quinta-feira, 19 de julho de 2018

O Vereador Felipe Martins e o Arco-íris

Não tardará o dia em que será aprovado um projeto de lei proibindo o arco-íris de se manifestar em terras tocantinenses. E então você meu camarada não terá mais a satisfação de contempla-lo no topo da serra do Lajeado quando a luz solar for “refratada, dispersa e internamente refletida” pelos pingos da chuva. Isso tudo por que para o legislativo palmense o arco-íris é um símbolo de propagação do homossexualismo.

Foi o que me veio à cabeça quando li a noticia da mudança de nome do Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) da quadra 1.006 sul, que no projeto original receberia o nome de Arco-íris, mas por interferência do vereador Felipe Martins (PSC), com o apoio do legislativo palmense e da gestão da prefeita Cynthia Ribeiro (PSDB), passará a ter uma nova nomenclatura. 

O vereador não teve nenhum puder ao propor a mudança de nome do CEMEI. Na sua justificativa deixou claro que a proposta se dá pelo fato de que o arco-íris é um símbolo de promoção do homossexualismo, que para ele trata-se de uma doença. Seguindo esse raciocínio não será nenhuma novidade que em breve se proponham leis proibindo de se vestir vermelho nas escolas por se tratar de um símbolo de promoção do comunismo.

Ora, que o nobre vereador tenha uma visão atrasada a cerca de determinadas questões da sociedade tudo bem. O problema é quando essa visão é acatada pelo Estado, e imposta para a sociedade como um todo. E foi justamente isso que aconteceu em Palmas com a decisão da gestão Cynthia Ribeiro (PSDB) de atender a demanda do vereador homofobico. E para piorar se justificar dizendo que não sabia do argumento homofobico que fundamentou a decisão da câmara de Vereadores. Ora que tipo de gestor é esse que sanciona um projeto sem se inteirar do seu conteúdo?!

Algumas questões chama atenção nesse episodio e não é a mudança de nome da referida escola. Até porque não é um fato incomum a mudança de nome de espaços públicos, inclusive sendo essas mudanças proposta por vereadores. 

O que chama atenção, em primeiro lugar, foi à forma com que a mudança se deu – em nenhum momento a comunidade escolar e a sociedade como um todo teve o direito de participar dessa discussão através de audiências públicas. Em segundo lugar o discurso de ódio que fundamenta tal decisão – discurso que alimenta os números crescentes de violência contra a comunidade LGBTT´s no Tocantins. E em terceiro, não poderíamos deixar de ressaltar a paranoia dos representantes dos setores conservadores que defendem projetos como “Escola sem partido”, que veem chifres até em cabeça de cavalos. E enxergam por todas as partes os doutrinadores da “ideologia de gênero” – ainda que esta só exista nas suas cabeças.

Para concluir, conhecendo bem estes senhores que nada fazem no parlamento a não ser “ensacar fumaça”. Não é de se admirar que seja aprovada em breve uma lei nos legislativos tocantinenses proibindo o arco-íris de se manifestar na natureza. Pois depois desta ultima do vereador Felipe Martins (PSC), só faltava essa não é mesmo?!

Pedro Ferreira Nunes - É educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Breve reflexão sobre o resultado das eleições suplementares para Governador do Tocantins

* Por Pedro Ferreira Nunes

Como é de praxe após o processo eleitoral começam as analises a cerca do recado dado pela população através do resultado revelado pelas urnas. Alguns comemoram outros lamentam. Algumas expectativas se confirmam outras são frustradas. Como sempre há questionamentos sobre o que apontava algumas pesquisas eleitorais e se discute a cerca da legitimidade destas. Por fim, sobram nas redes sociais os frustrados – tanto da esquerda como da direita – com a clássica acusação contra o povo. Mas se sobra desabafo, falta o essencial – autocritica. Também falta um mínimo de analise para que não se crie falsas ilusões e assim não se frustre diante de um resultado que já era o esperado.  

Maioria do eleitorado ignora ou dá voto de protesto no processo eleitoral

O alto índice de abstenção, de votos em branco e nulos nas eleições suplementares para o governo do Tocantins já era esperado. De modo que os números revelados após a votação no domingo (03/06) só confirmaram essa tendência. Segundo dados da justiça eleitoral foram 43,54% do eleitorado que se absteve, votou em branco ou anulou o voto. Por que isso ocorreu? Qual o recado que podemos tirar desses números? 

Não existe apenas um motivo como também não podemos tirar apenas uma única conclusão desses números. Até porque abstenção, votos em branco e votos nulos tem significados diferentes. Por exemplo, o voto nulo é mais um voto de protesto contra o sistema. Já o voto em branco e as abstenções pode significar uma frustração momentânea ou desinformação. O que isso significa? Que os votos em branco e abstenções podem se reverter nas próximas disputas. Já o nulo dificilmente será revertido.

Porém, não dá para olhar para esses números e não pensar a cerca da necessidade de uma verdadeira reforma política para mudar esse sistema eleitoral que a cada dia se mostra sem credibilidade junto à população. Talvez esse seja o principal recado dado pelos eleitores tocantinenses.

Sem grandes surpresas

Não houve grandes surpresas no resultado do primeiro turno das eleições complementares para o governo do Tocantins. Pois se confirmou a expectativa de que a disputa ficasse entre Vicentinho (PR) Kátia Abreu (PDT) Amastha (PSB) e Carlesse (PHS). Ao final sobrou Vicentinho (PR) e Carlesse (PHS) para disputar pela primeira vez na história uma eleição de segundo turno para governador do Tocantins. Uma questão importante é que tanto Mauro Carlesse como Vicentinho desbancaram nomes que há muito tempo estava trabalhando suas candidaturas ao governo.

Carlesse inclusive foi o mais votado reafirmando o peso da maquina pública no processo eleitoral e o apoio de figuras tradicionais como o deputado federal Carlos Gaguim e do Velho Siqueira Campos. Já Vicentinho foi à prova da força do interior no processo eleitoral – Não ganhou nos grandes centros, inclusive sua cidade – Porto Nacional. Mas teve maior capilaridade no Estado como um todo. E assim desbancou Carlos Amastha que teve uma votação expressiva nas grandes cidades, especialmente Palmas e Araguaína. 

Kátia Abreu (PDT) foi sem duvida a grande decepção. Ela que aparecia em algumas pesquisas na liderança amargou uma quarta posição. Já a surpresa ficou por conta da votação expressiva de Marlon Reis (REDE). Mesmo que ficando bem distante da possibilidade de disputar um segundo turno não se dá para ignorar a relevância de ter se alcançado 9% do eleitorado. Sobretudo se compararmos a estrutura do candidato da REDE em relação, por exemplo, a senadora do PDT. Aliás, nos grandes centros Marlon Reis conseguiu ficar a frente de candidaturas de políticos tradicionais do Estado como dos dois senadores na disputa (Kátia Abreu e Vicentinho). Já Mário Lúcio Avelar (PSOL) e Marcos Souza (PRTB) conseguiram alcançar justamente o resultado que era previsto.

O Segundo turno

Veremos novamente um embate entre os dois grupos mais tradicionais da política tocantinense. Isto é, o embate entre MDB e Siqueiristas – ainda que os lideres destes grupos estejam nos bastidores como no caso do MDB apoiando e dando sustentação política no interior para o senador Vicentinho (PR) e o Velho Siqueira Campos apoiando com veemência a eleição de Carlesse. 

Desse modo aqueles que dizem que a política tradicional venceu mais uma vez tem toda razão. Pois por mais que tentem esconder esses cabos eleitorais indesejáveis o fato é que estas figuras estão na suas bases de apoio. Por exemplo, foi emblemática a imagem do deputado mais medíocre da história do Tocantins – Carlos Gaguim – comemorando com Carlesse a ida para o segundo turno.

Para finalizar

Quais as conclusões que podemos tirar desse processo eleitoral? É possível ter uma conclusão que sirva de parâmetro para os próximos processos que teremos pela frente? Especialmente o de outubro. A primeira questão é entender que a realidade é dinâmica e que a conjuntura pode mudar de uma hora para outra – de modo que não se pode decretar desde já que em outubro se repetirá o mesmo resultado de agora. Será uma eleição completamente diferente dessa e candidatos que foram derrotados agora no primeiro turno tem grandes chances na disputa. Sobretudo por que ouso cravar, não teremos o mesmo número de abstenções e votos em branco.

No entanto não podemos negar algumas tristes conclusões – o peso da maquina pública no processo eleitoral e a hegemonia de grupos tradicionais na política tocantinense – ainda que transvertidos de novos. O que persistirá nos próximos pleitos eleitorais. Outra questão importante é à força do interior no processo eleitoral – uma questão que já algum tempo temos chamado atenção. Se algum candidato quiser de fato se eleger não pode contar apenas com os votos dos grandes centros, tem que interiorizar seu programa também. 

Por fim, não poderia deixar de escrever algumas palavras sobre a esquerda. No Tocantins a esquerda tem que caminhar muito ainda para que se apresente como uma alternativa ao eleitorado. Ora, não basta um nome bom se esse nome não é construído pela base. Aliás, que base? Antes de pensar em se tornar uma força relevante no cenário politico regional precisamos criar uma base. Cadê o trabalho de base que estamos fazendo nas organizações dos trabalhadores? Junto aos Operários, Sem terra, Sem tetos, Pescadores, Indígenas, Quilombolas e Estudantes. Cadê os núcleos de base? Os cursos de formação? Aparecer com um candidato apenas no período eleitoral e se ausentar das lutas dos trabalhadores no cotidiano é repetir os que os partidos da ordem fazem. A esquerda precisa jogar suas forças na construção de uma frente de luta contra o modelo hegemônico de avanço do capitalismo se quiser se tornar uma força relevante no Tocantins. E ai quem sabe não terá um melhor desempenho nas urnas.

"Há uma infinidade de homens porque tanto a classe operária quanto setores cada vez mais variados da sociedade fornecem, todos os anos, um número sempre maior de descontentes, que querem protestar, que estão dispostos a cooperar naquilo que puderem... Mas ao mesmo tempo, não há homens, por que não há dirigentes, não há lideranças políticas, não há talentos organizadores capazes de articular um trabalho simultaneamente amplo e unificado, coordenado, que permita utilizar todas as forças, mesmo as mais insignificantes..." 
Lênin, O que fazer?!

*Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Algumas questões sobre as eleições suplementares no Tocantins

- É verdade que já vai ocorrer à eleição para governador?
 – Sim, é verdade. Está marcada para o próximo domingo (03/06). 
– Nossa, mais já?! E todo mundo tem que votar? Quem são mesmo os candidatos? 

São algumas questões que escutei recentemente e que mostram o quanto parte significativa da população tocantinense está alheia ao processo eleitoral em curso no Tocantins para escolha do governo tampão que comandará o estado até o final de 2018. E isso deixa totalmente em aberto a disputa – só saberemos quem será eleito no domingo quando as urnas forem abertas.

Porém nos cabe questionar o porquê da população esta tão alheia a esse processo eleitoral? De acordo com Desidério Murcho (2010) para a generalidade das pessoas um interesse intenso pela vida política só faz sentido quando o conforto da sua vida privada está em risco, ou quando têm a esperança de que uma mudança política terá resultados importantes para qualidade da sua vida privada. O que é o reflexo de uma sociedade em que cada vez mais nos movemos por necessidades individuais e perdemos de vista o coletivo. O que para Murcho significa o fim da política, pelo menos no seu sentido clássico.

Se analisarmos a situação no Tocantins percebemos que a generalidade das pessoas não acredita que independente de quem seja eleito a sua qualidade de vida melhorará. Até por que os exemplos recentes não são animadores. E os que se engajaram na campanha são justamente aqueles que têm algum conforto através de um cargo comissionado e que buscam conservar. Diante disso podemos afirmar que um dos motivos que leva a população tocantinense a estar alheia a este processo eleitoral é o desencanto com a politica como um instrumento que sirva para melhorar suas vidas.

Outro fator é que as candidaturas postas ao governo estadual não conseguiram empolgar a população a ponto de fazê-la se envolver no processo. O que pode ser explicado pelo fato de que os candidatos não queiram jogar muito peso numa eleição para um mandato tampão. Ainda que o eleito agora largará em vantagem para as eleições de outubro. Veja o exemplo de Mauro Carlesse (PHS) se ele não houvesse assumido interinamente o governo do Tocantins e sem a máquina pública a sua candidatura se quer sobreviveria. Mas com a caneta na mão e o poder de nomear as coisas mudaram e o seu nome esta no páreo. 

Diante disso, como já falamos em outro artigo, a disputa agora é mais para ter a máquina pública na mão para obter vantagens e apoio político na campanha regular das eleições de outubro do que propriamente para implementar as promessas mirabolantes que apresentam em suas propagandas. Ora se num mandato de quatro anos dificilmente fariam o que estão prometendo, imagine num mandato de 6 meses mais ou menos. E ai está outro fator que desencanta a população.

Além de Mauro Carlesse (PHS) outros nomes que também aparecem bem na disputa são dos Senadores Kátia Abreu (PDT) e Vicentinho Alves (PR) além do ex-prefeito da capital Carlos Amastha (PSB). E é entre esses quatro que será eleito o novo governador ou governadora do Tocantins. Já que os outros três candidatos – Marlon Reis (REDE) Mário Lucio Avelar (PSOL) e Marcos Souza (PRTB) não tem nenhuma condição de serem eleitos. Não por falta de competência, mas tanto pela questão estrutural que ainda pesa muito numa campanha eleitoral como também pelas raízes oligarcas que ainda dominam fortemente a política, sobretudo no interior do Tocantins. E é justamente essas raízes oligarcas que colocam Vicentinho Alves e Kátia Abreu em vantagem em relação aos demais.

A força do senador Vicentinho Alves (PR) vem da base herdada do governo Marcelo Miranda (PMDB), sobretudo depois que o principal partido politico do Estado – PMDB – decidiu não lançar candidato próprio. Além do fato de que o PR sob o comando do senador Vicentinho Alves foi um dos partidos que mais cresceu no Tocantins, tendo uma forte raiz interiorana. Ao contrário de Vicentinho, Kátia Abreu não tem uma estrutura partidária forte, mas apesar dos desgastes e da moderação no discurso, continua sendo a principal liderança ruralista do Tocantins – e num estado em que a força do agronegócio é decisiva não é de se admirar que ela tenha um bom desempenho nas urnas. Porém o que tem sido decisivo para que ela figure como uma das favoritas é a fragmentação dos votos em várias candidaturas.

Contra essas duas figuras tradicionais da política tocantinense surgem Amastha (PSB) e Carlesse (PHS) defensores da lógica empresarial no serviço público, mas sem romper com a política tradicional. Os outros três candidatos, Mario Lúcio Avelar (PSOL) está no campo da esquerda – que não tem tradição no Tocantins e nem uma militância orgânica. Já Marlon Reis (REDE) apresenta um discurso bem liberal na mesma linha do candidato do PRTB – Marcos Souza – com foco no combate à corrupção. Aliás, a principal bandeira de Marlon Reis é o combate à corrupção. Nessa linha ele não tem poupado em se utilizar do fato de ter sido o autor do projeto da “Ficha limpa”.

No entanto não é apenas Marlon Reis (REDE) que tem focado o seu discurso no combate à corrupção. Todos os sete candidatos, sem exceção, dizem que a corrupção é o principal entreva para o desenvolvimento do Tocantins, e que, portanto será combatida nos seus governos. Porém, esquecem-se de dizer que ajudaram a eleger governos corruptos ou que estão respondendo por corrupção junto a justiça. Mas isso são detalhes, não é mesmo?! O que importa numa campanha eleitoral é dizer o que a população quer ouvir. 

Além do combate a corrução nenhuma candidatura tem tocado num ponto central que é o avanço de um modelo hegemônico de usurpação dos recursos naturais, destruição do meio ambiente, avanço da monocultura, do uso abusivo de agrotóxico, da utilização de mão de obra escravizada e da violência no campo. O que mostra que nenhum candidato, especialmente os quatros principais, tem a pretensão de fazer mudanças estruturais, se forem eleitos. Até por que os interesses que defendem são os mesmos – os interesses da burguesia agrária. Já os operários, camponeses pobres e os povos tradicionais que é a maioria da população tocantinense, que não esperem nada diferente do que temos hoje. Pois “Não vai mudar, vai ficar bem pior do que está. Mas é inútil dizer, se ninguém que saber...”

Pedro Ferreira Nunes - É Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

3º Jornada Filosófica da UFT debaterá Os 50 Anos do Maio de 1968, a Conjuntura Política Atual no País, os 200 anos de natalício de Karl Marx entre outras temáticas filosóficas.

Inicia nesta quarta-feira (23/05) e vai até sexta-feira (25/05) a terceira edição da Jornada Filosófica da Universidade Federal do Tocantins embalada pela memória dos 50 anos do Maio de 1968 e pelos 200 anos de Natalício do Filósofo alemão Karl Marx. Importantes acontecimentos que serão abordados em minicursos e comunicações. Além da discussão sobre a conjuntura política atual no Brasil entre outros temas filosóficos.

No primeiro dia (quarta-feira, 23/05) terá dois minicursos: A Influência de Herbert Marcuse nos Acontecimentos de Maio de 1968. Que será ministrado pelos Professores Paulo Sérgio Soares e André Francisco Freire Monteiro. E Republicanismo e Liberalismo: Um debate em torno da Liberdade Negativa e Liberdade Positiva. Que será Ministrado pelo Professor Marco Aurélio Cardoso. Ambos começaram a partir das 14h30 e vão até ás 18h. O local será o Bloco J, Salas 104 e 105 respectivamente. 

Já a partir das 19h após uma apresentação cultural terá a Mesa de Abertura com a discussão sobre O Golpe de 2016 e a onda conservadora no Brasil. Com os professores Roberto Amaral, Juliana Santana, José Soares e Gustavo Ferreira. Evento que ocorrerá no Bloco D (Anfiteatro) sala 05.

No dia 24 (quinta-feira) a programação continua a partir das 14h30 com o Minicurso Introdução à Teoria Critica com os professores Oneide Perius e Fabio Caires. E com a Oficina de Conceitos – Relatos de Experiências com os estudantes do Mestrado Profissional de Filosofia (PRO-FILO).  O local será o Bloco J, nas Salas 104 e 105 respectivamente. 

No período noturno, a partir dás 19h terá as mesas de comunicações sobre Fundamentos de Ética dos estudantes do curso de graduação em Filosofia e o primeiro dia do Minicurso Leia essa canção com os professores Roberto Amaral e Juliana Santana. O local será o Bloco D (Anfiteatro) nas Salas 04 e 05.

Dia 25 será o ultimo dia da 3º Jornada Filosófica da UFT (sexta-feira) e contará com o minicurso sobre Conhecimento e Sensação no Pensamento de Condillac que será ministrado pela professora Elizângela Inocêncio Mattos. E com a continuidade da Oficina de Conceitos – Relatos de Experiências dos estudantes do Mestrado Profissional de Filosofia (PRO-FILO).  Ambos começaram a partir das 14h30 e vão até ás 18h. O local será o Bloco J, Salas 104 e 105 respectivamente.   Já no período noturno terá o fechamento do minicurso Leia essa canção. E as mesas de Comunicações dos estudantes da graduação em Filosofia encerrando a 3º Jornada Filosófica da UFT. 

O evento faz parte do calendário bimestral do curso de Filosofia e vem se constituindo como o principal espaço de discussão política e acadêmica de Filosofia no Tocantins. Nessa edição a organização da jornada filosófica é dos próprios estudantes tendo o Centro Acadêmico Prof. José Manoel Miranda (CAFIL) à frente.

De acordo com a equipe de organização “apesar de ser um evento recente, já é sem dúvidas o principal espaço de divulgação e discussão da produção acadêmica em filosofia no Estado do Tocantins”. Os organizadores também justificam a importância do evento da seguinte forma: 

"O primeiro ponto é a necessidade de fortalecer e incentivar a produção acadêmica das e dos estudantes de Filosofia não só da Universidade Federal do Tocantins, mas do Estado como um todo. Outro ponto é a necessidade de se criar espaços para que essa produção acadêmica dos graduandos possa ser compartilhada com a comunidade acadêmica em geral. E assim não fique restrita apenas a sala de aula. Um terceiro ponto é que eventos dessa natureza contribuem para uma formação mais integralizadora das e dos estudantes. Que inclusive se sentiram mais confiantes para apresentar seus trabalhos em eventos acadêmicos Brasil afora. Por fim, a jornada filosófica é sem dúvidas um evento que fortalece o curso de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins e mostra a importância da Filosofia para pensarmos o contexto regional, especialmente no âmbito educacional".

Diante disso convidamos a comunidade acadêmica e a sociedade tocantinense em geral a participar desse importante evento – que traz questões importantes e tão necessárias de serem debatidas no momento atual que vivemos.

Por Pedro Ferreira Nunes – Graduando em Filosofia da Universidade Federal do Tocantins e da Coordenação Geral do CAFIL Prof. José Manoel Miranda.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Um poema para o dia do Assistente Social

Assistente Social

Combater ás desigualdades,
transformar a sociedade.
Combater os privilégios,
superar a pobreza.

Servir o Estado ou ao povo?
Eis a questão,
dizei-me a quem serve irmão.

Positivista?
Marxista?
Emancipador?
Assistencialista?

Ai de ti pobre coitado.
Mudar o mundo ou ser mudado?

Preencher fichas,
fazer diagnostico.
Um carimbo aqui,
uma assinatura acolá.

Nada muda,
nada irá mudar.

O entusiasmo da academia
se esvai numa sala fria
de um CRAS qualquer.

E assim segue sua sina
pobre assistente social
“executor terminal
de política social”.

Por Pedro Ferreira Nunes 

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Filosofia no estilo Punk Rock

“os que moram 
do outro lado do muro,
 nunca vão saber
 o que se passa no subúrbio”. 
Garotos Podres

Costumo imaginar as minhas aulas de filosofia como um show de punk rock – eu sou a banda, a sala o palco e os estudantes o público. E ao contrário da performance de uma orquestra em que o público fica em silêncio durante toda a apresentação. Um bom show de punk rock precisa da participação do público, da energia do público. Sem essa participação dos estudantes trazendo suas ponderações a cerca do conteúdo que está sendo trabalhado, ás aulas se tornam demasiadamente chatas. Não funcionam.

Quando eu não consigo estabelecer um diálogo com eles fico frustrado. O show não foi bom, ás músicas não contagiaram, o ritmo estava ruim. Ora, não me agrada nem um pouco uma aula que os estudantes fiquem calados como se tivessem assistindo a apresentação de uma orquestra (não que eu não goste de música clássica). Mas como fazê-los participar de uma aula que não lhes agrada, de uma discussão que eles acreditam não ter sentido? Como empolga-los com músicas que eles não querem ouvir? Com um show que eles dificilmente escolheriam assistir?

Diante dessas questões, o que posso dizer é que tem sido desafiador conseguir de alguma forma empolga-los para que se sintam instigados a participar de uma aula em que, grande parte deles, a priori, veem como algo desnecessário. E o que tem contribuído para que esse desafio seja superado é justamente esse estilo punk que tenho desenvolvido nas aulas de filosofia.

Nas minhas aulas os estudantes precisam falar ainda que seja para criticar o que está sendo dito por mim. Quem disse que o público não pode vaiar a banda quando a performance não está lhe agradando? Quem disse que o estudante tem que concordar com tudo que eu falo? Até por que se tem algo que espero das minhas aulas de filosofia é que eles aprendam a questionar a tudo e a todos. Óbvio que não questionar apenas por questionar, mas questionar com uma argumentação fundamentada. Pois como bem ressalta o professor Mário Ariel Gonzalez Porta “filosofar não é simplesmente opinar”.

Quem não aprecia punk rock ao ouvir alguma música de bandas como Sex Pistols, Garotos Podres, Cólera, Inocentes, Ratos de Porão, Olho Seco entre outras enxerga uma espécie de caos total e não compreende o som sujo, veloz e pesado com letras sendo berradas. A filosofia também é vista como um caos e tem fama de incompreensível. Sobre essa questão o professor Mário Ariel Gonzalez Porta afirma que a filosofia é vista como um caos pelo fato de que “o público em geral não percebe o que os filósofos de fato fazem e crê que cada um simplesmente diz o que quer, isso se deve, em grande medida, ao fato de que não toma consciência da existência de um problema que o filósofo está tentando solucionar”. 

Ainda nessa linha o professor Mário Ariel Gonzalez Porta alerta para o fato de que “o núcleo essencial da filosofia não é constituído de meras convicções, mas de problemas e soluções”. Em relação à fama de incompreensível da filosofia o professor Mário Ariel Gonzalez Porta destaca que se deve ao fato do público em geral não conseguir perceber que os filósofos “versão sobre problemas e, em consequência, que é impossível entende-los se não entendem os problemas dos quais eles tratam”.

No entanto se nos limitarmos a entender o problema de determinado filósofo estamos reduzindo o ensino de filosofia à história da filosofia. E precisamos ir além, precisamos instigar os estudantes a refletir sobre o seu cotidiano, a trazer os problemas do seu cotidiano para sala de aula e a partir daí além de compreender o pensamento filosófico eles estarão exercitando o filosofar, eles estarão filosofando ou pelo menos tentando. E assim temos feito, sempre partindo da realidade dos estudantes. Conseguindo com isso fazê-los a se interessar pela filosofia. É óbvio que não conseguimos agradar a todos e nem temos essa pretensão – o que é bom para que não criemos falsas expectativas e nem nos decepcionemos quando tais expectativas sejam frustradas.

Assim é uma banda de punk rock ela tem consciência que seu som já mais será tocado nas rádios comerciais, que já mais se apresentará nos programas dominicais de televisão, que não atingirá um grande público ou que alcançará o “maestrin”. Uma banda de punk rock sabe que em relação ao seu som não tem meio termo – só há aqueles que gostam e aqueles que odeiam. Sabe que não raramente pisará em terrenos hostis. Como o Sex Pistols numa noite em 1977 no The Longhorn Ballroom – Texas. Porém não abaixará a cabeça e tocará até o fim, ainda que não agradando á todos.

Enfim, é assim, como um show de punk rock que tenho encarado as aulas de filosofia numa escola estadual em Palmas toda sexta-feira. Buscando desconstruir para construir alguma coisa. Tem sido uma experiência interessante, creio que tanto para mim como para eles.

Pedro Ferreira Nunes – É graduando em Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Meu caminho a Marx: Algumas palavras em comemoração aos 200 anos do seu natalício.

“Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modifica-lo”. 
Karl Marx

Assim como tantos outros cheguei a Marx através dos marxistas – Ernesto Che Guevara, Lênin, Trotsky, Istvan Mészáros, José Paulo Neto, Paulo Freire, Plinio de Arruda Sampaio entre outros. Se cheguei a Marx através da leitura das obras marxistas. Como cheguei aos Marxistas? Responder essa questão inicialmente é importante para que voltemos à outra questão.

Era eu ainda adolescente em Lajeado quando comecei a me incomodar com as desigualdades sociais a minha volta. Sobretudo com as mudanças que ocorreram na cidade em consequência da construção da UHE – que nos expulsou da chácara onde morávamos. Nesse período comecei a questionar a ordem estabelecida, a me interessar por política e a militar no Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência (não uma militância orgânica).

Diante de tudo que eu via e sem respostas paras questões que levantava senti a necessidade de estudar para entender aquela realidade. Busquei então os livros de filosofia e sociologia. E foi a partir dai como também por influência da literatura (em especial Gonçalves Dias e Graciliano Ramos) e do Rock, do Reggae e do Rap que acabei me aproximando das ideias anticapitalistas.

Já morando em Goiânia é que tive acesso a livros marxistas propriamente. De inicio Che Guevara, em seguida Lênin e Trotsky. Já na militância política orgânica veio Paulo Freire, Plinio de Arruda Sampaio e Istvan Mészáros. E na faculdade de Serviço Social descobri José Paulo Neto. Nesse período alio o estudo do marxismo com a luta orgânica no movimento popular. E é na militância política que o marxismo vai se arraigando em mim. Porém até então, de Marx propriamente havia lido muito pouco – “O Manifesto do Partido Comunista” e “A Miséria da Filosofia” além de um e outro texto pequeno. 

E foi a partir do meu retorno para o Tocantins, mas, sobretudo com meu ingresso no curso de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins que comecei a sentir cada vez mais a necessidade de me aprofundar nas obras marxianas. O que não significa dizer que abandonei as referências marxistas que me levaram até Marx. Mas o fato é que a cada dia tenho sentido uma necessidade maior de aprofundar meus estudos das obras de Karl Marx.

Aliás, creio que esse é o caminho para combatermos por um lado à vulgarização e por outro a distorção do pensamento Marxiano. Essa vulgarização é feita pelos pseudos-marxistas, que no geral tem uma bela retórica, mas a prática está muito distante do discurso. E aleijar o pensamento de Marx da prática social numa perspectiva revolucionária é um crime. Percebo que essa vulgarização é bem comum na academia, por parte dos “marxistas de gabinete” que apresentam um discurso revolucionário, mas a prática é bem reacionária. O que estes senhores ditos “marxistas” fazem é um desserviço ao pensamento de Marx.

Já as distorções são obras de setores da intelectualidade a serviço das classes dominantes. Distorções que ganham força, sobretudo através das redes sociais e são reproduzidas por uma massa de alienados. 

O que se observa é que boa parte das criticas feita a Marx, é por um lado, falta de conhecimento do pensamento marxiano – criaturas que nunca leram se quer “O Manifesto do Partido Comunista”. Mas por que um liderzinho medíocre falou determinada coisa sobre Marx, se reproduz isso como se se tratasse de uma verdade absoluta. Por outro lado às criticas partem daqueles que conhecem muito bem a obra de Marx, e sabem o quanto é importante que os trabalhadores fiquem alheios a ela. Para que não ousem se libertar das correntes que lhes prendem.

É triste, sobretudo ver a juventude trabalhadora caindo nesse engodo. Reproduzindo um discurso reacionário e antimarxiano. E o pior é que quando você percebe que esse discurso antimarxiano é fundamentado numa visão distorcida de Marx. Pois tentam colocar na sua conta equívocos que não foram cometidos por ele, a lhe atribuir ideias que ele não defendeu. Mas isso não nos desmotiva, nos anima na luta anticapitalista. Sabendo como diz José Paulo Neto que “sem Marx, nada compreenderemos da contemporaneidade. Mas somente com Marx, e apenas com o que a tradição marxista já produziu, não teremos condições de compreendê-la radicalmente – para, é óbvio, transforma-la radicalmente”.

Enfim, aqueles que tanto o perseguiram, tentaram e continuam a tentar apagar suas ideias. Não imaginavam que 200 anos depois Karl Marx estaria mais vivo do que nunca. E continuará, pois como disse Slavoj Zizek “não se pode apagar uma ideia verdadeira”. E para aqueles que acham que Marx foi derrotado saibam que ainda estão rolando os dados, pois como diz uma canção “o tempo não para”.

Pedro Ferreira Nunes – é “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”.