quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O processo de antirreforma agrária do PT, Dilma Rousseff e Kátia Abreu.

“Tô cagando pra vocês” – Diz Kátia Abreu sobre o protesto dos movimentos sociais a sua indicação ao ministério da agricultura.

*Por Pedro Ferreira Nunes

Ok, ok, não foram essas exatamente as palavras da nova Ministra da Agricultura do governo Dilma (PT). Em entrevista para o Jornal do Tocantins e Radio CBN quando questionada sobre as manifestações dos movimentos sociais a sua indicação para o ministério da agricultura a ‘nobre’ senadora Katia Abreu (PMDB) declarou que como ministra da agricultura o seu papel ‘é atender a quem tem terra, quem produz, é a estes que ela deve satisfação’. Já quem esta lutando por terra deve tratar com o ministério do desenvolvimento agrário. Por tanto para bom entendedor... O recado dela foi claro.

A missão de inserir a pequena agricultura na cadeia do agronegócio

Segundo Kátia Abreu a sua principal missão a frente do ministério da agricultura será de inserir a pequena agricultura (agricultores familiares e camponeses) na produção voltada para logica de mercado do agronegócio. Superando assim, a produção voltada para subsistência. Nesse sentido a nova ministra da agricultura ressaltou a importância da lei nacional de assistência técnica e extensão rural aprovada pelo governo que dará a possibilidade do sistema S entrar com força no campo brasileiro.

É por tanto a consolidação do processo de antirreforma agraria sob o governo Dilma (PT) denunciado com veemência pelos saudosos Dom Tomas Balduíno e Plínio de Arruda Sampaio. Que consiste em capitular a agricultura familiar e camponesa para logica de produção do agronegócio. O que vai totalmente contra a logica de produção defendida pelos movimentos populares do campo que defendem uma produção voltada para agroecologia, soberania alimentar e preservação ambiental.

Para Kátia Abreu não é necessário criar novos assentamentos, mas fazer os que já existem tornarem-se produtivos para que sejam inseridos no mercado, com a logica deste. No Tocantins este projeto tem se consolidado nos últimos anos com Kátia Abreu entrando em nome do governo federal em áreas de assentamento com o programa ‘Minha casa, minha vida rural’ e com o Pronatec Rural implementado pelo Sebrae.

Para consolidar o projeto de antirreforma agrária no Brasil, Dilma Rousseff não poderia escolher um nome melhor. Kátia Abreu comanda há vários anos a principal organização ruralista do Brasil, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), foi uma das principais articuladoras pela aprovação da reforma do código florestal que beneficia os grandes produtores, articulou uma CPMI no congresso nacional com o objetivo de criminalizar os movimentos de camponeses sem terra e ferrenha defensora do uso de transgênicos e agrotóxico na produção de alimentos.

Para senadora pobre deve comer sim alimentos produzidos com agrotóxico, pois sua produção é mais barata – é fato que isso pode gerar doenças graves, mas para nova ministra da agricultura o que importa é o lucro.

Financiada pela construtora OAS com um montante de 925.000.00 (empresa responsável pelo clube de empreiteiras que surrupiaram os cofres da Petrobrás nos últimos anos como aponta investigações da policia federal) na disputa por uma vaga ao senado. É também acusada de grilagem de terras de camponeses pobres no Tocantins, como aponta artigo escrito por Dom Tomas Balduíno em 2012. E processada no supremo tribunal federal por usar talões da CNA pedindo contribuição para agricultores para financiar campanhas eleitorais com o brasão da república.

Suplente de Kátia Abreu é ex-presidente do PT do Tocantins

Vários setores ligados ao PT protestaram com a indicação de Kátia Abreu (PMDB) para assumir o ministério da agricultura. No entanto tais manifestações não passam de farsa, é apenas jogo de cena para agradar os movimentos sociais que ainda tem ilusão no governo petista.

Pois tal intenção já estava explicita quando Kátia Abreu deixou o PSD para ir para o PMDB (partido que historicamente comanda o ministério da agricultura), segundo ela atendendo aos pedidos do vice-presidente da republica Michel Temer e a um projeto nacional. Como também a aproximação de Katia Abreu com o governo Dilma, inclusive sendo a porta voz dessa em áreas de assentamento no Tocantins e outros estados.

Mas, sobretudo pelo fato do primeiro suplente de senador de Kátia Abreu ser do PT, Donizete Nogueira é ex-presidente do partido no Tocantins. Por tanto esta muito claro que a direção do PT sabia muito bem da intenção da presidente Dilma de fazer de Kátia Abreu sua ministra da agricultura. Si omitiram isso, ou fizeram cara de surpresa foi pura e simplesmente por jogo de cena.

Fazer do Tocantins o principal ponto de logística do agronegócio brasileiro

A declaração também é da senadora e agora ministra da agricultura Katia Abreu. O Tocantins esta localizado em um território extremamente estratégico para o agronegócio brasileiro. É hoje o principal corredor de escoação da produção do campo brasileiro na região norte, nordeste e centro-oeste. O objetivo dos ruralistas é baratear este transporte com a conclusão da ferrovia norte sul, a duplicação da BR-153 e a construção da hidrovia Tocantins-Araguaia.

Por tanto o nome de Kátia Abreu para o ministério da agricultura, uma senadora de um estado que não tem grande força politica e econômica no cenário nacional não é mero acaso. Mas atende aos interesses de uma elite agrária que consolida e avança sua força no meio rural brasileiro. E que para tanto o Tocantins é extremamente estratégico.

A luta por reforma agrária continua. Na lei ou na marra!

Para nós militantes das causas sociais, que nos entrincheiramos no Tocantins na luta por uma reforma agrária de fato neste país. Não vemos motivos para festa. Não há o que comemorar pelo fato de Kátia Abreu ser a primeira tocantinense a ocupar um ministério ou por ser a primeira mulher ministra da agricultura do Brasil.

Não, não temos motivos para sentir orgulho de uma figura que não serve aos interesses do povo tocantinense, mas sim a uma pequena elite agraria. Kátia Abreu no ministério da agricultura deve ser encarado pelos movimentos campesinos que não se venderam e nem se corromperam como uma declaração de guerra do atual governo a reforma agrária.

Por tanto povos do campo, das águas e das florestas uni-vos!

“A reforma agrária radical é a única que pode dar a terra ao camponês”.
Ernesto Che Guevara


*Pedro Ferreira Nunes é Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Cronica: O Tempero de vovó

Por Pedro Ferreira Nunes

Fazia quase três anos que não ia à chácara dos meus avós. Não por morar distante ou falta de oportunidade, ao contrario, hoje moro a meia hora de carro, quase no terreiro da casa deles. Há dois anos tinha até a justificativa de que morava em outro estado, mas agora não.

O fato é que pra mim tem sido sempre muito emocionante reencontrar lembranças da minha infância. Lembro-me da ultima vez que estive com meus avós, na hora de me despedir chorei, chorei tão caudalosamente, tal como uma criança que foi preciso que meu avô viesse me consolar. Mesmo assim segui chorando por boa parte do caminho.

Carrego comigo o desejo que as coisas da minha infância se conservem tal como eram. No entanto para minha tristeza, a vida não é como á musica do Roberto Carlos ‘o portão’ que sai pelo mundo e quando volta encontra tudo como deixou. Para minha tristeza vejo que muita coisa se perdeu, outras como é natural envelheceu.

Mas enfim após três anos sem pisar o pé na chácara dos meus avós decidi ir lá, é claro, não sem muita insistência de minha mãe. Como passo muito tempo sem ir aos lugares qualquer mudança já mexe comigo, assim quando desci do ônibus já fui me incomodando pelo fato de terem construído outra estrada.

Quando cheguei à chácara fui recebido com muita alegria pelos meus avós. Mas não podia deixar de ficar incomodado com tantas mudanças que ocorreram por ali. As mudanças me teletransportavam para minha infância, ai eu reconstituía na memoria a velha chácara. Mas de repente eu voltava para realidade e via o quanto eu havia envelhecido, como as coisas haviam mudado tanto por ali. Menos o carinho dos meus avós.

O que também não havia mudado era o tempero da comida de vovó. Quando fui almoçar fiquei surpreso. Minha avó havia feito uma curimatá cozida. Quando experimentei, lembrei-me da minha infância. Dai imaginei comigo – o tempero da minha avó tem gosto de infância.

Comi como há muito não comia peixe cozido, quem me conhece sabe que sou amante de frituras. Mas o tempero de minha vó é tão gostoso e me faz lembrar momentos tão especiais de minha infância – das férias escolares, das brincadeiras e aventuras que vivíamos ali quando se reunia toda a primaiada, que é impossível resistir.

Muita coisa mudou, eu mesmo tornei-me bem diferente da criança tímida que era (a timidez continua). E a criança que fui ainda mora dentro de mim. Talvez por isso que a camarada Maria Clara diz que tenho um olhar de menino.

As mudanças geralmente me incomodam, sobretudo por que nem sempre as coisas mudam para melhor. Ao contrario, o que é ruim geralmente se conserva e o que é bom vai se perdendo. No entanto o tempero de minha avó me fez recordar do meu tempo de criança. E que tempos foram aqueles. Tempos de muitas felicidades, onde não tínhamos preocupações, tempos que nos deixaram muitas saudades. Mas que lamentavelmente não voltaram, não voltaram.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Decisão judicial com base em informações mentirosas deferiu pela suspensão do fornecimento de água e energia para uma família de posseiros de uma área devoluta no município de Lajeado do Tocantins.


Nota de repudio

“Os poderosos podem matar uma, duas, ou três rosas, mas já mais conseguirão deter a primavera inteira.”

Ernesto Che Guevara

Causou-nos indignação à decisão do excelentíssimo senhor juiz de direito Luiz Astolfo de Deus Amorim que deferiu, no dia 25 de novembro de 2014 (Autos nº: 0023085-61.2014.827.2729). Ação em favor do Senhor João Antônio dos Santos para que fosse suspensa a prestação de serviços de água e energia a uma área pública no município de Lajeado a qual o senhor João Antônio dos Santos diz lhe pertencer. No entanto a tal área é ocupada há vários anos por uma família de posseiros daquela cidade.

A justificativa para suspensão do fornecimento de água e energia seria por que a família que ocupa a área não tem efetuado corretamente o pagamento das faturas dos serviços prestados, o que segundo o senhor João Antônio e a decisão do juiz Luiz Astolfo têm causado prejuízo ao dito proprietário, sendo que inclusive o seu nome tem ido parar em cadastros de proteção ao credito.Com isso o juiz estabeleceu que tanto a CELTINS como a SANEATINS suspendesse no prazo de 48 horas o fornecimento de água e energia da área localizada no setor Aeroporto no Município de Lajeado. O corte do fornecimento de energia aconteceu no sábado (29 de novembro) pela manhã e a suspensão do fornecimento de água ocorreu na quarta-feira no dia 03 de dezembro.

Decisão judicial tomada com base em justificativas mentirosas

Tanto as informações como as tais provas apresentadas pelo senhor João Antônio dos Santos a justiça são mentirosas. A família que ocupa a área desde 2005 tem em mãos todos os documentos que comprovam que os serviços de água e energia vêm sendo pago regulamente. O que também pode ser facilmente confirmado através de uma declaração da CELTINS e da ATS. Por tanto é mentirosa a informação de que o nome do senhor João Antônio dos Santos tem indo para o serviço de proteção ao credito devido ao não pagamento dessas faturas. O mais absurdo ainda é que a conta de energia esta no nome da família que atualmente ocupa a área o que contraria totalmente os argumentos do senhor Juiz de direito Luiz Astolfo de Deus Amorim.

Outro caso que nos causou bastante estranheza foi o fato da decisão ter sido deferida por um juiz de uma comarca diferente da que o município de Lajeado esta localizada. O documento também não tem a assinatura do juiz e nem a vara civil ao qual o juiz de direito presta serviço. Diante disso a família que atualmente mora na área e tem efeituado corretamente o pagamento das faturas de água e energia procurou a defensoria pública para que esta entre com liminar para suspender tal ação judicial absurda.

Não é a primeira vez que o senhor João Antônio dos Santos tenta de forma arbitraria suspender a energia da tal área em Lajeado. Ainda no mês de setembro sem comunicar à família que mora na área, o senhor João Antônio foi até a CELTINS transferiu a conta de energia para seu nome e em seguida solicitou o seu desligamento. Causando um grande transtorno para família que lá vive inclusive com criança pequena.

O objetivo do senhor João Antônio está claro – é expulsar a família que lá vive e que reivindicam a posse definitiva da área legitimamente. Área esta que o senhor João Antônio diz lhe pertencer. No entanto a prefeitura de Lajeado e cartório local afirmam que a tal área em questão esta em processo de legalização, não há registro da mesma, é uma área devoluta do município, que, portanto pertence a quem lá vive aproximadamente a 10 anos. Como não tem nenhum documento que comprava que o senhor João Antônio é o proprietário legitimo da área, o mesmo tem se utilizado de ações criminosas, falsificando documento e apresentando provas mentirosas com o objetivo de se apropriar de um terreno que não lhe pertence. Bem como aterrorizando a família que lá esta legitimamente.

Diante disso, nós do Coletivo José Porfírio vemos a publico mostrar nossa indignação perante tal acontecimento. Exigimos que tal decisão judicial pautada em informações mentirosas seja suspensa imediatamente, e que o fornecimento de água e energia sejam garantidoà família que lá vive e que tem cumprido o seu papel pagando as faturas em dia. Conclamamos também as autoridades municipais e estaduais a punirem os responsáveis por tais crimes que vem sendo praticado contra a família de posseiros da área devoluta no setor aeroporto pertencente ao município de Lajeado.Não duvidamos que aqueles que se apropriaram de documentos falsos, que prestam informações mentirosas para justiça, o que pode ser comprovado facilmente, tentem ações mais ousada contra os ocupantes da área. Assim é de responsabilidade única e exclusiva das autoridades municipais e estaduais qualquer ação mais grave que venha acontecer com a família de posseiros da área devoluta no setor Aeroporto no município de Lajeado.

Por fim fazemos um chamado a todas as organizações da classe trabalhadora do campo e da cidade, de norte a sul do Brasil, a fazerem moções em apoio à luta dessa família de posseiros que legitimamente lutam pela posse definitiva dessa área devoluta, enviando-as para as autoridades municipais. Como também moções de repudio as ações criminosas que vem sendo cometido contra a família de posseiros com a anuência da justiça e omissão do poder público municipal.Nós do Coletivo José Porfírio damos nosso incondicional apoio à luta da família de posseiros, bem como afirmamos o compromisso de continuar acompanhando este caso e denunciando os abusos que por ventura venham a ser cometido por quem quer que seja.

Lajeado-TO, 09 de Dezembro de 2014.

Coletivo José Porfírio – Construindo a luta do povo trabalhador do campo e da cidade.
Endereço: Rua Paulino, Marques, S/nº, Qd-23, Lt-23, Setor Aeroporto, Lajeado-TO.

Contatos: 63-84946840. E-mail: pedro-ferreira2000@hotmail.com

Coletivo José Porfírio participa do II Fórum de Educação Popular na UNIFESP da Baixada Santista

A atividade ocorreu nos dias 05 e 06 de dezembro de 2014. Promovido pelo PET (Programa de Educação Tutorial). O tema deste ano foi – Para que (m) serve o teu conhecimento?Rodas de conversas, troca de experiências entre os diversos grupos e organizações populares do campo e da cidade, além de intervenções culturais marcaram o evento.

Nós do Coletivo José Porfírio compartilhamos nossas experiência com educação popular no Tocantins, em especial na zona rural, junto à juventude.Apesar de ter menos de um ano, o Coletivo José Porfírio (CJP) já se consolida como a única organização voltada para o trabalho de base com a educação popular no Tocantins, com o objetivo de fortalecer os movimentos populares da cidade e do campo bem como todo o conjunto da classe trabalhadora tocantinense para que se organize e lute contra o modelo hegemônico de apoio ao agronegócio e a especulação imobiliária.

Curso de formação politica, oficinas de formação, cursinho popular além de participar e assessorar outras organizações populares foram algumas ações realizada pelo Coletivo José Porfírio neste ano de 2014 no Tocantins.  A participação na Escola de formação politica Padre Josimo organizada pela Rede de Educação Cidadã do Tocantins foi também uma experiência enriquecedora e que fortaleceu todas as organizações que dela participaram. Outra ação importante do CJP tem sido a sistematização das experiências realizadas. Além da denuncia de ataques à classe trabalhadora tocantinense, em especial no interior.

Nesse sentido o II Fórum de Educação Popular foi um espaço importante para troca de experiências e afirmação da importância da educação popular como ferramenta para construção do movimento popular e fortalecimento de suas lutas. A atividade ganha importância por ser uma das poucas experiências que pauta a educação popular no espaço acadêmico. As organizações que participaram da atividade saem com certeza, fortalecidas para as ações que desencadearam no próximo período.

Coletivo José Porfírio - CJP


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

José Porfírio: Símbolo da luta por reforma agrária no norte do Brasil.

...temos a certeza de as pessoas honestas de Goiás, quando tomarem conhecimento da verdadeira situação de Formoso, irão concluir que os bandidos e invasores não somos nós, posseiros, que há tantos anos desbravamos essas terras e que as custas de um trabalho duro e muitas vezes heroico a valorizamos. Invasores são os grileiros, que agora tentam outra vez nos expulsar de nossas posses... e que só não nos assassinaram ainda porque temos as nossas carabinas e com elas defendemos as nossas vidas.”
José Porfírio
Por Pedro Ferreira Nunes

Era a década de 50. O camponês José Porfírio vivia com sua família no norte do estado de Goiás, o município de Pedro Afonso (hoje estado do Tocantins). A vida por ali não era fácil, José Porfírio trabalhava para sustentar sua família em terras alheias, no entanto o seu sonho era ter o seu próprio pedaço de chão para produzir e viver dignamente.

Foi então que ele ficou sabendo de um tal programa do governo federal que estava dando terras para os camponeses sem terra. Era o governo Vargas e o programa era a tal marcha para o oeste. José Porfírio decidiu partir com sua família e outros tantos camaradas em busca do tão sonhado pedaço de terra.

No lombo de animais de carga José Porfírio partiu em busca do seu sonho. Foi então que chegou a Uruaçu em uma região que era conhecida como Formoso das trombas. Nessa região havia uma grande área de terras devolutas que pertenciam ao governo federal, foi essa área que fora ocupada por José Porfírio e outras centenas de camponeses pobres de diversas regiões de Goiás e do Brasil.

Com o projeto de construção da BR153 (Belém/Brasília) as terras ocupadas pelos camponeses pobres começaram a supervalorizar, a burguesia agrária da região logo cresceu o olho nas terras ocupadas pelos camponeses, e assim montaram um grande golpe com o objetivo de se apropriar da área e expulsar os camponeses que legitimamente ocupavam aquelas terras.

Os poderosos da região conseguiram por seu plano em prática, grilaram documentos, isto é, forjaram e falsificaram documentos que falsamente lhes dava a posse daquela área, que na verdade eram terras devolutas que pertenciam ao governo federal.

Com isso os falsos donos da área começaram a pressionar os camponeses pobres que ocupavam aquelas terras a dar parte do que eles produziam para os falsos proprietários, os que não aceitavam sofriam violência e eram expulsos por jagunços de suas parcelas.

José Porfírio desde o inicio se negou a cair na chantagem dos grileiros, desempenhando um importante papel na organização dos camponeses pobres bem como se colocando na linha de frente da luta pela posse daquelas terras. Com isso tornou-se uma das figuras mais perseguidas, teve sua casa queimada e sua primeira esposa fora assassinada, quando de uma viajem que ele fizera buscando solucionar o problema que eles enfrentavam, isto é, conseguir a posse verdadeira daquelas terras.

Mesmo com esse golpe brutal José Porfírio não desistiu da luta, ao contrario, foi a partir desse duro golpe e de perceber a omissão do estado em buscar solucionar aquela questão, o que não é novidade, pois ao longo da historia do nosso país vemos o estado brasileiro, independente de qual governo de plantão sempre se colocando ao lado dos mais poderosos, da burguesia, do capital.

Diante desse quadro José Porfírio e seus companheiros perceberam que só havia uma alternativa lutar com armas nas mãos pelo que pertencia a eles de fato. A terra que eles cultivaram e o alimento que eles produziam com muita dificuldade não seriam dados de mãos beijadas para aquela corja de bandidos que queriam roubar suas terras.

Como também eles não mais aceitariam ver seus companheiros sendo assassinados, suas mulheres e filhos sendo violentados e eles de braços cruzados. Aqueles camponeses pobres até poderiam ser expulsos daquela área, mas para tanto teriam que mata-los, pois eles estavam dispostos a resistir lutando com armas nas mãos.

E foi assim, com arma nas mãos que os camponeses pobres liderados por José Porfírio e outros valorosos camaradas resistiram à tentativa da burguesia agrária da região de formoso das trombas de tomar suas terras. Defensor da necessidade de organização e da luta coletiva José Porfírio juntamente com seus companheiros criaram uma associação dos camponeses pobres para continuarem lutando pela posse de fato daquela área como também por melhorias para região.

Devido a seu importante papel como defensor ferrenho da causa camponesa foi que José Porfírio foi eleito deputado estadual por Goiás, o primeiro camponês a ser eleito deputado na historia do Brasil. E José Porfírio ao contrario do que muita gente faz, que depois que é eleita vira as costas para quem o elegeu e esquece das causas por que sempre lutou, ele não.

Ele passou a ser uma das figuras mais conhecidas no cenário nacional, desempenhando um papel importantíssimo na organização do campesinato goiano e brasileiro, bem como fazendo da sua cadeira no parlamento uma trincheira em defesa da reforma agrária. José Porfírio que sabia da importância da terra para o campesinato pobre, para sua subsistência, para se viver com dignidade, ele que sofrera na pele juntamente com seus companheiros a violência por parte da burguesia agrária goiana, não iria agora virar as costas para o povo que o elegeu e a causa pela qual tantos camaradas seus incluindo sua esposa perdera a vida.

Com o golpe militar em 1964 e a perseguição a todos aqueles que acreditavam e lutavam por um país justo e igualitário aumentou. José Porfírio que estava na trincheira dos que lutavam por um país melhor, não teve destino diferente. Seu mandato de parlamentar foi cassado. Por quê? Porque defendia uma causa justa? Por que defendia o campesinato? Por que defendia a reforma agrária? Que crime a nisso? Mas os militares o viam como criminoso, tanto que ele foi preso.

Mesmo perdendo o mandato de deputado, José Porfírio não desistiria da luta e passou a defender com veemência assim como Carlos Marighela, o Capitão Lamarca, os guerrilheiros do Araguaia e outros tantos valorosos camaradas a necessidade de resistir através da luta armada a ditadura militar. Mas infelizmente teve pouco tempo para lutar.

A história oficial aponta que ele desapareceu no ano de 1972, quando voltava para casa após sair da prisão em Brasília, o ultimo lugar onde foi visto foi à rodoviária da capital federal. No entanto sabemos que ninguém desaparece do nada, sem deixar nenhum rastro. Os arquivos militares que na sua maioria ainda não veio à luz, com certeza mostraram que fim levou José Porfírio.

No dia que desapareceram com José Porfírio da rodoviária de Brasília, os militares que o assassinaram e jogaram o seu corpo em um lugar onde não podia ser encontrado. Pensaram que o mataram, mas José Porfírio não morreu. Pois aqueles que lutam por um ideal justo, que se dedicam e sacrificam por uma causa não morrem. Os mártires do povo, da classe trabalhadora da cidade e do campo não podem ser mortos, eles ‘são sementes que quando jogados no seio da terra dão frutos’. Já dizia o poeta.

E José Porfírio deu muitos frutos que continuam sua luta, em especial nas margens das rodovias do nosso país na luta por reforma agrária e justiça no campo. São milhares de José Porfírio que resistem bravamente em barracas de lona nas margens das rodovias enfrentando sol, chuva, a fome, a falta de politicas públicas que atendam minimamente as necessidades da população campesina. São milhares de José Porfírio em marcha, ocupando latifúndios improdutivos, defendendo o meio ambiente e produzindo para alimentar a nação. São milhares de José Porfírio que resistem as balas genocidas dos latifúndios, a omissão do estado e a impunidade da justiça.

José Porfírio é um símbolo da luta por terra e justiça no campo no Tocantins, em Goiás, na região norte, em todo o nosso país. Ele continua vivo, seu exemplo, sua luta. E a maior homenagem que podemos prestar a este grande símbolo da nossa região, a esse grande mártir da luta camponesa do nosso país. – É continuarmos a luta por uma reforma agrária de fato no Brasil. Uma reforma agrária radical. Que acabe com o latifúndio, que destrua o agronegócio e de a terra ao camponês, a quem nela de fato trabalha.

- Viva o camarada José Porfírio!

- Viva a luta por reforma agrária!

Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Contos interioranos

Kátia treck treck

Por Pedro Ferreira Nunes

- E ai Kátia quer dá um pega?! Vai lá.

- Eita João, você sabe que o Zé não gosta que você fuma maconha aqui, por causa dos meninos pequeno.

- Eu sei, mais ele tá para o trabalho e não vai chegar agora. Vai meu dá um pega. Só um peguinha.

- Hum eu não. Isso vai me deixar doida. Mais do que eu já sou. E o Zé não deve demorar muito não.

Kátia era discípula da esbornia. Gostava de tomar cachaça como poucos. Quanto mais, melhor. Dificilmente encontrava alguém que disputava com ela na cachaça. No entanto esse era o seu único vicio, além de um porronca (fumo de palha), mas outro tipo de entorpecentes não usava, sobretudo a tal da maconha que era comum por ali.

Ela não era contra, ao contrario, tinha muito amigos que gostavam da erva. Ouvia varias historias a cerca do efeito da maria joana, no entanto nunca havia visto nenhum comportamento condenável por parte dos seus amigos que fumavam maconha. Mesmo assim ela nunca sentiu vontade de dar um ‘tapinha’ num baseado. Porém naquele dia diante da insistência de João, Kátia sentiu-se tentada a experimentar.

- Só um tapinha meu. É de boa.

- Então tá.

- Puxa, prende e solta viu.

Kátia fez como João havia lhe orientado. Deu uns pega no baseado e ficou de boa. Pensou consigo:

- Isso não é o veneno que todo mundo fala não. Eu tô de boa. Tô de booooooa.

Mas de repente. Algo estranho começou a acontecer. Kátia virou a cabeça para o lado e escutou treck, virou para o outro treck.

- Meu Deus. Que diabos é isso? O que esta acontecendo comigo?

Todas as vezes que Kátia movimentava a cabeça ouvia um barulho no seu pescoço – treck, treck. Ela começou a desesperar.

- João, João você tá ouvindo, olha esse barulho no meu pescoço.

Kátia mexia o pescoço para que João ouvisse o barulho. Para ela todos podiam ouvir o Treck, treck. João percebeu que era a ‘viagem’ da erva e começou a sorrir da amiga. Kátia cada vez mais desesperada imaginava:

- Será que vou viver a vida inteira com esse barulho? Treck, treck.

Ao ver o desespero de Kátia que só aumentava João orientou-a a tomar um copo de leite para cortar o efeito da erva. Após tomar o copo de leite em alguns minutos aliviada Kátia percebeu que o treck, treck havia desaparecido.
Desse dia em diante Kátia que nunca sentiu-se atraída pela erva sagrada dos rastas. Nunca mais iria colocar um baseado na boca. Já pensou se o treck, treck voltasse?

- Não, isso não é para mim. Prefiro cachaça mesmo.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Poema: A Lua e o Sol


           Lá no céu eu vi a lua,     
      lá no céu eu vi o sol.
Não existe sol sem lua,
não existe lua sem sol.

Assim sou eu e você,
assim somos nós dois.
A gente se completa
como feijão com arroz.

Sem você eu não existo,
você existe sem mim?
Sem mim você existe?
eu não existo assim.

Assim como o sol não existe sem a lua,
eu não existo sem você.
Vê se deixa de besteira
e passe aqui pra me ver.

Do livro 'Minha poesia', por Pedro Ferreira Nunes