* Por Pedro Ferreira Nunes
Como é de praxe após o processo eleitoral começam as analises a cerca do recado dado pela população através do resultado revelado pelas urnas. Alguns comemoram outros lamentam. Algumas expectativas se confirmam outras são frustradas. Como sempre há questionamentos sobre o que apontava algumas pesquisas eleitorais e se discute a cerca da legitimidade destas. Por fim, sobram nas redes sociais os frustrados – tanto da esquerda como da direita – com a clássica acusação contra o povo. Mas se sobra desabafo, falta o essencial – autocritica. Também falta um mínimo de analise para que não se crie falsas ilusões e assim não se frustre diante de um resultado que já era o esperado.
Maioria do eleitorado ignora ou dá voto de protesto no processo eleitoral
O alto índice de abstenção, de votos em branco e nulos nas eleições suplementares para o governo do Tocantins já era esperado. De modo que os números revelados após a votação no domingo (03/06) só confirmaram essa tendência. Segundo dados da justiça eleitoral foram 43,54% do eleitorado que se absteve, votou em branco ou anulou o voto. Por que isso ocorreu? Qual o recado que podemos tirar desses números?
Não existe apenas um motivo como também não podemos tirar apenas uma única conclusão desses números. Até porque abstenção, votos em branco e votos nulos tem significados diferentes. Por exemplo, o voto nulo é mais um voto de protesto contra o sistema. Já o voto em branco e as abstenções pode significar uma frustração momentânea ou desinformação. O que isso significa? Que os votos em branco e abstenções podem se reverter nas próximas disputas. Já o nulo dificilmente será revertido.
Porém, não dá para olhar para esses números e não pensar a cerca da necessidade de uma verdadeira reforma política para mudar esse sistema eleitoral que a cada dia se mostra sem credibilidade junto à população. Talvez esse seja o principal recado dado pelos eleitores tocantinenses.
Sem grandes surpresas
Não houve grandes surpresas no resultado do primeiro turno das eleições complementares para o governo do Tocantins. Pois se confirmou a expectativa de que a disputa ficasse entre Vicentinho (PR) Kátia Abreu (PDT) Amastha (PSB) e Carlesse (PHS). Ao final sobrou Vicentinho (PR) e Carlesse (PHS) para disputar pela primeira vez na história uma eleição de segundo turno para governador do Tocantins. Uma questão importante é que tanto Mauro Carlesse como Vicentinho desbancaram nomes que há muito tempo estava trabalhando suas candidaturas ao governo.
Carlesse inclusive foi o mais votado reafirmando o peso da maquina pública no processo eleitoral e o apoio de figuras tradicionais como o deputado federal Carlos Gaguim e do Velho Siqueira Campos. Já Vicentinho foi à prova da força do interior no processo eleitoral – Não ganhou nos grandes centros, inclusive sua cidade – Porto Nacional. Mas teve maior capilaridade no Estado como um todo. E assim desbancou Carlos Amastha que teve uma votação expressiva nas grandes cidades, especialmente Palmas e Araguaína.
Kátia Abreu (PDT) foi sem duvida a grande decepção. Ela que aparecia em algumas pesquisas na liderança amargou uma quarta posição. Já a surpresa ficou por conta da votação expressiva de Marlon Reis (REDE). Mesmo que ficando bem distante da possibilidade de disputar um segundo turno não se dá para ignorar a relevância de ter se alcançado 9% do eleitorado. Sobretudo se compararmos a estrutura do candidato da REDE em relação, por exemplo, a senadora do PDT. Aliás, nos grandes centros Marlon Reis conseguiu ficar a frente de candidaturas de políticos tradicionais do Estado como dos dois senadores na disputa (Kátia Abreu e Vicentinho). Já Mário Lúcio Avelar (PSOL) e Marcos Souza (PRTB) conseguiram alcançar justamente o resultado que era previsto.
O Segundo turno
Veremos novamente um embate entre os dois grupos mais tradicionais da política tocantinense. Isto é, o embate entre MDB e Siqueiristas – ainda que os lideres destes grupos estejam nos bastidores como no caso do MDB apoiando e dando sustentação política no interior para o senador Vicentinho (PR) e o Velho Siqueira Campos apoiando com veemência a eleição de Carlesse.
Desse modo aqueles que dizem que a política tradicional venceu mais uma vez tem toda razão. Pois por mais que tentem esconder esses cabos eleitorais indesejáveis o fato é que estas figuras estão na suas bases de apoio. Por exemplo, foi emblemática a imagem do deputado mais medíocre da história do Tocantins – Carlos Gaguim – comemorando com Carlesse a ida para o segundo turno.
Para finalizar
Quais as conclusões que podemos tirar desse processo eleitoral? É possível ter uma conclusão que sirva de parâmetro para os próximos processos que teremos pela frente? Especialmente o de outubro. A primeira questão é entender que a realidade é dinâmica e que a conjuntura pode mudar de uma hora para outra – de modo que não se pode decretar desde já que em outubro se repetirá o mesmo resultado de agora. Será uma eleição completamente diferente dessa e candidatos que foram derrotados agora no primeiro turno tem grandes chances na disputa. Sobretudo por que ouso cravar, não teremos o mesmo número de abstenções e votos em branco.
No entanto não podemos negar algumas tristes conclusões – o peso da maquina pública no processo eleitoral e a hegemonia de grupos tradicionais na política tocantinense – ainda que transvertidos de novos. O que persistirá nos próximos pleitos eleitorais. Outra questão importante é à força do interior no processo eleitoral – uma questão que já algum tempo temos chamado atenção. Se algum candidato quiser de fato se eleger não pode contar apenas com os votos dos grandes centros, tem que interiorizar seu programa também.
Por fim, não poderia deixar de escrever algumas palavras sobre a esquerda. No Tocantins a esquerda tem que caminhar muito ainda para que se apresente como uma alternativa ao eleitorado. Ora, não basta um nome bom se esse nome não é construído pela base. Aliás, que base? Antes de pensar em se tornar uma força relevante no cenário politico regional precisamos criar uma base. Cadê o trabalho de base que estamos fazendo nas organizações dos trabalhadores? Junto aos Operários, Sem terra, Sem tetos, Pescadores, Indígenas, Quilombolas e Estudantes. Cadê os núcleos de base? Os cursos de formação? Aparecer com um candidato apenas no período eleitoral e se ausentar das lutas dos trabalhadores no cotidiano é repetir os que os partidos da ordem fazem. A esquerda precisa jogar suas forças na construção de uma frente de luta contra o modelo hegemônico de avanço do capitalismo se quiser se tornar uma força relevante no Tocantins. E ai quem sabe não terá um melhor desempenho nas urnas.
"Há uma infinidade de homens porque tanto a classe operária quanto setores cada vez mais variados da sociedade fornecem, todos os anos, um número sempre maior de descontentes, que querem protestar, que estão dispostos a cooperar naquilo que puderem... Mas ao mesmo tempo, não há homens, por que não há dirigentes, não há lideranças políticas, não há talentos organizadores capazes de articular um trabalho simultaneamente amplo e unificado, coordenado, que permita utilizar todas as forças, mesmo as mais insignificantes..."
Lênin, O que fazer?!
*Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.