As aulas aconteciam nas sextas-feiras no período vespertino. Com isso eu tinha toda a semana para planejar o que e como fazer. Ou seja, tinha tempo mais do que o suficiente para planejar uma boa aula. Os estudantes eram bem participativos e com isso as aulas rendiam muito. Houve oportunidade que a aula acabava e eles queriam continuar discutindo. Mas nunca me senti parte da comunidade escolar. Nunca convivi verdadeiramente. Ia de forma pontual, dava minhas aulas e depois seguia para faculdade. Não vivia o dia a dia, não participava dos eventos, não vivia no território em que a escola estava localizada. Ou seja, eu estava na comunidade, fazia parte dela de alguma forma, mas não vivia com a comunidade. Não estava integrado a ela verdadeiramente.
Sempre acreditei, sendo coerente com a perspectiva educacional que me insiro, na necessidade do educador criar um vínculo com a comunidade em que irá atuar. E criar esse vínculo significa conhecer o território que a escola está inserida. E não há melhor maneira para isso do que viver no território. A partir daí terá mais condição de desenvolver o seu fazer pedagógico tendo como ponto de partida a realidade que o estudante está inserido.
Do contrário, ou seja, não vivendo no território que a escola está inserida não significa que não fará um bom trabalho – que não possa dar boas aulas – aulas que certamente contribuíram para formação do estudante. Mas não é só a isso que resume o processo formativo – pelo menos não na minha perspectiva. A saber, uma educação libertadora fundamentada na ideia de que não basta conhecer, é preciso transformar determinada realidade.
Essa perspectiva pedagógica acredita que no processo formativo, além do aspecto educacional há um aspecto social – que só estando no território em que a escola está localizada. E conhecendo a realidade dos estudantes, podemos dar a nossa contribuição para a sua efetivação. De modo que nunca me passou pela cabeça, ao me tornar um educador, apenas está na comunidade, mas sobretudo está com a comunidade.
Isso é importante quando vamos trabalhar em territórios marginalizados. Sobretudo porque há toda uma narrativa preconceituosa acerca desses lugares e consequemente das pessoas que vivem ali – o que pode nos levar a uma postura arrogante – inclusive quando nos comportamos como uma espécie de salvadores com a missão de tirar aqueles pobres diabos da escuridão.
Vivendo com a comunidade conseguimos perceber os seus reais problemas como também suas potencialidades. E a partir daí conseguimos desenvolver um trabalho mais consequente.
Pedro Ferreira Nunes – Graduado em Filosofia. Com especialização em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Educação do Tocantins.
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