quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Seguindo...

Não sei até quando, mas o fato é que agora em fevereiro este blog completará 9 anos de existência. São 9 anos mantendo uma regularidade de publicação semanal de pelo menos um novo conteúdo autoral (como pode ser conferido nos arquivos do blog). O desejo e a disposição é de continuar, por enquanto vamos seguindo.

Não é fácil manter um blog com conteúdos autorais, ainda mais quando esse conteúdo se refere a textos que exige tempo para pesquisa e produção. E mesmo sabendo que poucas pessoas leem, não abro mão do mínimo de qualidade. O que significa portanto que a pesquisa e a produção são fundamentais. 

Da minha parte não estou preocupado com a quantidade, mesmo sabendo que mais publicações significa mais visualizações. O que faz eu continuar seguindo é saber que o blog é uma referência no pensamento crítico no Tocantins – talvez o único com esse perfil. Buscamos dá voz as lutas populares e ser um espaço de questionamento da ordem dominante.  

Em 2020 conseguimos manter a média de publicações dos outros anos. Com muita dificuldade é verdade, devido ao fato de que o meu trabalho na educação básica exigiu muito de mim. Por outro lado me possibilitou novos aprendizados e a inspiração para alguns textos que inclusive foram publicados no blog. Não sei como será 2021, se conseguirei manter a média de produção dos últimos 9 anos, por enquanto, para iniciarmos mais um ano, compartilho as dez postagens mais populares do ano passado. E aproveito também para compartilhar o link do nosso recém criado perfil no Twitter, caso queira nos seguir por lá  (https://mobile.twitter.com/BarrancasDo).

10 Postagens mais vistas de 2020

Crônicas da quarentena: A difícil tarefa de ficar em casa no verão tocantinense: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/04/cronicas-da-quarentena-dificil-tarefa.html

A questão do fornecimento de água em Lajeado: Hora de pensar na municipalização do serviço: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/03/a-questao-do-fornecimento-de-agua-em.html

ESCOLA VAZIA: Um olhar dos estudantes do CENSP-Lajeado sobre educação em tempos de pandemia: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/08/escola-vazia-um-olhar-dos-estudantes-do.html

“O Rio não tá pra peixe” – intervenção artística na Ponte dos Imigrantes Nordestinos: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/06/o-rio-nao-ta-pra-peixe-intervencao.html

COVID-19: Esperança e Medo: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/03/covid-19-esperanca-e-medo.html

Byung Chul Han e Slavoj Zizek: Duas perspectivas para o mundo pós-pandemia de COVID-19: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/03/byung-chul-han-e-slavoj-zizek-duas.html

Literatura tocantinense: Pedro Tierra e o seu Porto submerso: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/03/literatura-tocantinense-pedro-tierra-e.html

Sobre a diferença entre gostar e confiar: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/04/sobre-diferenca-entre-gostar-e-confiar.html

Comentários a respeito das eleições municipais de 2020 em Palmas: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/01/comentarios-respeito-das-eleicoes.html

Como ser um escritor de sucesso ou para dizer que não escrevi auto-ajuda: https://pedrotocantins.blogspot.com/2020/01/como-ser-um-escritor-de-sucesso-ou-para.html


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A última de 2020

 Retrospectiva 

“Eu quero que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês...”

Belchior

Avançamos para superar mais um ano. 

E que ano senhores?! 

E que ano senhoras?! 

Se já não bastasse a crise climática, 

o governo Trump e seus congêneres. 

Ainda tivemos que encarar uma pandemia.

Uma pandemia que até agora já ceifou 

mais de 1 milhão e 500 mil vidas. 

Só no Brasil já ultrapassamos as 181 mil mortes. 

Mas apesar dos pesares sobrevivemos.

É, sobrevivemos. 

A pesar da fome,

que voltou a fazer parte do cardápio de muitas famílias.

Da violência,

sobretudo se você teve a sina de nascer preto.

Do egoísmo, 

De quem só olha para o próprio umbigo. 

do desgoverno.

Gostaria de terminar o ano

com uma mensagem otimista.

Afinal de contas estamos vivos.

Mas o índice de aprovação do governo

mostra que não há espaço para ilusões.


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular, Poeta e Escritor Tocantinense. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Filosofia no estilo punk rock: O Podcast Aufklärung

No final de junho, após alguns meses de suspensão das aulas presenciais na rede estadual de educação do Tocantins, fomos convocados para retomada do ano letivo através de aulas remotas para as terceiras séries do ensino  médio. O desafio que se colocava diante de nós era dar aulas numa realidade, e em condições, para qual não estávamos preparados. 

Isso ficou mais evidente diante do quadro que nos foi apresentado, sobretudo em relação a condição de acesso a internet e equipamentos tecnológicos por parte dos estudantes do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência. A partir daí a questão que me veio na cabeça foi: Como ensinar Arte, Filosofia e História remotamente? Sobretudo sabendo que esses componentes curriculares metodologicamente tem o diálogo como um elemento fundamental. 

Desse modo, ainda que não estivéssemos presentes num mesmo espaço, era necessário buscar alternativas para que o diálogo ocorresse. Mas como?

O óbvio era utilizar os recursos tecnológicos para me conectar com os estudantes. Da minha parte isso não era tão difícil. Apesar de não ser um expert em tecnologia, me viro bem. Ainda mais quando o assunto é utiliza-la para fins educativos. No entanto como salientei no início, sabíamos que a maioria dos nossos estudantes não tinham equipamentos e acesso a internet com mínimo de qualidade – acessavam a internet via aparelho celular com pacote de dados móveis. 

Desse modo era preciso utilizar uma ferramenta acessível para eles. E que também, eu conseguisse fazer com os equipamentos que eu tinha – que não eram lá essas coisas.

Durante esse processo percebi que mais de 90% dos estudantes do CENSP-Lajeado tinham whatsapp ou podiam acessa-lo através de um aparelho celular de um familiar. Percebi então que este poderia ser uma ferramenta utilizada não só para informar (como era utilizado pela equipe diretiva da escola), mas também para formar. Para tanto seria necessário pensar em algo que não consumisse tanto os pacotes de dados móveis.

Das várias alternativas que foram surgindo nesse período de reflexão e pesquisa, fazer um podcast foi a que mais me atraia. Sobretudo na medida que fui me aprofundando nas leituras acerca do que era e de como fazer um podcast. E ao ouvir alguns podcast da área de Filosofia a minha conclusão foi: - Eu consigo fazer isso. 

Óbvio, teria que ser algo pensado e elaborado para minha realidade, e dos meus estudantes. Algo que atendesse ao objetivo almejado. Tendo isso claro, o momento seguinte foi o de “colocar a mão na massa”. E assim fiz, no estilo punk rock – do faça você mesmo. Desse processo surgiu o podcast Aufklärung (Esclarecimento), onde em cerca de 20 minutos eu dava uma aprofundada no conteúdo trabalhado no roteiro de estudo impresso. Isto é, referenciando o conceito Kantiano (Aufklärung), eu esclarecia,  ou tentava pelo menos, os conceitos e ideias presentes nos conteúdos trabalhados. 

Para compartilhar com os estudantes eu utilizava os grupos da turma no whatsapp – onde podiam baixar o arquivo de áudio para ouvir em qualquer momento (sem consumir muitos dados móveis da sua franquia de internet). E assim, além do roteiro de estudo impresso, tinham o podcast, com uma explicação um pouco mais aprofundada, para contribuir na compreensão acerca dos conteúdos trabalhados em Arte, Filosofia e História.

Creio que foi um canal importante para que os estudantes das terceiras séries do CENSP-Lajeado pudessem ter um material a mais para compreender os conceitos e ideias abordados nos textos encaminhados nos roteiros impresso. Conceitos e ideias que nem sempre são de fáceis compreensão (sobretudo em se tratando de filosofia), mas com uma explicação razoável, relacionando com questões do cotidiano deles, esse entendimento pode ser facilitado.

Outro ponto a se ressaltar é que os episódios eram elaborados a partir do feedback que obtiamos por parte dos estudantes, isto é,  do diálogo que conseguíamos estabelecer mesmo não nos encontrando presencialmente. E creio que a maior evidência que isso tenha ocorrido de forma exitosa pode ser encontrado no e-book Escola Vazia... onde os estudantes das terceiras séries  (regular e eja) fazem um breve relato sobre as aulas em tempos de pandemia. 

Mas enfim, se o podcast aufklärung contribuiu de alguma forma para que os estudantes das terceiras séries do ensino médio do CENSP-Lajeado tenham tido um maior aproveitamento nos seus estudos. Para mim, sem nenhuma dúvida, foi um grande aprendizado fazê-lo. Imaginar que no início eu não sabia nem o que era um podcast e no final conseguir o que conseguimos mostra bem isso. Espero também que essa experiência sirva de exemplo para mostrar aos demais educadores que mesmo em condições adversas podemos aprender e fazer a diferença. Segue, para quem quiser conferir, o link de acesso a três episódios:

História do Antigo Norte Goiano: https://www.spreaker.com/user/13141568/aufklaerung-009-hist-20200714-111953

Espinoza: Amor e Ódio: https://www.spreaker.com/user/13141568/aufklaerung-010-fil-20200718-194420

Arte Popular: https://www.spreaker.com/user/13141568/aufklaerung-008-art-20200714-113443_1

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins.  Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.

sábado, 5 de dezembro de 2020

Algumas palavras sobre orientação acadêmica

Um dos períodos mais temidos da vida acadêmica é quando vai se aproximando o momento de fazer o trabalho de conclusão de curso (TCC) – ainda mais se você  deixa tudo para última hora. Nesse processo um momento fundamental é a escolha do orientador. Pois é o orientador que tem a capacidade de tornar essa jornada menos estressante e até traumática para alguns. Desse modo é preciso buscar um orientador que oriente e não desoriente. Se não for possível então deve se buscar um coorientador que transforme a desorientação em orientação. 

Paulo Freire escreveu sobre o caráter autoritário dos intelectuais brasileiros no artigo “Para trabalhar com o povo” (1983). Autoritarismo que está presente mesmo quando se é de esquerda. Diz ele: “Nosso autoritarismo se transformou na arrogância, na sabedoria com que falamos, nas exigências de leitura que fazemos, no comportamento nos cursos e seminários. Citamos uns 40 livros e mandamos o aluno ler uns 200 capítulos, além dos 40 livros” (2012, p. 30). Esse autoritarismo fica mais evidente no processo de orientação de trabalhos de conclusão de curso. E leva a uma situação tão difícil que, ou o estudante troca de orientador, ou pior, paga alguém para fazer o seu trabalho.

Alguns acadêmicos nessa situação tem me procurado desesperado por não conseguirem desenvolver o TCC. E em muitos casos tenho observado que, em que pese a deficiência desses estudantes, o pior é a orientação que eles recebem – orientações que deveriam contribuir para que desenvolvam satisfatoriamente o trabalho de escrita do TCC, mas que acaba desorientando-os pela questão do autoritarismo. Quando alguém nessa situação me procura o meu trabalho é evitar que esse alguém não estoure – não desista do curso, do TCC, troque de orientador ou pague outra pessoa para fazer seu trabalho. Como? Você que lê essas linhas deve está se perguntando.

O primeiro passo é tranquilizar a criatura. Mostrar que aquilo que ela vê como impossível é totalmente possível. Mostrar que construir um artigo acadêmico não é coisa para superdotados. Há um padrão que você deve seguir, e seguindo esse padrão as possibilidades de erros diminuem enormemente. O segundo passo é convencê-la de que não adianta mudar de orientador sobretudo quando já se está num determinado estágio. O melhor é não contestá-lo, bater de frente com ele. Você precisa dele mais do que ele de você. Por tanto busque atender o que ele exige. Tentar ir contra é se estressar á toa. Terceiro, tento convencê-la a não pagar alguém para fazer o seu TCC, mas sim buscar uma espécie de coorientação.

É fato que tem algumas criaturas que por mais que queiram não conseguem escrever sozinhas – não conseguem colocar suas ideias no papel de acordo com o padrão exigido em trabalhos científicos. Isso é reflexo do nível deficitário de leitura e escrita dos nossos estudantes. Um problema que tem origem na educação básica e que na Universidade não se resolve, pelo contrário. Ai é que esse problema se explicita ainda mais a medida que o nível de exigência de leitura e escrita aumenta. 

Geralmente os cursos ofertam uma disciplina para remediar essa questão (no curso de licenciatura em Filosofia da UFT, por exemplo, essa disciplina se chama “leitura e produção de textos científicos”), que no entanto não é suficiente – tanto pela didática dos professores como pela carga horária pequena. Com isso vai se empurrando o problema ao longo do curso até que chega o pré-projeto e em seguida o TCC onde não há mais como escapar. Ou você produz um trabalho de acordo com as exigências do meio acadêmico ou não concluí o curso.

Pode se questionar si de fato é necessário todo esse peso que si joga no TCC. Se de fato é isso que define se si pode concluir o curso ou não. Que se será ou não um bom profissional. Ou se no final das contas trata-se apenas de um ritual de passagem que na prática servirá apenas para o orientador enriquecer seu currículo lattes. Independente do que seja, o fato é que as instituições de ensino exigem, portanto não há para onde correr. E se não tem para onde correr o jeito é encarar.

Daí a importância de saber escolher bem quem será o seu orientador (ou orientadora) para que essa jornada seja menos traumática possível. Ele saberá indicar se o problema que você pretende trabalhar é de fato viável e a partir daí lhe orientar para que seu objetivo seja alcançado. Um ponto que você deve ficar atento é para não ser usado pelo orientador, fazendo um trabalho em torno de um problema que não é do seu interesse mas dele. É preciso buscar um orientador que dialogue com você e não que lhe dê ordens.

Não é um caminho fácil, não se iluda quanto a isso. Por mais domínio que você tenha sobre a leitura e escrita de textos acadêmicos as dificuldades surgirão. Imagina então para quem não tem esse domínio. No entanto você pode e deve tomar algumas decisões que farão com que essa dificuldade diminua – entre essas decisões está a de buscar ajuda de um coorientador. Ele não irá fazer o seu trabalho mas sim um acompanhamento mais próximo – a ideia é tornar compreensível a orientação do orientador.

Para tanto o coorientador não pode ter um perfil autoritário. Ele deve ter a capacidade de desenvolver uma didática a base do diálogo. Compreender as fragilidades do orientando e traçar estratégias para supera-las. O coorientador deve pacificar a relação entre orientador e orientando pois assim o processo caminhará mais rapidamente. E sempre tomar consciência se o orientando está de fato compreendendo o que está fazendo – se o trabalho final corresponde aquilo que ele pensa. Pois será ele que irá encarar a banca avaliadora e, por tanto, deve está preparado para esse momento.

Para concluir, defendo a tese que o TCC não é nenhum bicho de sete cabeças, de modo que não vale a pena surtar e cortar os pulsos. É possível sim tomar algumas medidas (creio ter mostrado algumas nesse breve texto) que ajudará a diminuir as dificuldades que você por ventura encontrar durante essa jornada. E assim fazer desse momento um momento de aprendizado e não de tortura.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado. 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Poemas da Quarentena

Hoje 

Não haverá feira,

esquece o caldo de chambari.

Nem a resenha no bar,

é melhor não insistir.


Não haverá futebol,

segura o gritou de gol.

Nem o jogo do Kawhi,

que você tanto esperou.


O show do RDP,

não vai mais acontecer.

Nem o festival de tatoo,

que tanto queria ver.


Esquece o rolê no shopping, 

com a turma da quebrada.

A praia está cancelada, 

E aquela pedalada.


Caminhar na praça,

Não é uma alternativa. 

Ir ao cinema?

desista minha amiga.


O que tem pra hoje?

é ficar em casa.

Quem sabe lendo um livro,

Ou vendo série enlatada. 


Por Pedro Ferreira Nunes -  In Antologia Ruas Vazias: O Corona Vírus em Prosa e Verso. Editora Veloso, 2020.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

As perspectivas políticas em Lajeado, Miracema e Tocantinia após o resultado das eleições

Se olharmos o resultado das eleições municipais (que ocorreram no último dia 15 de Novembro) nesses três municípios, podemos afirmar que a população está dividida – Nenhum dos três candidatos (para cargos majoritários) que saíram vitoriosos das urnas conseguiu uma vitória absoluta. O que não é ruim. Pois exigirá do gestor eleito uma maior habilidade política para lhe dar com os conflitos advindos dessa divisão. Ainda mais se enquanto grupo político pretendem ficar mais tempo no poder. 

Nesses três municípios prevaleceu os candidatos que eram tidos como favoritos. No caso de Lajeado, o atual prefeito Júnior Bandeira  (MDB). Em Miracema, a oposicionista Camila Fernandes  (MDB). E em Tocantinia, o atual prefeito Manoel Silvino (SD). Este último aliás, foi o que teve mais dificuldade se analisarmos o resultado do ponto de vista proporcional. Já do ponto de vista quantitativo, a maior dificuldade foi de Junior Bandeira. Camila Fernandes por sua vez, conseguiu um resultado expressivo (para os padrões de Miracema), tanto do ponto de vista proporcional como quantitativo. Mas não conseguiu eleger vereadores suficiente para ter maioria no legislativo municipal. 

Em Tocantinia Silvino foi eleito apenas com 38,22% dos votos. A sua vitória portanto pode ser creditada na divisão da oposição que dividiu mais de 60% do eleitorado em quatro candidaturas. Já Camila Fernandes obteve uma vitória mais tranquila, conquistando 53,10% do eleitorado. Mas não conseguiu a maioria no legislativo. De modo que se o seu grupo não conseguir deslocar pelo menos um  vereador eleito para situação, o controle da Câmara de Vereadores ficará com a oposição (5 candidatos a vereador eleitos pelo grupo da Camila Fernandes e 6 pelo grupo do Prefeito Saulo Milhomem). 

Esse problema Silvino não terá em Tocantinia, já que seu grupo conseguiu eleger a maioria dos vereadores – foram 5 candidatos eleitos pela chapa da situação e 4 pela oposição. Não é uma grande vantagem. Mas de inicio pelo menos garante a eleição de um presidente do legislativo aliado ao prefeito. 

Percentualmente a vitória de Júnior Bandeira em Lajeado foi a mais tranquila, pois conquistou 54,86% do eleitorado. Além do fato de ter conseguido fazer tranquilamente a maioria da Câmara de Vereadores  (elegeu 7 candidatos enquanto a oposição ficou com duas vagas). Mas levando em consideração que á menos de 1 ano – na eleição suplementar – obteve quase 80% dos votos do eleitorado. É claramente perceptivo que o seu grupo perdeu força. Isso fica mais evidente quando analisamos quantitativamente o resultado das eleições nesses três municípios. 

Camila Fernandes obteve 1.637 votos de diferença para o seu principal adversário. Silvino 340 e Bandeira 311. Isto é, Júnior Bandeira foi o que obteve a menor diferença em relação ao seu principal adversário. 

Você camarada que ler essas linhas deve está pensando pragmaticamente – o que importa é ter ganho. Se ainda fosse com 1 voto de diferença não importava. Bom, o meu objetivo aqui ao trazer os números é fundamentar o que disse no início,  isto é, a divisão política que existe nesses municípios e o fato de que não há uma grande hegemonia por parte de nenhum dos grupos políticos que foram eleitos. Óbvio, que com a máquina pública na mão fica mais fácil buscar essa hegemonia. E isso implica no fato de que entre outras coisas, nem todos os vereadores que foram eleitos pela oposição, permaneceram na oposição. 

Aliás, falando em Vereadores, quando analisamos como será a composição das casas legislativas nesses três municípios, o perfil não é muito animador, sobretudo se falarmos em representatividade feminina e dos jovens. Houve mudanças? Sim. Por exemplo, em Miracema 7 das 11 cadeiras será ocupada por novatos. Em Tocantinia 5 das 9 será ocupada por novatos. E em Lajeado 4 das 9 será ocupada por novatos. Mas são mudanças só de nome e não de perfil. Em Miracema a representatividade feminina no legislativo continuará apenas com uma vereadora. Em Lajeado da mesma forma. Aliás, houve uma mudança em relação a atual legislatura que tem duas vereadoras. Já em Tocantinia permanecerá o quadro atual que é de nenhuma mulher ocupando uma cadeira na Câmara de Vereadores. Em relação a juventude o quadro é o mesmo. De modo que podemos dizer que os eleitores dessas três cidades foram na contramão da média geral das eleições em todo o país que apontou por exemplo a eleição de um maior número de candidaturas femininas.

Todo esse cenário nos aponta algumas questões.  Primeiro, temos um quadro de divisão política nesses municípios. Mas não é uma divisão que aponta para uma ruptura com o modelo político hegemônico e sim para uma estagnação. Segundo o papel submisso da mulher e da juventude  - revelando a força do patriarcalismo ainda dominante no interior – mesmo com a eleição de uma prefeita como no caso de Miracema. 

Diante disso, as perspectivas políticas, a curto prazo nesses três municípios, não são de mudanças. E com isso concluo com a sensação que já escrevi isso outras vezes. Fazer o quê? A realidade não me permite concluir de outra forma.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela UFT.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Resenha: Os Escravos - Castro Alves

Eu sou o homem negro

Vim pra cá acorrentado em navios negreiros

Como um animal

Como um animal...

Inocentes


Quem no ensino médio não viu numa aula de literatura sobre o Romantismo no Brasil o professor apresentar Castro Alves e ler alguns versos do seu célebre poema “O Navio Negreiro”?! Mas Castro Alves não é poeta de um único poema, e também não cantou apenas as dores da escravidão. De modo que quando falamos em Castro Alves não estamos falando de uma figura totalmente desconhecida da nossa história. Sobretudo quando nos remetemos a história da escravidão no Brasil ou sobre a literatura brasileira – mesmo tendo morrido muito jovem, o seu legado literário o coloca como um dos grandes símbolos da nossa literatura. 

Nascido Antônio Frederico de Castro Alves, no interior da Bahia, num mês de Março, no ano de 1847. Tornou-se conhecido como Castro Alves – o Poeta dos Escravos – por seus versos fervorosos denunciando os horrores da escravidão e mostrando as veias abertas daquela sociedade escravocrata. Representante da Terceira Geração Romântica no Brasil se imortalizaria ao se tornar patrono da cadeira n° 7 da Academia Brasileira de Letras. Morreu jovem vítima da tuberculose quando tinha apenas 24 anos. Mas viveu uma vida intensa tal como um desses Rockstars suicidas. Deixou uma obra que segundo Dilva Frazão  (2020) se caracteriza pela denúncia da crueldade da escravidão e o clamor a liberdade. Castro Alves deu ao Romantismo um sentido social e revolucionário. E a sua poesia era um grito explosivo a favor dos negros. É o que podemos conferir numa pequena coletânea (Os Escravos – Editora L&PM POCKET, 2013) composta por 34 poemas de sua autoria.

Entre os 34 poemas que compõem a coletânea “Os Escravos” estão aqueles mais conhecidos como O Navio Negreiro e Vozes d’África. No entanto eu chamaria atenção para outros poemas não tão conhecidos, mas que não deixam a desejar. Entre estes eu destacaria: Ao Romper d’alva, A canção do Africano, Bandido Negro, Saudação a Palmares e Adeus, meu canto. 

Senhor, não deixes que se manche a tela 

Onde traçaste a criação mais bela

De tua inspiração. 

O sol de tua glória foi toldado...

Teu poema da América manchado,

Manchou-o a escravidão. 

Acima temos um trecho do poema “Ao Romper d’alva” (1865), onde o Poeta chama atenção para anomalia que é a escravidão sobretudo quando olhamos para natureza como uma perfeição Divina. De início o poema parece um canto de amor a natureza, mas no final o Poeta nos mostra que enquanto persistir a escravidão aquela beleza está contaminada. Esse poema me lembrou Rousseau quando disse que “tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas, tudo degenera entre as mãos do homem” (Emílio ou Da Educação, 1762).

Lá na úmida senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão, 

Entoa o escravo seu canto,

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão...

Assim inicia A canção do Africano onde o Poeta nos pega no braço e nos leva para conhecer a realidade de uma senzala. Ali um casal de Escravos e seu filhinho. A noite ao pé da fogueira o Escravo começa a entoar um canto melancólico de saudades da sua terra. A escrava com o filho no colo também canta as saudades do seu torrão. E assim por alguns minutos eles se libertam da condição em que estão. Mas só por alguns minutos.

O escravo então foi deitar-se,

Pois tinha de levantar-se

Bem antes do sol nascer,

E se tardasse, coitado,

Teria de ser surrado, 

Pois bastava escravo ser.

Imagine a força desses versos num contexto em que as ideias abolicionistas cada vez mais ganhavam força, sobretudo ali no meio acadêmico, na faculdade de Direito, do Recife, que Castro Alves frequentava.

Cai, orvalho de sangue do escravo,

Cai, orvalho, na face do algoz.

Cresce, cresce, seara Vermelha,

Cresce, cresce, vingança feroz.

Esses versos poderiam muito bem ser o refrão de um punk rock, mas são do poema Bandido Negro. Onde o Poeta deixa de lamentar a condição do escravo e passa a exaltar aqueles que se rebelam contra tal situação. Sendo também essa mesma linha que  ele segue no poema Saudações a Palmares.

Palmares! a ti meu grito!

A ti barca de granito,

Que no soçobro infinito

Abriste a vela ao trovão. 

E provocaste a rajada,

Solta a Flâmula agitada

Aos uivos da Marujada 

Nas ondas da escravidão.

Aqui nosso Poeta exalta o exemplo daqueles que decidiram se rebelar  contra a escravidão e construíram um território onde vivem em liberdade. Servindo de exemplo e inspiração a tantos outros que permanecem nas garras dos escravocratas. E por fim temos Adeus, meu canto – uma espécie de manifesto do poeta em defesa da sua poesia.

Eu sei que ao longe na praça, 

Ferve a onda popular,

Que as vezes é pelourinho 

Mas pouca vezes – altar.

Que zombam do bardo atento

Curvo aos murmúrios do vento

Nas florestas do existir,

Que babam fel e ironia

Sobre o ovo da utopia 

Que Guarda a ave do porvir.

Em Adeus, meu canto o nosso Poeta responde as críticas que recebia. E se estamos falando de um contexto onde prevalecia o poder de senhores escravocratas. Essas críticas não eram poucas. Mas que ao contrário de faze-lo recuar, lhe dava mais força para que continuasse defendendo o fim da escravidão. Mesmo depois de morto os seus versos continuaram, e até hoje nos inspiram, a condenar essa mancha na nossa história. 

Enfim, são apenas alguns dos belos poemas, que encontramos nessa pequena coletânea  (Os Escravos) de poemas do Castro Alves. Para além da beleza poética dos seus versos, são poemas que nos ajuda e nos inspira a lutar contra o racismo e toda forma de opressão. Aos que quiserem, gravei um vídeo falando dessa obra para o Festival Virtual de Arte e Literatura do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência. Segue o link: https://youtu.be/9Swv54kzWV4.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.