Recentemente uma noticia que dava conta da realização de uma audiência pública para resolver os danos causados por uma mineradora no leito do Rio Bezerra me chamou atenção. E para minha surpresa logo que comecei a ler a matéria descobri que a tal mineradora não me era desconhecida e nem a região em questão. Inclusive há alguns anos quando essa mineradora começou a operacionalizar nessa região escrevi um poema denunciando os impactos socioambientais e conclamando a população daquela localidade a se levantar contra a poderosa multinacional.
Era se não me engano os idos de 2012. Eu morava em Goiânia e atuava como Educador Popular junto a Rede de Educação Cidadã. E tinha como uma das minhas responsabilidades assessorar os movimentos sociais do sudoeste goiano. E como parte dessa responsabilidade vez e outra viajava para Campos Belos com a missão de contribuir na formação e organização do movimento social. Foi então que tomei conhecimento da chegada da ITAFOS – Mineração LTDA para desenvolver um grande projeto de mineração por ali.
A partir do que vi e ouvi de vários camaradas me veio à inspiração para escrever o poema intitulado “Campos Belos”. Um poema sem versos, sem rima. Que mais se assemelhava a um manifesto – a um chamada para resistirmos contra um modelo desenvolvimento, que não tínhamos nenhuma dúvida, impactaria negativamente aquela região especialmente em relação às questões socioambientais. E são exatamente essas questões que dou ênfase no poema.
Em nome de quem destroem suas serras e poluem teus rios?
Para onde estão levando os teus minérios?
De onde vêm essas maquinas que destroem o que só a ti pertence?
Estão levando embora a riqueza de teus ancestrais.
Ora, onde reassentaram as comunidades quilombolas?
Estão escravizando tua juventude!
Estão usurpando teus recursos naturais!
Estão prostituindo tuas crianças!
As comunidades quilombolas serão apenas lembranças?
Teus campos já não estão tão belos,
Vai deixar ficar assim?
Acorde campo-belense, levante a tua voz
Proteja a tua terra, destrua a ITAFOS!
Pedro Ferreira Nunes, in Minha Poesia, 2014.
Voltemos à audiência pública. A mesma foi
realizada pelo Ministério Público Federal e contou com a presença de representantes do poder público e da sociedade civil dos municípios de Arraias (TO) e de Campos Belos (GO). No evento a população manifestou sua indignação com a degradação do rio. Denunciaram a queda no nível de qualidade da água e relataram que vem sendo orientados a não consumi-la. A população também denunciou o fato de não terem sido divulgados os estudos sobre os impactos socioambientais a partir da implantação da mineradora na região.
O que não é novidade, pelo contrário. A prática geralmente nesses casos é omitir da população os reais impactos socioambientais no sentido de evitar que o povo se posicione contrariamente ao projeto. Sendo que não raramente essa omissão conta com o apoio dos órgãos de fiscalização ambiental.
Ao final da audiência foi aprovado um termo de ajuste de conduta – conduta que não será ajustada. Pois falta firmeza por parte de quem deveria fiscalizar os excessos dessas empresas que buscam o lucro acima da vida. Fiscalizar e multar, fiscalizar e punir. Mas não é o que se faz. Passa se a mão na cabeça para que as coisas continuam como sempre. E piorando.
Quando escrevi o poema não podia imaginar que anos depois me depararia com uma noticia corroborando com o prognostico que eu havia feito. E agora esse poema que é na verdade um manifesto esta mais atual do que nunca. Espero que os movimentos sociais que atuam na região levem a cabo a tarefa de expulsar a ITAFOS dessas bandas. Pois esse é o único jeito de barrar os danos ambientais ocasionados pela mineração nessa região.
Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular.
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