É nesse contexto que o Filósofo francês Alain Badiou lançou o Segundo Manifesto pela Filosofia. Trata-se de uma atualização do Primeiro Manifesto lançado há 20 anos. Para o nosso filósofo é necessário manter o otimismo do pensamento no cenário atual. Pois qualquer perspectiva de mudança não será possível sem a força do pensamento. De modo que a Filosofia se posiciona como mais necessária do que nunca, se colocando como uma barreira ao processo de emburrecimento que querem nos impor, sobretudo a partir de uma mentalidade tecnicista.
De acordo com Badiou, no campo dos saberes, o que nos querem enfiar goela abaixo é uma mistura de um cientificismo tecnologizado e um legalismo burocrático. O primeiro se caracterizada por uma visão dos cérebros como um simples objeto. Já o segundo se expressa na forma suprema da “avaliação” que faz de todos especialistas saídos de parte nenhuma, que concluem invariavelmente, que pensar é inútil e até prejudicial.
Para o nosso filósofo é preciso reafirmar a potência afirmativa da ideia. Por isso o seu esforço nesse segundo manifesto pela Filosofia é mostrar que: Se a Filosofia pode ser o que você deseja que ela seja. É preciso ver realmente o que você vê. Isto é, será se realmente compreendemos o que é a Filosofia e qual o seu papel? Como podemos dizer que algo é inútil ou supérfluo se não o conhecemos de fato?
Ao longo do seu segundo Manifesto pela Filosofia, Badiou irá abordar esse problema a partir do desenvolvimento dos seguintes pontos: 1- Opinião; 2- Aparição; 3- Diferenciação; 4- Existência; 5- Existência da Filosofia; 6- Mutação; 7- Incorporação; 8- Subjetivação; e 9- Ideiação. Tudo isso seguindo um estilo matemático e as regras clássicas do discurso.
Alain Badiou é uma referência contemporânea no campo da Filosofia. Tendo uma trajetória marcada pela docência e pela militância política. Nascido no ano de 1937 em Rabat no Marrocos. Filho de um Professor de Matemática – que também foi Prefeito de Toulouse e atuou na Resistência Francesa. Badiou exercesseu a docência na Universidade de Paris VIII, tornando-se posteriormente Professor emérito da École Normale Supérieure de Paris. Na sua trajetória acadêmica orientou nomes como Slavoj Zizek e Vladimir Safatle.
Na militância política atuou no Movimento de Maio de 1968 na França, além de ter ajudado a organizar e participar de organizações como L’Union des Communistes de France Marxiste-Léniniste (UCF-ML). Entre as suas obras publicadas destacamos: Em busca do real perdido (2015), O ser e o vento (1988), Elogio ao amor (2013) e “A República de Platão (2013). Além da Filosofia, Badiou se envereda por outros gêneros literários como o Romance.
Alguns estudiosos da sua vasta obra dizem que um problema fundamental do nosso filósofo é acerca do sujeito. Podemos perceber isso no Segundo Manifesto pela Filosofia. Badiou defende a força do pensamento justamente por acreditar que este é o caminho para que o sujeito submetido a uma sociedade onde todos são homogeneizados – transformados em meros consumidores – possa se libertar.
Se libertar das amarras de um sistema dominante que busca fazer desaparecer o exercício do pensamento, que cultua o mercado e nos impõem uma vida sem criatividade, com um mundo simbólico engolfado, sem poesia e repetitiva. Amarras que se fortalecem a partir da dinâmica de um mundo cada vez mais digital. Nessa linha, um artigo publicado recente no El País, com o título de “Más filosofía no mundo digital”, vem de encontro com o manifesto do Badiou.
No artigo do El País, o Professor Eduardo Infante crítica a educação na nossa sociedade por castrar uma postura contestadora por parte dos estudantes: “En nuestra educación se castiga a todo aquel que se atreva a cuestionar, a poner en duda a pensar por sí mismo; y se premia la obediencia y la sumisión. Cuando llegan a los cursos superiores, la capacidad de asombro, la curiosidad y la duda están prácticamente muertas, desactivando con ello todo el potencial emancipador de la filosofía. ¿Qué importa que, para entonces, concedamos a nuestros jóvenes la libertad de expresión cuando hemos anulado su libertad de pensamiento?".
Diante dessa reflexão, concluímos afirmando a importância do Segundo Manifesto pela Filosofia do Badiou. Em tempos de falsos dilemas, falsos embates, manipulações, fake news e reducionismo. A Filosofia se coloca cada vez mais necessária como condição sine qua non para resistirmos ao autoritarismo e a desumanização que avança a passos largos.
Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
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