sexta-feira, 7 de agosto de 2020

3° FLIP - Portuense - Sobre minha formação e produção literária


Entre os dias 09 e 13 de Julho de 2020, ocorreu a terceira edição da Feira Literária de Porto Nacional (FLIP - Portuense). Nesse ano inteiramente virtual através do site da Prefeitura de Porto Nacional no YouTube.

Entre poetas, escritores, músicos, atores, e artistas plásticos de vários cantos do país, esteve esse que vos escreve (como podem conferir no vídeo) falando da minha formação e produção literária. E concluo apresentando um poema de minha autoria "Eu gosto de mato".

#Viva a literatura tocantinense!!!

#Vida longa a FLIP-Portuense!!!

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Breves comentários sobre a conjuntura

“A verdadeira provação... 
se dará quando nossas sociedades
 começarem a se movimentar novamente”.
Slavoj Zizek

Há algum tempo não faço meus comentários sobre a conjuntura – estilo punk Rock – breve como um soco no estômago. Mas como dizia uma Professora do curso de Filosofia – “nunca é tarde”. Sendo assim então vamos lá. Falarei aqui sobre o pacote de privatizações de bens e serviços públicos do Governo Carlesse aprovado pela Assembleia Legislativa e do combate ao Novo Corona Vírus pelos Gestores Públicos, tanto a nível Municipal como Estadual. A postura da população Tocantinense diante do número crescente de casos e óbitos em decorrência da pandemia. E a discussão sobre á volta ou não das aulas. 

Vende-se!

Á Assembleia Legislativa do Tocantins não criou nenhum obstáculo para aprovar o pacote de privatizações do Governo Carlesse. Entre bens e serviços que serão entregues a iniciativa privada está a concessão de rodovias, a Agência Tocantinense de Água (ATS) como também ações da Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães. Tudo isso justamente num momento em que o foco da população e do debate público está voltado para o combate ao Novo Corona Vírus (COVID-19). O que nos leva a questionar a moralidade dessas decisões, tanto por parte do executivo como do legislativo. 

Modelo fracassado

Desde os governos Siqueira,  passando por Marcelo Miranda, o projeto privatista tem se demostrado um fracasso. Sobretudo no que diz respeito a melhoria dos serviços prestados, a redução dos custos bem como na utilização dos recursos arrecadados para melhoria da qualidade de vida da população. Mas por que mesmo assim continuam privatizando? Por que alguém lucra com isso. Esse alguém certamente não é o povo – o povo vai pagar a conta. Por exemplo, em relação ao serviço de energia elétrica, o tocantinense já paga uma das tarifas mais caras do país  (mesmo sendo um Estado produtor de energia), imagine agora com o Estado abrindo mão mais ainda das suas ações nesse setor?!

O caminho mais fácil?

Ao seguir com o projeto de privatização dos bens e serviços públicos dos seus antecessores – Carlesse opta pelo caminho mais fácil para arrecadar dinheiro. O problema é que se trata de um dinheiro que vêm fácil e que tende a acabar mais facilmente ainda pois são muitos o que querem uma “beirinha”. Outro ponto é que esse caminho que aparentemente é o mais fácil deixa o Estado refém de grupos empresariais – que só entendem a linguagem do lucro – e para manter o lucro em alta – espoliar o povo é um mero detalhe.

Enquanto isso o novo corona vírus avança 

Se ao final da pandemia de COVID-19 não tivermos os estragos que observamos em outros entes da federação (e outros países) certamente não será graças a condução dos nossos representantes políticos. Num momento em que a palavra de ordem deveria ser a união e colaboração entre os gestores das três esferas governamentais, o que vimos foi o velho jogo de empurra-empurra – a tentativa de jogar nas costas de outro a responsabilidade pela falta de competência em gerir uma crise da magnitude da que estamos passando.

Ética e Política em tempos de pandemia

O comportamento do tocantinense nesse período de pandemia tem sido, majoritariamente, em desacordo com princípios éticos elementares. E em grande medida essa postura é alimentada pela condução política confusa de diversos gestores públicos. É isso que acontece quando a política não é utilizada para que alcancemos o bem comum – despertando nas pessoas ações justas. Desse modo não dá para esperar outra postura dá população, se não a que estamos assistindo. 

Ética e Política em tempos de pandemia II

Por outro lado não dá para colocar 100% na condução política dessa crise a postura antiética de parte significativa da população. Assumamos nossa cota de responsabilidade individual diante das escolhas que fazemos como por exemplo utilizar ou não máscara em espaços públicos, promover festas clandestinas e ignorar as orientações dos profissionais da saúde. 

Os tempos estão mudando

A atitude de não seguir o que recomenda os profissionais da saúde, mais do que uma postura de insubordinação, revela desespero. Essas pessoas estão vendo o seu mundinho ruir (o mundo que elas acreditavam ser estático) sobre seus pés e agarram-se como podem nos vestígios de uma vida passada, acreditando que de uma hora para outra tudo voltará a ser como antes. São como almas penadas que vagueiam sem fazer a passagem por estarem agarradas a um mundo que já não existe. E certamente não será do dia para a noite que perceberam isso – talvez na verdade nunca perceberam. Afinal de contas em pleno século XXI não tem pessoas que vivem como se estivéssemos no período medievo?!

Os tempos estão mudando II

O Filósofo esloveno Slavoj Zizek no artigo “O simples que é difícil de fazer” (disponível no Blog da Boitempo) salienta entre outras coisas que a rejeição as medidas de isolamento social como o lockdown “é na verdade uma rejeição à mudança”. Para Zizek isso é reflexo de uma espécie de psicose coletiva – que leva a um comportamento de negação do vírus – e assim, agimos “como se a infecção na realidade não ocorresse”. Ainda de acordo com Zizek “o mais difícil ainda está por vir”, pois a verdadeira provação não é tanto o lockdown e o isolamento, de modo que se “não inventarmos um novo modo de vida social, não será apenas um pouquinho pior, mas muito pior”.

O exemplo da Educação 

Com o avanço da pandemia de COVID-19 as escolas foram as primeiras a fechar e certamente serão as últimas á retornarem. E esse retorno não será ao estágio anterior. De modo que se faz necessário pensar num novo modelo de educação que corresponda as mudanças que o contexto atual está nos impondo. Esse novo modelo de educação já está sendo pensado por agentes do Banco Mundial – um modelo que não corresponde aos nossos anseios por transformações profundas no modo de vida social. Desse modo precisamos começar a pensar e a disputar os rumos da educação no pós-pandemia e não ficarmos simplesmente discutindo quando será o melhor momento para o retorno.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

terça-feira, 30 de junho de 2020

Crônica: Enquanto corro!!!

Parto de casa ao som de uma versão recente da canção “Hey Hey My My” (Neil Young) feita pelos franceses do The Inspector Cluzo. Num ritmo leve deixo o asfalto para trás e entro no trecho da antiga rodovia. Matos, pedras, areias, buracos não é um trecho fácil. Enquanto isso está rolando “isolation” (John Lennon) numa versão recente gravada pelo Johny Depp e o Jeff Beck com sua banda. Quando “Hey Joe” do Jimmy Hendrix começa a tocar já estou na estrada que leva a praia do Segredo. 
A melhor visão para mim é não ver ninguém a não ser os pássaros rasgando o céu. Especialmente os urubus que todos os dias no mesmo horário atravessam para a outra margem do Rio – onde o sol se põe. Nesse momento o meu sangue já está quente por demais até que Amy Winehouse começa a cantar “wake up alone” e dou uma segurada no ritmo. Quando chego na entrada da praia do Segredo quem está a cantar é o velho B.B King, a canção “Rock me baby”. 
Faço o retorno e sigo até á margem da TO-010. Atravesso o Setor Entre Serras ainda pouco habitado. Enquanto isso ouço Bob Dylan cantando a sua novíssima False Prophet. Já estou retornando pelas ladeiras do Setor Entre Serras e quem está tocando é o The Doors, a canção “light my fire”. Ainda há um bom trecho de corrida por tanto não posso puxar tanto o ritmo. 
Novamente retorno a praia do Segredo fazendo agora o caminho de volta para casa, e quem está tocando é The Beatles, duas na sequência “Penny Lane” e “Revolution”. O sol já se pôs, tudo escurece rapidamente, ainda tenho energia para dá uma acelerada. Enquanto isso The Rolling Stones tocam “Painted Black”. Na seqüência vem Janis Joplim com “Kosmic blues” que me leva a quase flutuar sobre o cascalho da estrada. É com essa canção que entro no trecho final.
Seria uma bela canção de chegada mas ainda tenho que atravessar o trecho de matos, pedras, areias e buracos. É o trecho da velha estrada onde na minha infância o povo dizia ver “visagens”. E é nesse momento que começa a tocar “people who died” (Jim Caroll) numa versão da Hollywood Vampires. Não é uma boa hora para ouvir uma canção que fala de pessoas que morreram. Mas tudo bem, já não sou a criança medrosa da infância. Sigo inclusive cantarolando o refrão: “Those are people who died, died. Those are people who died, died. Those are people who died, died. Those are people who died, died. They were all my friends, and they died”.
Supero o trecho mais sujo do percurso e chego enfim no asfalto. É só seguir mais duas quadras e estou em casa. Sangue fervendo e banhado de suor, mas como se tivesse tirado duzentas toneladas das costas. 
Apesar do esforço, das dores e do cansaço é como se eu rejuvenescesse, como se eu descarregasse todas as energias negativas que acumulei ao longo do dia. E com uma trilha sonora dessas, tudo fica ainda melhor.
Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular Tocantinense.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Ser filósofo ou técnico em filosofia? Eis a questão

O debate acerca da produção filosófica no Brasil e suas consequências não é uma novidade. Já há algumas décadas alguns filósofos brasileiros vem chamando atenção para necessidade de se romper com a lógica dominante de imitação e reprodução do pensamento eurocentrico. Mas apesar das críticas, a produção filosófica no Brasil está marcada por essa visão. Como conseqüência, temos uma produção desligada da nossa realidade.
Um dos filósofos brasileiros que chamam atenção para esse problema é o Eduardo Ferreira Chagas  (Professor de Filosofia na Universidade Federal do Ceará). Que numa mesa sobre “a produção de Filosofia no Brasil hoje” realizada no Encontro Nacional de Estudantes de Filosofia (ENEFIL), em Fortaleza-CE (2017). Trouxe uma importante contribuição que nos ajuda a refletir e debater essa questão. Na sua fala, Chagas (2017) criticou o modelo de produção filosófica no Brasil que segundo ele segue uma lógica taylorista. E por tanto autoritária. Que tem como conseqüência a produção de anões e não de grandes pensadores.  
Para Chagas (2017) tomamos uma posição subalterna ao assumir um pensamento que não é nosso. E não sendo nosso, acabamos nos tornando repetidores e imitadores do que se produz na Europa ou nos Estados Unidos. Diante disso ele salienta a urgência de se assumir a tarefa de se romper com a lógica dominante de produção filosófica no Brasil fundamentada na imitação e no autoritarismo.
De acordo com nosso filósofo  (2017) no Brasil o que se faz é antifilosofia – que se caracteriza pela ausência do debate e da discussão. Para antifilosofia é mais importante se ocupar em refletir sobre a essência,  da essência, da essência – do que se ocupar com os problemas concretos que permeiam a nossa realidade. Diante disso o que fazer? 
Para Chagas (2017) romper com esse modelo dominante de produção filosófica ou mantê-lo, é tarefa das novas gerações. Ainda de acordo com ele, a questão que se impõe nesse contexto é: ser Filósofo ou técnico em Filosofia? Se a opção é ser técnico em Filosofia o modelo de produção filosófica dominante está servindo muito bem, mas se a opção for outra se faz necessário um rompimento urgente.
Se a opção for pelo rompimento, creio que este não partirá do ambiente acadêmico, onde impera uma concepção de educação tecnicista muito forte. Os planos de cursos são voltados de fato para imitação e reprodução, não deixando brecha para que os estudantes ousem pensar por conta própria. Por tanto essa ruptura deve partir de fora para dentro. Como e onde? Não tenho essa resposta. A verdade é que não existe uma resposta, precisamos construi-la. A questão é saber se há disposição para tanto. 
De certo não é uma tarefa fácil pois como ressalta um filósofo da magnitude de um Habermas – os filósofos contemporâneos (ele se inclui entre estes) não são mais que professores de Filosofia. Ao chamar atenção para essa questão creio que Habermas está enfatizando que ser professor de filosofia não faz de ti um filósofo. No máximo um técnico em Filosofia que com base em manuais ensina filosofia, ou melhor dizendo, história da filosofia.
Habermas faz tal afirmação a partir de uma realidade onde há uma tradição filosófica muito forte. Ao contrário do Brasil, como podemos perceber na crítica do filósofo Eduardo Ferreira Chagas, onde a Filosofia ainda é vista com bastante desdém – um desdém que busca esconder o medo da Filosofia, como salientou Valério Rodhen no texto “Quem tem medo da Filosofia?”.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

sexta-feira, 19 de junho de 2020

3° FLIP – Feira Literária de Porto Nacional 100% digital

Sim, esse ano teremos a terceira edição da Feira Literária de Porto Nacional. Será 100% digital devido o momento que estamos passando em decorrência da pandemia de COVID-19. Mas o fato de ser digital não tira a sua importância ao divulgar, promover e incentivar a produção literária em geral, e em especial a que é produzida no Tocantins . 
Essa edição 100% digital da FLIP – Portuense abre novas possibilidades – certamente por meio virtual um maior número de pessoas terão acesso às palestras, apresentações, discussões e lançamentos de obras. E essa possibilidade de um maior alcance é importante para todos os envolvidos, mas sobretudo para o fortalecimento da cultura literária no e do Tocantins. 
A FLIP é atualmente o principal evento literário do Tocantins (quem sabe da região norte), sobretudo depois do engavetamento do Salão do livro pelo governo estadual – que teve a sua última edição realizada ainda em 2015. E realiza-lá, ainda que de forma virtual, é importante para que esse evento possa se consolidar e criar raízes no calendário regional. Á exemplo da Semana da Cultura de Porto Nacional que caminha para sua 39° edição. Esse processo de consolidação e enraizamento depende do poder público mas também de nós amantes da literatura – seja como leitor ou escritor. Como? Fortalecendo esse evento – divulgando e participando. 
A terceira edição da FLIP – Portuense acontecerá  de 09 á 13 de Julho de 2020 – dentro da Semana da Cultura de Porto Nacional – que como já dissemos estará realizando a sua 39° edição. Por tanto além das novidades do mundo literário os internautas poderão apreciar outras expressões artísticas que desfilarão ao longo da Semana. 
Porto Nacional é considerada a capital cultural do Tocantins – portanto quem quiser conhecer um pouco mais da nossa cultura – terá essa oportunidade sem precisar sair de casa.
Voltando a falar sobre a FLIP, como dissemos no início, uma edição virtual trás novas possibilidades tanto para quem organiza o evento, como também para autores e público leitor. Por exemplo, o primeiro ponto que destacaria nesse sentido, seria o potencial de aumento do público. Pois por meio virtual, qualquer pessoa (que tenha acesso a internet), em qualquer canto do Brasil, pode acessar e acompanhar o evento. E isso significa uma maior visibilidade aos autores e suas obras que estarão participando da FLIP.
Um segundo ponto que destacaria seria o incentivo para que os autores se apropriem da tecnologia para potencializar a sua produção literária. Pois é inegável que as redes sociais e outras mídias, se bem utilizadas, podem se tornar uma importante ferramenta na divulgação e distribuição da produção literária. Além de possibilitar um diálogo permanente entre autores e leitores. 
Há também a vantagem do autor não precisar ficar esperando os veículos tradicionais de comunicação lhe dá algum espaço para divulgar seu trabalho. Até por que, á depender disso a maioria dos autores independentes teriam grande dificuldade de chegar ao leitor.
Um terceiro ponto que destacaria seria a disponibilização no ambiente virtual de mais conteúdo relativo a literatura tocantinense. Quem tiver a curiosidade de pesquisar esse tema na rede verá que há pouca informação sobre autores tocantinenses e suas obras. Por tanto,  pensando no público leitor, especialmente das escolas onde teoricamente deveria se estudar a literatura tocantinense, os conteúdos que forem produzidos (que espero, continuem no ar depois da feira) poderão ser utilizado nesses processos de formação. 
Apesar dessas novas possibilidades que a edição virtual da FLIP – Portuense trás. Nada substitue o prazer de uma feira literária presencial. De modo que ficamos na torcida para que a quarta edição em 2021 possa acontecer presencialmente – o que não significa que se tenha que abandonar o formato virtual. Pelo contrário, pode-se muito bem ter um evento presencial com a cobertura virtual. Mas isso é coisa para o ano que vem. Esse ano vamos prestigiar a FLIP – Portuense 100% digital.
Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Emanuela di Gropello e a crise silenciosa na educação da América Latina

A educação é um dos setores que mais tem sido afetado devido o distanciamento social e isolamento imposto pela pandemia de COVID-19. Com as escolas fechadas há vários meses milhares de crianças pelo mundo estão sem aula – as medidas tomadas até o momento pelos diferentes governos só aprofunda ainda mais a desigualdade no processo educacional, pois a maioria das famílias de alunos de escolas públicas não tem acesso as tecnologias necessárias para as aulas que estão sendo ofertada na modalidade à distância – mesmo os que tem acesso a essas tecnologias carecem de acompanhemento e orientação para que possam melhor compreender os conteúdos trabalhados. Nesse contexto, o que fazer?

Esse é o problema analisado por Emanuele di Gropello – Doutora em Economia pela Universidade Oxford e líder em práticas educacionais na América Latina e no Caribe pelo Banco Mundial.  Para di Gropello vivemos uma “crise silenciosa” na América Latina no âmbito educacional – uma “crise silenciosa” – que “será cada vez menos e menos silenciosa” até tornar-se estridente. Isso por que a tendência é que aja cada vez mais perdas no nível de aprendizagem e aumento da desigualdade no processo de aprendizagem. Pois além da dificuldade do sistema remoto de ensino soma-se também os impactos econômicos que certamente as escolas sofreram devido a concentração de recursos para combater os estragos com a pandemia do novo coronavírus.

Para di Gropello ocorreram perdas educativas em todo o planeta. Porém há dois elementos que tornam a situação na América Latina ainda mais grave. Primeiro, pelo fato de que por aqui, a crise que já vinha ocorrendo devido o alto nível de pobreza no processo de aprendizagem. E em segundo lugar o nível de conectividade que está a baixo da média em comparação com outras localidades.

Outro fator para o qual nossa autora chama atenção é a questão do abandono escolar que tende a aumentar nesse contexto. Primeiro pelo fato de que no contexto atual a relação entre educador e educando se torna mais débil. E assim se torna mais fácil perder alunos. Segundo por que com a queda no nível de aprendizagem muitos podem se sentir desestimulados e assim preferirem desistir. E em terceiro a crise econômica pode obrigar os pais a tirarem os filhos da escola para poderem trabalhar e ajudar no sustento do lar.

Diante disso o que fazer? di Gropello aponta um projeto com três fases sendo que a primeira já está sendo executada – que é ajudar os governos a montar sistemas efetivos de educação á distância. A segunda fase será (a partir da abertura das escolas) recuperar e manejar a continuidade da aprendizagem.  A partir dai “será importante desenhar e implementar protocolos para reabertura segura das escolas, assim como mitigar as perdas de aprendizagem com programas de recuperação educativa e outras medidas acadêmicas e pedagógicas”. E a terceira será a fase de melhoramento da educação o que passa por reformas que simplifique os currículos escolares e um melhor aproveitamento dos professores.

Por fim, di Gropello conclui afirmando que a América Latina deve aproveitar estas oportunidades e construir sistemas educativos melhores do que temos. 

Certamente precisamos construir sistemas educativos melhores do que temos. E crises como a que estamos vivendo – onde se explicitam as contradições, desigualdades e limites do sistema de ensino formal – é um ótimo momento para tanto. Inclusive para que não nos iludamos com projetos impostos de cima para baixo como esse que propõem o Banco Mundial através do discurso de Emanuela di Gropello – sem ouvir os principais atores do processo educacional que é os professores e estudantes.

A análise de di Gropello deixa de fora as raízes dos problemas educacionais na América Latina. Ao não ir as raízes o que propõem não é a superação das desigualdades no âmbito educacional (que está intrinsicamente ligada a desigualdade social imposta pelo modo de produção dominante) mas apenas o aprofundamento da lógica mercadológica na educação. 

Diante disso é importante relembrarmos o que disse Mészáros  (2008) sobre a necessidade de romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativamente diferente – isso é fundamental para que não caiamos em engodos como o de di Gropello e do Banco Mundial. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Esquerda e esquerdas – uma diferenciação necessária!

“A história das sociedades desigualitárias vem acumulando um rico material sobre os malefícios e sofrimentos que a extrema desigualdade social tem acarretado para a humanidade. Desde o neolítico têm surgido espíritos críticos que propõem alternativas para esse caminho malsão. Esses espíritos críticos é que constituem hoje o que chamamos de esquerda. São especialistas na luta contra as injustiças e na arte da sobrevivência.”
Leandro Konder

Vivemos num contexto de polarização política marcada por um discurso reducionista em torno de conceitos importantes que nos ajudam na compreensão da dinâmica social. E esse reducionismo acaba contribuindo para uma visão distorcida da realidade. Óbvio, isso não é feito sem intenção, pelo contrário. A ideia é fazer com que os indivíduos não compreendam mesmo a dinâmica social pois assim elas não terão como modifica-lá.

Um dos conceitos que sofre esse reducionismo é o de esquerda (sejamos honesto, o de direita também) – utilizado geralmente no campo político para identificar grupos que se opõem as políticas da classe dominante. Até ai tudo bem. O problema é quando se reduz a um grupo o conceito de esquerda. E é o que geralmente tem acontecido por parte de diferentes analistas políticos tanto no debate público (sobretudo através da imprensa) como no meio académico. 

Por exemplo um determinado grupo de esquerda (partido ou movimento social) se posiciona acerca de uma questão. Logo se tenta passar para opinião pública que esse posicionamento é de um todo e não de uma parte. Melhor exemplificando, o PSOL é contra o “pacote anticrime” do governo Bolsonaro, logo se tenta passar que é a esquerda que é contra o referido projeto. Outro exemplo, o PCB apoia o regime político norte-coreano, logo o discurso é a esquerda apoia o referido regime. O PT defende que houve um golpe com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, logo o discurso é que a esquerda defende que tratou-se de um golpe o impeachment de Dilma Rousseff. 

Há também afirmações bem genéricas acerca da relação da esquerda com a religião, cultura, segurança pública, direitos humanos entre outros. Seguindo a mesma lógica de tentar reduzir as partes no todo, no entanto partindo de uma ideia abstrata. Como consequência, elas não correspondem aos fatos. E não correspondem aos fatos por que é uma espécie de falácia – uma generalização absoluta – que consiste na aplicação de uma regra geral a uma situação em particular. De acordo com Matthew – “essa falácia é muito comum entre pessoas que tentam decidir questões legais e morais aplicando regras Gerais mecanicamente”. Mais ou menos assim: “- A esquerda é contra evangélicos, você é de esquerda, logo é contra os evangélicos”. Ou, “- Direitos humanos é direito de bandido, a esquerda defende direitos humanos, logo a esquerda defende direito de bandidos”. Ou ainda, “- o PT é corrupto como mostrou a operação lava jato, e sendo um governo de esquerda, mostra que todo governo de esquerda é corrupto”.

Ora, grupos como PSOL, PT,  PCB,  PC do B, PSTU, PCO, MST, MTST, INTERSINDICAL, CUT, CSP-CONLUTAS entre muitos outros, podem até ser colocados no campo da esquerda. Mas daí dizer que cada grupo desse é “a esquerda”, para não dizer desonesto, é no mínimo uma falácia. Quando um desses grupos se expressam eles não estão falando por todo o conjunto do pensamento de esquerda, mas apenas por um determinado grupo – estão expressando a sua visão de esquerda. Daí ao invés de falar em esquerda (no singular) seria mais honesto intelectualmente falar em esquerdas – dado as diferentes perspectivas acerca do que é ser de esquerda. Por exemplo, considera-se que o PT e o PSTU estão no campo da esquerda. Mas na prática a concepção de esquerda desses dois grupos chega a ser quase antagônica. De modo que o PSTU não se sente representado pelo PT e o PT muito menos pelo PSTU. Da mesma forma pode se falar de um Trotskista e um Stalinista.

A esquerda é uma espécie de guarda-chuva onde se abrigam diferentes tendências (algumas inclusive que não dialogam entre si), por tanto quando se for falar da esquerda é preciso deixar claro de qual esquerda se está falando (qual tendência) – a comunista, a socialista, a anarquista, a socialdemocrata. Ou qual grupo de esquerda se está referindo – PSOL, PT, PCB,  PC do B, PSTU, MST, MTST, CUT, INTERSINDICAL e por ai em diante. Mas infelizmente no debate político contemporâneo brasileiro a esquerda virou sinônimo de comunista que por sua vez virou sinônimo de petista. 

É camaradas, vivemos um aprofundamento do que o filósofo Leandro Konder apontou ainda em 2008 – no segundo mandato do presidente Lula – a expansão da resignação, enfraquecimento do espírito questionador, empobrecimento das discussões e assimilação do conformismo pelos cérebros. E aquém interessa esse estado de coisas se não ao status quos?!

Parece uma questão óbvio, mas as vezes o que nos é óbvio não é tão óbvio assim para os demais. E como não nos custa responder, respondamos então: 

Não, senhores. Nem toda esquerda é comunista e nem todo comunista é petista. Em primeiro lugar, você não encontrará uma única definição do que é a esquerda – essa definição dependerá da perspectiva da qual se está falando. Se quer ter uma idéia da diversidade de concepção sobre a esquerda recomendo a leitura do livro “o que é ser de esquerda hoje?” (Editora Contraponto) uma coletânea de textos de diferentes pensadores de diferentes organizações políticas e da academia. Mas aqui temos que optar por uma definição do que é a esquerda. Sendo assim fiquemos com a do filósofo Leandro Konder. 

Para Konder (2008) à esquerda se caracteriza por uma visão crítica e pela proposição de alternativas as sociedades desigualitárias. Essa concepção é bem abrangente, não só em relação ao período histórico como também a correntes de pensamento, organizações e indivíduos. E partindo dessa concepção abrangente de esquerda podemos afirmar que ela precede o comunismo – este por sua vez se constituiu – como uma corrente de esquerda que ganhou força sobretudo a partir das contribuições de Marx e Engels (que é bom lembrar não criaram o movimento comunista, apenas deram uma nova perspectiva para este). 

Os comunistas não são a única força de esquerda e Marx e Engels deixam isso claro no “Manifesto do Partido Comunista”. Afinal como afirmam: “A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas de classe” (2008, p. 08). Ora, antes do movimento comunista já havia luta de classes, já havia pensamento critico e propostas alternativas ao modo de produção dominante, em suma, já havia esquerda. De modo que podemos dizer que os comunistas não são a esquerda, mas uma das suas expressões (talvez a sua expressão mais consequente). Que se constituiu, segundo Marx e Engels, na luta pela supressão da propriedade privada (a propriedade burguesa).

Nessas lutas foram surgindo diversas organizações mundo afora com o objetivo de constituir o proletariado em classe, derrubar o domínio da burguesia, e a partir daí o proletariado conquistar o poder político (2008, p. 30). Entre essas organizações surgiram os partidos políticos tal como conhecemos hoje. E já no “Manifesto do Partido Comunista” percebemos que os partidos não representam todo o movimento mas uma fração apenas.

Chegamos então ao Partido dos Trabalhadores  (PT) um partido popular surgido na década de 1980 – no movimento de redemocratização política do país com o fim do regime Militar. O PT surge como uma alternativa de massas no campo da esquerda – se contrapondo ao modelo de organização hegemônico nesse campo a partir do triunfo da revolução Bolchevique na Rússia em 1917 representado sobretudo pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Enquanto o PCB fundado na tradição marxista-leninista tinha uma visão mais revolucionária – inclusive se necessário através da luta armada. O PT se fundamentou num projeto de integração e melhoria das condições de vida das classes populares – não se fala em revolução mas em reformas. Essa perspectiva se torna hegemônica na esquerda brasileira, mas o fato de se tornar hegemônica não significa que não exista outras.

Por isso não dá para aceitar o discurso reducionista de que o PT é a esquerda, que a esquerda é o comunismo, e o comunismo é o PT. Esses que alimentam esse discurso querem tudo, menos que os indivíduos se libertem da condição de alienação que estão. Cuidado com esses pseudointelectuais que com a desculpa de ti mostrarem o caminho mais curto ti colocam num beco sem saída ou melhor, com uma única saida – a direita.

Minha camarada e meu camarada, partindo de premissas falsas não é possível chegar a conclusões verdadeiras. Por tanto quando falarem que a esquerda é isso ou a esquerda é aquilo. Ou ainda que a esquerda fez isso ou que a esquerda fez aquilo. Pergunte de qual esquerda se está falando. Pois como procuramos mostrar aqui não há uma esquerda mas sim esquerdas. Podemos até falar em uma esquerda do ponto de vista conceitual, mas no terreno real da luta política o que vemos são suas expressões – e essas expressões são diversas tanto do ponto de vista de perspectivas (anarquismo, comunismo, socialismo, socialdemocracia), como do ponto de vista organizacional (partidos políticos, sindicatos, associações). São essas expressões que vemos atuando no dia a dia.

E aqui chamamos atenção para o seguinte ponto. Com o desenvolvimento histórico essas expressões da esquerda podem se modificarem e até chegarem ao fim. Mas o ideal de esquerda não. Por isso não podemos engolir o discurso do fim da esquerda – partidos podem acabar, movimentos podem se enfraquecer, correntes de pensamento podem ser superadas – a esquerda viverá enquanto existir alguém em algum canto cultivando a crítica e propondo construir um modelo alternativo de sociedade.

Parece que desviamos um pouco do nosso objetivo inicial – falar sobre o reducionismo em torno do conceito de esquerda na atualidade. Mas justificaria esse desvio com o argumento de que esse reducionismo busca destruir as forças de esquerda. Daí a importância de refletirmos também sobre essa questão.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins.