quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Repressão ou Educação: Critica a ação da policia ambiental na cidade de Lajeado no combate a pesca.

Não raramente a policia ambiental tem feito apreensões e aplicado multas em pessoas que cometem crimes ambientais em Lajeado, sobretudo pescadores que não respeitam o período da piracema, ou que ultrapassam os limites proibidos para pesca – próximo à usina hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães. No entanto essas ações não tem inibido a população ribeirinha, pelo contrario, a quantidade de pessoas que buscam o rio para pescar é cada vez maior. E por mais que tenta a policia ambiental não consegue dá conta de combater a pesca ilegal. Não dá conta, sobretudo pela forma com que os agentes ambientais têm atuado – utilizando-se da repressão em vez da educação. Se essa lógica não mudar, a ação da policia ambiental continuará sendo ineficaz como tem sido.

Pescador é um aliado na preservação ambiental e não um inimigo!

Não é difícil encontrar um ribeirinho que não tenha alguma queixa da forma com que é abordado pela policia ambiental. Além de perderem o pescado, o material de pesca e de serem multados, não raramente são algemados e levados presos para delegacia. Inclusive já houve episodio em que pescadores foram baleados pela policia ambiental. Mas isso não impede que voltem a pescar – não pelo prazer de cometerem crimes, mas pelo fato de que a pesca é a única fonte de sobrevivência para grande parte da população ribeirinha. Logo, não é criminalizando a pesca e a caça que este problema será resolvido, pelo contrário, é preciso conscientizar a população da necessidade de preservação da fauna e da flora local, é preciso fazer dos ribeirinhos aliados e não inimigos. Pois afinal de conta eles são os principais beneficiados com a conservação do meio ambiente.

Todas as experiências bem sucedidas de preservação ambiental no Brasil tem em comum o fato de terem transformado a população ribeirinha em agentes ambientais. E tal processo se deu através da conscientização, da educação ambiental e não da repressão. É preciso compreender que a maioria das famílias que buscam o rio – de onde tiram o sustento do dia a dia. Não o fazem por querer, mas pela falta de alternativa. Por que não existe outra fonte de sustento na região se não a pesca – é por causa da pesca que muita gente não passa fome em Lajeado e região. E já que nem todos tem acesso ao beneficio do seguro-defeso, acabam pescando em período proibido e em área de risco.Situação que tende á agravar devido à diminuição do número de beneficiários do seguro-defeso e o desemprego crescente. Mas também a solução desse problema passa pela necessidade do poder público oferecer alternativas para que os ribeirinhos possam ter outras fontes de sobrevivência. Se isso não acontecer o governo vai continuar fingindo que combate o crime ambiental, á policia ambiental continuará atuando sem nenhuma ineficácia e os ribeirinhos vão continuar driblando a fiscalização para por o pão de cada dia na mesa da sua família.


Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A Destruição do Mercadão e a Questão da Memória e Identidade Miracemense.

A meus avós, Graciliano e Jovelina.

A memória e a identidade são patrimônios fundamentais de um povo. Ambas são frutos tanto da coletividade como também da nossa individualidade. Logo não podemos negar a influência da sociedade tanto na construção da nossa identidade como da nossa memória – mesmo quando fazemos isso a partir de um olhar particular. É o que veremos a seguir nesse trabalho que busca resgatar a história de um patrimônio perdido em nome do “progresso” – o mercado municipal de Miracema do Tocantins – que depois de mais de 50 anos servindo a população miracemense e das cidades circunvizinhas como o principal centro comercial da região, mas, sobretudo como ponto de encontro das diversas culturas que construíram o município de Miracema, foi destruído para construção de um mini shopping.

Diante de um contexto do avanço de um modelo de desenvolvimento baseado na destruição do patrimônio histórico, cultural e ambiental Tocantinense estudos como esse são fundamentais para resgatar o que vem sendo destruído em nome do progresso. Mas que progresso é esse que para existir precisa destruir as nossas motrizes culturais? É a ordem capitalista que avança interior adentro. E que em busca de lucros exorbitantes não pensa duas vezes em destruir o patrimônio local.

Assim esse trabalho se constitui, sobretudo, numa arma de resistência – contra esse modelo nefasto que nos é enfiado goela abaixo como a única alternativa de desenvolvimento. Resgatar a memória do mercadão de Miracema e todo o seu significado para construção da identidade do povo miracemense é recuperar mesmo que nas nossas memórias esse patrimônio que se perdeu – quando fora destruído para construção de um mini shopping. Tal trabalho foi realizado a partir de relatos orais e entrevista com pessoas que cresceram nos corredores do mercadão comercializando e comprando mercadorias para sua subsistência, das nossas memórias pessoais e de uma pesquisa bibliográfica – na qual tivemos bastante dificuldade para encontrar material devido à escassez de registro histórico sobre a cidade de Miracema e particularmente do mercadão.Logo esse trabalho ganha mais importância ainda no sentido de dá as futuras gerações miracemense algum estudo a cerca de um patrimônio histórico e cultural da cidade de Miracema que foi destruído, mas que sobreviverá na nossa memória.

 O Mercado Municipal de Miracema foi destruído depois de 50 anos servindo o povo de Miracema e das cidades circunvizinhas. Tal destruição se deu para construção de um Shopping. A história desse lugar está intimamente ligada a historia da cidade. Por isso continua vivo na memória do povo miracemense e é parte constituinte de sua identidade. Fato que se dá, por que o mercadão foi construído a partir da necessidade do povo local. E também por que o povo de Miracema não se reconhece nesse novo espaço – construído de forma autoritária, de cima para baixo, sem respeitar a vontade da população – como são todos os projetos do modelo hegemônico de desenvolvimento no Brasil e no Tocantins – pautado na destruição do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural.

O Mercado Municipal de Miracema não era apenas um espaço de comércio, de importância econômica. Mas era, sobretudo, um lugar de relevância social – onde se reuniam as motrizes culturais que construíram e constrói a cidade, isto é: Os índios Xerente – primeiros habitantes do local, os povos ribeirinhos, os camponeses e aqueles que vieram de outras regiões – os viajantes.

Quando derrubaram o mercadão para construir sobre a sua estrutura um shopping – o poder público local pretendia mostrar que Miracema estava se modernizando – e tal processo de modernização passava pela destruição do velho e construção do novo. Mas tal processo de modernização não pegou – não pegou por que não se muda a identidade de um povo e de um lugar do dia para noite, pela vontade de um único individuo ou de um pequeno grupo. E se ao construírem um shopping achavam que estavam apagando da memória do povo de Miracema parte da sua história – o tiro saiu pela culatra.

O Mercado Municipal de Miracema foi um patrimônio histórico e cultural de Miracema perdido como reflexo de um modelo de desenvolvimento que para subsistir precisa destruir – destruir nossas raízes, a nossa cultura, a nossa memória, a nossa identidade. Logo é preciso que a população se conscientize e se mobilize para rechaçar esse modelo de desenvolvimento que não serve aos interesses do povo, mas sim de uma pequena elite.


Para ver o artigo completo acesse o os links: https://drive.google.com/drive/my-drive

Sobre as Mudanças na Educação Proposta pela Secretaria Estadual de Educação do Tocantins.

No bojo da medida provisória que reforma o ensino médio (MP-746/2016) do governo federal a serviço das instituições de ensino privada e da escola sem partido a Secretaria Estadual de Educação do Tocantins está propondo uma série de medidas que serão implantadas nas escolas públicas do Estado. As alterações propostas vão na lógica do que propõem o governo federal – isto é, mudar para continuar como está. Não iremos analisar aqui as propostas especificamente ou no que elas poderão contribuir ou não para melhorar a qualidade da educação pública no nosso Estado. Mas sim a lógica dessa mudança.Que pode ser percebida já de inicio na forma autoritária que estão sendo propostas – sem a participação dos principais protagonista desse processo que são os estudantes e professores.

Essa ausência fica latente na fala da assessora regional de supervisão, gestão e formação da delegacia regional de ensino de Guaraí – Ester de Paula Alves da Silva – “Quero compartilhar da melhor maneira, com professores e estudantes, esse trabalho que está sendo proposto e discutido, por acreditar no desenvolvimento da educação”. Isto é, as decisões tomadas, vão ser compartilhadas posteriormente, depois de já definidas. Ora, o processo deveria ser o contrario. Os estudantes e professores deveriam ser os primeiros a serem ouvidos e consultados e não apenas comunicados depois da decisão já tomada. Ainda nessa linha a atual secretária de educação –Wanessa Sechim afirma “Tem havido um esforço coletivo para que as intervenções pedagógicas ocorram na escola”. Que esforço coletivo é esse sem a participação dos principais protagonistas do processo educacional? Os professores só serão ouvidos – depois da proposta já elaborada. Já os estudantes nem se quer serão.

Tal fato ocorre por que ao contrario do discurso à preocupação do atual governo através da secretaria de educação não é de forma alguma a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Pelo contrario, a preocupação é em melhorar os índices de avaliação como fica claro na fala da própria secretária de educação “...há a necessidade de melhoria nos índices educacionais do Tocantins”. O que não garante de forma alguma que a educação seja de qualidade pelo fato de alcançar índices estabelecidos por órgãos econômicos mundiais.

Outro fato a se destacar é que não se vê nenhuma pontuação por parte do governo estadual a cerca da questão estrutural das unidades escolares e nem da valorização profissional. Ora, as mudanças curriculares são de fato necessárias, mas não resolveram o problema da educação no Tocantins. As mudanças curriculares impostas de forma autoritária e sem a questão das estruturas físicas das unidades escolares e a valorização dos profissionais da educação não passa de um engodo. É mudar sem mudar. É mudar para continuar como está. Esperar uma mudança radical “as margens corretivas interesseiras do capital” como afirma Mészáros é um tanto de ingenuidade. Logo tanto a reforma do ensino médio do governo federal como as mudanças propostas pela secretaria estadual de educação do Tocantins estão mais para retrocessos do que para avanços. Pois caminham mais para uma logica tecnicista do que humanista – tanto é que basta ver quais são os conteúdos que terão mais espaço (Português, Matemática, Inglês e redação) e os que estão sendo descartados (Filosofia, Sociologia e Artes).

Para Mészáros (2008) “uma das funções da educação formal nas nossas sociedades é produzir tanta conformidade ou “consenso” quanto for capaz, a partir de dentro e por meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente sancionados”. E é justamente nessa direção que avança as mudanças propostas tanto pelo governo Temer como pelo governo Marcelo Miranda – a afirmação de uma educação que produza conformidade, que esta mais voltada para produzir mão de obra para o mercado do que para a vida. Nessa linha reafirmamos o que aponta Mészáros (2008) “é necessário romper com a logica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente”. E um primeiro passo nesse sentido é não nos iludir com esses discursos de mudanças por parte de governos e patrões – que na verdade não muda nada.

Referências

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. – 2º ed. – São Paulo: Boitempo, 2008.


Profissionais de educação estadual reúnem-se para discutir a proposta pedagógica para 2017. Disponível em: conexaoto.com.br. Acesso em: 14 de Janeiro de 2017.

Pedro Ferreira Nunes – é Educador Popular e Escritor. Militante do Coletivo de Educação Popular José Porfírio – cursou a faculdade de Serviço Social da UNOPAR e atualmente estuda Filosofia na UFT.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Dez Dias que Abalaram o Mundo e os 100 Anos da Revolução Russa.

In memória de Dibenco, Crilenco, Antonov e Svedlov.

No ano de 2005 comecei a trabalhar como repositor de mercadorias num grande hipermercado em Goiânia. Nos intervalos do serviço ia até uma revistaria que ficava dentro da loja comprar alguma coisa para ler. Foi então que encontrei uma edição de bolso do livro “Dez dias que abalaram o mundo” – uma celebre narrativa da revolução russa escrita pelo jornalista norte americano John Reed. Já havia ouvido alguma coisa sobre a revolução russa, mas nada muito significativo. Logo não pensei duas vezes em comprar um exemplar para ler. E a partir da leitura de “Dez dias que abalaram o mundo”fui instigado a buscar conhecer mais profundamente as ideias comunistas – a ler Karl Marx, Lenin, Trotsky entre outros.
A experiência de ler “Dez dias que abalaram o mundo” é como se teletransportar para o passado e viver aqueles acontecimentos. Sentir o clima tenso, o cheiro do tabaco no ar, os debates acalorados. É ouvir Lenin e Trotsky de um canto a outro organizando e agitando a massa para que lute e tome o poder. É ouvir Zinoviev, Camenev, Bucarin, Svedlov, Lunastinque e tantos outros que não tiveram papel menos importante. Como Antonov, Crilenco e Dibenco – homens de ação.
É se emocionar diante da queda de um camarada – imortalizado em versos – Oh irmãos, caídos na luta fatal, vitimas do sagrado amor pelo povo, por ele tudo destes... Um dia há de chegar e o povo há de se levantar, grande, poderoso e livre... E da união entre camponeses e operários que de punho cerrado, fuzil erguido para cima, canta a todo pulmão “A internacional” – De pé oh vitimas da fome, de pé famélicos da terra... Bem unidos façamos, nesta luta final, uma terra sem amos, a internacional. E não li “Dez dias que abalaram o mundo” apenas uma vez. Pelo contrário, é difícil lê-lo apenas uma vez. Tornou-se um livro de cabeceira, que leio sempre. Sobretudo quando vamos travar alguma luta contra a burguesia. Ou quando nos desestimulamos diante das dificuldades da vida militante.
Em outubro de 2017 fará 100 anos do triunfo dos bolcheviques na Rússia. Muito se falará e muito se escreverá sobre tal acontecimento. Tanto do ponto de vista positivo, como também negativo. Haverá também os que ignoraram – que deve ser a grande maioria. Mas os que falaram dessa importante data para classe trabalhadora internacional provavelmente darão ênfase a figuras como Lenin, Trotsky e até mesmo Stalin. Lendo “Dez dias que abalaram o mundo” aprendi a admirar figuras que geralmente são ignoradas por boa parte das organizações de esquerda. Figuras que não tinham uma grande capacidade teórica – é verdade. Eram mais homens de ação mesmo. No entanto sem eles, os bolcheviques já mais triunfariam. Eles são inegavelmente a imagem do povo – Svedlov, Antonov, Dibenco e Crilenco. E através deles homenageio a tantos outros que derrabaram o sangue pela causa da liberdade, mas que seus nomes não aparecem nos livros de história.


Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

Poema para o Toin Coati in memória.

Madrugada

Ele caminhava sozinho
Era madrugada
Com uma garrafa de conhaque
Gritando por sua amada.

Por ali só os cães latindo
Ele como uma criança chorava
Quando vinha na memória
A sua mulher amada.

Ele a amava tanto
Não conseguia entender
Por que não havia dado certo?
Por que ela o fazia sofrer?

Trocou-o por outro homem
Esnobou o seu amor
Pisou nos seus sentimentos
Por fim lhe abandonou.

Valia apena sofrer tanto
Por essa louca mulher?
Viver se humilhando tanto
Por quem nada com ele quer?

Ele seguia se lamentando
Era ainda madrugada
Com uma garrafa de conhaque
Chorando por sua amada.

Pedro Ferreira Nunes
Casa da Maria Lucia, Lajeado-TO. Lua Cheia. Inverno de 2016.

Conto: Bad Trip

John é um solitário – a solidão é a sua companheira inseparável, sobretudo quando ele esta escrevendo suas estórias. Ele escreve livros que não são publicados e muito menos lidos por ninguém. Mas é a este oficio que dedica boa parte do seu tempo.De vez enquanto resolve sair – na cidade onde vive não há muitas alternativas. Um amante do punk rock tal como é tem que se contentar com o arrasta pé, que ele frequenta não pela musica, mas para tomar cerveja e rir bastante das figuras impagáveis que encontra que não muito raramente o espiram nas estórias que escreve.
John é uma figura bastante conhecida e respeitada por ali, apesar do seu estilo bem diferente e da vida um tanto quanto antissocial que leva. Ele nunca fora um galã, um cara que fizesse sucesso com a mulherada – nem mesmo quando ainda não era quem é. Ele sabe disso, sabe que não é bonito, também não é lá essas coisas como amante, sabe que não faz o perfil das mulheres daquela cidade, no entanto ele não se incomoda nem um pouco com isso, tem a personalidade forte mais do que o suficiente para aceitar-se tal como é.
Como sempre não se arrumou para sair – vestiu uma calça jeans desbotada que ele comprara num camelô, vestiu uma camisa preta que de tão gastada já estava ficando branca, calçou uma sandália de coro, não passou perfume e nem usou nenhum acessório, colocou um maço de palheiros no bolso e seguiu a pé apreciando o lindo céu estrelado do lugar.Para John seria mais uma noite como outras que já tivera na cidade – encontraria uns conhecidos, tomaria muita cerveja, quem sabe até não dançaria um arrasta pé com alguma conhecida, mas ao final voltaria para os braços da solidão.
Ao chegar ao bar ele se sentou numa mesa com um amigo num canto reservado. Pediu uma cerveja, acendeu um palheiro e ficou olhando o movimento. E como de costume o forró estava animado – o salão estava cheio de gente dançando alegremente. E para variar mais homem do que mulher – o que tornava mais difícil a possibilidade de John e seu amigo saírem dali com uma companhia. O que não era nenhuma novidade para John. Mas para sua surpresa ele notou que estava sendo observado por uma linda mulher. – Ora, o que essa mulher viu em mim? Logo eu, um sujeito sem nenhum atrativo em especial. Ou será que estou vendo coisas? Será que exagerei no álcool? A verdade é que não, a verdade é que aquela bela mulher parecia estar interessada mesmo em John. – Seria falta de alternativa? Não podia ser, pois o que não faltava por ali eram homens. Porém nenhum que tivesse o estilo de John. Talvez essa fosse à questão. Mas não era a primeira vez que John saia para curtir a noite da cidade e isso nunca havia acontecido. Inclusive não era a primeira vez que ele trombava com aquela garota, que, no entanto nunca demostrara nenhum interesse por ele. – Por que agora? Questionava-se John.Ela era uma das mulheres mais desejada da cidade, podia ter qualquer homem dali a seus pés. Mas por que o John? Um cara estranho e um tanto esquisito. E se ela estava afim dele mesmo, teria que tomar a iniciativa, pois se dependesse dele nada aconteceria. Todas as aventuras amorosas que ele teve partiram delas e não dele a iniciativa. Naquela noite não seria diferente, nem mesmo o consumo exagerado de álcool lhe dava coragem para uma atitude diferente.
                                                A festa já estava acabando, as pessoas já estavam se retirando para suas casas. John também decidi ir. Mas de repente recebe um recado. – A Luana esta ti esperando lá na esquina. Quer conversar contigo. John tremeu todo por dentro. Ele sabia muito bem o que ela queria com ele. A troca de olhares entre eles durante a festa não lhe enganava – ela estava afim de ficar com ele. E ele não podia perder a oportunidade. – Mas ela não é casada? Ou pelo menos era. Ah quer saber? foda-se! Ele foi até o bar pediu duas cervejas e foi ao encontro de Luana. – Será que ela esta me esperando? Será que esta querendo ficar comigo mesmo? Sim era verdade. Luana estava o esperando na esquina onde ela disse que o esperaria. Assim que ela o vê dá um sorriso receptivo, ele corresponde com outro. A cada passo mais próximo dela o seu coração bate mais acelerado – tão acelerado como o punk rock que ele tanto adora.
                                               Agora diante dela a timidez desaparece, ele a puxa para os braços e a beija. Mostrando uma atitude que ela não imaginava que ele tivesse. A cada toque dele na sua pele, a cada beijo ardente, ela se surpreendia positivamente. Luana não imaginava que John fosse um amante tão vigoroso. Naquele clima caliente ela se entrega a ele, ali mesmo, como dois animais no cio. Não se preocupando nem um pouco se seriam vistos ou não. Aliás, naqueles momentos a única preocupação de John era dar prazer aquela que estava nos seus braços. Fazer com que aquele momento já mais fosse esquecido. John sabia fazer isso como poucos. Luana naquela noite descobriu o grande amante que ele era. Nem parecia aquele cara tímido que se quer tinha coragem de chamar uma mulher para dançar.
                                                               Era por volta das 11h da manhã quando John levantou-se. Havia bebido bastante na noite anterior, mesmo assim já estava pronto para outra. O consumo exagerado de álcool não lhe fizera mal, mas os acontecimentos da noite anterior lhe deixaram marcas profundas na alma.Agora John sentado na varanda de sua casa, ouvindo Los Hermanos, tomando um conhaque e fumando um palheiro relembra desses acontecimentos.John gostava da solidão, precisava da solidão para escrever, ainda que nunca fosse publicar, ainda que ninguém se interessasse em ler o que ele escrevia. Ele simplesmente escrevia, escrevia, pois precisava escrever. Mas não queria acabar seus dias sozinho. Sonhava encontrar uma companheira para dividir as ilusões e desilusões da vida cotidiana – casar, ter filhos, formar uma família, quem sabe. No entanto a cada dia que se passava encontrar uma companheira tornava-se um sonho distante. Estava, portanto condenado à solidão? Não, não era aquele fim que John queria para si – viver eternamente sozinho. John gostava da solidão, era na solidão que ele produzia suas crônicas, seus contos, seus poemas. Mas viver eternamente na solidão não era o que queria. Ele queria uma camaradinha para dividir as tristezas e alegrias dessa vida.
                                               No entanto todos os romances que tivera até então foram romances breves, aventuras na verdade. John lembrou-se do que disse um certo escritor português numa entrevista que ele assistira na televisão – nós escritores somos bons amantes, somos ótimos para quem quer viver uma aventura, que não duram mais do que três meses, pois depois disso nos tornamos chatos e insuportáveis. John sabia bem disso, pois havia passado por experiências nesse sentido. Por tanto tinha que se conformar – ele não fora feito para ter uma família, mas para ser um amante. Era assim que as mulheres o viam, como um bom amante, alguém para se viver uma louca aventura. Nada mais do que isso. Por tanto não podia criar ilusões quanto a noite que tivera com Luana. Noite que talvez se repetisse, mas com o tempo eles se afastariam e ficariam apenas as lembranças dos momentos especiais que viveriam juntos. Pois esta era a sina daquele escritor fracassado – a solidão. Sempre que John vivia uma aventura como tivera com Luana era certeza que no dia seguinte ele entraria numa bad trip do caralho.


Pedro Ferreira Nunes – É poeta e escritor popular tocantinense.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Crônica: Minutos que parecem horas, horas que parecem minutos II.

Há momentos que queremos que as horas passem devagar, já outros esperamos que passe rapidamente. E é justamente no momento que queremos que ás horas passe de pressa que elas parecem parar, já nos momentos que queremos que as horas parem é que elas passam mais de pressa ainda. É aquela máxima “tem horas que parecem minutos, e minutos que parecem horas”. As horas que parecem minutos podem ser tanto agradáveis como desagradáveis, já os minutos que parecem horas são sempre desagradáveis.No mesmo dia eu vive a experiência de passar por horas que pareciam minutos e por minutos que pareciam horas. E não foi nem um pouco agradável, pois as horas que pareciam minutos foi de muita angustia. E os minutos que pareciam horas foi mais angustiante ainda.

Na crônica anterior “Minutos que parecem horas, horas que parecem minutos I”relatei a angustia que foi esperar um ônibus, num domingo, para ir até Palmas fazer a prova de um concurso público. Depois do termino da prova a angustia recomeçou com a espera para pegar um transporte de volta para casa. Como tinha terminado a prova cedo acreditava que não teria muitos problemas em pegar um ônibus para o Lajeado, apesar de ser um domingo – um dia não muito bom para quem depende de transporte público se deslocar. E apesar de chegar ainda cedo no ponto do primeiro coletivo que teria que pegar percebi que não seria fácil. Todos que passavam estavam lotados o que me obrigou a ir caminhando até o ponto principal. E chegando lá recebi a triste noticia de que o ônibus que eu pretendia pegar havia acabado de passar. Quase entrei em desespero, pois já era mais de 18h, e quanto mais avançava ás horas mais difícil de transporte ficava. No entanto o jeito era esperar já que não havia muito o que fazer.

Ao contrario do sufoco da parte da manhã quando estava indo fazer a prova – que o tempo parecia correr depressa e eu queria que ele andasse devagar, agora não – o tempo parecia andar extremamente lento enquanto eu desesperadamente rezava para que ele andasse de pressa. Mas o tempo parecia não passar. E o que não passava na verdade era o ônibus. Foi então que apareceu outra alma para dividir comigo a agonia de esperar o ônibus. O que fez com que me tranquilizasse um pouco, sobretudo por que ela sempre sorrindo da nossa desgraça comentava – é melhor sorrir do que chorar.Mas na verdade era que estávamos os dois desesperados, já era 21h e nada de ônibus. A possibilidade de termos que dormirmos rodados ali na capital tornava-se cada vez mais real. Mas para nossa alegria surgi um ônibus – damos um sinal para ele parar, mas o mesmo não para, e nossa alegria se vai.

Pronto, tudo estava perdido. Começamos a fazer planos de onde dormiríamos. Já que grana para hotel estava fora de cogitação e muito menos incomodar algum conhecido. Não consigo esconder o meu desespero – depois de um dia tão angustiante ainda teria que dormir ali rodado, e nem a bela companhia do meu lado me animava.

- Vamos para rodoviária ou para o hospital geral. Pelo menos não ficaremos sozinhos lá. Sempre tem gente.

- Mas vamos esperar mais um tempo, pelo menos até ás 11h.

Passado um bom tempo, quando nossas esperanças já estava acabando, eis que surge uma Van.

– Essa é a nossa ultima esperança. Me disse a companheira. Damos um sinal para o veiculo parar, o mesmo diminui a velocidade, no entanto parece que não irá parar. Olhamos um para o outro já sem esperança. Mas para nossa surpresa o ônibus para um pouco a nossa frente. Olhamos um para o outro, sorrimos e corremos para pega-lo. Enfim toda a nossa angustia torna-se alegria. Ao longo do caminho vamos percebendo que não era apenas nós que estávamos naquela angustia que não parecia ter fim. Muita gente estava esperando o ônibus para voltar para casa. Sempre que o ônibus parava num ponto para pegar mais um passageiro – Gritavam: – Aperta mais um pouco que aqui é igual coração de mãe, sempre cabe mais um.

É. Não foi um dia fácil para mim, no entanto após passar por todo aquele sufoco tudo parecia muito menos dramático do que fora de fato. Afinal de contas consegui fazer tudo que havia planejado, apenas com uma intensa carga de dramaticidade só por que vivi intensamente a experiência de passar por horas que parecem minutos e minutos que parecem horas.


Pedro Ferreira Nunes – Poeta e Escritor tocantinense.