sábado, 25 de março de 2023

Saco de Ratos: trilha sonora para tomar conhaque e fumar charuto na madrugada

Numa pegada blues Rock e letras que remete a vida boêmia nos becos de uma grande metrópoles regada a álcool, cigarro e amores bandidos. Eis ai o DNA da banda Paulista comandada pelo Mário Bortolotto. Trata-se de uma preciosidade do underground brasileiro – uma trilha sonora para quem gosta de relaxar na madrugada tomando conhaque, fumando charuto e sofrendo pelos amores que nunca viveu. 

Descobri o som da banda no instagram e imediatamente fui atrás de mais material para saber de quem se tratava. A pegada blues rock, as letras e o vocal rouco do Mário Bortolotto me fisgaram. Aliás, a performance do Botolotto foi algo que me chamou atenção. Até porque tratava-se de alguém que não me era estranho. No entanto como um personagem do Teatro e não como músico. Fui então atrás de mais informações e descobri que não se tratava de uma performance pontual mas um trabalho que já tem na sua discografia quatro discos. A partir daí esses discos passaram a fazer parte da minha playlist. Em especial algumas músicas cujo as letras são belos poemas marginais.

Agora me diz o que é que eu vou fazer/mandar tudo a Merda pensando em você/e a passagem pro inferno em dias assim/o rato avisou que o queijo tava no fim”. Com uma linha de guitarra que dá o tom de dramaticidade da canção, inicia “balada para quem não me quis”. Que é na verdade a história de um clássico pé na bunda. No entanto, ao invés de virar revolta vira poesia: “eu não prometi nenhum paraíso/pra ter você, fiz o que foi preciso...”. Em outro trecho ele canta: “o dinheiro na cama, uma puta de saideira/seu retrato nua pregado na geladeira/os amigos no bar, a noite que me vomita/e agora toda essa paz... pro resto da vida...”. 

Em “acordo com mulher” a história anterior se repete. “ela me propôs protelar o inevitável fim/sexo todo dia uma garrafa de Jim Beam/ela me propôs não ter amigos chatos/isso é quase impossível/vai pra casa do caralho”.  Se anterior está mais para o blues. Essa pende mais para o lado do rock. O refrão é daqueles para ser cancelado por feministas: “então baby faça o que você quiser/faço acordo com diabo mas não faço com mulher”. E assim temos o inevitável fim. Apesar dele confessar que ama ela num determinado trecho. No entanto não está disposto a ceder.

Em “nossa vida não vale um chevrolet” temos mais uma canção que mostra a potência da banda. Aqui eu chamaria atenção sobretudo para a parte instrumental, em especial a linha de guitarra. Já a letra é uma reflexão sobre a vida – uma vida fudida que não irá mudar pois ele é assim e ponto. É a sua natureza. Num trecho ele canta: "Há muito tempo você anda comigo/você sabe eu me ferro, eu xinho, eu brigo...”. Adiante ele afirma que isso não vai mudar, por que ele é mau por natureza.

Tô saindo fora, baby/tô chutando a porta./Tô saindo fora, baby/tô pulando a janela”. Assim começa “vulgar” – num ritmo acelerado. A canção segue a linha das anteriores que perpassa pela temática das aventuras e desventuras amorosas. Aqui, não é ela, mas ele que põem um ponto final na história: "você vulgarizou a palavra amor/ eu tô um trapo, um pobre coitado/ se eu tô feliz, eu desagrado/ se eu tô triste, eu encho o saco”.

“Se eu tivesse grana hoje” é outra canção que merece referência aqui. “Se eu tivesse grana hoje eu não marcava/eu comprava uma garrafa de whisky/eu fazia um interurbano e conversava com você até o fim da madrugada”. A banda também faz algumas versões. Entre elas “Laura, Laura”. Se começamos falando em pé na bunda com uma balada para quem não me quis. Aqui o pé na bunda quem dá é ele: "Laura, Laura sua trouxa/pega seus barulhos e ripa fora daqui/faz tempo que eu ti falo, você não serve para mim”.

Eis ai alguns exemplos para mostrar a força poética das composições do Mário Bortolotto para o seu Saco de Ratos. Óbvio que com a música a potência dessas letras é muito maior. Por tanto não deixe de ouvir. Os discos podem  ser facilmente encontrado nas plataformas digitais como o youtube. Ao invés de ficar se alimentando de ressentimento através da música pop brasileira, em especial o sertanejo moderno. Eis ai uma música que faz a gente encarar o fim de uma relação de uma forma mais humorada.

Por Pedro Ferreira Nunes – um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 


segunda-feira, 20 de março de 2023

Cíntia e o Transporte Público de Palmas

Um dos grandes problemas das cidades brasileiras é a mobilidade urbana. Agravada por um transporte público de péssima qualidade. Palmas, capital do Tocantins, não foge a regra. O que se dá em grande medida pelo fato das empresas responsáveis pelo serviço estarem preocupadas com o lucro e não com a qualidade do transporte público. De modo que uma mudança de paradigma nesse sentido seria o poder público assumir esse serviço. E foi isso que fez a Prefeita Cíntia Ribeiro (PSDB).

Não deixa de ser surpreendente que a responsável por essa proeza seja do partido que introduziu a política privatista no Brasil. Mas a bem da verdade é que Cíntia tem tido posturas que a coloca num patamar acima dos demais políticos Tocantinenses. Por exemplo, no contexto da pandemia sempre se posicionou favorável a ciências e contrário ao discurso negacionista. Ao contrário da maioria dos políticos com mandato no Tocantins não fez campanha para eleição do Bolsonaro e no episódio do 8 de Janeiro foi a primeira a se posicionar de forma enfática contra a ação terrorista perpetrada pela extrema direita. Além de ser uma gestora que tem uma sensibilidade maior em relação às demandas dos servidores, sobretudo se comparado com a gestão Amastha. 

Óbvio, que nem tudo são flores. Quem vive o dia a dia da capital certamente terá um conjunto de problemas a apontar na sua gestão. No entanto, vivemos tempos tão difíceis, que encontrar um político lúcido, mesmo que não seja do espectro político que defendemos, é motivos para comemorar.

Ao enfrentar a máfia do transporte, Cíntia se coloca em outro patamar. Não só a nível regional como também nacional. Condições para ofertar um serviço de qualidade o poder público Municipal tem. Óbvio que será necessário investimento e uma mudança de perspectiva. Ou seja, a preocupação não deve ser com o lucro, mas com a oferta de um serviço de qualidade que proporcione uma melhor qualidade de vida para o usuário do transporte público de Palmas – a gratuidade do transporte público aos finais de semana é um passo gigantesco nesse sentido. 

É necessário estabelecer uma tarifa justa e manter o programa de gratuidade anunciado. E assim avançar para uma política de tarifa zero como defende movimentos como o Passe Livre. Aliás, esse movimento lembra que o transporte é um direito social garantido na constituição. No entanto, muitos não tem esse acesso a esse direito. Sobretudo por que os interesses empresariais se sobrepõem ao bem comum.

Nesse sentido não é de se estranhar que tenha, e ainda esteja, ocorrendo reações contrárias a medida tomada pela Gestão Cíntia Ribeiro. Ora, Palmas está avançando para 400 mil habitantes. Parcela significativa desses utiliza transporte público. Imagina o tanto de dinheiro que as empresas não perderão ao deixar de ofertar esse serviço. Sobretudo por que lucravam e não investiam na melhoria do transporte.

É nesse contexto que compreendemos as críticas por parte dos adversários políticos da Prefeita. São figuras do mundo empresarial que estão mais preocupados com o interesse desses grupos do que com a população que utiliza o serviço. 

A crítica dos usuários por sua vez são compreensíveis. Eles não estão preocupados em saber quem é o responsável pelo serviço – querem saber de um serviço minimamente de qualidade que atenda as suas necessidades. E como a transição não foi pacífica (não precisa ser especialista para afirmar que houve sabotagem para colocar os usuários contra a Gestão) gerando instabilidade na operação, não se poderia esperar outra coisa. Ainda mais por que faltou mais planejamento por parte da Gestão Cíntia Ribeiro. 

De todo modo não justifica a crítica de que “piorou algo que já era ruim”. E que portanto deveria retornar a gestão do serviço as empresas concessionárias. Ora, uma afirmação nesse sentido é no mínimo apressada. Não dá para comparar anos de uma prestação de serviço com outra que acaba de completar 100 dias apenas. Isso tanto para o aspecto negativo como positivo. 

Como já falamos nesse artigo o poder público municipal tem total condição de gerir o transporte público da capital ofertando um serviço de qualidade a população. Para tanto é importante que os usuários continuem apontando os problemas e criticando aquilo que precisa ser criticado. E a gestão por sua vez, que saiba ouvir essa críticas, absolva-as e busque melhorar.

Se trabalhar como deve ser trabalhado a gestão do transporte público de Palmas pode ser modelo para muitas cidades brasileiras. E quem ganha com isso, claro, é a população. Mas também a Prefeita Cíntia Ribeiro que crescerá muito mais politicamente do que tem crescido e a partir daí vislumbrar vôos mais alto na vida política. E isso certamente tem incomodado muita gente.

Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP Lajeado.


quarta-feira, 15 de março de 2023

Hasta siempre Canisso!!!

Há uns dezoito anos encontrei com aquela figura nos corredores de um hipermercado fazendo compras acompanhado de um senhor (que aparentemente era seu pai). Não tive dúvida de quem era, apesar de não conhecê-lo pessoalmente. Canisso era um dos membros de uma das bandas que eu mais curtia na adolescência. E como um fã da banda era natural que eu conhecesse todos os seus integrantes. 

Uma coisa que me chamou atenção foi ver aquela figura que até então só tinha visto na televisão (tocando com sua banda) numa cena familiar fazendo compras num hipermercado. Num determinado momento ele passou ao meu lado e não me contive e perguntei: - Você é o Canisso do Raimundos? Ele muito simpático respondeu afirmativamente. Não me lembro mais o que disse. Acho que: - Sou seu fã. No que ele respondeu: - Obrigado. Daí continuei fazendo o meu trabalho e ele as suas compras.

Nesse tempo eu trabalhava como repositor de mercadoria num grande hipermercado na capital goiana. E sempre que podia não perdia a oportunidade de ir nos shows das bandas que eu só via pela televisão quando morava no interior do Tocantins. Não cheguei a ir num show dos Raimundos que nesse tempo não estava tão em evidência após a saída do Rodolfo. Mesmo assim continuava tendo a banda como uma das minhas preferidas. 

Enfim, me lembrei desse episódio ao saber do seu falecimento. Uma morte repentina – dessas que pega a todos de surpresa. A nós só resta lamentar a sua partida e celebrar a sua trajetória – e que trajetória. Canisso é certamente inspiração para muitos garotos e garotas que se aventura no baixo – uma posição considerada secundária numa banda – inclusive, segundo declaração dele, começou a tocar o instrumento por que foi o que sobrou. Mas o fez tão bem, que se tornou um ícone do instrumento ao lado de nomes como Champion  (do Charlie Brown Jr). Eu mesmo passei a apreciar o som do baixo com ele, o Flea (do RHCP) e o Achiles Rabelo (Tribo de Jah) – isso ainda no tempo do colegial quando eu, juntamente com alguns colegas, sonhava ter uma banda de Rock. 

Mesmo com a saída do Rodolfo não deixei de acompanhar os Raimundos. E sempre torci para que eles se reconstrucem. No entanto, com o passar dos anos já não era a banda que fazia minha cabeça. E com o posicionamento político do Digão então me distanciei mais ainda. Porém o Canisso continuava tendo minha simpatia, inclusive por deixar claro que o posicionamento do Digão não refletia a opinião da banda. Mas enfim, independente de qualquer coisa, o fato é que ao lado dos seus companheiros da Raimundos, ele deixa discos que são verdadeiros clássicos do rock nacional. E por isso não podemos deixar de celebrar o seu legado e lamentar sua partida, sobretudo pelo fato de que ele ainda tinha muito a nos entregar com o seu baixo. Hasta siempre Canisso.

Pedro Ferreira Nunes – é apenas um rapaz latino americano, que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 


sexta-feira, 10 de março de 2023

Resenha crítica: Luzes e desejos, do Juca Monteiro

A vida, o meio ambiente e a fé, são as temáticas que perpassam a obra intitulada de “luzes e desejos” do escritor lajeadense Juca Monteiro. Publicado em 2012 pela editora Kelps, como parte do programa “Goiânia em Prosa e Verso” da Prefeitura da capital goiana, o autor debuta no mundo das letras com textos que mostram uma grande sensibilidade diante da vida, mas carente de qualidade literária.

Juca Monteiro – na verdade Justiniano Gomes Monteiro, nascido em 1949. É filho de Lajeado, de uma das famílias mais tradicionais do lugar – o que lhe possibilitou acesso a educação escolar num contexto que esta era privilégio de alguns – daquelas famílias que tinham condição de sustentar os filhos nos centros mais desenvolvidos. Concluiu a formação básica no Liceu de Goiânia – cidade onde também ingressou na Universidade Federal de Goiás, formando-se na área da Comunicação. Passando depois a atuar no serviço público. “Luzes e desejos” é o seu primeiro livro publicado, mas anteriormente já havia tido alguns dos seus textos publicados em jornais locais.

“Luzes e desejos” é divido em duas partes. A primeira intitulada de: “Vida: Sensibilidade e desafio”. E a segunda de: “Eco poético do Tocantins – Palmas”. Na primeira parte encontramos textos mais íntimos, que fala dos seus sonhos, da família, da sua fé cristã. Já na segunda parte fala do lugar onde vive, da sua terra natal, e do que lhe afeta, sobretudo o meio ambiente e as injustiças sociais. Na primeira parte não há nenhum texto que vale a pena uma menção. Já na segunda, destacaria os dois poemas que abrem a seção: Estado da Promissão e O nascer de Palmas.

Em tese, “luzes e desejos”, é um livro de poesia, mas, apesar das rimas, na sua grande maioria pobres e um tanto forçada, estão mais para prosa. Creio, aliás, que o autor seria melhor sucedido se se enveredasse pelo caminho da prosa. Como poeta, lhe sobra sensibilidade, mas falta capacidade de traduzi-la em poemas que nos afete. De modo que a leitura torna se algo custoso. Mesmo assim continuamos lendo na expectativa de encontrar algum poema que vale a pena, mas no final, saímos frustrados. 

Você que está lendo essa crítica deve está perguntando: vale a pena a leitura? Responderei citando um trecho do Dom Quixote: “- não há livro tão mau – observou o bacharel – que algo de bom não contenha”.

E o que podemos tirar de bom da leitura de “Luzes e desejos”? Isso dependerá da sensibilidade de cada um. No meu caso destacaria a sensibilidade do autor diante dos problemas ambientais. Ainda que na grande maioria dos textos, há uma limitação na forma de se expressar, não podemos deixar de reconhecer o seu esforço em materializar no papel um sentimento genuíno  (e ingênuo).

Com isso concluo ressaltando, que essa resenha crítica, apesar de dura, não tem a pretensão de desmerecer o fazer literário do Juca Monteiro (até por que estou longe de ter uma qualificação que me dê condições para tanto). Trata apenas da nossa impressão acerca da obra, a partir da leitura da mesma. De modo que é fundamental que a obra seja lida para se corroborar ou não com essa crítica. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Também se aventura no mundo literário escrevendo prosas e versos.

domingo, 5 de março de 2023

Recreação da Secretaria de Cultura e a Política Cultural no Tocantins

Grupo popular do Tocantins 
O Estado do Tocantins volta a ter uma pasta específica para gerir a Politica cultural a nível estadual. O que não acontecia desde 2016, quando o então governador Marcelo Miranda extinguiu a pasta. Mais do que atender a demanda da classe artística tocantinense, o objetivo do governador Wanderlei Barbosa foi estruturar o seu governo de acordo com a estrutura do Governo Federal. De todo modo quem ganha é toda sociedade tocantinense. 

O nome escolhido para gerir a pasta é de ninguém menos do que Tião Pinheiro – uma das grandes referências no campo das letras no Tocantins. Além do seu trabalho consagrado como jornalista, Tião se destaca como poeta e compositor. É certamente um nome de consenso da classe artística tocantinense. Tanto pelo seu trabalho de promover a cultura regional, como por ser parte dessa classe. E o fato de fazer parte dessa classe espera-se que ele tenha uma maior sensibilidade com as demandas de quem produz arte no Tocantins.

É importante saber que não dependerá só dele para que essas demandas sejam atendidas e possamos de fato ter uma política voltada para o fortalecimento da produção artística regional e as diversas expressões da nossa cultura. A Secult precisa de orçamento e um quadro de pessoal qualificado para tirar do papel o Plano Estadual de Cultura aprovado pela lei n° 4.130 de 6 de Janeiro de 2023. Sobretudo no que diz respeito a “produção, promoção e difusão de bens culturais” e “democratização do acesso aos bens de cultura”. Ou seja, garantir condições para que o artista não só produza, mas que tenha condição de levar essa produção ao público. E o público por sua vez, possa ter a oportunidade de acessar esses espaços. 

Um aspecto importante é a necessidade do desenvolvimento de ações de forma descentralizada. Nesse sentido uma boa experiência foi a forma que os projetos da lei Aldir Blanc de emergência cultural foram desenvolvidos. Muitos artistas tiveram condição de levar sua produção a vários municípios e o público teve acesso a essa produção sem precisar se deslocar para um grande centro. 

No entanto, há muito à se avançar, sobretudo na construção de equipamentos culturais como teatros e cinemas que são inexistentes na maioria das cidades tocantinenses. Como também na destinação de recursos para determinados setores em detrimentos de outros.

Plano Estadual de Cultura 

No seu art. 2° o Plano Estadual de Cultura estabelece como princípios, entre outros: I - liberdade de expressão, criação e fruição; II - diversidade cultural; III - respeito aos direitos humanos; IV - direito de todos à arte e à cultura; V - direito à informação, à comunicação e à crítica cultural; VI - direito à memória e às tradições; VII - responsabilidade socioambiental; VIII -valorização da cultura como vetor do desenvolvimento sustentável; IX - democratização das instâncias de formulação das políticas culturais; e a X - responsabilidade dos agentes públicos pela implementação das políticas culturais. 

Já no seu art. 3º estabelece como objetivo entre outros: I - reconhecer e valorizar a diversidade cultural, étnica e regional tocantinense; II - proteger e promover o patrimônio histórico e artístico, material e imaterial; III - valorizar e difundir as criações artísticas e os bens culturais; IV - promover o direito à memória por meio dos museus, arquivos e coleções; e V - universalizar o acesso à arte e à cultura.

Na nossa visão a Secult não deve fazer nada mais do que o que estabelece o Plano Estadual de Cultura. Trata-se de um bom documento norteador onde percebemos uma ênfase na valorização da diversidade cultural, o que não poderia ser diferente. Já falamos várias vezes que o Tocantins é um Estado multicultural e isso precisa ser preservado e valorizado. A questão do respeito aos direitos humanos que o documento trás também não pode ser desprezado. Assim como o estímulo a sustentabilidade socioambiental e o diálogo entre os agentes públicos e a sociedade. Desse modo, cabe por tanto aos agentes públicos, em diálogo com a sociedade civil organizada, implementa-ló. 

A implantação do  Plano Estadual de Cultura passa fundamentalmente pela construção de um plano de ação. No qual esperamos o retorno do Salão do Livro e outros eventos culturais tradicionais. Com um plano de ação saímos do campo teórico e vamos para prática. Daí ser essa uma das primeiras tarefas do Tião Pinheiro a frente da Secult.

Enfim, concluímos alertando que não é a primeira vez que temos um início de governo onde aparentemente a cultura no Tocantins não será usada oportunisticamente (com Marcelo Miranda foi assim quando ele assumiu o Governo em 2015). Por tanto é necessário os artistas e a sociedade em geral permanecer vigilante na luta por uma política cultural de fato e não apenas no papel.

Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Também se arrisca na literatura produzindo prosa e verso.

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Na grota do angico



Não acredito, não!
Mataram o rei do cangaço
Virgulino lampião.

Não acredito, não!
Mataram o rei do cangaço
Virgulino lampião.

Na grota do angico camarada
Mataram o rei do cangaço
E Maria bonita sua amada.

Na grota do angico camarada
Mataram o rei do cangaço
E Maria bonita sua amada.

Não acredito, não!
Mataram o rei do cangaço
Virgulino lampião.

Não acredito, não!
Mataram o rei do cangaço
Virgulino lampião.

Na grota do angico minha amada
Mataram o reio do cangaço
Junto com seus camaradas.

Na grota do angico minha amada
Mataram o rei do cangaço
Junto com seus camaradas.

Não acredito, não!
Mataram o rei do cangaço?
Outros tantos nasceram.

Não acredito, não!
Mataram o rei do cangaço?
Outros tantos nascerão.

Pedro Ferreira Nunes - Casa da Maria Lúcia. Lajeado-TO. Lua Minguante. Verão de 2013.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Ensaio: Uma história de Desamor de carnaval

É noite de carnaval em Lajeado. John não era muito fã do carnaval da cidade. Pelo contrário, tinha uma posição extremamente crítica pelo fato do mesmo, ser uma cópia muito mal feita do carnaval baiano. Ele defendia um carnaval multicultural e que, sobretudo valorizasse as expressões culturais da região. Mas pela falta de alternativa decidiu ir naquela noite de segunda-feira divertir-se com os amigos Daniel e Felipe. Quando lá chegou uma das primeiras caras que avistou foi a de Luna, que muito animada tomava todas acompanhada de uns amigos. John por sua vez ignorou-a indo se divertir com seus. Luna que já havia tomado bastante álcool incomodou-se com “o desprezo” por parte de John. Ela não pensou duas vezes e foi tirar satisfação com ele.

- Você veio né? Pensei que não viria. Me disse que não gostava de carnaval!

- Achei também que não viria. Bom, não é que não gosto de carnaval, não gosto desse carnaval aqui. Mas como dizem – si não tem tu, vai tu mesmo. 

- Preciso conversar contigo.

- De novo Luna? Não já conversamos tudo que tínhamos que conversar da última vez?! O que você tem pra me dizer hoje de diferente? Vai se divertir com teus amigos que vou me divertir com os meus. Outro dia quem sabe não conversamos?

- Como assim? Que conversar outro dia que nada!!! Quero conversar contigo agora e vamos conversar agora!!!

- Me desculpe, mas hoje não estou afim. Vim aqui para me divertir, só para me divertir.

- John. Quero conversar contigo agora. Você escolhe ou aqui no meio da multidão ou num lugar mais tranquilo.

- Ok, ok. Não precisa dar pití no meio do povo.

- Não estou dando pití. Apenas quero conversar contigo.

- Vamos lá.

John percebeu que Luna já havia tomado muita cerveja. Aquele jeito agressivo não era muito comum da parte dela, sobretudo com ele. Por tanto não era bom como se diz por aqui “cutucar onça com vara curta”.

- Por que você não me procurou mais. Se eu soubesse que tú viria, eu viria contigo para o carnaval.

- Luna a gente não tem mais nada meu. Siga a tua vida e eu sigo a minha.

- Como assim a gente não tem mais nada. Que nada meu!!! Eu que digo quando termina e só termina quando eu quiser. Gritou Luna apontando o dedo para o rosto de John.

- Pô meu não precisa gritar aqui. Ora se eu não quero tú vai me obrigar a ficar contigo?

- Não quero saber. Só sei que você não vai me usar e me jogar fora. Nós só vamos terminar quando eu quiser terminar contigo. Você tá achando o que? Que sou um brinquedo? Eu ti mato. Eu acabo com tua vida.

- Acho que você bebeu de mais hoje. E desse jeito não dá pra conversar mesmo. Você esta querendo briga e eu não sou de briga.

- Se você não quer briga então não fica me esnobando, me tratando como um lixo.

John sorriu gostosamente, como se tivesse si divertindo com aquela situação: 

- Você tá louca meu. Você não precisa disso, pode ter o homem que quiser a teus pés. Pra quer insistir numa estória que já deu o que tinha que dá há muito tempo?!

De repente o estado de espirito de Luna mudou. Ela tomou consciência de que não havia razão para agredir John daquela forma. Não seria através de violência que ela o convenceria a ficar com ela, pelo contrário, conhecendo o John como ela conhecia sabia que aquela postura dela só o afastaria mais.

- Não faça isso comigo. Não seja cruel John.

Percebendo que Luna havia se acabado John lhe passou um sermão:

- Ora, onde você está com a cabeça para me ameaçar de morte? Não estou acreditando nisso. Você só pode está maluca.

 - Eu gosto de ti John, eu ti amo. Você sabe que sou incapaz de fazer qualquer coisa de mal contigo. Me desculpe pelo que eu falei, mas não me deixe, não me deixe.

John não falou mais nada, Luna também ficou em silêncio. Ele não sabia o que dizer, ela também já não sabia o que falar. Ela seguiu para um lado e ele foi para o outro – não falaram mais uma palavra se quer. John foi para casa, trancou-se no seu quarto, preparou uma dose de conhaque com gelo, preparou um tabaco, fez um cigarro e fumou enquanto ouvia uma velha canção na voz de Osvaldo Montenegro.

“Quem vai dizer ao coração, que a paixão não é loucura, mesmo que pareça insano acreditar, me apaixonei por um olhar, por um gesto de ternura, mesmo sem palavra alguma pra falar, meu amor à vida passa num instante, e um instante é muito pouco pra sonhar.”

John não tinha dúvida, aquela fora a última vez que conversara com Luna. Ela não o procuraria mais, ele também não. Tudo havia acabado naquela noite de carnaval, com aquela discussão. Tudo não, pois ele continuaria amando-a. Pois como dizia a canção “quando a gente ama, simplesmente ama’’.

Por Pedro Ferreira Nunes – um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in Roll.