Por Pedro Ferreira Nunes
Geralmente
nós acabamos herdando dos nossos pais a paixão por um time de futebol. Às vezes
somos influenciados pelos irmãos mais velhos, por amigos, ou por nossa própria
escolha, sobretudo quando temos um bom envolvimento com o esporte. Comigo foi
diferente, a maneira que comecei a torcer para o São Paulo Futebol Clube foi um
tanto peculiar.
Um
amigo de infância chamado Fabio deu-me um chaveirinho da camisa do tricolor de
presente e me disse que eu deveria torcer por aquele time. Como até então não
tinha nenhum envolvimento com o esporte, não era ligado ao mundo do futebol,
não conhecia os times brasileiros, aceitei a sugestão do amigo.
Não
me recordo em que ano foi precisamente, mas me lembro que era pelos idos de
1993 ou 1994. Eu tinha de 8 para 9 anos. Meus pais não gostavam de futebol, não
torciam por times, já meus irmãos tinham os seus – dois eram corintianos, um
flamenguista e outro palmeirense. No entanto nenhum deles quis me converter
para queeu torcesse pelo time deles.
Assim
sempre que me perguntavam para que time eu torcia dizia que era para o São
Paulo. Mesmo sem ter consciência de quem era o tricolor paulista. Com a copa de
1994 e o tetracampeonato do Brasil e toda comoção que essa vitória causou na
população é que me fez começar a me interessar mais entusiasticamente pelo
futebol.
Nesse
período meus irmãos e outros amigos tentaram me convencer a torcer por outros
times, no entanto já era tarde cada vez mais que eu ia conhecendo o esporte, o
mundo do futebol. Eu ia me apaixonando mais ainda pelo São Paulo.
Passei
a acompanhar o time, sua historia, seus ídolos, jogadores e jogos. Tornei-me de
fato um são-paulino, considerado por muitos um fanático. Tal o estado de
espirito e emoção que ficava durante, mas, sobretudo após os jogos. Houve
um tempo que se o São Paulo perdesse uma partida eu não conseguia dormir
durante a noite – ficava imaginando se o nosso goleiro tivesse feito aquela
defesa, se tivéssemos feito aquele gol que perdemos na cara e por ai vai. Felizmente
hoje em dia já não sofro tanto assim.
No
entanto quando minha mãe me ver um pouco cabisbaixo, triste, sem querer muita
conversa com ninguém a primeira coisa que ela pergunta é – o São Paulo jogou
ontem? Perdeu? Dependendo da resposta ela me diz – Meu filho por que você não
deixa esse time de mão, essa merda não presta ou então mais meu filho tu só
quer que o São Paulo ganha, os outros tem que ganhar também.
Mas
por mais conselho que ela me dê eu não deixo de ficar com um humor intragável,
sobretudo quando o time joga ruim. Juro para mim mesmo que não irei mais
assistir os jogos, que não vou mais me envolver tanto torcendo pelo time. No
entanto não tem jeito, na próxima partida estou eu lá na frente da tv torcendo
pelo tricolor paulista.
E
foi por pena de mim, dá minha tristeza quando o São Paulo perde que minha mãe
tornou-se são-paulina também, assim como a minha querida irmã Vera e a minha
sobrinha Bia. Mas com o tempo a minha irmã Vera, sobretudo tornou-se
são-paulina não por mim, mas por amor ao time. Ultimamente até um amigo que se
diz Vascaino, quando o São Paulo esta jogando torce para que o tricolor ganhe e
se o tricolor perde ele tenta me tranquilizar. Pois também não gosta de me ver
para baixo.
Durante
os jogos então. Eu que sou conhecido como um cara extremamente calmo, quase um
monge. Incapaz de gritar com qualquer um. Não imagina o quanto eu me transformo
durante os jogos. Grito, xingo, pulo, fico andando de um lado para outro, não
paro um minuto. Meu coração acelera, parece até a bateria de uma banda de punk,
rock, hardcore. Fico a beira de um ataque cardíaco.
Minha
mãe nunca se esquece de quando eu quebrei o braço de um sofá com um murro que
eu dei de raiva durante um jogo da libertadores em 2004, de uma pesada na porta
durante a final de um campeonato paulista. Tanto que para evitar que eu quebre
alguma coisa eu costumo assistir os jogos sem nada na mão. Mesmo assim hora e
outra eu chuto alguma coisa.
No
entanto toda essa violência nunca foi dirigida contra qualquer pessoa. Nunca
discuti ou briguei com ninguém por que torce por outro time ou por que criticou
o time pelo qual eu torço. Infelizmente no meio do futebol nem todos agem
assim, muitos veem os torcedores de outros times como se fossem inimigos que
precisam ser exterminados, dai a crescente violência que assola os estádios
brasileiros. Eu não ajo assim, pois o que me deixa com raiva não é o outro time
e a sua torcida, mas sim o meu próprio time que não teve competência de ganhar.
Mas a raiva maior é de mim mesmo por não me controlar e me envolver
emocionalmente tanto assim com um time de futebol. Logo eu que tenho um
controle emocional razoável em varias questões como, por exemplo, política ou
casos amorosos.
Passaram
se tantos anos e mesmo que eu tente não me envolver tanto com o São Paulo
Futebol Clube não tem jeito. O tricolor paulista é uma grande paixão para mim e
será enquanto eu viver. O amigo que me dera aquele singelo presente na infância
não sabe o quanto aquilo marcaria a minha vida eternamente.