Cantai-vos oprimidos
Cantai-vos irmãos
Cantai-vos em memória
Da grande revolução.
Cantai vossos mártires
Que a vida dedicou.
Pela libertação do povo
Sagrada prova de amor.
Cantai o grande Lênin
A Alexandra Kollontai.
Ao grande Leon Trotsky
Camaradas imortais.
Cantai a Lunatcharski
Ao grande Pavel Dybenko.
Ao Sverdlov, Antonov
E a Nikolai Krylenko.
Cantai-vos oprimidos
Cantai-vos irmãos
Cantai-vos em memória
Da grande revolução.
Cantai a aliança
Operária e camponesa.
Liderada pelos bolcheviques
Marcharam com firmeza.
Cantai os bolcheviques
Que não se deixaram capitular.
Pelo discurso reformista
Que estava a dominar.
Cantai os dias que abalaram o mundo
Cantai a pleno pulmão.
Em honra do grande outubro
E de outros que ainda virão.
Cantai-vos oprimidos
Cantai-vos irmãos
Cantai-vos em memória
Da grande revolução.
Pedro Ferreira Nunes. Casa da Maria Lucia. Lua Crescente – Outubro de 2017. Lajeado – TO. Centenário da Revolução de Outubro de 1917.
quarta-feira, 4 de outubro de 2017
COLETIVO JOSÉ PORFÍRIO: ISTVÁN MÉSZÁROS: PRESENTE!
NOTA DE PESAR
Como um Coletivo de Educação Popular que tem como principio a defesa de uma educação para além do capital. Uma educação que seja um instrumento de formação, organização e fortalecimento das lutas da classe trabalhadora. Não poderíamos deixar de expressar nossa profunda tristeza com á noticia do passamento do camarada István Mészáros – Filósofo e Educador húngaro.
Dentro dos diversos trabalhos relevantes que ele produziu, nós do Coletivo José Porfírio temos o carinho por um em especial, por ter se tornado uma referência na nossa luta. Trata-se do livro “A educação para além do capital”, uma espécie de manifesto em defesa de uma perspectiva revolucionária no âmbito educacional. Uma contribuição importante especialmente num momento em que o discurso reformista se coloca como única alternativa possível. Mészáros é enfático a esse respeito: “limitar uma mudança educacional radical às margens corretivas interesseiras do capital significa abandonar de uma só vez, conscientemente ou não, o objetivo de uma transformação social qualitativa”.
Para Mészáros precisamos lutar por uma educação para além do capital – uma educação emancipadora, que se faz através da formação para consciência critica e para desalienação. Mészáros afirma: “Educar para outro mundo possível é educar para qualidade humana para além do capital”.
Nós do Coletivo José Porfírio nos comprometemos a levar adiante essa tarefa tão necessária que Mészáros nos legou, isto é, a luta por uma educação para além do capital. E, por conseguinte por outro mundo possível. Não são tempos fáceis para luta daqueles que não se rendem aos ditames do capital. No entanto inspirados no seu exemplo de vida não deixaremos de resistir e lutar.
Á noticia do seu passamento é ainda mais triste pelo fato de acontecer justamente no mês em que mundialmente celebramos os 100 anos da revolução bolchevique. Mês que agora também será marcado pela perda de tão valoroso camarada – que tanto contribuiu através da sua militância com a luta internacionalista pela emancipação dos oprimidos. Por isso encerramos essa nota citando os versos que os bolcheviques cantavam para seus camaradas tombados na luta: “Adeus irmão! Trilhastes pela senda verdadeira. Um dia há de chegar, e o povo há de despertar, Grande, poderoso e livre... Adeus, irmão”.
Pedro Ferreira Nunes
Pelo Coletivo de Educação Popular José Porfirio
Casa da Maria Lúcia. Lajeado – TO. Aos Quatro do Mês de Outubro de 2017. Centenário da Revolução Bolchevique Outubro de 1917.
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
A Greve dos Professores da Rede Municipal de Palmas e a Intransigência de Carlos Amastha
Professores que estão em Greve de fome. |
A intransigência é uma das principais
características da gestão municipal comandada pelo prefeito Carlos Amastha
(PSB). Intransigência que se expressa inclusive na utilização da força. Foi o
que vimos recentemente no despejo de famílias sem teto pela guarda
metropolitana. Intransigência que vemos agora na recusa em dialogar com mães e
pais de família que legitimamente lutam pelos seus direitos. Trabalhadores que
chegaram ao extremo de fazer uma greve de fome para poder ser ouvidos.
Qual a justificativa para mais essa postura
intransigente do prefeito Carlos Amastha? Ele se apoia em duas questões:
Primeiro na decisão judicial que tornou a greve ilegal. E em segundo lugar no
argumento que se trata de um movimento politico e que, portanto não tem
legitimidade.
Sobre a decisão judicial a primeira questão que nos
vem à mente é a agilidade da justiça tocantinense que em menos de 24h julgou o
movimento grevista ilegal. Uma agilidade que não se vê quando se trata de
atender as demandas do povo trabalhador. Além da agilidade outro fator que
chama atenção é o argumento utilizado na sentença dada pelo excelentíssimo juiz
Zacarias Leonardo que entendeu não existir pauta de reivindicação e muito menos
um plano de greve que “garanta a prestação suficiente do serviço público
essencial”. Ainda segundo a sentença não houve por parte do sindicato busca de
dialogo com a prefeitura antes de deflagrar a greve.
Ora dizer que não existe pauta de reivindicação
chega a ser ridículo. É querer “tampar o sol com uma peneira” como diz um velho
ditado popular. É zombar da nossa capacidade de raciocínio. Também não dá para
aceitar o argumento de que os professores não buscaram o dialogo antes de deflagrarem
a greve. O fato é que não dá para dialogar com quem se recusa ao dialogo. De
modo que se há intransigência de algum lado, os fatos mostram nitidamente que
tal intransigência não parte dos grevistas.
Vê-se, portanto que a decisão judicial na qual o senhor
Carlos Amastha (PSB) tanto se apoia. É uma decisão um tanto questionável.
Decisão judicial que deve mesmo ser ignorada pelos grevistas, pois reafirmando
o que escrevemos num outro episodio: “só os professores, que com suor e
lagrima, fazem a educação no município de Palmas tem legitimidade para isso, só
a eles cabe o papel de declarar se a greve é ou não ilegal”. (Nunes, 2015).
O segundo argumento utilizado pelo prefeito Carlos
Amastha (PSB) de que se trata de um movimento político e que, portanto não tem
legitimidade deve ser refutado também. E não é negando que se trata de um
movimento político. Pelo contrário. Se deve sim afirmar o caráter político do
movimento grevista. Pois a final de contas o que é a greve se não um
instrumento político de luta e resistência dos trabalhadores pelos seus
direitos?!
Quando falamos que a greve dos professores se trata
de um movimento político, é importante destacar o nosso conceito de política.
Isto é, política na sua concepção clássica, como tudo aquilo que diz respeito
aos cidadãos, ao governo da cidade e aos negócios públicos. Política como um
elemento de busca pelo bem estar do coletivo na sociedade. Logo ao tentar
deslegitimar o movimento grevista dizendo que se trata de um movimento
político, o que o prefeito Amastha faz é legitima-lo ainda mais.
Por outro lado, o discurso que tenta deslegitimar o
movimento grevista acusando-o de se tratar de um movimento político nos revela a
concepção de politica do senhor Carlos Amastha – Autoritária e antidemocrática.
Política como algo instrumental que esta ligada mais a busca de interesses
particulares do que pelo bem da coletividade. Mas se ele utiliza a vida pública
para atender interesses privados, não significa que todos façam o mesmo. Muito
pelo contrário, ao deflagrarem uma greve para defender condições para que seja
ofertada uma educação de qualidade pra sociedade, os professores estão dando
uma lição de como se deve fazer política.
Amastha se coloca como pré-candidato ao palácio
Araguaia nas eleições de 2018. O discurso é de que ele representa uma nova
forma de fazer política no Tocantins – na prática não há muito diferença com as
oligarquias que se revezam no poder desde a criação do Estado. Sua postura
autoritária e antidemocrática revela muito bem o seu caudilhismo. Que a
população tocantinense não se iluda com figura tão medíocre e desprezível. E
que as trabalhadoras e os trabalhadores da educação municipal que estão em
greve e que contam com a solidariedade de toda a sociedade não recuem um
milímetro na luta legitima por direitos.
Pedro
Ferreira Nunes – É Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.
Atualmente cursa Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.
Primeiras reflexões sobre o ensino de Filosofia: A necessidade de resgatar o conceito clássico de Política.
Como trabalhar o tema da política com a juventude
que parece não ter o mínimo de interesse por essa questão? Como despertar o
interesse dos jovens por tal temática, sobretudo num contexto em que a política
parece não mais fazer sentido? Pelo menos no seu conceito clássico. Mas será
que a juventude tem consciência do conceito clássico de Política? Ou estamos
caminhando para o fim da política como aponta o filósofo Desidério Murcho?
“Chegamos então ao fim da política? Teremos então no
futuro não o conhecido jogo político mas apenas gestores competentes, como em
Singapura? Talvez...”(Murcho, 2010).Os últimos processos eleitorais pelo mundo parecem
caminhar nesse sentido. O fato é que o discurso apolítico, apartidário e
meritocrático tem cada vez mais ganho espaço, especialmente entre os jovens. O
que torna maior o desafio dos que trabalham com o ensino de filosofia – e que
tem a Política como um dos seus quatro grandes eixos.
Por que tem ocorrido esse desinteresse pela política?
Seria por que nas palavras de Desidério Murcho (2010) um interesse intenso pela
vida política só faz sentido para generalidade das pessoas quando o conforto da
sua vida privada está em risco, ou quando têm a esperança de que uma mudança
política terá resultados importantes para qualidade da sua vida privada?
Nesse contexto acredito que o principal desafio do
ensino de filosofia a cerca da política passa, em primeiro lugar, pela desconstrução da visão que se tem da politica
na sociedade contemporânea.E em segundo lugar, resgatar o seu conceito clássico.
Para tanto é preciso partir dos seguintes problemas: O que é a política? E para
que serve a política? Em seguida, partindo das respostas dadas a essas
questões, o professor de Filosofia deverá aprofunda-las, trazendo o seu
conceito clássico.
De acordo com Japiassú (2001) “Em sua concepção e na
tradição clássica em geral, a política como ciência pertence ao domínio do
conhecimento prático e é de natureza normativa, estabelecendo os critérios da
justiça e do bom governo e examinando as condições sob as quais o homem pode
atingir a felicidade (o bem-estar) na sociedade, em sua existência coletiva”.
Nessa linha é importante ressaltar a concepção
aristotélica de política, na qual “o homem é um animal político que se define
por sua vida na sociedade organizada politicamente” (Japiassú, 2001). Óbvio,
sem deixar de abordar a concepção de Platão – que “enuncia as condições da
cidade harmoniosa, governada pelo filósofo- rei, personalidade que governa com
autoridade mas com abnegação de si, com os olhos fixos na idéia do bem”.
De acordo com Murcho (2010) “...os intelectuais,
herdeiros de leituras e tradições bem definidas, encaram a vida publica
aristotelicamente, como um valor em si, e a vida privada com uma vida de
privação. Mas a generalidade da população sempre encarou a vida pública como um
mero meio para ter uma vida privada melhor”. Diante disso podemos afirmar que
para a generalidade da população a política só é interessante quando lhes é
útil de alguma forma. Mas isso é politica ou politicagem?
Como vimos anteriormente a politica é tudo aquilo
que diz respeito aos cidadãos, ao governo da cidade e aos negócios públicos. E
a politicagem? De acordo com Rodrigues (2015) trata-se “... da corrupção da
finalidade politica, na medida em que administração dos negócios ou bens
públicos não está mais voltada ao beneficio da coletividade e sim a satisfação
de interesses particulares e pessoais dos gestores”.
No geral a concepção que se tem de política na
contemporaneidade se aproxima mais do conceito de politicagem. E é justamente
essa concepção distorcida que afasta a generalidade da população da política.
Por que existe essa distorção? Por que a politicagem é rotineiramente mostrada
como se fosse política? Não se trata de um erro ocasional, de uma confusão
conceitual. Mas de um objetivo claro das elites dominantes que não tem nenhum
interesse que a generalidade da população participe ativamente da vida política
da cidade. Dai a importância do ensino de filosofia desconstruir essa visão em
torno da política e resgatar a sua concepção clássica.
Aliás, penso que o ensino de filosofia deve se
caracterizar, sobretudo, em um processo de desconstrução. Não só em relação à
política, mas também em relação a diversas questões da contemporaneidade.
Precisamos desconstruir a visão hegemônica que nos é imposta como pronta e
acabada – um processo que não se dá de forma impositiva, mas sim dialógica.
* Bolsista do PIBID-Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. Atual na Escola Frederico José Pedreira Neto - Palmas/TO.
Referências
JAPIASSÚ,
Hilton; Marcondes, Danilo.Dicionário Básico de Filosofia. 3º Edição. Jorge
Zahar Editor – Rio de Janeiro; 2001.
MURCHO,
Desidério.
O fim da Política. Disponível em: criticanarede.com. Acesso em: 30 de Agosto de
2017.
RODRIGUES,
Epitácio. Política, Politicagem, Ciência Política e Filosofia Política.
Disponível em: blogspot.com. Acesso em: 09 de Setembro de 2017.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Cronica: Quando vi o mar pela primeira vez!
O
sonho de muitos que nascem no sertão, no interior do país é ver o
mar. Não são raras as historias de pessoas que se emocionam ao
vê-lo pela primeira vez. Poetas e músicos transformam essa emoção
em arte – desde criança vi pela TV, li em livros, ouvi em musicas
as belezas do mar sendo louvadas. Até mesmo o grande poeta do sertão
– Patativa do Assaré – mostrou todo o seu encantamento pelo mar
num belo poema:
“Eu
não gostei do rejume. Da vida da capitá, Eu aqui só gostei munto.
Do má, deste grande má... Aquilo é que é sê bonito, Eita, mazão
colossá! Não goza na vida. Quem morre sem vê o má”.
Mesmo
assim nunca tive fixação em querer conhece-lo. Mas como sou um
amante da natureza, seria normal que quando tivesse a oportunidade, isto é, se tivesse tal oportunidade. Iria me emocionar.
Eu
nasci e cresci nas margens do rio Tocantins, sou um apaixonado pelo
rio. Mesmo após a construção da UHE de Lajeado e todo o processo
de transformação que ele passou. Quando preciso recarregar minhas
energias corro para o rio Tocantins e mergulho em suas águas ou
simplesmente fico observando as águas seguirem hora mansamente,
hora subversivas. Amo tanto o rio Tocantins que após passar oito
anos sem vê-lo quando o reencontrei não pude deixar de chorar. No
entanto comparado ao mar o rio Tocantins é uma lagoa. Assim seria
natural emocionar-me diante do imenso oceano.
Tive
a oportunidade de sair do sertão tocantinense, conhecer outras
regiões do nosso país e inclusive o litoral. No entanto nas
primeiras oportunidades de conhecer o mar, acabei recusando o
convite, pois as tarefas revolucionárias exigiam que meus modestos
esforços se voltassem para outras frentes.
Nessas
idas e vindas, retornei para minha terra natal, para o sertão
tocantinense. Por tanto me distanciando novamente do litoral. E da
oportunidade de quem sabe um dia me jogar nas águas do mar. O mar de
tantos artistas – músicos, poetas, escritores. De viajantes e dos
amantes.
Mas eis que num certo dia chegou à oportunidade. Foi numa
viagem a Santos – SP que fiz para participar de um encontro de
educação popular. Foi então que vi o mar pela primeira vez - da
janela do ónibus. Era
noite, não deu para ver direito, mesmo assim pensava comigo ao ver
as ondas quebrando na praia – veja só o que está aqui tão
próximo de mim. O mar que encanta tanta gente e que tantos interioranos sonham conhecer.
No
outro dia por insistência de duas companheiras fomos até a praia.
Elas que moravam em São Paulo queriam muito ver o mar. Até então
não havia falado para ninguém que aquela seria a minha primeira vez no mar. Quando descobriram ficaram admirados. Mas
eu confesso, não senti nenhuma emoção ao ver o mar pela primeira
vez. E só com muita insistência coloquei o meu pé na areia e mais
insistência ainda pisei na água, mas não ousei mergulhar.
Os
meus companheiros estavam mais entusiasmados por ser a minha primeira
vez diante do mar, do que eu mesmo. Não que eu seja insensível, ao
contrario, sou sensível por demais, sobretudo diante das belezas
naturais. No entanto não senti nenhuma emoção diante do mar.
A
verdade que eu estava extremamente encantado com uma moreninha da
voz doce, de um olhar meigo e um sorriso de ternura que estava ao meu
lado. Ela me fez pular as minhas primeiras sete ondas. E se
tivéssemos só nós dois ali, com certeza ela me convenceria a
entrar no mar, e sem muito esforço. Ao lado dela, não importava o
lugar onde estivéssemos todo o resto se tornaria insignificante, até
mesmo o maravilhoso luar daquela noite em Santos.
Eu
confesso. Não senti emoção ao ver o mar pela primeira vez. No
entanto será uma experiência inesquecível. Não pelo mar, mas pela morenhinha que com aquele sorriso encantador que roubou meu coração.
Pierre Levy e a construção de uma inteligência coletiva: É possível pensar um processo de ensino/aprendizagem com o objetivo de construir essa inteligência coletiva?
É
possível falar em construção de uma inteligência coletiva nos
marcos de uma sociedade capitalista? É a essa tarefa que nos chama
Pierre Levy na sua comunicação “Internet e desenvolvimento
humano”. Enquanto futuros professores não têm como não olhar
essa questão a partir do contexto educacional. Logo surge a seguinte
questão: Como pensar o processo de ensino/aprendizagem com o
objetivo de construir uma inteligência coletiva? É possível tal
tarefa? É o que buscaremos refletir nesse breve artigo.
Quem
é Pierre Levy?
Pierre
Levy nasceu na Tunísia, mas se radicou na França, onde se gradou em
História pela Universidade de Sorborne, em Paris. Depois se
especializou em Sociologia com pesquisa na área de cibernética e da
inteligência artificial. Migrou para o Canadá onde se tornou
filósofo da informação. Autor de diversas obras, entre elas: A
Máquina Universo – Criação, Cognição e Cultura Informática; A
Árvore de Conhecimento; e As Tecnologias da Inteligência: O Futuro
do Pensamento na Era da Informática. Pierre Levy tornou-se titular
da cadeira de pesquisa em inteligência coletiva, da Universidade de
Ottawa, Canadá. Também se tornou membro da Sociedade Real do Canadá
(Academia Canadense de Ciências e Humanidades).
Internet
e desenvolvimento humano
Em
“internet e desenvolvimento humano” Levy chama atenção para a
importância das novas tecnologias no desenvolvimento humano. Ele
destaca o fato do que a internet tem propiciado novas reflexões a
cerca da inteligência coletiva. O que não ocorre apenas no campo
científico, mas também nos negócios e na politica. De acordo com
Levy (2010) “há cada vez mais pessoas que se organizam por
intermédio da internet visando à cooperação intelectual”. O que
é positivo segundo ele, sobretudo pelo fato de que a internet é um
instrumento que potencializa as relações sociais, logo o
desenvolvimento humano. Dai a necessidade de se garantir o acesso
democrático a esse meio, o que ainda não ocorre, porém é preciso
compreender que se trata de um processo histórico. Pierre Levy
destaca a importância das novas tecnologias no processo de
construção da inteligência, aliás, ele salienta que as novas
técnicas propiciam a transformação da inteligência. A respeito da
inteligência coletiva o autor ressalta:
A
inteligência coletiva não é um tema puramente cognitivo. Só pode
existir desenvolvimento da inteligência coletiva se houver o que eu
chamo de cooperação competitiva ou competição cooperativa... é
por que existe essa possibilidade de competição que existe a
cooperação. (Levy, 2005)
Podemos
afirmar, portanto, que para o autor não é possível o
desenvolvimento de uma inteligência coletiva num contexto que não
aja competição e cooperação. O que soa um tanto contraditório.
Mas o fato é que para Levy, elas não estão em campos opostos.
Competição e cooperação necessitam uma da outra para o
desenvolvimento dessa inteligência coletiva.
Já
outro ponto importante que Pierre Levy aponta no caminho para
construção de uma inteligência coletiva é a cerca das três
etapas da evolução. Isso mesmo, para Levy existe ciclos de
evolução. E a internet tem propiciado um novo ciclo. Mas todo esse
processo de evolução não seria possível se não fossemos seres
possuidores de linguagem, características que nos diferencia dos
outros animais. De acordo com Levy (2005) “é porque vivemos no
universo da linguagem, que conseguimos formar uma inteligência
coletiva de um tipo mais poderoso do que aquela das espécies
animais, que somos o que somos”.
Pierre
Levy também fala sobre o “triangulo da significação”. Aonde
ele dá ênfase à questão da ideia e do signo. Seguindo essa linha
ele falará sobre a “Ecologia das ideias” onde ele apontará os
pólos da significação que propiciam a construção da inteligência
coletiva, em seguida ele apresenta o conceito de “Economia de
reprodução”, que segundo ele é o que propicia o desenvolvimento
das ideias. Por fim falará do “Capital de inteligência coletiva”.
Nessa linha é importante ressaltar o que ele diz:
Além
das ideias que são produzidas pela população existe também as
competências que dizem respeito a essas ideias que a população
produz, o ecossistema que ela nutre. Esses dois aspectos, as ideias
originais e as competências reais e vivas forma o capital
intelectual, que é alimentado pelo capital social, pelo cultural e
pelo técnico que, por sua vez são alimentados por ele. (Levy, 2005)
Pierre
Levy conclui afirmando a necessidade de se lutar por uma ciência da
inteligência coletiva. Para ele tal empreitada não se trata de uma
utopia e nem é algo que se dará através de uma revolução –
através de uma ruptura violenta. Mas ao contrário, é algo que se
dará de forma gradual, através de uma transformação gradual da
consciência e, por conseguinte da sociedade. Ele chama atenção
para o fato de que o exemplo é um fator primordial nesse processo,
logo cada um deve fazer sua parte no caminho da transformação e
construção da inteligência coletiva.
Como
pensar o processo de ensino/aprendizagem com o objetivo de construir
uma inteligência coletiva? É possível tal tarefa?
Não
há como negar que ás novas tecnologias tem permitido enormes
avanços em diversos campos da sociedade – transformações que em
outros tempos eram impensáveis. Diante dessa realidade são
necessárias novas reflexões a cerca desse contexto que se abre.
Sobretudo pelo fato que tais mudanças impactam tanto a vida social,
cultural, como econômica da sociedade. No entanto é preciso tomar
cuidado para que não caiamos em extremismos, achar que esse é o
caminho para resolver todas as contradições existentes na
sociedade, especialmente no campo educacional.
Pierre
Levy chama atenção para o fato de que a utilização da internet
tem possibilitado o desenvolvimento da cooperação intelectual. Bem
como para o fato que todo esse ganho tem se expandido para além da
esfera cientifica, possibilitando por tanto o desenvolvimento humano.
Não por coincidência é justamente esse o titulo da sua comunicação
– Internet e desenvolvimento humano, que em síntese, resume muito
bem a tese que ele defende, isto é, que a utilização da internet,
óbvio numa perspectiva coletiva, possibilita o desenvolvimento
humano.
É
inegável o potencial da internet, no entanto será possível tal
empreitada numa sociedade que parece caminhar cada vez mais para uma
cultura da individualização? É um ponto a se refletir. A priori
não tenho o mesmo otimismo que o autor transmite na sua fala.
Sobretudo por que nos marcos da sociedade capitalista a internet terá
sempre como ultimo fim, ainda que exista exceções, o lucro de
alguns poucos. Outro ponto importante a se destacar é a concepção
de evolução do autor. A esse respeito cabe a seguinte questão:
Será se de fato estamos evoluindo ou utilizando novas ferramentas
para reforçar velhas práticas? Diante dessa questão não tem como
não pensar no “Estado Islâmico” e no avanço do fascismo.
Trazendo
para o âmbito educacional: Se a internet permite o desenvolvimento
humano tal como defende Levy, obviamente ela também permite o
desenvolvimento educacional. Sendo assim não podemos abrir mão
dessa ferramenta no processo de ensino/aprendizagem. Mas como fazer o
uso dessa ferramenta numa perspectiva de construção de uma
inteligência coletiva? Pierry Levy acredita num processo de
transformação gradual dentro do sistema.
A
esse respeito também sou um tanto pessimista. Não acredito na
construção de uma inteligência coletiva nos marcos do sistema
capitalista, pelo menos não aos moldes que defende Levy. Ora, tal
fato não ocorrerá numa sociedade que funciona na lógica de
apropriação privada do conhecimento. E mesmo com todo o avanço que
a internet e, por conseguinte as novas tecnologias tem nos propiciado
isso não tem se alterado. Pelo contrário, o que vemos em evidencia
é o que bem aponta Vasquez (1984):
O
culto ao dinheiro e a tendência a acumular maiores lucros
constituem o terreno propício para que nas relações entre os
indivíduos floresçam o espírito de posse, o egoísmo, a
hipocrisia, o cinismo e o individualismo exacerbado. Cada um confia
em suas próprias forças, desconfia dos demais, e busca seu próprio
bem-estar, ainda que tenha de passar por cima do bem-estar dos
outros. A sociedade se converte assim num campo de batalha no qual se
trava uma guerra de todos contra todos.
Concluimos,
portanto afirmando que não dá para descartar o uso das novas
tecnologias no processo de ensino/aprendizagem. Mas é preciso tomar
cuidado para não cairmos numa armadilha e nos tornarmos reféns de
uma lógica mercadologica que tem se aprofundado na educação. Se é
fato que as novas tecnologias torna o conhecimento mais acessivel e o
ensino mais flexivel e, por conseguinte, mais compartilhavel, o torna
também mais descartavel. Bem como o professor acaba sendo
substituivel ou tendo o seu trabalho precarizado. Logo a
democratização do ensino e a construção de uma inteligencia
coletiva ficam apenas no discurso, já que na prática se caminha no
sentido contrário.
Pedro Ferreira Nunes - É Educador Popular, cursou a faculdade de Serviço Social e atualmente cursa Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.
Referências
Bibliográficas
Levy,
Pierre. Internet e Desenvolvimento Humano. Cad. Psicopedag. V.5 n. 9
São Paulo: 2005.
Santana,
Ana Lucia. Pierre Levy. Disponível em: infoescola.com. Acesso em: 17
de Setembro de 2017.
Vásquez,
Adolfo Sánchez. Ética. - 4º ed. Barcelona: Editorial critica,
1984.
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
Conto: Ocupação
João estava há um pouco mais de um ano morando em Goiânia. Era mais um
como tantos outros que deixara sua terra natal – no interior nortista – Mais
precisamente a pequena e pacata Miracema do Tocantins, que um dia fora do Norte
– em busca de uma vida melhor na cidade grande. Chegando a Goiânia logo começou
a trabalhar na construção civil – alugou um barracão na periferia da cidade e
mandou vim do norte sua esposa e seus filhos.
Em Miracema a vida não era fácil, dificilmente conseguia trabalho. Não
havia indústria e no campo os serviços eram cada vez mais raros, sobretudo com
o avanço da monocultura de soja e cana de açúcar na região. A maior empregadora
do município era a prefeitura, no entanto os trabalhos eram precarizados
através de contratos temporários – que não respeitam as garantias trabalhistas
e são suspensos a qualquer momento de acordo com o interesse do grupo politico
que esteja à frente da prefeitura.
A condição de vida era extremamente degradante e não havia nenhuma
perspectiva de sair daquela situação. O bolsa família apenas evitava que eles
morressem de fome, não dando nenhuma condição para emancipar-se.
João tinha alguns parentes que viviam em Goiânia, foi através deles que
decidiu ir de muda pra lá. Nunca havia passado por sua cabeça deixar sua terra
natal. Viu muitos amigos seus partir dali, até mesmo para outros países. Mas
ele que nascera e crescera em Miracema não pensava deixar sua querida cidade.
Por outro lado sabia que não havia alternativa se quisesse dar o mínimo de
condição para que sua família tivesse uma vida digna. E foi com esse sonho na
bagagem que ele deixou Miracema.
Mesmo morando na periferia da cidade o aluguel não era barato. Juntando
o seu salário de servente de pedreiro na construção civil e de sua esposa de
diarista nos condomínios de luxo da burguesia goiana mal conseguiam pagar o
aluguel e alimentar a família que não era pequena. João pensava consigo:
- Se ao menos conseguíssemos sair do aluguel. Já economizaríamos muita
coisa.
Com o salário que ganhava era impossível comprar uma casa. A solução
então seria esperar ser atendido pelo um programa habitacional do governo. Mas
João não se iludia com isso – pois bem sabia que não só era difícil como
beirava o impossível. Ele conhecia gente que há mais de 10 anos tinham assinado
cadastro e nunca haviam sido contemplados por tais programas habitacionais.
Foi então que um companheiro no trabalho falou de uma grande ocupação de
famílias sem teto na capital goiana. Com muita empolgação disse como as coisas
estavam caminhando, ressaltando enfaticamente que com luta eles poderiam ganhar
a tão sonhada casa própria e sair do famigerado aluguel.
- Vamos lá camarada João, junte-se a nós. Quanto mais pessoas, mais
forte é o movimento e as perspectivas de vitória.
João sempre teve uma opinião muito dura sobre as pessoas que invadem “as
coisas alheia”. Quando via a atuação do movimento sem terra na região onde
morava achava que todos eram um monte de vagabundos que não queriam trabalhar.
E os sem tetos para ele não eram muito diferentes. Mas agora ele estava vendo
na pele o quanto é difícil pagar um aluguel e ter que alimentar uma grande
família. Se continuasse da forma que ia, logo João e sua família seriam
despejados, pois não teriam condições de pagar aluguel.
E se fossem despejados aonde iriam morar? De baixo da ponte? Voltar para
o norte pior do que quando chegaram ali? As perspectivas não eram boas. Foi
então que juntamente com sua esposa decidiu participar da ocupação.
- Vamos chegar companheiro. A vida aqui não é fácil. Mas se a gente
resistir na luta podemos alcançar nosso objetivo. Disse Camilo, um dos lideres
da ocupação.
- O que eu tenho que fazer? Questionou João.
- Bom companheiro. Constrói o teu barraco e passa para dentro com tua
família. Contribua com as tarefas coletivas da ocupação bem como com as ações
que realizamos. Respondeu Vilma, que também fazia parte da equipe que liderava
a ação.
João não perdeu tempo, construiu um barraco e passou para dentro
com a família, enfim estavam livres do aluguel. Ao contrario do que imaginava
as pessoas que ali viviam não eram vagabundos, mas tudo gente trabalhadora como
ele que vinha de outros estados ou mesmo do interior de Goiás e que não tinha
casa própria e não conseguiam pagar aluguel.Ele então compreendeu a importância
daquela luta. Aprendeu que estava lutando por um direito seu e de outros tantos
que estavam na mesma condição. João compreendeu que a luta do movimento dos
trabalhadores sem teto e sem terra é legítima – pois é uma luta em defesa de
direitos historicamente negados.
- Tá lá na constituição. Moradia é um direito de todos. E é obrigação do
Estado garantir esse direito. Se nós não lutarmos por esse direito, o governo
não nos dará de mão beijada. Dizia Camilo.
Ele então foi se transformando e aos poucos tornou-se uma liderança do
movimento e um dos coordenadores da ocupação. E não era qualquer ocupação –
localizada numa área conhecida como Parque Oeste Industrial – a ocupação Sonho
Real tornou-se a maior ocupação de trabalhadores sem teto de Goiás e uma das
maiores do Brasil. Com o tempo a ocupação foi se transformando num verdadeiro
bairro – as barracas de lona foram dando lugar às casas de tijolos. Surgiram
ruas, comercio, igrejas entre outros.
Diante desse cenário ninguém acreditava mais que seriam capazes de
tira-los daquele lugar, ainda mais quando os governantes de então prometeram
legalizar o terreno e transforma-lo legalmente em um bairro. João não conseguia
esconder a felicidade. Mas para ele a luta não acabaria quando conseguisse o
documento da sua casa própria. Era preciso continuar lutando para que tantos
outros realizassem aquele sonho.
Mas eis que então surge um processo de reintegração de posse – a justiça
decretou a decisão de que o terreno deveria ser desocupado.Foi então que João
aprendeu uma nova lição – nunca, mais nunca, em hipótese alguma deveria
acreditar no governo.
- A promessa de que iriam desapropriar essa área por interesse social
para destina-la a nós era apenas para ganhar nossos votos. Agora diante da
decisão judicial lavam as mãos. Ou pior ainda, utilizaram as forças de
repressão para nos expulsar daqui. Discursava Camilo.
- O que faremos? Questionavam todos.
- Vamos resistir. Eles não serão capazes de passar o trator por cima de
nossas casas com a gente dentro. Gritava Vilma.
- Será? Pensava consigo João. Eles são capazes de fazer bem pior, mas
não dá para recuar, temos que resistir.
E assim foi decidido por todos, ou pelo menos pela grande maioria –
resistir à reintegração de posse. Eles haviam investido ali o ganho de toda uma
vida, não poderiam abrir mão de tudo que tinham construído. Ora, aquela área
pertencia a eles de fato. Mas o governo e a justiça não viam assim.
- Seja o que tiver de ser. Só saiu daqui morto. Dizia João.
- Não aceitaremos ver nossas casas destruídas. Aonde nos jogaram?
Gritavam os sem teto.
Se os sem tetos estavam dispostos a resistir o governo também não estava
disposto a recuar.
- Tem uma decisão judicial e temos que cumprir. Dizia o porta voz do governo.
- Canalhas, canalhas, canalhas. Diziam os sem tetos.
João passou noites acordado defendendo a ocupação. Na trincheira ao lado
dos seus companheiros olhava perplexo para todo o aparato militar que o governo
havia mobilizado contra eles – de um lado os trabalhadores se armavam de paus,
pedras e coquetéis molotov. Do outro um aparato militar de guerra.
- Eles querem nos vencer pelo cansaço. Estão apenas nos cercando.
- Estão colocando uma puta pressão psicológica na companheirada.
- E estão conseguindo. Tem muita gente desistindo e indo embora.
- É verdade. Mas daqui não saiu. Se quiserem que eu saia terão que
entrar aqui para me tirar a força.
- A nós também.
Enquanto isso a pressão de cima para que as forças de repressão
invadissem e despejasse os sem teto era cada vez maior.
- Essa ação tem que servir de exemplo para que nunca mais esses
vagabundos invadam terra de ninguém.
- Certo.
- Que não passe dessa noite. Quando amanhecer o dia quero ver tudo
aquilo no chão. Nem que para isso tenhamos que banhar aquilo de sangue.
- E os direitos humanos?
- Foda-se os direitos humanos. Mas é claro que a gente não vai fazer na
cara dura. Faremos uma boa maquiagem. O que será bem fácil, ainda mais com o
apoio da impressa que esta do nosso lado.
- Bom, manipular é com a gente mesmo. Não teremos problema quanto a
isso.
- E essa operação tem que ser à noite por que justamente facilita para
encobertar o que precisa ser encobertado.
O dia amanheceu triste, muitos corpos espalhados pela cidade, às casas
estavam no chão – todas destruídas. A fumaça podia ser vista de longe. Na noite
anterior o governo de Goiás a serviço do capital imobiliário, através de sua
policia, passou por cima de mulheres, crianças, homens e idosos sem nenhuma
piedade.O corpo de João foi encontrado alvejado de bala ao lado dos seus
companheiros na trincheira onde estava defendendo a ocupação. Ele e tantos
outros banharam aquela fria madrugada goiana de sangue.
Quando caiu a trincheira que João guardava, caiu toda a ocupação. E
assim as famílias de trabalhadores sem teto não tiveram alternativa se não
renderem-se. Pois era a rendição ou a aniquilação total, já que as forças de
repressão policial estavam totalmente dispostas a aniquilar qualquer
resistência.
*Esse conto é fictício, qualquer semelhança com a realidade é mera
coincidência.
Pedro Ferreira Nunes – É Poeta e Escritor Popular Tocantinense – Autor
do romance “A Ilha dos Espíritos”, do livro de poemas “Minha Poesia” entre
outros.
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