quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Breve reflexão sobre as eleições no Tocantins: A derrota.

A maior derrota no processo eleitoral no Tocantins não foi de Carlos Amastha (PSB) que não conseguiu levar a disputa pelo governo do Estado ao segundo turno. Também não foi de Vicentinho que se destacava nas pesquisas como o favorito para ocupar uma das duas vagas ao senado. Ou da esquerda representada pela candidatura do PSOL que não conseguiu se quer alcançar o voto de 1% do eleitorado. Sem dúvida a maior derrota dessas eleições é de Marlon Reis da Rede Sustentabilidade. Por quê? Vejamos.

De todos os candidatos que se apresentavam para disputa ao Palácio Araguaia, Marlon Reis era a novidade. Afinal de contas, oriundo do judiciário, seria a primeira vez que disputaria um cargo eletivo. E apostando na possibilidade de crescimento diante do desgaste de representantes da política tradicional no Tocantins ele se lançou. No entanto nós já alertávamos para o fato de que “se fosse uma eleição municipal numa disputa pela prefeitura da capital ou de uma grande cidade do interior como Araguaína, Gurupi, Porto Nacional ou Paraiso. Sem duvidas Marlon Reis seria um nome com condições reais de pelo menos incomodar”. Mas também pontuamos que sua candidatura poderia “desempenhar um papel importante” tanto pelo fato de qualificaria o debate bem como apontaria “formas alternativas de fazer política”. (CONJUNTURA POLÍTICA NO TOCANTINS, 2018).

Veio então à eleição suplementar e Reis surpreendeu com uma votação expressiva alcançando quase 10% do eleitorado (56 mil votos). E a surpresa maior foi ter conseguido derrotar candidaturas tradicionais em vários colégios eleitorais – isso sem aliança com grandes partidos, sem tempo de TV e pouca estrutura. De modo que Marlon Reis saia fortalecido do processo eleitoral suplementar – inclusive mais fortalecido que nomes que haviam ficado a sua frente na disputa. O que fez com que ele e seu grupo político logo passassem a vislumbrar algo maior nas eleições regulares.

Até ai tudo bem. De fato o resultado apontava que havia espaço para construção de uma terceira via. Mas o problema é quando Marlon Reis e seu grupo político na busca por alçar voos maiores se alia a grupos da política tradicional tocantinense. Com isso ele ganha mais tempo de TV e maior estrutura. Mas perde aquilo que fazia de sua candidatura uma novidade – autonomia das grandes legendas e uma forma alternativa de fazer política. Perde também a credibilidade diante do eleitorado que passa a vê-lo como mais do mesmo. É o que reflete a sua votação na eleição regular que alcançou apenas 6,68% do eleitorado (47.046). Como se vê, de 56 mil nas eleições suplementares, que inclusive foi mais disputada que a eleição regular e teve menos votantes, o candidato da Rede caiu para pouco mais de 47 mil votos.

Mas a grande derrota de Marlon Reis, não foi ter tirado menos voto e não ter sido eleito. Isso era previsível. A sua derrota foi ter abrido mão dos princípios que dizia defender. Se mantivesse a coerência construiria uma base solida para as próximas disputas eleitorais. Já que a base que se formou em torno da sua candidatura foi única e exclusivamente por oportunismo. Muitos dos partidos que se aliaram com o candidato da Rede só o fizeram por que tiveram as portas fechadas nas coligações comandadas por Carlesse e Amastha.

Marlon Reis foi um tanto ingênuo ao achar que podia contar com o engajamento dos grupos da politica tradicional em torno da sua candidatura – estes quase sempre estavam em palanques dos seus adversários. E assim, em vez de usa-los, Marlon Reis foi usado por eles, e bem usado. Pois afinal de contas à coligação encabeçada por Marlon Reis elegeu o senador Irajá Abreu (PSD) além de deputados federais e estaduais. Porém nenhum é da Rede Sustentabilidade – que sai da eleição como entrou, sem nenhum representante no parlamento.

E como esses que foram eleitos na chapa encabeçada por Marlon Reis não tem uma aliança programática com a Rede Sustentabilidade. É óbvio que mudaram de lado – irão para o lado de quem está com a máquina pública na mão.

É diante de tudo isso que para nós fica evidente que a maior derrota dessas eleições é de Marlon Reis da Rede Sustentabilidade. Pois no final das contas mesmo sendo derrotado – Carlos Amastha conseguiu uma votação expressiva, inclusive aumentado a sua votação em relação à eleição suplementar. A derrota de Vicentinho também não foi a pior dessas eleições. Afinal de contas desde o inicio do pleito apontávamos que a disputa pelas duas vagas do senado seria a mais concorrida da história do Tocantins.  Não dá para negar que surpreendeu muita gente, inclusive as pesquisas. Porém se olharmos para o cenário nacional perceberemos que Vicentinho não foi o único cacique da política a perder o mandato no senado nacional. Já quanto à votação do PSOL, também não vemos como uma derrota – derrota seria não ter uma candidatura própria e se aliar com um partido da ordem – como defendiam alguns no PSOL Tocantins.

Sendo assim é de fato Marlon Reis e seu grupo político que saem com a maior derrota e a grande frustração dessas eleições no Tocantins. Resta saber se terão força para tentar reverter essa derrota nas disputas eleitorais futuras – uma tarefa que não é impossível. Afinal de contas em política os derrotados de hoje, poderão ser os vencedores de amanhã. Para tanto é preciso tirar lições das derrotas para não repeti-las. Se estão dispostos a isso, saberemos futuramente.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio. Cursou a faculdade de Serviço Social e atualmente estuda Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Resenha: “Marx: Vida e Obra” por Leandro Konder

“Marx elaborou as bases de uma vasta concepção do homem e do mundo. Por força das condições em que viveu e em virtude da urgência das tarefas que se impôs, não pode desenvolver suas idéias no que concerne aos diversos planos da atividade humana: concentrou-se nos exame dos problemas econômicos, sociais e políticos.”
Leandro Konder

Nesse ano em que se celebra os 200 anos do natalício de Karl Marx têm sido publicado várias livros que resgatam a sua trajetória de vida bem como a relevância das suas obras. Porém não falaremos aqui de uma dessas novidades. Mas de um livro que já foi publicado há certo tempo – a primeira edição data de 1968. Trata-se de “Marx: Vida e Obra” escrito pelo filósofo Leandro Konder. A edição da qual falaremos é a 7ª publicada pela editora “Paz e Terra” em 1999.

Comecemos, pois falando do autor do livro – Leandro Konder – sem dúvidas uma das referencias filosóficas na América Latina nos estudos Marxianos e Marxistas. Leandro Konder Nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1936 numa família envolvida com a militância política. Inclusive seu pai – o médico Valério Konder – era líder comunista. Leandro Konder por sua vez formou-se em Direito, mas foi na Filosofia, onde doutorou-se, que digamos, ele se encontrou. Dedicou boa parte da vida a militância política e a docência e é a partir daí que surgiram suas obras. Entre elas podemos destacar: “Marxismo e alienação”, “O que é dialética”, “O marxismo na batalha das ideias”, “O futuro da filosofia da práxis”, “A questão da ideologia” e “Sobre o amor”.

 “Marx: Vida e Obra” é dividido por tópicos que são desenvolvidos de forma breve. Ele parte do “Nascimento” de Karl Marx em “Tréves, no sul da Prússia Renana, região situada hoje na Alemanha” (pag. 11). Passando pela “infância”, a relação com sua companheira de toda a vida – “Jenny”. A vida universitária, a atividade como jornalista, a amizade e parceria com “Engels”. O seu desenvolvimento intelectual, a militância política, as “polêmicas” travadas com tudo e todos. As perseguições que sofrerá fazendo com que “mudasse mais de país do que de sapatos” como diria Brecht. A miséria permanente, as perdas sofridas, enfim a “morte” e o seu legado.

E no meio de todas essas questões Leandro Konder vai introduzindo os principais conceitos marxianos e o contexto em que foram elaborados. Por exemplo, “Alienação”, “Dialética”, “Materialismo”, “Prática”, “Mais-Valia” entre outros. Tudo numa escrita bem objetiva – no intuito apenas de introduzir Marx aqueles que não o conhecem, mas querem se aventurar nos estudos da sua obra. Konder acerta na medida, sobretudo ao deixar aquele gosto de “quero mais”. E isso leva o leitor a ir buscar outras leituras, especialmente do próprio Karl Marx.

Para se ter uma ideia como ele desenvolve isso vejamos um trecho do livro no tópico sobre a polêmica que ele trava com “Proudhon”, polêmica da qual teve como fruto a obra “A miséria da Filosofia” em resposta “A filosofia da miséria” de Proudhon.

"Proudhon condenava a filosofia dos que procuravam explorar a miséria dos trabalhadores, conduzindo-os por caminhos revolucionários (que, a seu ver só lhe trariam prejuízos). Marx criticou Proudhon por reduzir a dialética hegeliana às proporções mais mesquinhas que poderiam ser imaginadas. “Na França, ele tem o direito de ser um mau economista, porque passa por ser um bom filósofo alemão. Na Alemanha, tem o direito de ser um mau filósofo, porque passa por ser um dos melhores economistas franceses”." (KONDER, 1999; 59)

É essa trilha que Leandro Konder segue por toda a obra. Trazendo questões da vida e da obra de Karl Marx intercalando com citações diretas do próprio biografado. Como podemos verificar em mais um trecho no tópico onde o autor aborda a “Dor” sofrida por Marx com a perda do filho Edgar aos nove anos de idade. 

"A morte do garoto deixou Marx acabrunhadíssimo. Em total prostração, ele escreveu a Engels: “tenho passado por todas as espécies de dificuldades, mas só agora sei mesmo o que é uma verdadeira desgraça”. E, dois meses depois, ainda escreveu a Lassalle: “Bacon diz que os grandes homens têm relações tão diversas com a natureza e com o mundo, têm tantos objetivos a reter-lhes a atenção, que lhes é fácil esquecer a dor de qualquer perda. Pois bem: não sou um desses grandes homens. A morte de meu filho me abalou profundamente o coração e a cabeça. E continuo a sentir-lhe a falta com a mesma intensidade que no primeiro dia”. "(KONDER, 1999:87)

A narrativa de Konder não é cansativa, pelo contrário. Tem uma verve literária que torna a leitura por demais agradável. E assim vemos se materializar diante de nós o homem que Engels definiu como “Revolucionário” que se dedicou a cooperar de diversas formas com a superação da “sociedade capitalista e das instituições de Estado por ela criadas”. O homem que tinha como elemento a luta. “E lutou com paixão, uma tenacidade, um êxito, como poucos.” (Engels)

Falando da posteridade da obra de Karl Marx, Leandro Konder ressalta que mesmo pensadores não marxistas reconhecem a vitalidade do seu pensamento.

"é por isso que um Heidegger por exemplo, no fim da vida estava se dedicando a reflexões sobre temas colhidos na obra de Marx. É por isso que Jean-Paul Sartre, tendo partido de pontos de vista existencialistas, desemboca na conclusão de que: “o marxismo é a filosofia insuperável do nosso tempo”. E é por isso que o católico Jean Lacroix, replica àqueles que se apegam a uma versão dogmática do marxismo, escreve: “Em sua inspiração mais profunda, o espirito marxista é, sem dúvida, uma negação radical de todo dogmatismo”." (KONDER, 1999; 151)

Sem dúvidas “Marx: Vida e obra” de Leandro Konder é uma ótima maneira de se introduzir nos estudos da obra Marxiana. E por que começar lendo uma biografia em vez de ler o próprio Marx? Por que acreditamos, tal como aponta uma perspectiva hermenêutica, que não podemos conhecer a obra de um autor sem entender quem foi esse autor e o contexto no qual ele desenvolveu suas ideias.

Além disso, não podemos deixar de lado a biografia de Karl Marx para não cairmos numa visão reducionista da sua obra ou então tirar o seu conteúdo subversivo e revolucionário. Isso não quer dizer que devemos, se de fato queremos entende-lo, se limitar a leitura de uma biografia. 

Aliás, o próprio Leandro Konder deixa claro que o seu objetivo com essa obra é apenas nos legar uma “breve introdução a Marx”. Afirmando que “quem quiser aprofundar seus estudos sobre Marx e suas concepções, evidentemente, deverá procurar lê-las nos próprios textos de sua autoria”. (KONDER, 1999; 153). Uma questão fundamental, sobretudo nos tempos medíocres que vivemos.

Pedro Ferreira Nunes – Cursou a Faculdade de Serviço Social e atualmente estuda Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.  É Educador popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Bernadete 50 Governadora: Uma candidatura necessária para enfrentar o modelo hegemônico de desenvolvimento no Tocantins.

“E você samba de que lado...
de que lado você samba?
Chico Science

Qual o modelo de desenvolvimento para o Tocantins você quer? O modelo de avanço do agronegócio e do hidronégocio? Que violenta e expulsa dos seus territórios índios, quilombolas e camponeses pobres? O modelo que entrega os bens públicos para a iniciativa privada através de privatizações recebendo em contrapartida um serviço caro e de péssima qualidade? Um modelo de caos permanente na saúde e de descaso com a educação? Em que o desemprego é a realidade para maioria dos indivíduos e o interior só é lembrado no período de campanha eleitoral? Em que as mulheres, os negros e a juventude não têm voz e nem vez? Pelo contrário, tem os seus direitos negados e engrossam as estatísticas de vitimas do status cos? Um modelo de desenvolvimento comandado por uma elite ruralista e especuladores imobiliários?

Se é esse o modelo de desenvolvimento que você quer para o Tocantins – não ti faltará opções nessas eleições. Não são poucos os candidatos que não só defendem esse modelo como propõem aprofunda-lo através da “desburocratização” que impedem o “desenvolvimento” do Tocantins. E o que seria essa “desburocratização” se não a flexibilização de leis, sobretudo ambientais, que minimamente criam barreiras para o avanço devastador do agronegócio e do hidronegocio. Essa flexibilização é fundamental para que o projeto de expansão da mineração no Estado – proposto por determinado candidato e que já mostrou seus efeitos nefastos em Mariana (MG) e Barcarena (PA) – se concretize. A partir dai as expressões da questão social que surgiram – como o aumento da desigualdade e a violência – serão apenas detalhes.

Mas se você acredita que não é só possível como necessário outro modelo de desenvolvimento – um modelo alternativo que aponte para “além do capital” como nos diria Mészáros. Você também tem opção, mas neste caso apenas uma. E essa opção é a candidatura ao governo do Tocantins da camarada Bernadete Aparecida Ferreira pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL. Bernadete é educadora popular e militante feminista – fundadora da Casa 08 de Março – organização com mais de 20 anos de história na defesa das mulheres trabalhadoras tocantinenses vitimas de violência.

Bernadete tem uma trajetória de luta inquestionável na defesa dos interesses do povo pobre e trabalhador – seja do campo ou da cidade. Organizando cursos de formação, promovendo a economia solidária, fazendo mobilização, realizando marchas e manifestações. Construindo no dia a dia a resistência contra esse modelo de desenvolvimento hegemônico – mostrando que é possível vislumbrarmos uma alternativa anticapitalista para o Tocantins. E a sua candidatura ao governo do Tocantins segue essa linha. 

De modo que ao assumir essa tarefa, sobretudo num estado com fortes raízes conservadoras. Bernadete evidencia mais ainda sua coragem em enfrentar a ordem vigente – apresentando um projeto popular para esse estado que sempre esteve nas mãos de elites oligarcas. E é por isso que sua candidatura é uma candidatura necessária – a única que legitimamente tem dado voz a pauta feminista, aos sem terra, aos sem teto. A todas e todos aqueles que estão à margem dessa sociedade.

Uma das fundadoras do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no Tocantins a candidatura de Bernadete também significa um resgate do partido para a linha aguerrida da agremiação a nível nacional. O que não ocorreu em 2014. Com isso o PSOL se souber trabalhar bem a relação com os simpatizantes que estão se aproximando do partido por causa da campanha da Bernadete, pode ter um ótimo saldo organizativo. E a partir dai se tornar uma referência há médio prazo para classe trabalhadora tocantinense – tão carente de uma referência à esquerda.

A candidatura da camarada Bernadete tem cumprido um papel importante, mesmo diante dos limites do ponto de vista estrutural e a disparidade de condições entre os candidatos – o que só evidencia mais ainda de que lado eles estão. 

A candidatura da camarada Bernadete é uma semente que está sendo plantada e se soubermos cultiva-la colheremos bons frutos amanhã. Para tanto precisamos de coragem e tenacidade como nos ensinou o querido Plínio – que num celebre discurso disse – “não acreditem no impossível, o impossível torna se possível se você quiser, ele vira possível. É preciso é coragem, é preciso é tenacidade, é preciso é força. E é preciso não esconder a realidade, não ter medo dela. É preciso falar as coisas como elas são...”. E nessa campanha eleitoral no Tocantins a única candidata que fala as coisas como elas são, é a Bernadete – sem medo da onda conservadora que tenta nos engolir.

Não temos ilusão quanto ao resultado das eleições. Isso pouco importa na verdade. Até por que não será pelas vias eleitorais burguesas que conseguiremos frear o modelo de desenvolvimento hegemônico de avanço do capitalismo. O que significa que não tenhamos de participar do processo, sobretudo para denunciar essa farsa. E é ai mais uma vez que se afirma a necessidade da candidatura ao governo da camarada Bernadete como também do senador e deputados da legenda. 

Diante disso se você acredita e defende a necessidade de outro modelo de desenvolvimento para o Tocantins – um modelo que rompa com a lógica do capital –precisa mostrar de que lado você samba – se ao lado da burguesia ou do proletariado, dos latifundiários ou do campesinato pobre, do opressor ou do oprimido. Se o seu lado é o dos oprimidos, do campesinato pobre e do proletariado então vamos juntos com Bernadete governadora.

Pedro Ferreira Nunes
Pelo Coletivo José Porfírio

Casa da Maria Lúcia. Lajeado-TO, Lua Cheia – Primavera de 2018.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Da série contos interiorano: Na boca da vinte

*Por Pedro Ferreira Nunes

- Rapaz, cê viu que baixinha linda. Cê conhece ela?

- Tu tá doido home. Aquela menina é namorada de um dos chefes da gangue dos ‘cabelo molhado’. Mexer com ela é morte na certa.

Paulo desde pequeno sabia da fama da gangue dos cabelo molhado. Dificilmente havia uma festa em Miracema em que os cabelos molhados estivessem presente que não acabasse em briga. E se fosse na boca da vinte era certeza que no dia seguinte haveria velório em Miracema.

Mesmo assim ao saber do rala coxa que aconteceria na boca da vinte, Paulo não pensou duas vezes. Já havia oito anos que ele morava em Goiânia. Quantas saudades ele não sentia da sua terra natal. Ia muito aos forrós na capital goiana, mas nada que se comparavam as festas de Miracema. Além do mais depois de tantos anos imaginava que a famosa gangue dos ‘cabelo molhado’ já não mais existia, como também que a boca da vinte já não era tão violenta como fora outrora.

- Uai, a gangue dos ‘cabelo molhado’ ainda existe?

- Fica esperto rapaz, num mexe com essa muie não que é confusão na certa. 

Paulo não deu ouvidos para seu primo que o alertava a cerca do perigo de se mexer com a mulher do líder da gangue dos ‘cabelo molhado’, e logo se aproximou da garota chamando-a para dançar. Essa por sua vez muito faceira não negou fogo.

- Oh morena que remexe gostoso.

Fazia tempo que Paulo não dançava daquele jeito. Não há coisa mais gostosa que dançar um forró no estilo tocantinense – pensava Paulo. A mulher requebrava gostosamente nos braços de Paulo, este por sua vez não ficava para trás, não negando o seu sangue tocantinense.

Mas a felicidade de Paulo durou pouco. Logo ele estava rodeado pela gangue dos ‘cabelo molhado’.

- Tu não sabe que essa mulher me pertence? Chega de fora querendo arrotar bacaba aqui na nossa área? Aqui tu não se cria não.

- Desculpa rapaz, eu não sabia que ela era tua namorada. Mas também a gente estava só dançando.

Ao ver a confusão armada o primo de Paulo em vez de ajuda-lo caiu no braquiara. Ele estava só agora diante da famosa gangue dos ‘cabelo molhado’.

De repente Paulo leva um soco por trás e cai no chão. Ao cair no chão leva chute de todos os lados é tanto chute que ele não consegue se defender, pois não conseguia ver de onde vinha tanto chute. O sangue já descia de tudo quanto era buraco do seu corpo.

Todos haviam corrido do salão, ali permanecia apenas Paulo no chão sendo massacrado pela gangue dos ‘cabelo molhado’. Ninguém ousou entrar para salva-lo, nem a policia estava por ali.

De repente Paulo sentiu algo frio entrando no seu corpo, uma, duas, três e muitas vezes. Paulo não conseguia ver da onde vinham as punhaladas, vinham de vários lados e sendo desfechada por varias pessoas ao mesmo tempo. Á ultima imagem que Paulo viu antes de morrer foi da garota sorrindo, a garota que havia sido o pivô de toda aquela historia. E ainda por cima fora ela que lhe deu a ultima facada.

- Paulo, Paulo. Acorda Paulo. Você estava tendo um pesadelo.

Paulo assustado levantou-se passando a mão por todo o corpo, ainda sentia o corpo todo doendo das facadas que acabara de levar dos caras da gangue dos ‘cabelo molhado’. Mas aliviado Paulo percebeu que fora apenas um pesadelo. E que pesadelo.

*Pedro Ferreira Nunes – “é apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Breve comentário sobre as eleições para o governo do Tocantins: Pesquisas eleitorais.

Se as pesquisas eleitorais estão certas as eleições para o governo do Tocantins caminham para serem decididas no primeiro turno com a reeleição do atual governador – Mauro Carlesse (PHS). O problema é que as pesquisas eleitorais no Tocantins não são muito confiáveis. É só lembrar do que estas mesmas pesquisas apontavam na eleição suplementar. De modo que ao invés de comemorar é bom a frente governista colocar a barba de molho.

É fato que Carlesse saiu fortalecido da eleição suplementar não só por ter saído vitorioso, mas pela forma com que essa vitória se efetivou – com larga vantagem em relação ao segundo colocado. Uma vitória contrariando as pesquisas eleitorais que num dado momento lhe colocavam na quarta colocação. Com a máquina pública na mão não foi difícil construir uma coligação forte para disputar as eleições regulares. O difícil seria conseguir arrumar vaga para tanta gente. 

Difícil não, missão impossível. Com isso os descontentes tiveram que pegar o chapéu e ir buscar um assento em outro lugar. Mas apesar dos atritos a candidatura de Carlesse segue firme – com as pesquisas eleitorais apontando sua vitória no primeiro turno.

A candidatura de Carlos Amastha (PSB) tem se configurado como a única capaz de fazer frente a Mauro Carlesse – também é o que apontam as pesquisas. E sem dúvidas, mesmo com a derrota na eleição suplementar. O colombiano conseguiu construir uma coligação forte que lhe deu mais capilaridade. E isso refletirá na sua votação. Se essa votação será suficiente para levar a disputa para o segundo turno é difícil dizer. Porém se conseguir esse feito, que me parece ser bem provável, sairá mais fortalecido ainda para uma disputa de segundo turno.

A chapa governista por sua vez ficará com o sentimento de derrota, pelo fato da peleja não encerrar no primeiro turno. 

Ora, se tem algo que tem marcado a política tocantinense é a imprevisibilidade. O próprio Carlesse é fruto desse fenômeno. Antes da cassação do mandato de Marcelo Miranda ele não aparecia com o mínimo de chance de se tornar governador do Tocantins. De modo que é sempre recomendável uma boa dose de precaução para não se deslumbrar diante do que ainda não está dado. Afinal de contas como recomendam nossos avós “precaução e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.

Aliás, esse é um ponto que vem sendo levantado por comentaristas políticos que acompanham o dia a dia dos bastidores da política tocantinense. Esses comentaristas alertam que o clima de já ganhou na base governista pode atrapalhar a eleição de Mauro Carlesse no primeiro turno. Fazendo um paralelo com o futebol dizem que o jogo não acaba antes de terminar. E pontuam a capacidade de Amastha surpreender levando a eleição para o segundo turno. Porém deslumbrados pelos números das pesquisas eleitorais tais alertas são ignorados pela chapa governista.

A questão é que como já pontuamos – as pesquisas eleitorais nem sempre trazem resultados confiáveis – sobretudo no Tocantins. Mas é claro que aqueles que são favorecidos pela pesquisa não deixaram de utiliza-la no intuito de influenciar o eleitor indeciso. Até ai tudo bem. Tentar iludir o eleitor faz parte do jogo político, o problema é se autoiludir. Já os candidatos que não aparecem tão bem nas pesquisas lhes restam desqualifica-la.

O fato é que as pesquisas atendem certos interesses de modo que é preciso analisa-las criticamente. É preciso observar quem são as organizações por trás dessas pesquisas e os interesses que representam. Há claramente por parte dessas empresas que recomendam pesquisas eleitorais, não o interesse de informar a população, mas controlar o processo. Inclusive influenciando diretamente no voto do eleitor.

Diante disso nos cabe citar o que diz Sonia Guajajara candidata a co-presidência da república pelo PSOL: “Uma eleição não pode ser vista como uma corrida de cavalo que se aposta em quem ganha. É preciso conhecer os projetos e votar naquilo que acredita”. Afinal de contas a eleição não tem um fim em si mesma. A questão é o que vem depois – e o que virá depois dependerá de quem elegermos.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio. Estuda Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Sistema CUBO: Tecnologia a serviço da Burocracia.

“A racionalidade tecnológica revela o seu caráter político ao se tornar o grande veiculo de melhor dominação...”.
Herbert Marcuse

Se não era fácil à vida de quem buscava junto a Pró-reitoria de Assuntos Estudantes (PROEST) alguma bolsa ou auxilio. Essa tarefa se tornou ainda mais burocrática com a implementação do Sistema Cubo (Cadastro Unificado de Bolsas e Auxílios). E assim o que tinha como objetivo agilizar os processos tornando-os menos burocráticos, culminou num processo nebuloso justificado na racionalidade tecnológica.

Quando da implantação do sistema Cubo não houve nenhuma resistência por parte dos estudantes até por que era unanime entre estes a critica pela morosidade do processo de distribuição de bolsas e auxílios. Morosidade justificada pela falta de técnicos da área de assistencial social para analisar os processos de forma mais célere, sobretudo diante da grande demanda. Mas ao invés de reforçar o quadro da assistência social na UFT, preferiu-se desenvolver um programa tecnológico. De modo que a analise Socioeconômica dos acadêmicos passou a ser feito eletronicamente.

Ainda no inicio da implantação do sistema Cubo os problemas começaram a surgir, no entanto compreendeu-se que tais problemas eram naturais para algo que estava sendo implantado. A perspectiva era que com o tempo esses problemas seriam superados - inclusive a Proest não poupando esforços no sentido de ofertar formação para que as dificuldades dos estudantes em acessar o sistema cubo fossem superadas. Com o tempo os estudantes começaram a perceber que o problema não era ter acesso ao sistema, mas atender todas as etapas exigidas através da apresentação de documentação. Aliás, a esse respeito às coisas continuavam tão burocrática como antes.

Além de toda a dificuldade de conseguir providenciar a documentação exigida, sobretudo para quem é de outras cidades. Soma-se a isso a necessidade de organizar tudo num único arquivo e enviar pelo sistema Cubo (tudo via internet). A questão é que nem todos tem acesso a um computador com internet. Uma alternativa seria os laboratórios de informática nos campus. Mas pelo menos em Palmas o acesso é restrito há alguns cursos. 

Como não é possível ter acesso a nenhum dos programas coordenados pela PROEST sem estar cadastrados no Cubo muitos estudantes estão abrindo mão dos seus direitos por não suportar toda a burocracia exigida para se ter acesso a uma bolsa permanência, auxilio alimentação, auxilio moradia ou auxilio viagem. Dessa forma o sistema Cubo tem servido para fazer uma peneira. E mesmo assim nem todos que conseguem passar por essa peneira têm acesso aos programas e auxílios da assistência estudantil.

É importante destacar a importância da política de assistência estudantil para garantir que os estudantes, que estão em situação de vulnerabilidade social, não abandonem o curso. Tal importância é comprovada por pesquisas realizadas na própria UFT. De modo que a política de assistência estudantil não pode ser restrita, mas sim atender a todos que dela precisam. 

É de se esperar o discurso por parte da gestão de que faltam recursos. O problema é quando a representação estudantil compra esse discurso. É o que se percebe nos fóruns de assistência estudantil. Aliás, a Proest tem utilizado os fóruns de assistência estudantil para aprisionar os representantes discentes – fazendo com que estes comprem o discurso de cortes orçamentário – tendo que estabelecer prioridades. E se tornam refém dessas prioridades. Pois quando se vai na Proest reivindicar algo importante mas que não foi estabelecido como prioridade. Justificam: - o fórum estudantil estabeleceu isso.

Os estudantes e suas entidades representativas não podem se submeter a isso. Não é nosso papel. O nosso papel é cobrar que seja feito o que for necessário para que os interesses de todas e todos os estudantes sejam atendidos – de todos os cursos, de todos os campi. Nós não somos um braço da Proest, uma correia de transmissão dos interesses de quem esta na gestão. De modo que quando necessário, devemos partir para o enfrentamento. Ou se não nos tornamos cúmplices de determinadas políticas.

Determinadas políticas que são lançadas como um avanço, mas que acaba sendo uma armadilha. Mas pelo fato de estarmos numa sociedade cada vez mais dominada pela tecnologia, essa armadilha acaba sendo imperceptível. É ai por tanto que o filósofo alemão Herbert Marcuse nos trás uma importante reflexão sobre essa questão. De acordo com ele “a tecnologia serve para instituir formas novas, mais eficazes e mais agradáveis de controle social e coesão social.” É a partir dai que podemos compreender a lógica do sistema Cubo.

Pedro Ferreira Nunes - Cordenação Geral do CAFIL Professor José Manoel Miranda - UFT

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Eleições no Tocantins: Oportunismo e as Três faces de um mesmo projeto.

Tem ocorrido um fato interessante no processo eleitoral em curso no Tocantins – o apoio de prefeitos e lideranças políticas não a uma coligação, mas a candidatos, inclusive de coligações diferentes. Tal fenômeno é bastante revelador do que representa as três principais coligações que disputam a hegemonia política no Tocantins. No fundo são três faces de um mesmo projeto.

Ainda que não seja garantia de vitória, ter na base de apoio uma gestão municipal na disputa eleitoral é um peso inquestionável. É por isso que os candidatos fazem questão de divulgar na imprensa o apoio de prefeitos e outras lideranças políticas. Tal peso se torna relevante ainda mais no interior onde se sabe o peso da máquina pública é decisivo. Mas o que se vê no processo eleitoral em curso é que a maioria dos prefeitos e lideranças políticas não estão fechando com uma coligação, mas com candidatos individualmente. 

É o caso, por exemplo, do prefeito da segunda maior cidade do Tocantins (Ronaldo Dimas de Araguaína) que apoia tanto candidatos da Coligação encabeçada por Mauro Carlesse (PHS), o próprio Mauro Carlesse ao governo, como também que estão na chapa comandada por Marlon Reis (Rede), que é o caso de Irajá Abreu para o senado. Moisés Avelino (MDB) prefeito de Paraiso também apoia à candidatura a reeleição de Mauro Carlesse, já para o senado um dos seus candidatos é Vicentinho (PR) da coligação liderada por Carlos Amastha (PSB). Já o prefeito de Lajeado – Tercio Neto (PSD) apoia candidatos de três coligações diferentes: Mauro Carlesse ao governo; Irajá Abreu (PSD) e Vicentinho (PR) ao senado; Vicentinho Jr (PR) para a câmara dos deputados e Toinho Andrade (PHS) para a assembleia legislativa.

Esses são apenas alguns exemplos do que está ocorrendo de norte a sul do Estado. Inclusive há relatos de que em alguns municípios esta ocorrendo dobradinha entre candidatos a deputado estadual e federal de coligações diferentes. 

Teoricamente isso seria um contrassenso partindo do pressuposto que essas três coligações representam projetos diferentes. De modo que seria inviabilizar o governo elegendo candidatos adversários, não é mesmo?! O ideal para um governo forte e estável não é ter uma boa base de sustentação? Isso não obrigará o governo a ter que comprar o apoio destes que forem eleitos e que não são da sua base?

O fato é que na prática as três principais coligações (“A verdadeira mudança” encabeçada por Carlos Amastha; “Frente alternativa” encabeçada por Marlon Reis e “Governo de atitude” encabeçada por Mauro Carlesse) representam o mesmo projeto de desenvolvimento. E no final das contas independentemente de quem for eleito os interesses das elites estão garantido.

Se hoje estão em palanques opostos trata-se de uma questão circunstancial. Nada impedirá que amanhã estejam juntos, como já estiveram no passado. Tudo dependerá das negociatas por um carguinho aqui, outro acolá. E não precisa ir muito longe para confirmar essa tese, é só analisar o que ocorreu após as eleições suplementares – quem antes estava de um lado e agora esta do outro. 

Ora o que justifica essa mudança de galho se não interesses em obter mais vantagens para si e para seu grupo político?! Sobretudo quando se pula para um galho que antes se criticava. O que fez com que de uma hora para outra o que era ruim passa a ser bom? Na vida ser uma metamorfose ambulante pode até ser algo belo, mas em política isso se chama oportunismo. E em política, o oportunismo é visto como uma atividade parasitária. E está presente tanto no campo da direita como na esquerda. Catarina Casanova (2016) afirma que “o oportunismo pode ser visto como uma espécie de prática política que se define pela acomodação às circunstancias, que busca retirar proveito destas não respeitando, normas, regras ou estatutos”.

É assim que têm agido os candidatos dessas três coligações. E é assim que têm agido aqueles que os apoiam.

O que fica evidente é que a briga entre essas três coligações é única e exclusivamente pelo poder. Chegando ao poder não se iludam quanto ao projeto que estes senhores irão implementar – é o velho projeto de governo que aprofundará o modelo hegemônico de desenvolvimento tão nefasto para os trabalhadores e o campesinato pobre. 

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio. Cursou a faculdade de Serviço Social e atualmente cursa Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.