- O que Miro? Não quero saber. Você já pensou
a repercussão que terá este caso se estes trabalhadores conseguirem chegar à
cidade e denunciar que estavam trabalhando em regime de escravidão na minha
fazenda? Você sabe que pode ser cassado o meu mandato de senadora? Você não
imagina o estrago que isso fará na minha imagem como palatina da ética, como
defensora do homem do campo? E o meu projeto de ser governadora desse estado
Miro? Você sabe muito bem que irá por água abaixo se essas denúncias vierem à
tona. Mais não pense que eu me ferro sozinha, eu levo todos vocês comigo. Por
tanto não quero saber como, mas resolva este problema, faça como você fez nos
outros casos se preciso for. Ai na fazenda ainda há muita terra para se abrir
covas para enterrar estes fujões.
- Pode deixar patroa, pode deixar que nós
vamos resolver por aqui.
- Se precisar de reforço contrate mais
jagunços. Mas resolva.
- Não precisa patroa, nós nos viramos com o
que temos aqui. Quanto menos gente envolvida, melhor.
- Ok. Aguardo notícias e me mantenha
informada.
Após tantos dias planejando como fugir daquela
fazenda João, Raimundinho, Lazão, Neguim e Zezim haviam conseguido render e
tomar as armas dos dois jagunços que ficavam os vigiando.
- O que a gente faz agora? A gente tenta
chegar até a sede para pegar um carro para sair daqui? Pois para chegar até
Miranorte caminhando demorara muito.
- Além do que devem de estão procurando pela
gente.
- Vivo ou morto.
- É arriscado a gente tentar ir até a sede.
Vamos caminhando até Miranorte se preciso for.
- Vocês viram aquelas covas. Deve ser de
outros trabalhadores que morreram aqui. Se nos pegarem teremos o mesmo fim.
Enquanto isso a ordem de Miro para os jagunços
da fazenda era uma só.
- Eles não podem sair vivos daqui. Tem muita
coisa em jogo. Vocês sabem muito bem o que fazer, pois já fizeram isso muitas
vezes. Por tanto vamos à caçada e divirtam-se.
Estava anoitecendo os amigos haviam caminhado
o dia todo e nada de se depararem com uma viva alma. Não seria fácil sair
daquela fazenda de repente um tiro seguido de um grito.
- Achamos eles, achamos eles.
Em seguida mais tiros. Agora dos dois lados.
- Vamos escondam-se. Gritou João para seus
companheiros.
- O Zezim e o Neguim tão baleado. Vamos fugir,
vamos fugir. Gritou Raimundinho desesperado.
Sem muita munição João e Lazão não conseguiram
revidar por muito tempo os ataques dos jagunços. Se por um lado Zezim e Neguim
estavam mortalmente feridos, do outro lado três jagunços também haviam tombado
e foram obrigados a se retirarem deixando algumas armas para trás.
-
E agora o que faremos? O Zezim e o Neguim estão mortos.
-
Vamos ter que enterra-los aqui, não temos condições de leva-los. Mais eu
prometo que nós vamos voltar para dar um enterro digno para eles e punir os
responsáveis por isso.
-
Eles deixaram algumas armas, vamos pega-las que nossas munições acabaram, pois
com certeza eles viram atrás de nós agora com mais ódio ainda, pois matamos
três deles.
-
Você ouviu o que eles disseram. Que a senadora nos quer mortos. Essa fazenda é
dela então.
-
É verdade. Mas vamos resistir. Se a gente vai morrer que seja lutando. Gritou
Lazão.
Durante
a noite eles quase não conseguiram dormir, pois qualquer barulho que eles
ouviam imaginava que poderia ser os jagunços sob o comando de Miro que estava
chegando para mata-los.
-
Precisamos continuar andando.
-
Estão ouvindo este barulho. Deve ser os jagunços chegando vamos preparar uma
emboscada?
-
É preciso saber quanto eles são, pois dependendo do numero é suicídio só nós
três encara-los.
-
É melhor continuarmos a nossa marcha. Não temos condições de enfrenta-los, a
não ser que tiverem divididos.
Já
no final de mais um dia o combate era inevitável, pois os jagunços que há muito
estavam no encalço de João, Raimundinho e Lazão havia os alcançados.
-
Agora vocês não nos escapam.
E
novamente começou o tiroteio.
-
Não vamos desperdiçar balas, atira só se tiver certeza que vão acertar.
Orientava João.
A
peleja continuava e os amigos resistiam bravamente aos ataques dos jagunços. De
repente Lazão é ferido, mas mesmo assim continua atirando.
-
Aguenta Lazão, aguenta.
Do
outro lado, dois jagunços já haviam sido tombados. Cada vez que um jagunço
tentava avançar levava um tiro mortal. No local onde os amigos haviam se
entrincheirados era muito difícil de conseguirem atingi-los, assim os jagunços
ficaram incapazes de avançar sem si tornarem alvos fáceis.
-
Cassete, esses caras tem o corpo fechado. Dizia Chicão para seus comparsas.
-
Mais um. Vêm seus porcos, que vamos matar todos vocês. Gritava João eufórico.
Após
perderem mais dois jagunços, a jagunçada teve que se retirar mais uma vez, pois
a munição estava no fim. Enquanto haviam perdido quatro jagunços, todos os amigos
escaparam com vida, apenas Lazão estava ferido de raspão no ombro.
O
sol estava nascendo e ao longe Raimundinho conseguiu avistar uma torre
telefônica. Todos se encheram de alegria, enfim sinal de civilização.
-
Olha lá camaradas. É Miranorte. Conseguimos, conseguimos. Gritava Raimundinho.
-
Calma, calma, vamos continuar marchando de forma cautelosa, pois eles devem
está vindo com mais reforço.
-
Estão ouvindo. É um carro. Será se são eles?
João
foi olhar e percebeu que o carro vinha apenas com três pessoas, uma mulher e
dois homens.
-
Vamos tomar o carro, assim nós chegaremos a Miranorte mais depressa. Você
dirige não é Raimundinho?
-
Sim.
-
Prepare as armas.
-
Ei para se não a gente atira.
Para
surpresa de João, Lazão e Raimundinho quem estava no carro era o Miro, o Chicão
e a tal senadora.
-
Calma, calma. Não atira, quanto vocês querem. Eu tenho muito dinheiro.
-
O que a gente faz João? Levamos eles pra policia para que eles sejam presos?
-
Vocês acham que eles serão presos? Que a justiça os jugará e os condenaram?
Como ela disse, além de senadora tem muito dinheiro. É bem capaz de fazer todo
mundo acreditar que nós é que somos os criminosos.
-
Calma. Nós deixaremos vocês irem embora e não faremos nada com vocês. Falou
Miro.
-
Nós não acreditamos mais em sua palavra. Vamos fazer com esses vermes o mesmo
que eles queriam fazer conosco.
-
É isso ai, vamos fuzilar todos eles. Gritou Lazão.
E
assim João, Lazão e Raimundinho descarregaram suas armas em Miro, Chicão e na
Senadora. Por fim jogaram gasolina no carro e tocaram fogo com os corpos
dentro.
-
Vamos para casa camaradas, nossas famílias nos esperam. Estes vermes nunca mais
escravizaram ninguém nesta terra.
Por Pedro Ferreira Nunes, do livro A morte do socialismo.