Era
pouco mais das 05h30 da manhã quando chegamos ao campus Palmas da
Universidade Federal do Tocantins para nos somarmos aos técnicos
administrativos e professores do Comitê Reage UFT que ali estavam
para fazer um piquete e mobilizar a comunidade acadêmica a aderir à
greve geral. Não perdemos tempo e logo abrimos nossas faixas que
davam o recado: GREVE GERAL! FORA TEMER: EM DEFESA DOS NOSSOS
DIREITOS. SERVIDORES DA UFT NA LUTA! UFT NA LUTA E NAS RUAS: CONTRA
AS REFORMAS DO GOVERNO TEMER! UFT NA GREVE GERAL: EM DEFESA DOS
DIREITOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS! Com megafone em punho anunciávamos
– 28 de Abril é Greve no Brasil. E assim, aos poucos mais e mais
pessoas foram se incorporando ao movimento que também recebia a
solidariedade dos motoristas que por ali passavam seguindo rumo a BR
– 153.
Os
primeiros raios do sol da manhã chegaram trazendo consigo os
primeiros ônibus. Logo pensamos, é agora que começará os
questionamentos e as tentativas de furarem o piquete. Mas para nossa
felicidade á maiorias dos ônibus que chegavam estavam completamente
vazios. Apenas um ou outro estudante desavisado que não criou
problema algum. Isso nos mostrou o quanto havia sido bem sucedido o
trabalho de mobilização para greve geral realizado pelo comitê
Reage UFT – um trabalho que começou ainda no início de abril e
que realizou reuniões, assembleias e discussões com toda a
comunidade acadêmica no sentido de convencê-la da importância de
aderir a greve geral. E como fruto desse trabalho árduo não houve
nenhuma resistência por parte de professores, estudantes, técnicos
administrativos ou dos terceirizados no sentido de furar a greve
geral na UFT.
O
gozado é que esse professor que obrigou os seus estudantes a irem
para aula e não participar da greve, pois se não perderiam a prova
e levariam bomba, nos acusou de obrigar as pessoas a aderir ao
movimento grevista. Ora, qual a moral de um sujeito desses que
fazendo uso de sua autoridade tentou obrigar seus estudantes a
boicotar o movimento grevista? Foi à mesma atitude de patrões que
ameaçaram cortar o ponto de seus funcionários e dos governos de
plantão que se utilizando das forças policiais reprimiu os
manifestantes Brasil afora. No entanto não conseguiram impedir que a
greve geral fosse realizada com êxito. Mas esse episódio também
deve nos servir de lição para que na próxima façamos um trabalho
de base na Unitins tal como fizemos na UFT e no IFTO.
Marcha
Unificada das Centrais Sindicais e Movimentos Sociais na JK
O
Sol estava alto, enquanto isso mais pessoas se somavam ao piquete na
entrada do campus Palmas. As noticias que nos chegavam de outras
partes eram animadoras – São Paulo e outros grandes centros estão
parados. O interior do Tocantins também em luta – Porto Nacional,
Araguaína, Gurupi, Tocantinópolis, Divinópolis, Miracema. Na
avenida JK em frente ao Colégio São Francisco milhares de
manifestantes se concentravam para marcha unificada.
Com
o nosso primeiro objetivo cumprido ali no portão da UFT era o
momento de se somar aos outros trabalhadores e organizações sociais
na marcha unificada. E assim fizemos, saímos em comboio pelas ruas
de Palmas até o local da concentração. Ao longo do caminho não
pude deixar de notar o estacionamento do shopping vazio – o que nos
trouxe grande felicidade. Vazio também estava o comercio na avenida
JK e os ônibus que circulavam com um ou outro desavisado.
Era
por volta das 09h da manhã quando a marcha partiu cortando á
avenida JK em sentido ao palácio Araguaia. Eram milhares de
trabalhadores de diversas categorias – com faixas, bandeiras e
cartazes – professores, servidores gerais, trabalhadores sem teto,
trabalhadores sem terra e a juventude. Aliás, era a juventude com
seu fervor e entusiasmo – cantando, dançando, e gritando palavras
de ordem que seguia na linha de frente. Estudantes, Professores e
Técnicos Administrativos da UFT vinham em seguida com grande
entusiasmo. Entusiasmo que ia aumentando com a incorporação cada
vez maior de estudantes, professores e técnicos administrativos que
haviam ido direto para a marcha. O que fez com que o bloco coordenado
pelo comitê Reage UFT fosse um dos mais destacados na manifestação.
Enquanto
a marcha seguia triunfante, um helicóptero da policia militar a
mando do governador Marcelo Miranda (PMDB) nos provocava
ameaçadoramente com agentes fortemente armados. Os policiais que
acompanhavam do chão tentavam impedir que tomássemos toda a pista.
Mas não tiveram êxito, as provocações por parte do aparelho
repressivo só aumentou a nossa disposição. E assim a marcha
seguiu. Seguiu firme até chegar ao seu destino final. E ali
encerramos com um grande ato onde as diversas organizações
presentes falaram contra as reformas do governo Temer, pediram por
sua saída e conclamaram por eleições gerais já.
Algo
que gostaríamos de destacar foi de fato o caráter unitário da
manifestação em Palmas. Algo que eu particularmente ainda não
havia visto. Centrais sindicais e movimentos sociais deixando de lado
suas diferenças para marchar conjuntamente numa luta comum – sem
brigas, sem disputa de ego para ver quem dirigia o movimento. CUT,
UGT, Força Sindical, CTB, CSP-Conlutas, NCST. Além dos sindicatos,
dos movimentos sociais, e da juventude trabalhadora. Me dei conta
dessa unidade quando num dado momento uma camarada passou por mim com
uma camisa da CUT, um chapéu da UGT e uma bandeira da CTB na mão.
Breve
balanço
O
principal objetivo de uma greve geral não é apenas colocar milhares
de trabalhadores nas ruas. Mas sim atingir o bolso do capitalista,
parar economicamente o país, e incomodar governos e patrões. E esse
objetivo a greve do dia 28 de Abril alcançou inquestionavelmente.
Ora, a mesma impressa que tenta desqualificar o movimento noticia que
houve locais em que a queda das vendas no comercio chegou a 70%.
Outro veiculo de comunicação aponta uma estimativa de perca de 5
bilhões de faturamento em todo o Brasil. As imagens do comercio com
portas fechadas, ruas vazias e ônibus e metrôs parados falam por si
só e é muito mais significativo do que milhares de pessoas com uma
camisa da seleção brasileira de futebol num domingo a tarde
caminhando como gado obedecendo a elite oligárquica que comanda o
país.
Ao
contrário de alguns camaradas, não me causa nenhuma indignação à
cobertura da imprensa brasileira a cerca da greve geral. Muito pelo
contrário, isso é um ótimo sintoma. Senti fortemente os ares de
junho de 2013 quando as manifestações que começaram a crescer a
cada dia obrigou a grande imprensa e os governos de plantão a mudar
o discurso. Ora não é nenhuma surpresa a tentativa por parte do
governo e da imprensa de desqualificar o movimento legitimo dos
trabalhadores e, por conseguinte criminaliza-lo. Novamente vemos o
discurso que tenta dividir os “bons manifestantes e os maus
manifestantes”, como também uma linha de dar ênfase maior nos
confrontos violentos. Tudo isso é um sintoma forte do abalo causado
pela greve geral.
Ora,
“dizei-me anêmicos e anões” desde quando se faz movimento
grevista para agradar o patronato e o governo? Se faz greve
justamente para incomodar. E o fato é que incomodamos, incomodamos e
muito. E isso sim é democracia, como afirma o professor José Paulo
Netto “quem quer democracia conversando do palácio com luva de
pelica, na verdade nem quer conversar e nem quer democracia”.
Por
fim é preciso destacar uma diferença da greve geral com as
manifestações de junho de 2013. Agora temos uma direção política
e esse fato abre uma grande perspectiva para o próximo período,
logo não tenho duvida que uma próxima greve geral, á qual não
devemos ter receio e nem devemos perder tempo em começar a
articular, será muito maior e mais histórica do que essa greve.
Sigamos sem vacilar nessa luta, hasta la victoria siempre!
*Coordenador
do Centro Acadêmico de Filosofia da Universidade Federal do
Tocantins, Membro do Comitê Reage UFT e militante do Coletivo José
Porfírio.