*Pedro Ferreira Nunes
Como trabalhar o tema da política com a juventude
que parece não ter o mínimo de interesse por essa questão? Como despertar o
interesse dos jovens por tal temática, sobretudo num contexto em que a política
parece não mais fazer sentido? Pelo menos no seu conceito clássico. Mas será
que a juventude tem consciência do conceito clássico de Política? Ou estamos
caminhando para o fim da política como aponta o filósofo Desidério Murcho?
“Chegamos então ao fim da política? Teremos então no
futuro não o conhecido jogo político mas apenas gestores competentes, como em
Singapura? Talvez...”(Murcho, 2010).Os últimos processos eleitorais pelo mundo parecem
caminhar nesse sentido. O fato é que o discurso apolítico, apartidário e
meritocrático tem cada vez mais ganho espaço, especialmente entre os jovens. O
que torna maior o desafio dos que trabalham com o ensino de filosofia – e que
tem a Política como um dos seus quatro grandes eixos.
Por que tem ocorrido esse desinteresse pela política?
Seria por que nas palavras de Desidério Murcho (2010) um interesse intenso pela
vida política só faz sentido para generalidade das pessoas quando o conforto da
sua vida privada está em risco, ou quando têm a esperança de que uma mudança
política terá resultados importantes para qualidade da sua vida privada?
Nesse contexto acredito que o principal desafio do
ensino de filosofia a cerca da política passa, em primeiro lugar, pela desconstrução da visão que se tem da politica
na sociedade contemporânea.E em segundo lugar, resgatar o seu conceito clássico.
Para tanto é preciso partir dos seguintes problemas: O que é a política? E para
que serve a política? Em seguida, partindo das respostas dadas a essas
questões, o professor de Filosofia deverá aprofunda-las, trazendo o seu
conceito clássico.
De acordo com Japiassú (2001) “Em sua concepção e na
tradição clássica em geral, a política como ciência pertence ao domínio do
conhecimento prático e é de natureza normativa, estabelecendo os critérios da
justiça e do bom governo e examinando as condições sob as quais o homem pode
atingir a felicidade (o bem-estar) na sociedade, em sua existência coletiva”.
Nessa linha é importante ressaltar a concepção
aristotélica de política, na qual “o homem é um animal político que se define
por sua vida na sociedade organizada politicamente” (Japiassú, 2001). Óbvio,
sem deixar de abordar a concepção de Platão – que “enuncia as condições da
cidade harmoniosa, governada pelo filósofo- rei, personalidade que governa com
autoridade mas com abnegação de si, com os olhos fixos na idéia do bem”.
De acordo com Murcho (2010) “...os intelectuais,
herdeiros de leituras e tradições bem definidas, encaram a vida publica
aristotelicamente, como um valor em si, e a vida privada com uma vida de
privação. Mas a generalidade da população sempre encarou a vida pública como um
mero meio para ter uma vida privada melhor”. Diante disso podemos afirmar que
para a generalidade da população a política só é interessante quando lhes é
útil de alguma forma. Mas isso é politica ou politicagem?
Como vimos anteriormente a politica é tudo aquilo
que diz respeito aos cidadãos, ao governo da cidade e aos negócios públicos. E
a politicagem? De acordo com Rodrigues (2015) trata-se “... da corrupção da
finalidade politica, na medida em que administração dos negócios ou bens
públicos não está mais voltada ao beneficio da coletividade e sim a satisfação
de interesses particulares e pessoais dos gestores”.
No geral a concepção que se tem de política na
contemporaneidade se aproxima mais do conceito de politicagem. E é justamente
essa concepção distorcida que afasta a generalidade da população da política.
Por que existe essa distorção? Por que a politicagem é rotineiramente mostrada
como se fosse política? Não se trata de um erro ocasional, de uma confusão
conceitual. Mas de um objetivo claro das elites dominantes que não tem nenhum
interesse que a generalidade da população participe ativamente da vida política
da cidade. Dai a importância do ensino de filosofia desconstruir essa visão em
torno da política e resgatar a sua concepção clássica.
Aliás, penso que o ensino de filosofia deve se
caracterizar, sobretudo, em um processo de desconstrução. Não só em relação à
política, mas também em relação a diversas questões da contemporaneidade.
Precisamos desconstruir a visão hegemônica que nos é imposta como pronta e
acabada – um processo que não se dá de forma impositiva, mas sim dialógica.
* Bolsista do PIBID-Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. Atual na Escola Frederico José Pedreira Neto - Palmas/TO.
Referências
JAPIASSÚ,
Hilton; Marcondes, Danilo.Dicionário Básico de Filosofia. 3º Edição. Jorge
Zahar Editor – Rio de Janeiro; 2001.
MURCHO,
Desidério.
O fim da Política. Disponível em: criticanarede.com. Acesso em: 30 de Agosto de
2017.
RODRIGUES,
Epitácio. Política, Politicagem, Ciência Política e Filosofia Política.
Disponível em: blogspot.com. Acesso em: 09 de Setembro de 2017.