Após se lançar como candidato a senador da república aos 90 anos de idade, Siqueira Campos recuou, mantendo-se, no entanto, como suplente de Senador. A justificativa para tal decisão “é a saúde debilitada”. O que ficou evidente na convenção de Mauro Carlesse (PHS) realizada na Assembleia Legislativa. Quando ele chegou com o braço engessado sendo carregado por auxiliares (por não conseguir caminhar sozinho).
Diante disso imagine qual a condição que o velho Siqueira teria para rodar todo o Estado do Tocantins fazendo campanha numa disputa que nos parece que será uma das mais acirradas – até mais do que a própria disputa pelo governo. Pois teremos vários candidatos competitivos – Vicentinho (PR), Halum (PRB), Ataídes (PSDB), Irajá (PSD) e Paulo Mourão (PT).
E imagine também se por ventura fosse eleito, terminaria o mandato com quase cem anos de idade. Isso se ele não se encontrasse antes com “o único mal irremediável” como diria Suassuna no seu belo “O auto da Compadecida”. Não, não estou agoirando o velho Siqueira. O fato é que isso está nos “cálculos lógicos das probabilidades” como escreveu certa vez Ernesto Guevara. Sobretudo para quem já completou 90 anos de idade.
Apesar de todo esse contexto não se pode negar que a candidatura de Siqueira Campos teria competitividade e também uma votação expressiva – ainda que não signifique que seria eleito. E é justamente por isso que ele permanece como suplente. Pois seu nome em si, trás um peso político inegável. Siqueira Campos já foi eleito governador do Tocantins quatro vezes e é tido por muitos como “o criador” do Estado – uma espécie de semideus. Mas esse peso político é ambíguo.
Se há aqueles que por um lado o colocam num altar como uma espécie de santo, por outro tem aqueles que não esquecem as perseguições políticas sofridas quando ele governava o Estado com uma chibata na mão. A questão é saber qual a narrativa se sobreporá. Nesse terreno de disputa que é a construção da memória coletiva e individual, darei a minha contribuição rememorando algumas questões sobre as quais a mídia oficial se silencia.
Comecemos, portanto, lembrando o superfaturamento na construção de pontes, que ganhou repercussão nacional. De acordo com o MPE os contratos superfaturados para construção de pontes teve inicio nos governos Siqueira Campos e tiveram continuidade nas gestões de Marcelo Miranda. Ainda de acordo com o MPE (2015) “as investigações envolve no total mais de 100 obras de construção de pontes, que apresentaram superfaturamento de preços, serviços pagos em duplicidade, entre diversas outras irregularidades que redundaram em lesão ao patrimônio público...”. (G1 Tocantins)
É bom lembrar também do escândalo de corrupção na Secretaria de Cultura que veio a tona no seu ultimo mandato de governador. De acordo com denúncias veiculadas na imprensa regional recursos públicos eram desviados para financiar eventos privados. Essas denúncias levaram a saída da então Secretária de Cultura – Katia Rocha. E depois a extinção da pasta.
Não custa lembrar também a forma que terminou ultimo mandato de governador do velho Siqueira, com ele renunciando o cargo numa manobra política para tentar viabilizar a eleição de um aliado. O que não ocorreu já que sua popularidade não era das melhores. Inclusive, o seu candidato (Sandoval Cardoso) fez de um tudo para descolar sua imagem da dele.
Isso só para citar fatos recentes. Mas Siqueira Campos também tem no currículo a entrega dos bens públicos do povo tocantinense para iniciativa privada através de privatização. Aliás, o Tocantins, sob o seu governo, foi o primeiro Estado a privatizar a companhia de Energia Elétrica (CELTINS) – como saldo temos um serviço de péssima qualidade e uma das tarifas das mais caras do Brasil. Mesmo sendo um Estado produtor de energia elétrica.
Siqueira Campos não será mais candidato, menos mal. No entanto não estará ausente da disputa. Sua imagem será usada amplamente por aliados e ele aparecerá com o discurso demagógico de amor ao Tocantins. E infelizmente muita gente cairá nesse engodo. Como superar isso? Com certeza não será do dia para noite. Porém podemos iniciar fazendo uma contracampanha, não só contra Siqueira Campos, mas também contra todas as candidaturas que representam os interesses do modelo hegemônico de desenvolvimento no Tocantins.
Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.
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