio, que destrua o agronegócio e de a terra ao camponês, a quem nela de fato trabalha.

- Viva o camarada José Porfírio!

- Viva a luta por reforma agrária!

Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Contos interioranos

Kátia treck treck

Por Pedro Ferreira Nunes

- E ai Kátia quer dá um pega?! Vai lá.

- Eita João, você sabe que o Zé não gosta que você fuma maconha aqui, por causa dos meninos pequeno.

- Eu sei, mais ele tá para o trabalho e não vai chegar agora. Vai meu dá um pega. Só um peguinha.

- Hum eu não. Isso vai me deixar doida. Mais do que eu já sou. E o Zé não deve demorar muito não.

Kátia era discípula da esbornia. Gostava de tomar cachaça como poucos. Quanto mais, melhor. Dificilmente encontrava alguém que disputava com ela na cachaça. No entanto esse era o seu único vicio, além de um porronca (fumo de palha), mas outro tipo de entorpecentes não usava, sobretudo a tal da maconha que era comum por ali.

Ela não era contra, ao contrario, tinha muito amigos que gostavam da erva. Ouvia varias historias a cerca do efeito da maria joana, no entanto nunca havia visto nenhum comportamento condenável por parte dos seus amigos que fumavam maconha. Mesmo assim ela nunca sentiu vontade de dar um ‘tapinha’ num baseado. Porém naquele dia diante da insistência de João, Kátia sentiu-se tentada a experimentar.

- Só um tapinha meu. É de boa.

- Então tá.

- Puxa, prende e solta viu.

Kátia fez como João havia lhe orientado. Deu uns pega no baseado e ficou de boa. Pensou consigo:

- Isso não é o veneno que todo mundo fala não. Eu tô de boa. Tô de booooooa.

Mas de repente. Algo estranho começou a acontecer. Kátia virou a cabeça para o lado e escutou treck, virou para o outro treck.

- Meu Deus. Que diabos é isso? O que esta acontecendo comigo?

Todas as vezes que Kátia movimentava a cabeça ouvia um barulho no seu pescoço – treck, treck. Ela começou a desesperar.

- João, João você tá ouvindo, olha esse barulho no meu pescoço.

Kátia mexia o pescoço para que João ouvisse o barulho. Para ela todos podiam ouvir o Treck, treck. João percebeu que era a ‘viagem’ da erva e começou a sorrir da amiga. Kátia cada vez mais desesperada imaginava:

- Será que vou viver a vida inteira com esse barulho? Treck, treck.

Ao ver o desespero de Kátia que só aumentava João orientou-a a tomar um copo de leite para cortar o efeito da erva. Após tomar o copo de leite em alguns minutos aliviada Kátia percebeu que o treck, treck havia desaparecido.
Desse dia em diante Kátia que nunca sentiu-se atraída pela erva sagrada dos rastas. Nunca mais iria colocar um baseado na boca. Já pensou se o treck, treck voltasse?

- Não, isso não é para mim. Prefiro cachaça mesmo.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Poema: A Lua e o Sol


           Lá no céu eu vi a lua,     
      lá no céu eu vi o sol.
Não existe sol sem lua,
não existe lua sem sol.

Assim sou eu e você,
assim somos nós dois.
A gente se completa
como feijão com arroz.

Sem você eu não existo,
você existe sem mim?
Sem mim você existe?
eu não existo assim.

Assim como o sol não existe sem a lua,
eu não existo sem você.
Vê se deixa de besteira
e passe aqui pra me ver.

Do livro 'Minha poesia', por Pedro Ferreira Nunes

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

In mémoria do Poeta Manoel de Barros

A morte do Poeta

Por Pedro Ferreira Nunes

Hoje à tarde andando pelo cerrado

Encantado observava os pássaros em revoada.

De repente o tempo fechou

O céu escurecei

E assim do nada choveu.

E como choveu.

Mais tarde descobri

Que era a natureza do Lajeado
Chorando a morte do poeta Manoel de Barros.


Lajeado – TO. 13 de Novembro de 2014.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cronica: Minutos que parecem horas, horas que parecem minutos.


Por Pedro Ferreira Nunes

Tem momentos das nossas vidas que sentimos que o tempo passa tão depressa, sobretudo quando estas são horas prazerosas – é como se o tempo voasse. Por exemplo, quando estamos ao lado da pessoa amada ou em um momento de diversão com nossos amigos.

Mas também a momentos de angustias onde as horas passam como se fossem minutos – por exemplo, quando o nosso time de futebol esta perdendo o jogo, ou quando precisamos chegar a um determinado lugar em certo horário e estamos atrasados, e foi uma experiência dessas que me fez querer escrever este artigo.

Estes dias precisei fazer uma prova de um concurso público em Palmas. Era um domingo e estava no Lajeado, para tanto precisava me deslocar 53 km ainda por cima dependendo de transporte público. Como sei que não é fácil conseguir um transporte em um dia de domingo para qualquer lugar do nosso estado, como também que não há muita solidariedade por parte dos motoristas que cortam nossas rodovias, decidi ir bem cedo para que não corresse qualquer risco de perder a prova.

No entanto ao chegar ao ponto de ônibus o tempo foi passando e nada do tão esperado transporte surgir na curva do Morro do Segredo. Cada minuto ali parecia uma eternidade, sobretudo por que eu não havia levado relógio ou celular e por tanto acabei perdendo a noção das horas. O ônibus não vinha e a certeza de que perderia a prova já era real. Comecei a sentir um grande ódio por perder todo o tempo que perdi estudando conteúdos insignificantes ou a grana da inscrição que daria para mim tomar muita cerveja.

Quase em total desespero pensei em me jogar no meio da rodovia, quem sabe um caminhoneiro não pararia para me dar uma carona ou qualquer outra alma caridosa. Mas não tive tanta coragem assim. Continuava na minha espera pelo ônibus que não vinha. Lembrava-me da máxima que diz – quando mais queremos uma coisa, mais ela demora de vir. Assim procurava pensar em outras coisas, cantarolar uns rocks, mas não tinha jeito.

Por tanto era melhor rezar para o tempo parar, olhava para o céu tentando decifrar que horas seriam. Mas infelizmente não herdei o dom do meu avô Chô que tem a capacidade de saber as horas apenas olhando para o sol.

Quando o meu desespero já estava no limite chegou uma menina que também iria pegar o ônibus para Palmas. Animei-me, sobretudo quando perguntei-a que horas eram.

- São 12h35.

- O que? 14h35? Por um momento achei que tudo havia se acabado. Como eu havia passado tantas horas ali? Eu achava que o tempo havia passado de pressa, mas o tempo havia passado mais de pressa do que eu imaginava.

- Não. São 12h35.



Que alivio. Afinal não havia muito tempo que eu estava ali, mesmo que o ônibus demorasse mais de uma hora ainda eu conseguiria chegar a tempo de fazer a prova. O alivio maior foi quando ela falou – é de agora em diante que os ônibus começam a passar e de fato dez minutos depois da chegada dela ali – o ônibus que esperei tão desesperadamente surgiu enfim na curva do Morro do Segredo. – Que minutos foram aqueles, pareciam horas.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Encontro da juventude do movimento popular tocantinense

“Lutam melhor, os que têm belos sonhos.”
Ernesto Che Guevara

Por Pedro Ferreira Nunes

Mistica de abertura
Era uma sexta-feira (31 de outubro de 2014), havia chovido o dia todo, o clima estava bom, ao contrario do calor excessivo que é comum por essas bandas. Que lugar lindo – a imensa cordilheira de serras a leste, a oeste o rio Tocantins, e em volta o nosso riquíssimo cerrado. Tantas árvores, tantos frutos e o canto dos pássaros então!Foi assim que vários jovens dos quatro cantos do estado do Tocantins – Bico do papagaio, sudeste, norte e centro chegaram a Fazenda da Esperança em Lajeado do Tocantins para participar do encontro da juventude do movimento popular tocantinense organizado pela Rede de Educação Cidadã.

Que felicidade é reencontrar vários rostos conhecidos, camaradas conhecidos em outras jornadas – abraços, beijos e muito bate papo. O bom também é conhecer novos rostos, camaradas que em três dias farão parte de nossas vidas por toda a eternidade. Quando encontramos com pessoas que compartilham dos mesmos ideais que nós, é como se conhecêssemos essa pessoa desde sempre. A empatia é instantânea, o carinho e o amor que sentimos um pelo outro também.

Mas o que estes jovens que vieram de tão longe como, por exemplo, Taguatinga, Porto Alegre, Nova Olinda, Jalapão estão fazendo ali? O que querem? O que procuram? O que os movem? O objetivo desses jovens não a diversão, fazer turismo, conhecer as belezas naturais do local, não. O objetivo desses jovens sem terra, indígenas, quilombolas, estudantes, do campo e da cidade é discutir o preconceito, a exclusão e a luta da juventude por igualdade social.

A juventude do movimento popular tocantinense não tem tido motivos para festejar, a conjuntura não esta fácil. Os governos de plantão não defendem as bandeiras da juventude.
- Não basta falar dos jovens, é preciso falar com os jovens!

- Precisamos nos organizar e nos formar para enfrentar os ataques aos direitos da classe trabalhadora!

Trabalho em grupo
Os desafios são muitos, mas o entusiasmo e o fervor revolucionário dessa juventude mostra que ela esta a altura dos desafios colocados.

- Precisamos fortalecer e trazer mais gente para nossas fileiras!

E assim segue o nosso encontro com muito debate, reflexões e questionamentos da conjuntura regional e nacional bem como os desafios para juventude no próximo período.

- Kátia Abreu no Tocantins, Ronaldo Caiado em Goiás, José Serra em São Paulo, Tarso Jereissati no Ceará, Bolsonaro no Rio. Não nos iludamos temos um congresso mais conservador o que vai ao contrario do interesse da juventude que é rebelde por genética.

O nosso encontro continua com um debate enriquecedor, mas também com muita musica, dança e poesia. A troca de experiência com os internos da Fazenda da Esperança nos dá total convicção que a questão das drogas deve ser tratada como uma questão de saúde pública e não de policia.

Momento de lazer
Nos intervalos contemplamos as belezas do local, tomar um banho no rio Tocantins, andar pelo cerrado. Até mesmo jogar futebol com o clássico entre “Os com camisas X descamisados”. Ou então jogar vôlei. A noite tem Sarau com a juventude mostrando todo o seu talento com muita musica, dança e poesia – Súcia e Hip hop, Forró e Rock, o que não falta é diversidade, aliás, essa é a nossa identidade.

- Por que ainda existe tanto preconceito? Racismo, machismo, homofobia? Por que não respeitar a diversidade do nosso povo que é tão rica?

A juventude precisa ser ouvida, lutemos para que tenhamos nossos direitos garantidos. Direito a educação de qualidade, a saúde, a cultura, ao esporte. Direito de poder se expressar, de vestir-se como quiser, de ouvir o que quiser. Assim conclamamos por políticas públicas que garanta os direitos dos jovens.

Por fim chegamos ao ultimo dia do nosso encontro. É hora de avaliar a caminhada, no que avançamos. O que é preciso fazer para que avancemos ainda mais. Pela animação de todos e a disposição de luta é fato que o encontro foi um sucesso. Só pelo fato de juntar quase 50 jovens das quatro regiões do Tocantins, de diversos movimentos populares para discutir sobre a conjuntura nacional e regional, sobre os desafios da juventude tocantinense no enfrentamento do preconceito e da exclusão bem como na busca pela igualdade social foi mesmo um grande sucesso. Mas é obvio que sempre podemos avançar ainda mais.


Chega o momento de nos despedimos dos velhos amigos e dos novos que fazemos. Então


jogamos nossas mochilas nas costas e pegamos a estrada para nossas casas. Mal nos separamos e não podemos deixar de sentir saudades de seres incríveis – Do bom embate, das reflexões, dos questionamentos, da boa convivência. Mas nos anima o fato de saber que um dia nos encontraremos nas trincheiras da luta de classes do nosso maiúsculo Tocantins. 

Fazenda da Esperança. Lajeado-TO, 02 de Novembro de 2014.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Conto: O Reencontro

Por Pedro Ferreira Nunes

Paulo estava sentado no ponto de ônibus esperando o veiculo para seguir até a capital. Fumando um palheiro e observando a belíssima serra na sua frente. - Precisava arrumar algumas coisas na capital que era impossível de serem realizadas na pequena cidade em que morava.

Desde que voltara para sua terra natal pensava em encontra-la, aquela que fora a sua amada, o seu grande amor. No entanto após tanto tempo ali já havia perdido a esperança de reencontra-la. Perguntou alguns amigos se por acaso sabiam alguma noticia dela, no entanto ninguém sabia. As coisas por ali não haviam mudado tanto, mas muita gente da sua geração havia ido embora dali tal como ele o fizera. Assim Paulo ficava pensando o que será que havia acontecido com sua amada.

- Será que ela continua casada com aquele cara? Será que teve filhos? Em que cidade esta morando, em que estado?

Paulo conheceu-a no colégio. Ambos tinham apenas 14 anos. Paulo ainda não namorava, ela já estava noiva e logo se casou. Desde que há viu pela primeira vez ele se apaixonou por ela, já ela gostava de outro. Com o tempo eles se aproximaram e ela que vivia um momento de crise no seu casamento começou a se aproximar de Paulo e também se apaixonou por ele.

A cada dia a paixão dos dois só aumentava, no entanto ela continuava casada. Paulo a amava com todas as suas forças, mas não tinha coragem de toma-la em seus braços e rouba-la do seu marido. Paulo era um covarde. – Amava-a muito, mas não tinha coragem de se declarar.

Ela o amava, Paulo bem sabia. Todos que os viam juntos falavam que eles estavam tendo um caso. O boato se espalhou e o marido dela proibiu-a dela se aproximar dele. Percebeu que estava perdendo sua mulher para aquele menino e se ele não tomasse uma atitude a perderia de vez.

A duras penas Paulo teve que se afastar de sua amada isso lhe doeu muito no coração. Ele bem sabia que se tivesse coragem ela largaria o seu marido e ficaria com ele, mas ele não tinha força para rouba-la.

De repente o ônibus surge na estrada. Paulo levanta e dá com a mão para que o automóvel pare. Quando Paulo entra não pode acreditar em quem ele está vendo na sua frente sentada sozinha em uma poltrona. Sim era ela. Continuava linda como sempre. Mas estava com a cara de poucos amigos. Si quer olhou para Paulo e quando fez, o fez com certa indiferença.

Paulo não pode deixar de se sentir desapontado. Esperou tanto por aquele momento, imaginou tanto como seria. Fez tantos planos. Mas as coisas já não era como antes, como pode passar por sua cabeça que ela continuava gostando dele e que agora depois de tantos anos ele teria a chance de viver o amor que não puderam viver na juventude.

Chegou a pensar em sentar ao lado dela. Puxar conversa com ela. Saber como ela estava o que tinha feito em todos esses anos que não se viam. Mas o olhar de poucos amigos dela o afugentou. Paulo pensava: - Tudo bem que ela não o amasse mais, mas esse olhar dela de ódio o machucava por dentro. Aquela raiva que transparecia no seu olhar seria dele?

Paulo teve medo de cumprimenta-la e sentar junto dela, imaginou que ela seria áspera com ele e não suportaria mais essa decepção. Eles que se amaram tanto outrora estavam ali, mas si quer se cumprimentaram.

O ônibus entra na capital. Ela se levanta e caminha para porta. Para diante de Paulo abre um grande sorriso e diz:

- Olá Paulo quanto tempo? Tudo bom contigo?

Paulo não pode deixar de se sentir surpreso e responde-a:

- Oi menina tudo bem?! Onde você esta morando?

- Continuo morando lá e estou trabalhando aqui na capital.

Paulo pensou na ultima vez que viu ela. Encontraram-se na rua, ele a cumprimentou, tomou coragem e falou com ela.

- Menina casa comigo?

Ela olhou para ele e sorriu. Agora ali diante dela ele pensava nessa proposta que fizera a ela há tantos anos atrás. O ônibus estava chegando ao ponto em que ela iria descer. Paulo toma coragem e quando o ônibus para ele pergunta:

- Você pensou na proposta que eu ti fiz?

- Que proposta?

- Aquela proposta meu.

- Não me lembro. Qual?

- Casa comigo? 

Ela abriu um grande sorriso e não lhe respondeu. O ônibus seguiu e ele teve a certeza que a historia deles ainda não havia acabado. Ele a amava e ela ainda o amava.