segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Sobre a questão da regulamentação do transporte alternativo de vans na capital

Meus camaradas; 

Inicialmente não tinha nenhuma intenção de escrever sobre essa questão. Mas após ver as declarações de um porta voz da prefeitura num telejornal local que teve a cara de pau de justificar o decreto como necessária para garantir maior segurança aos usuários do serviço - não me segurei e decidi tecer alguns comentários sobre este tema.

O decreto que a prefeitura de Palmas aprovou nos últimos dias regulamentando os serviços prestados pelo transporte alternativo de vans a passageiros que circulam do interior para capital e vice-versa. Estabelece que as vans não poderão mais buscar ou deixar passageiros em suas residências ou na de parentes no caso das pessoas que vem do interior para visitar familiares ou resolver questões pessoais e profissionais na capital. A partir de agora as vans só poderão pegar e deixar passageiros em pontos específicos estabelecidos pela prefeitura além da rodoviária é claro.

Como disse anteriormente – a principal justificativa para tal mudança segundo a prefeitura é garantir maior segurança aos passageiros. Mas sabemos que não é bem assim. O objetivo é outro, e passa muito longe da preocupação com a segurança dos usuários desses serviços. Nesse sentido a gestão Carlos Amastha (PSB) deveria ser mais honesta com a população palmense e do interior do Tocantins.

Ora, esta muito claro que a preocupação do prefeito não é com a segurança do usuário, ao contrario, tal mudança visa simplesmente favorecer a um setor do empresariado palmense, sobretudo os que controlam os serviços de taxi e moto-taxi. É mais uma ‘regulamentação’ tal como outras que já foram feitas na gestão Carlos Amastha que visa onerar os usuários e favorecer os empresários. Pois agora em vez de pegar um transporte, o passageiro terá que pegar outros para chegar ao seu destino.

Dizer que tal mudança se dá pela preocupação com a segurança do usuário, é duvidar da nossa capacidade de raciocinar. Pois se há um lugar onde as pessoas não estão seguras em Palmas são nos pontos de ônibus. Por tanto tal mudança em vez de dar maior segurança ao usuário, estará o deixando mais vulnerável.

Poderíamos também falar do prejuízo para as pessoas do interior que vão a capital, que não conseguem se locomoverem na cidade, sobretudo os mais idosos. Antes se podia contar com um serviço que os levava e os traziam até o seu destino – dando-lhes mais conforto e comodidade. Agora terão que se virarem como puderem, gastando mais dinheiro para resolverem o que tiver que resolverem na capital.

Nos últimos dias vi muita gente defendendo o decreto da prefeitura de Palmas, incluindo jornalistas e comentaristas políticos de nome – posso afirmar com certeza que estes senhores não utilizam tal serviço, como também não tem o mínimo de sensibilidade com as questões coletivas. Se ao menos tivessem o cuidado de entrevistar os usuários de tais serviços teriam uma posição mais honesta.

 E dai surge outra questão – a forma autoritária que o decreto foi aprovado. Sem audiências publicas, sem discussão, sem debate. O prefeito simplesmente aprovou e enfiou goela abaixo dos usuários tal decreto. Ora que necessidade havia de mudar, mudar para pior, um serviço que vinha dando certo? Essa é a pergunta que muitos provavelmente estão fazendo. O prefeito Carlos Amastha (PSB) tem a resposta – onerar os usuários e favorecer os empresários.

É absurdo que só agora depois do decreto aprovado a prefeitura chame os setores envolvidos para o dialogo. O que só aconteceu devido à mobilização daqueles que fazem e necessitam do transporte alternativo de vans da capital para o interior. Nesse sentido foi anunciado que o decreto só vai entrar em vigor a partir do dia 15 de setembro. Esperamos que neste período os usuários do transporte alternativo de vans tanto do interior como da capital possam continuar mobilizados para que este decreto não vigore.


Pedro Ferreira Nunes – Educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

5 anos do blog – fazendo literatura de guerrilha ‘das barrancas do rio Tocantins.

Caros camaradas;

Criei o blog em 2010 com o objetivo de publicar e divulgar a minha literatura – poesia, contos, crônicas, artigos políticos entre outros. Especialmente questões relativas ao povo e a cultura tocantinense, pois apesar de morar em Goiás, o Tocantins continuava dentro de mim, bem como o desejo de um dia retornar para minha terra. Dai que naquele momento decidi colocar o nome do blog de ‘Pedro Tocantins’- afirmando assim a minha identidade tocantinense.

Nos idos de 2012 li um romance do escritor português Manuel Thiago que me marcou profundamente, tanto que me apropriei do titulo do livro e coloquei no meu blog, e é este nome que tenho utilizado – até amanhã, camaradas! Um nome que para mim é um tanto poético e que também provavelmente é o que os pouquíssimos leitores deste blog estão mais habituados.

‘Pedro Tocantins e Até amanhã, camaradas’ marcaram um período distinto deste blog e da minha literatura. E agora que estou mergulhado em um terceiro período, nada mais natural do que colocar um nome que representa isso. E o nome escolhido foi ‘Das barrancas do rio Tocantins’.

Há duas questões que me fizeram chegar a este nome e que gostaria de compartilhar com você meu caro camarada que de alguma forma aprecia isto que eu chamo de minha literatura e de literatura de guerrilha. Primeiro, cheguei a tal nome influenciado pela musica do Elomar Figueira Mello – pela sua poesia, pelo seu jeito peculiar de cantar o sertão. Aliás, não existe no Brasil alguém que canta tão profundamente e tão magistralmente o sertão como Elomar Figueira Mello. Recomendo aqueles que querem conhecer sua obra a ouvir – das barrancas do rio Gavião. Disco de 1972.Dai que ‘das barrancas do rio Tocantins’ não é mera coincidência, é sim influencia da musica do Elomar.

A segunda questão é o fato de que mais do que nunca é das barrancas do rio Tocantins – onde nasci, cresci e vivo que nasce a minha literatura. Para quem não sabe sou natural de Miracema, cidade onde vivi até os meus 11 anos de idade. Depois me mudei com a família para o Lajeado onde vive até os 19 anos. Depois fiquei uma temporada de oito anos perambulando em terras goianas e no inicio de 2013 retornei para o Tocantins, para a pequena e pacata cidade de Lajeado.

E é a vida interiorana, ribeirinha, campesina que tem me influenciado no ultimo período. A vida do povo tocantinense, do povo lajeadense, do povo miracemense – seus costumes, sua cultura popular, suas angustias, suas lutas. Sim meu camarada, posso lhe afirmar que no ultimo período minha literatura, si é que o que eu escrevo pode ser classificada assim, provavelmente os críticos catedráticos diriam que não, tem se tornado regionalista. Ou talvez sempre tenha sido não é mesmo?! Pois mesmo quando vivemos longe do Tocantins, o Tocantins continua dentro de nós.

Bem meus camaradas – chegamos ao quinto ano de existência do blog. Poderia parafrasear Antônio Abujamra dizendo que continuamos ‘caminhando no incerto e idolatrando a duvida’. E de que pelo fato de ninguém lê-lo, tenho total liberdade para escrever o que quiser. E assim vamos continuando – agradando uma dezena, incomodando uma centena e sendo ignorado por milhares.

Por fim meus camaradas, como disse no inicio – não é a primeira vez que mudo o nome do blog, mas espero que esta seja a ultima. Sei que os raríssimos leitores que o visitam não se incomodaram. Tal como não si incomodaram das duas outras vezes que mudei. Até por que o conteúdo do blog que é o mais importante não mudará. Assim espero continuar alcançando as poucas mais de 200 visualizações mensais, e se não, tanto faz. Continuarei escrevendo do mesmo jeito – literatura de guerrilha, anticapitalista, subversiva e revolucionária.

Atenciosamente,

Pedro Ferreira Nunes

Poeta, escritor e educador popular.

Poema: Zé Ferreira

Olhar calmo
voz serena
jeito manso
pele morena.

Camponês
nordestino
coração valente
olhar de menino.

Pouco fala
muito lê
gosta de ensinar
também de aprender.

É de paz
mas não foge de briga
cultiva o amor
não é de intrigas.

Homem de palavra
falou tá falado
admirado por muitos
e também respeitado.

Olhar calmo
voz serena
jeito manso
pele morena.

Lajeado-TO. 09 de agosto de 2015. Dias dos pais.

Pedro Ferreira Nunes - poeta, escritor e educador popular.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Recriação da secretaria estadual de cultura, salão do livro e alguns desafios da politica cultural no Tocantins.

Após a descoberta de um esquema de desvio de dinheiro público da secretaria de cultura para apoiar eventos privados. Que na época era comandada por Kátia Rocha. O então governador Siqueira Campos (PSDB) decidiu extinguir a secretaria de cultura anexando-a a pasta da educação.

Ora, em vez de punir exemplarmente os culpados pelos crimes cometidos, algo que não aconteceu até o momento, como também corrigir os erros que vinham acontecendo na secretaria de cultura o governador decidiu acabar com a pasta. Prejudicando assim aqueles que bravamente realizam ações culturais no Tocantins.

Menos mal que agora o atual governo decidiu recriar a pasta, só esperamos que não se cometa os mesmos desvios que se cometia no governo anterior. Pois como temos acompanhado no escândalo da construção de pontes que levam a lugar nenhum– que começou no governo Marcelo Miranda (PMDB) e teve continuidade no governo Siqueira Campos (PSDB). Assim, em vez das boas iniciativas, são as más que se tornam politica de Estado no Tocantins.

Porém devemos ressaltar que estão sendo feitas algumas iniciativas importantes na área da politica cultural do Tocantins – em primeiro lugar o fato da escolha de um secretário com um perfil técnico para gerir a pasta. Outro fato importante foi à realização da conferencia estadual de cultura e também o processo de cadastramento e levantamento dos artistas e ações culturais das diversas áreas do meio cultural no Tocantins.

Salão do livro 2015

Outra questão importante foi o anuncio por parte da secretaria de educação do estado a cerca da realização da edição de 2015 do salão do livro do Tocantins. O que não aconteceu nos últimos dois anos com a justificativa de que o estado não tinha recursos para realização do evento. Porém dinheiro não faltou para patrocinar as feiras agropecuárias, a temporada de praia, carnavais fora de época entre outros. E também se não tivesse havido desvios de recursos públicos para patrocinar eventos particulares com certeza não faltaria dinheiro para realizar esse importante evento que é o salão do livro do Tocantins.

A edição de 2015 do salão do livro será realizada entre os dias 19 e 27 de setembro, no parque do povo em Palmas. Segundo o governo será um evento modesto, pois o estado passa por uma crise financeira. Mas só o fato do salão do livro voltar ao calendário cultural do nosso estado é motivo para comemorarmos. Pois os governos de plantão não tem o direito de tirar do povo tocantinense, em especial os amantes da literatura, este importante evento que se tornou tradicional, e que lamentavelmente foi interrompido nos dois últimos anos.

O salão do livro tem um papel importante na promoção da literatura, sobretudo a que é feita a duras penas no nosso estado. Como também sendo um espaço de estimulo ao gosto pela leitura – conquistando novos leitores e estimulando o surgimento de novos escritores. O caminho é longo, mas fundamental para criarmos uma cultura literária no e do Tocantins. Assim, esperamos que nesta edição do salão do livro a literatura tocantinense possa ter um espaço protagonista.

Que nossos poetas e escritores possam ter o devido reconhecimento, apoio estrutural e espaço para fazer e divulgar suas obras. E que também o salão do livro 2015 possa ser um espaço para o encontro e a divulgação de diversas artes – literatura, música, dança, teatro, cinema entre outros.

Alguns desafios da politica cultura no Tocantins

Não são poucos, mas o fundamental é que temos totais condições de superar tais desafios. Sobretudo se os gestores públicos começarem a olhar a questão da politica cultural não como algo secundário. Como algo que pode ser descartado de acordo com o momento financeiro por que passa o estado. Como aquela pasta no orçamento que sempre tem que ficar com o menor recurso.

Nesse sentido é fundamental criar uma politica cultural para o Tocantins, politicas de estado e não de governo. Com ações continuadas que visem ao fortalecimento de quem faz e promove cultura há bastante tempo no Tocantins, como também proporcionando o surgimento de novos artistas e promotores culturais. Ações que também devem ser difundidas no interior, onde a ausência de uma politica cultural por parte das prefeituras é ainda pior.

Outra questão fundamental é a articulação, formação e organização entre os próprios artistas. Cabe aos artistas e promotores culturais se mobilizarem coletivamente criando uma pauta de reivindicações junto ao estado para buscar superar os desafios para área cultural no Tocantins – seja na literatura, na musica, na dança, no teatro, no cinema, na pintura, nas artes plásticas entre outros.

Pedro Ferreira Nunes – é Poeta, escritor e educador popular.


Mais uma vez sobre a construção de casas populares no Lajeado

Márcia Reis
A incompetência, a falta de compromisso com as famílias que há vários anos esperam receber suas casas e o descaso com o dinheiro público parece não ter fim no Lajeado. Pois não há outra explicação para o fato de que a prefeitura de Lajeado sobre a administração da prefeita Márcia Reis (PSD) ainda não tenha concluído a construção da segunda etapa de casas populares no município.

Após mais de ano com as obras paralisadas pela justiça a construção das moradias populares foram retomadas pela prefeitura no inicio deste ano com a promessa de que até o mês de agosto a obra estaria concluída e as casas seriam entregues. No entanto mal passou o aniversário do município (5 de maio) e as obras novamente foram paralisadas.

Para coroar a completa falta de competência e descaso da gestão Márcia Reis (PSD) a prefeitura e a empresa responsável pela construção das moradias querem jogar nas costas das famílias a responsabilidade de concluírem a obra. Pois tal plano ficou claro quando a prefeitura convocou uma reunião com as famílias que serão contempladas com as moradias – na tal reunião ficou decidido que cabe às famílias contratarem pedreiros e serventes para terminarem as casas. Segundo a prefeitura e o engenheiro responsável pela obra – tanto o dinheiro para contratação dos profissionais como o material de construção será disponibilizado. No entanto, o orçamento apresentado, e os valores que serão disponibilizados são insuficientes, o que quer dizer que as famílias terão que tirar dinheiro do próprio bolso para terminar suas casas.

Ora, isso é inaceitável. As famílias foram contempladas num projeto que garantiam que receberiam a casa pronta e não pela metade. E o recurso destinado pelo governo federal foi suficiente para construção dessas moradias. Por tanto me digam. Onde enfiaram este dinheiro? As famílias não podem assumir uma responsabilidade que é da prefeitura e da empresa que ganhou a licitação da obra. Onde esta os vereadores desse município? Onde esta a associação dos moradores? A que interesse defende sua diretoria? Onde esta a justiça desse estado? O povo não pode pagar a conta de tamanho descaso e incompetência da gestão publica municipal.

O fato é que as famílias cansadas de tanto esperar e não suportando mais pagar aluguel estão assumindo a construção das casas populares que a gestão Márcia Reis (PSD) não esta tendo competência para fazê-lo. E enfim elas serão concluídas, mesmo que as famílias tenham que tirar dinheiro do seu próprio bolso. O ideal seria que liderados por sua associação e respaldados pela câmara de vereadores, pelo ministério público, pela defensoria pública e o poder judiciário as famílias batessem o pé e recusasse a fazer o que é de responsabilidade da prefeitura. Infelizmente não é isso que esta acontecendo, pelo menos por enquanto.

Por fim terminamos com duas perguntas fundamentais. Onde esta o recurso destinado para construção das moradias populares? É correto as famílias assumirem a conta por algo de errado que eles não cometeram? Que as autoridades municipais, estaduais e federais nos respondam.


Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Tocantinês

Que nosso país tem dimensões continentais não é novidade, como também não é novidade a diversidade de expressões culturais que o nosso povo cultiva de norte a sul do Brasil. Aliás, a grande riqueza da humanidade é de fato a diversidade cultural.

Uma das expressões culturais que mais me chama atenção no Brasil é a variedade de termos e sotaques que temos nas diversas regiões. Em especial no nordeste brasileiro, região da qual eu tenho um carinho e uma grande admiração pelo seu povo.

Mas o objetivo deste artigo não é falar do meu carinho e admiração pelo nordeste, deixemos isso para outra oportunidade. Falarei aqui sobre o meu norte querido, em especial do Tocantins – Minha terra natal.

O objetivo por tanto desse breve artigo é falar a cerca do que eu vou denominar de ‘Tocantinês’- Termos típicos do meu querido estado do Tocantins. Termos estes que formam um dialeto tipicamente tocantinense.

Ultimamente tenho me deliciado em conversas com as pessoas aqui no interior do Tocantins que ora e outra solta um desses termos que trás como principal característica o humor. Estes termos são falados até pelos mais jovens o que garante que eles sobreviveram por muito tempo. Vamos há alguns deles:

Rudo

Se por acaso estiver conversando com um tocantinense, sobretudo do interior do estado e for chamado de rudo, não se anime, pois não é um elogio. Ao contrario, você esta sendo chamado de uma pessoa que não é dotada de inteligência. Em português claro você esta sendo chamada de uma pessoa idiota.

Laquera

Já se por acaso ti falarem para que você deixe de laquera, é porque o que estiver falando não esta agradando muito, portanto estão mandando você calar a boca.

Rodado

Também não é um elogio. Não estão dizendo que você é uma pessoa experiente. Na verdade estão dizendo que você esta perdida, que você não tem nada e se quer sabe para onde vai, isto é você esta ferrado.

Brejo

Se por acaso ti chamarem de brejo, em especial por uma mulher que você esta afim. Lamente muito, pois isso quer dizer que você não tem nenhuma chance com ela, pois ela ti acha uma coisa horrível. Brejo não é um lugar muito agradável, pouca gente quer ir lá, por tanto não queira ser comparado com um.

Arrotar bacaba

- Ninguém arrota bacaba no meu terreiro.

Vixe, a coisa ficou feia. Se alguém falar para você parar de arrotar bacaba é porque o clima não está bom. Você esta falando mais do que deveria e, sobretudo o que esta falando não esta agradando nem um pouco. E se você insistir em arrotar bacaba deve ser muito bom de briga ou gosta de apanhar.

De bico

Se falarem que você esta de bico em alguém, quer dizer que você esta encantado por alguma moreninha. Que você não tira o olho dela. Fica só na tocaia esperando para dar o bote tal como uma onça pintada num bezerro desgarrado.

Sem nadinha na boroca

Se você ouvir esse termo quer dizer que este pobre diabo não tem um tostão furado no bolso. Que não tem dinheiro se quer para pagar uma cerveja, imagine para sustentar uma mulher. A mulherada do interior não perdoa, e difama o pobre diabo para as amigas.


Estes são apenas alguns termos dos vários falados no interior do Tocantins. Assim que garimpar outros por ai, não hesitarei a escrever sobre eles. Mas o bom mesmo é rodar no interior do nosso estado conversando e convivendo com o nosso povo, que apesar de aparentar um ar severo e fechado é só aparência. No fundo o Tocantinense é um povo extremamente humilde e hospitaleiro.

Pedro Ferreira Nunes é poeta e escritor tocantinense.

II Festa do cowboy de Lajeado: Festival de machismo, homofobia e distorção da cultura camponesa.

As exposições agropecuárias são um dos eventos culturais mais tradicionais do Tocantins. Em um estado com uma cultura campesina forte e um agronegócio poderoso não poderia ser diferente. As festas acontecem de norte a sul do estado especialmente no período do verão tocantinense que vai de maio a agosto. Entre as principais podemos destacar a de Araguaína, Gurupi, Palmas e Paraíso. Em Lajeado essa tradição vem sendo estabelecida nos últimos anos com a realização da festa do Cowboy que em 2015 teve a sua segunda edição, como também nas pedreiras (zona rural do município) que já está indo para sua quinta edição.

No entanto um espaço que poderia servir para valorização da cultura camponesa, para o resgate de nossas raízes culturais tornou-se um festival de machismo, homofobia e distorção de nossa cultura – a começar pelo nome da festa, que está mais ligada à cultura norte americana do que nossa. Assim em vez de festa do Cowboy é preferível que se chamasse festa do peão como antigamente. Se não bastasse tudo isso virou também palanque para políticos fazerem campanha antecipada. Pelo menos é isso que acontece na festa do Cowboy de Lajeado.

Sem muitas alternativas culturais na cidade, sobretudo voltado para toda a família, a festa acaba sendo um atrativo para a população que já esta cansada de mais das mesmas coisas que são realizadas no município. No entanto muitos acabam se decepcionando com a total falta de sensibilidade dos organizadores que estão mais preocupados com os louros políticos que poderão ganhar na realização da festa do que em propiciar para população uma alternativa cultural com o mínimo de qualidade e que respeite a diversidade.

E ai os cidadãos que se propõem a deixar suas casas para relaxar e se divertir da dura vida no interior do interior do país, tem que aguentar um narrador com suas rimas machistas e homofóbicas além do papel execrável de puxa saco das autoridades de plantão. Autoridades essas que do alto dos seus camarotes olha o povo com um ar de superioridade e desprezo. Olha o povo apenas como coisas que podem ser manipuladas ao seu bel prazer.

Uma das cenas que me causaram náuseas foi o momento em que o narrador levou duas adolescentes para o meio da arena para que dançassem sensualmente ao som de um funk em troca de uma caixa de cerveja. Enquanto as garotas exibem seus corpos adolescentes para uma plateia de machistas em troca de uma caixa de cerveja a plateia vai ao delírio. E estes mesmos senhores que aparecem muitas vezes condenando a exploração sexual de crianças e adolescentes indiretamente acaba promovendo-a.

As vaias – De quem é a culpa? De quem vaia ou de quem é vaiado? Falta de educação ou protesto legitimo?

Na primeira edição da festa do Cowboy do Lajeado a prefeita Márcia Reis acabou levando uma vaia acachapante de toda a arena, uma cena de fato inesquecível, tão inesquecível que a prefeita não quis por os pés na arena de rodeio este ano. Já nessa segunda edição foi à vez do deputado estadual Valdemar Junior (PSD) que teve que abreviar seu discurso com medo do burburinho que começava a se formar na arena.

Tanto no caso da prefeita como no caso do deputado alguns falaram ser perseguição politica ou pelo fato de que o povo é mal educado. Mas será mesmo? A culpa é quem vaia ou de quem foi vaiado? É obvio que ninguém vaia simplesmente por que acha divertido. Por que tem o prazer em constranger alguém. A vaia é uma forma de alguém mostrar que esta descontente com outra. Que não esta gostando do rumo que as coisas estão tomando. Que tal discurso não os agrada. E por tanto ninguém é obrigado a aplaudir aquilo que não concorda. Por tanto a vaia e outras manifestações de protesto são legítimos.

A população que ali foi não fora convidada para participar de um comício politico, uma campanha politica antecipada. Para o lançamento de uma chapa que concorrerá o pleito eleitoral de 2016 em Lajeado. A população não foi para ver o narrador do rodeio passar 30 minutos puxando o saco do pré-candidato a prefeitura de Lajeado Jaime (PMDB) e depois ouvi-lo discursar por mais 30 minutos. A população também não foi para ver o narrador puxar o saco do secretario estadual da agricultura por 20 minutos e depois ouvi-lo discursar por mais 20 minutos. Como também a população não foi para ouvir o narrador puxar o saco do deputado Valdemar Junior por 30 minutos e depois ouvi-lo discursar por mais 30 minutos.

Lembrando que havia ali muitas crianças e idosos em um espaço desconfortável tendo que aturar toda essa maçada. Ai alguns ainda tem coragem de dizer que o povo é sem educação? Ora o povo teve paciência por demais. Esperamos que nas próximas edições (sem vierem acontecer) os organizadores tenham o mínimo de sensibilidade e organizem uma festa que de fato resgate as nossas raízes campesinas, respeite a diversidade e as pessoas que ali vão em busca de um direito básico que é o acesso a cultura de qualidade.


Pedro Ferreira Nunes – Poeta e escritor tocantinense.