Por Pedro Ferreira Nunes
Seu corpo estava estendido no
chão do quarto, ainda tinha vida e dava os últimos suspiros. Sentia uma dor
imensa no peito e estava banhado de sangue do tiro que acabara de receber.
O gosto do whisky que tomava a
poucos minutos, já tinha sido substituído pelo gosto do sangue. Estava só, não
conseguia gritar e mesmo se conseguisse ninguém o escutaria. Estava morrendo e
era irreversível. A dor maior não era do tiro em si, mas de quem o dera.
Saiu do trabalho as 18h e foi
direto para casa, no caminho parou apenas para comprar um whisky. Os
telefonemas insistentes continuavam, mas ele mantinha a sua posição de não
atende - lo. Era preciso por um fim naquela historia, já estava cansado, não
via futuro naquilo que se tornara uma questão demasiadamente desgastante.
Ligou a TV, mas não achou nada
de interessante para assistir, desligou e em seguida ligou o som e preparou uma
dose de whisky. Queria esquecer-se de tudo aquilo, mas não conseguia parar de
pensar, sabia que por algum tempo sofreria e que até nunca estaria curado totalmente,
sempre haveria uma cicatriz. Mas com certeza não doeria tanto.
Desde o primeiro momento ele
sentiu que era algo arriscado, mas o desejo falou mais alto e ele não teve como
resistir, jogou-se totalmente, entregou-se de corpo e alma aquela historia.
Pobre diabo, como ele previa aquilo se tornava cada vez mais perigoso. Não
tinha mais jeito tinha que por um ponto final aquilo.
Sentiu que por mais que
quisesse se continuasse ali naquela cidade aquele problema sempre viria bater
na sua porta, era preciso sair dali, ir para outra cidade, quem sabe outro
estado, começar uma nova vida, sim era preciso fazer isso, era preciso fugir
dali. E foi isso que fez com que ele jogasse uma mochila nas costas e partisse
daquela cidade.
Passara-se dois meses, tudo ia
caminhando de forma tranquila, já estava em outra cidade, trabalhando e
estudando. Ainda não conseguira sair e não tinha amigos, gostava de fica só
ouvindo musica, trancado na quitinete que morava com uma garrafa de whisky na
mão.
Não sabia como cargas d’águas
conseguiram o telefone dele, mas nas ultimas duas semanas as ligações eram
frequentes, imaginava consigo - Será que descobriram onde estou morando?
Decidira não atender, não
queria ouvir a voz de ninguém, estava sofrendo por dentro, mas permaneceria firme
sem recuar no seu proposito de concretizar por ali uma nova vida.
Quando preparava mais uma dose
de whisky ouviu de repente as batidas de alguém o chamando na porta. Assustou –
se, imaginou quem seria, pois ninguém além de sua família sabia onde estava
morando. Nem mesmo os colegas do trabalho e do cursinho sabiam onde ele morava.
Hesitou em abrir, mas as
batidas continuaram, perguntou quem era, mas ninguém o respondeu. Decidiu não
abrir, mas as batidas continuavam, tentou ver quem estava lá fora, mas não
tinha como. De repente tudo se fez em silencio, decidiu então abrir a porta
para ver se via rastro de quem estivera por ali. Não havia ninguém.
Retornou então para dentro,
trancou a porta e foi preparar mais uma dose de whisky , era o ultimo da noite,
em seguida iria dormi, tinha que acordar cedo para ir até o cursinho e depois
seguiria para o trabalho. Com o copo de whisky na mão decidi abrir a janela
para observar o movimento na rua, era algo que não fazia com frequência.
Quando abriu a janela viu alguém
conhecido na rua, mas foi rápido, de repente um tiro acerta seu peito e ele cai
para trás, o copo de whisky voa longe, ele esta mortalmente ferido. Sim, não
tinha enganado, vira muito bem quem fizera aquilo com ele, como podia ter sido
tão cruel assim. Estava morrendo, já sentia o frio da morte percorrendo todo o
seu corpo.
Tudo se fez em silencio, no
seu quarto apenas a voz roca de Janis Joplin ecoava vindo do seu aparelho de
som, um vento frio entrava pela janela, lá fora também tudo era silencio. No
chão ao lado do copo de whisky que quebrara com o impacto da queda, ele acabava
de dar seus últimos suspiros.