sábado, 10 de abril de 2021

Resenha: Sexs Pastels e o Punk Rock do Gatillazo

 El fin del mundo está a punto de llegar

y los culpables (aparte de tú y yo)

la ultraderecha imbécil, el dinero y dios.

Gattilazo

Como um amante do rock, sobretudo punk e metal, ouço qualquer novidade que caia em minhas mãos. No entanto nem tudo fará parte da minha play list de cabeceira. Esta é um tanto restrita (o mesmo se sucede com relação a livros e filmes). E para esse círculo restrito, essa banda de punk rock espanhol que conheci recentemente, já faz parte. Trata-se da Gatillazo, creio eu não muito ouvida no Brasil, mas pelo que vi pelos números de visualizações no YouTube, bastante apreciada na Espanha e em países de língua espanhola como o Chile.

Encontrei os caras por acaso na internet e afetado pelo som e pela performance do seu vocalista (Evaristo Páramos) me fez imediatamente buscar mais coisas sobre a banda. E na medida que eu ia os conhecendo, mais os apreciava. Baixei então um disco gravado de uma performance ao vivo deles intitulado de “Sexs Pastels” (a referência a banda britânica Sexs Pistols não é mera coincidência), e desde então tenho ouvido cotidianamente. 

Carregado de ironia e sarcasmos eles destilam uma crítica contundente ao capitalismo, ao fascismo, ao nacionalismo e a monarquia através de suas letras acompanhadas de um som veloz.

A banda foi formada em 2005 por ex-integrantes de outro grupo de punk rock espanhol (La Polla Record). Tendo como integrantes na sua formação atual: Evaristo Páramos – vocais, Txiki – guitarra, Tripi – bateria, Butonbiko – baixo e Angel – guitarra. 

Em “Sexs Pastels” temos a banda numa grande performance num estúdio ao vivo. No melhor estilo punk rock, como um soco no estômago, tocando um petardo atrás do outro em 1 hora e 10 minutos. 

Para começar temos “Pánfilo panfleto ataca de nuevo” onde criticam as mudanças de liberdade prometidas pelo capitalismo aos países que rompem com sua política: “Cuando el neoliberalismo rompe una revolución. La verdad salta a la vista. Que la violencia es la que sostiene el sistema capitalista”. Violência para impor uma ordem pior que a anterior. Em seguida temos “Asín es la vida” onde falam da postura conformista dos indivíduos diante de tanta miséria: “Qué podemos decir dice la mayoría (Así es la vida), qué le vamos a hacer si no hay solución (Así es la vida), no queremos saber, no hay ninguna salida (Así es la vida)”. Assim é a vida e temos que nos conformar pois nada irá mudar. É exatamente esse tipo de postura que a classe dominante espera de nós. 

Em “Con perdón” eles criticam a postura de quem muda de posição ao obter algumas benesses do poder: “Cuando era más joven yo te quería matar, era un intolerante fácil de adoctrinar, pero ahora he cambiao, se lo que hacer, y que decir y digo: Viva españa y viva el rey – viva dios, viva la ley, al servicio y siempre fiel mi constitución”. Na canção o exemplo é em relação a monarquia espanhola. Mas também serve para outros posicionamentos oportunistas.

Na sequência temos “Tortura”, onde denunciam a opressão contra quem ousa se rebelar contra sistema, ainda que “democrático”: Incomunícame, encapúchame, trasládame. Aterrorízame, golpéame, amenázame. Hazme perder la noción de la realidad. Hasta que firme tu declaración. “Buen Menú” é a próxima. E desse ironia sobre a violência institucional: Menú bien equilibrado, nutritivo y muy variado. Entremés de asesinato, vamos con el primer plato: Sopa de comportamiento desviado y agresivo, ensalada de desgracias sencilla o mixta con tropezones de policía. Bocaditos de estudiante... puré de represión”.

Bem camaradas, já deu para sentir que os caras não estão de brincadeira, e não estamos nem na metade. No entanto vamos parando por aqui, pois creio que já deu para perceber o posicionamento político da banda através da sua música, em especial do seu vocalista Evaristo Páramos – que é uma referência na luta anticapitalista Espanhola. Antes gostaria de destacar três canções que estão em “Sexs Pastels”, que foram as que me fizeram prestar mais atenção nas letras das músicas. Trata-se de “Ya no quiero ser yo”,  “Comunicado Empresarial” e Ridículo.

Na primeira eles falam da alienação que nos é imposta pelo sistema dominante, uma alienação que nos leva a deixar de ser quem somos. “Me he mirado en el espejo y no me he reconocido. En el extraño que se ve tras el cristal. Si el pasado y el presente se reflejan. Y no mienten tengo que hacer algo por mi porvenir. Ya no quiero ser yo. Ya no quiero ser yo. Ya no...”. É sem dívidas uma bela letra. Na segunda eles falam da substituição da mão de obra do operariado por máquinas, isso a partir do ponto vista patronal: Nunca más vais a tener trabajo ya no os necesitamos más. Porque es mentira que se trate de una crisis. El trabajo está muerto y éste es su funeral. Y se acabó, es el fin. Ya nadie necesita al proletario feliz”. Aqui salta a vista a visão da burguesia acerca dos trabalhadores como coisa que quando não serve mais deve ser descartado. Na terceira é uma crítica contundente ao cristianismo, sobretudo as suas instituições: “Cristiano muerto, matón cristiano querido soldado de cristo. Cristiano amado, amor cristiano todos los judas te besaron. Seáis bienaventurados mercaderes del señor, él os manda acumular”. Aqui a mercantilização da fé é o ponto chave.

É isso camarada, se você aprecia um bom punk rock (anticapitalista). Gatillazo não irá ti decepcionar. Em tempos de avanço da ultradireita, suas canções são gritos de resistência que merecem ser ecoados no mundo todo. Pois como eles alertam em Hsuícidio: “El fin del mundo está a punto de llegar, y los culpables (aparte de tú y yo), la ultraderecha imbécil, el dinero y dios”.

Pedro Ferreira Nunes é – Educador, Poeta e Escritor Popular 

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