segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Mais uma vez sobre a construção de casas populares no Lajeado

Márcia Reis
A incompetência, a falta de compromisso com as famílias que há vários anos esperam receber suas casas e o descaso com o dinheiro público parece não ter fim no Lajeado. Pois não há outra explicação para o fato de que a prefeitura de Lajeado sobre a administração da prefeita Márcia Reis (PSD) ainda não tenha concluído a construção da segunda etapa de casas populares no município.

Após mais de ano com as obras paralisadas pela justiça a construção das moradias populares foram retomadas pela prefeitura no inicio deste ano com a promessa de que até o mês de agosto a obra estaria concluída e as casas seriam entregues. No entanto mal passou o aniversário do município (5 de maio) e as obras novamente foram paralisadas.

Para coroar a completa falta de competência e descaso da gestão Márcia Reis (PSD) a prefeitura e a empresa responsável pela construção das moradias querem jogar nas costas das famílias a responsabilidade de concluírem a obra. Pois tal plano ficou claro quando a prefeitura convocou uma reunião com as famílias que serão contempladas com as moradias – na tal reunião ficou decidido que cabe às famílias contratarem pedreiros e serventes para terminarem as casas. Segundo a prefeitura e o engenheiro responsável pela obra – tanto o dinheiro para contratação dos profissionais como o material de construção será disponibilizado. No entanto, o orçamento apresentado, e os valores que serão disponibilizados são insuficientes, o que quer dizer que as famílias terão que tirar dinheiro do próprio bolso para terminar suas casas.

Ora, isso é inaceitável. As famílias foram contempladas num projeto que garantiam que receberiam a casa pronta e não pela metade. E o recurso destinado pelo governo federal foi suficiente para construção dessas moradias. Por tanto me digam. Onde enfiaram este dinheiro? As famílias não podem assumir uma responsabilidade que é da prefeitura e da empresa que ganhou a licitação da obra. Onde esta os vereadores desse município? Onde esta a associação dos moradores? A que interesse defende sua diretoria? Onde esta a justiça desse estado? O povo não pode pagar a conta de tamanho descaso e incompetência da gestão publica municipal.

O fato é que as famílias cansadas de tanto esperar e não suportando mais pagar aluguel estão assumindo a construção das casas populares que a gestão Márcia Reis (PSD) não esta tendo competência para fazê-lo. E enfim elas serão concluídas, mesmo que as famílias tenham que tirar dinheiro do seu próprio bolso. O ideal seria que liderados por sua associação e respaldados pela câmara de vereadores, pelo ministério público, pela defensoria pública e o poder judiciário as famílias batessem o pé e recusasse a fazer o que é de responsabilidade da prefeitura. Infelizmente não é isso que esta acontecendo, pelo menos por enquanto.

Por fim terminamos com duas perguntas fundamentais. Onde esta o recurso destinado para construção das moradias populares? É correto as famílias assumirem a conta por algo de errado que eles não cometeram? Que as autoridades municipais, estaduais e federais nos respondam.


Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Tocantinês

Que nosso país tem dimensões continentais não é novidade, como também não é novidade a diversidade de expressões culturais que o nosso povo cultiva de norte a sul do Brasil. Aliás, a grande riqueza da humanidade é de fato a diversidade cultural.

Uma das expressões culturais que mais me chama atenção no Brasil é a variedade de termos e sotaques que temos nas diversas regiões. Em especial no nordeste brasileiro, região da qual eu tenho um carinho e uma grande admiração pelo seu povo.

Mas o objetivo deste artigo não é falar do meu carinho e admiração pelo nordeste, deixemos isso para outra oportunidade. Falarei aqui sobre o meu norte querido, em especial do Tocantins – Minha terra natal.

O objetivo por tanto desse breve artigo é falar a cerca do que eu vou denominar de ‘Tocantinês’- Termos típicos do meu querido estado do Tocantins. Termos estes que formam um dialeto tipicamente tocantinense.

Ultimamente tenho me deliciado em conversas com as pessoas aqui no interior do Tocantins que ora e outra solta um desses termos que trás como principal característica o humor. Estes termos são falados até pelos mais jovens o que garante que eles sobreviveram por muito tempo. Vamos há alguns deles:

Rudo

Se por acaso estiver conversando com um tocantinense, sobretudo do interior do estado e for chamado de rudo, não se anime, pois não é um elogio. Ao contrario, você esta sendo chamado de uma pessoa que não é dotada de inteligência. Em português claro você esta sendo chamada de uma pessoa idiota.

Laquera

Já se por acaso ti falarem para que você deixe de laquera, é porque o que estiver falando não esta agradando muito, portanto estão mandando você calar a boca.

Rodado

Também não é um elogio. Não estão dizendo que você é uma pessoa experiente. Na verdade estão dizendo que você esta perdida, que você não tem nada e se quer sabe para onde vai, isto é você esta ferrado.

Brejo

Se por acaso ti chamarem de brejo, em especial por uma mulher que você esta afim. Lamente muito, pois isso quer dizer que você não tem nenhuma chance com ela, pois ela ti acha uma coisa horrível. Brejo não é um lugar muito agradável, pouca gente quer ir lá, por tanto não queira ser comparado com um.

Arrotar bacaba

- Ninguém arrota bacaba no meu terreiro.

Vixe, a coisa ficou feia. Se alguém falar para você parar de arrotar bacaba é porque o clima não está bom. Você esta falando mais do que deveria e, sobretudo o que esta falando não esta agradando nem um pouco. E se você insistir em arrotar bacaba deve ser muito bom de briga ou gosta de apanhar.

De bico

Se falarem que você esta de bico em alguém, quer dizer que você esta encantado por alguma moreninha. Que você não tira o olho dela. Fica só na tocaia esperando para dar o bote tal como uma onça pintada num bezerro desgarrado.

Sem nadinha na boroca

Se você ouvir esse termo quer dizer que este pobre diabo não tem um tostão furado no bolso. Que não tem dinheiro se quer para pagar uma cerveja, imagine para sustentar uma mulher. A mulherada do interior não perdoa, e difama o pobre diabo para as amigas.


Estes são apenas alguns termos dos vários falados no interior do Tocantins. Assim que garimpar outros por ai, não hesitarei a escrever sobre eles. Mas o bom mesmo é rodar no interior do nosso estado conversando e convivendo com o nosso povo, que apesar de aparentar um ar severo e fechado é só aparência. No fundo o Tocantinense é um povo extremamente humilde e hospitaleiro.

Pedro Ferreira Nunes é poeta e escritor tocantinense.

II Festa do cowboy de Lajeado: Festival de machismo, homofobia e distorção da cultura camponesa.

As exposições agropecuárias são um dos eventos culturais mais tradicionais do Tocantins. Em um estado com uma cultura campesina forte e um agronegócio poderoso não poderia ser diferente. As festas acontecem de norte a sul do estado especialmente no período do verão tocantinense que vai de maio a agosto. Entre as principais podemos destacar a de Araguaína, Gurupi, Palmas e Paraíso. Em Lajeado essa tradição vem sendo estabelecida nos últimos anos com a realização da festa do Cowboy que em 2015 teve a sua segunda edição, como também nas pedreiras (zona rural do município) que já está indo para sua quinta edição.

No entanto um espaço que poderia servir para valorização da cultura camponesa, para o resgate de nossas raízes culturais tornou-se um festival de machismo, homofobia e distorção de nossa cultura – a começar pelo nome da festa, que está mais ligada à cultura norte americana do que nossa. Assim em vez de festa do Cowboy é preferível que se chamasse festa do peão como antigamente. Se não bastasse tudo isso virou também palanque para políticos fazerem campanha antecipada. Pelo menos é isso que acontece na festa do Cowboy de Lajeado.

Sem muitas alternativas culturais na cidade, sobretudo voltado para toda a família, a festa acaba sendo um atrativo para a população que já esta cansada de mais das mesmas coisas que são realizadas no município. No entanto muitos acabam se decepcionando com a total falta de sensibilidade dos organizadores que estão mais preocupados com os louros políticos que poderão ganhar na realização da festa do que em propiciar para população uma alternativa cultural com o mínimo de qualidade e que respeite a diversidade.

E ai os cidadãos que se propõem a deixar suas casas para relaxar e se divertir da dura vida no interior do interior do país, tem que aguentar um narrador com suas rimas machistas e homofóbicas além do papel execrável de puxa saco das autoridades de plantão. Autoridades essas que do alto dos seus camarotes olha o povo com um ar de superioridade e desprezo. Olha o povo apenas como coisas que podem ser manipuladas ao seu bel prazer.

Uma das cenas que me causaram náuseas foi o momento em que o narrador levou duas adolescentes para o meio da arena para que dançassem sensualmente ao som de um funk em troca de uma caixa de cerveja. Enquanto as garotas exibem seus corpos adolescentes para uma plateia de machistas em troca de uma caixa de cerveja a plateia vai ao delírio. E estes mesmos senhores que aparecem muitas vezes condenando a exploração sexual de crianças e adolescentes indiretamente acaba promovendo-a.

As vaias – De quem é a culpa? De quem vaia ou de quem é vaiado? Falta de educação ou protesto legitimo?

Na primeira edição da festa do Cowboy do Lajeado a prefeita Márcia Reis acabou levando uma vaia acachapante de toda a arena, uma cena de fato inesquecível, tão inesquecível que a prefeita não quis por os pés na arena de rodeio este ano. Já nessa segunda edição foi à vez do deputado estadual Valdemar Junior (PSD) que teve que abreviar seu discurso com medo do burburinho que começava a se formar na arena.

Tanto no caso da prefeita como no caso do deputado alguns falaram ser perseguição politica ou pelo fato de que o povo é mal educado. Mas será mesmo? A culpa é quem vaia ou de quem foi vaiado? É obvio que ninguém vaia simplesmente por que acha divertido. Por que tem o prazer em constranger alguém. A vaia é uma forma de alguém mostrar que esta descontente com outra. Que não esta gostando do rumo que as coisas estão tomando. Que tal discurso não os agrada. E por tanto ninguém é obrigado a aplaudir aquilo que não concorda. Por tanto a vaia e outras manifestações de protesto são legítimos.

A população que ali foi não fora convidada para participar de um comício politico, uma campanha politica antecipada. Para o lançamento de uma chapa que concorrerá o pleito eleitoral de 2016 em Lajeado. A população não foi para ver o narrador do rodeio passar 30 minutos puxando o saco do pré-candidato a prefeitura de Lajeado Jaime (PMDB) e depois ouvi-lo discursar por mais 30 minutos. A população também não foi para ver o narrador puxar o saco do secretario estadual da agricultura por 20 minutos e depois ouvi-lo discursar por mais 20 minutos. Como também a população não foi para ouvir o narrador puxar o saco do deputado Valdemar Junior por 30 minutos e depois ouvi-lo discursar por mais 30 minutos.

Lembrando que havia ali muitas crianças e idosos em um espaço desconfortável tendo que aturar toda essa maçada. Ai alguns ainda tem coragem de dizer que o povo é sem educação? Ora o povo teve paciência por demais. Esperamos que nas próximas edições (sem vierem acontecer) os organizadores tenham o mínimo de sensibilidade e organizem uma festa que de fato resgate as nossas raízes campesinas, respeite a diversidade e as pessoas que ali vão em busca de um direito básico que é o acesso a cultura de qualidade.


Pedro Ferreira Nunes – Poeta e escritor tocantinense.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Alguns brevíssimos comentários sobre questões politicas no Tocantins e no Brasil

Crise no funcionalismo público estadual do Tocantins

O governo Marcelo Miranda (PMDB) vem empurrando desde o inicio do seu mandato a discussão sobre o pagamento da data base e outros direitos para os servidores públicos estaduais. Após desmarcar varias reuniões com os sindicatos dos servidores, enfim o governo apresentou uma proposta com uma mensagem clara – é pegar ou largar. Isto é, que queira ou que não queira os servidores teriam que acatar a proposta do governador .

É obvio que os sindicatos pressionados pela base não tiveram outra saída se não recusar prontamente a chantagem do governo. Pois a tal proposta apresentada não passava de uma falta de desrespeito com os trabalhadores ao propor parcelar o vencimento dos mesmos. A justificativa é sempre a mesma, o estado passa por uma crise financeira e não tem como pagar os servidores. No entanto não faltam recursos para contratar irresponsavelmente pessoal inchando a máquina pública.

Crise no funcionalismo público estadual do Tocantins II

Diante da pressão do funcionalismo público com manifestações e ameaça de greve – o governo não teve alternativa se não recuar mais uma vez, tal como fez no inicio do ano, e declarar que está aberto ao dialogo. Ora, mas o governo não havia dito anteriormente que não dialogaria mais com os servidores? Que a proposta apresentada era a possível e que, portanto deveria ser acatada por bem ou por mal pelos sindicatos? Nos resta perguntar até quando os servidores públicos estaduais terão paciência com o governo Marcelo Miranda (PMDB), já que o mesmo vem enrolando a categoria desde o inicio do seu governo. Chegamos já na metade do ano e até agora Marcelo Miranda continua fazendo o que bem quer, enquanto isso os sindicatos ficam apenas na ameaça.

A luta na educação

Já os servidores da educação perderam a paciência com o governo e decidiram sair do campo da ameaça e partiram para luta concreta. E seguindo o exemplo dos servidores da educação do Paraná, de São Paulo, do Pará, de Goiânia bem como das instituições federais de ensino superior decidiram entrar em greve. O ideal seria um movimento unitário dos servidores públicos estadual do Tocantins, o que já havíamos apontado ao fazermos um balanço da greve da policia civil no inicio do ano. Os policiais civis fizeram uma greve de mais de 30 dias, mas por varias questões, entre elas, o isolamento. A greve acabou chegando ao fim sem vitórias concretas para categoria. Ao contrario, a falta de direção, ou uma direção ruim, acabou trazendo mais ônus do que bônus para categoria.

Portanto os servidores da educação, o comando de greve e o Sindicato dos Trabalhadores na Educação do Tocantins – SINTET precisa fazer uma avaliação profunda bem como traçar táticas e estratégias para que a mesma não caia no isolamento e acabe tendo o mesmo destino da greve dos policiais civis.

A luta da educação II

Nesse sentido para que a educação não repita o fracasso da greve da policia civil é necessário continuar o dialogo com as demais categorias do serviço público estadual que não entraram de greve nesse primeiro momento, mas que poderão fazer mais a frente. Outra questão é que a base da categoria precisa se envolver e não deixar tudo na mão do sindicato. O movimento precisa de unidade e força para enfrentar os ataques do governo, as sabotagens, a criminalização, a possível judialização entre outras questões.

O fato da educação estadual ter entrado em greve foi um avanço, sobretudo por que a direção do sindicato vacilou em vários momentos não passando nenhuma segurança para base. Assim chegamos até a duvidar que a greve fosse declarada. Porém felizmente, graças à pressão da base, a greve foi deflagrada. E para aqueles que dizem que o movimento foi precipitado – dizemos – que os servidores da educação tiveram paciência de mais. Pois há seis meses que o governo só promete e não cumpri o prometido, ao contrario, apresenta propostas absurdas que não podem ser aceitas de forma alguma pela categoria.

A pátria educadora de Dilma Rousseff e Mangabeira Úngue

Aliás, falando sobre educação o que tem se debatido bastante no ultimo período é o artigo intitulado de pátria educadora (mesmo slogan do governo federal), escrito pelo ministro do governo Dilma Rousseff – Mangabeira Úngue. O tema foi até o assunto debatido no programa brasilianas.org da TV Brasil, apresentado pelo economista Luiz Nassif na ultima segunda-feira (01/06) com especialistas da Unicamp e da UNB. Professores da UFT também já haviam tocado no tema dias antes da deflagração da greve.

A questão não é simples e requer um debate mais aprofundado, o que pretendo fazer em um artigo posteriormente, mas não poderia deixar de tocar em uma questão do artigo que me deixou bastante indignado, sobretudo como educador popular. O fato de que para Mangabeira Úngue o problema da educação brasileira não é o descaso do poder público, uma grade curricular ultrapassada, a falta de estrutura, profissionais desmotivados e mal remunerados entre outras questões. Pasmem, para o ministro o problema são os alunos, os alunos pobres – que tem a capacidade de aprendizagem reduzida. Por isso o governo deve criar duas modalidades de ensino, na pratica a ideia é criar no ensino público a escola do pobre e a escola dos ricos. Mangabeira Úngue tenta tirar das costas do estado e jogar nas costas dos estudantes a responsabilidade pela péssima qualidade do ensino.

Eleições 2016 em Palmas

A cada semana surge um novo nome como pré-candidato a prefeitura de Palmas. Já temos Carlos Amastha (PSB) que é o atual prefeito da capital e concorrerá a reeleição, Raul Filho ex-prefeito de Palmas que acabou de se filiar ao PR, Sargento Aragão do PEN, Gaguim do PMDB e Marcelo Lelís do PV. Além de outros nomes que tem declarado ter intenção de disputar o pleito eleitoral rumo ao paço municipal da capital.

Essas movimentações e articulações são normais um ano antes das eleições, e é fato que muito desses que se declaram como pré-candidatos a prefeitura de Palmas não serão. Por tanto tais movimentações nada mais são do que táticas para obter vantagens e venderem o passe mais caro na hora de compor as coligações.

Contra reforma politica no congresso nacional

Alguém tinha alguma duvida que a reforma politica em discussão no congresso nacional encabeçada pelo presidente da câmara dos deputados Eduardo Cunha traria alguma coisa de progressista? Doce ingenuidade, o que se viu na verdade foi uma contra reforma, como sempre, os nobres deputados tal como no código florestal conseguiram piorar o que já era ruim.

Como por exemplo, na votação que oficializou o lobby empresarial no congresso ao aprovar o financiamento privado das campanhas. Fato que só aconteceu após manobra rasteira do presidente Eduardo Cunha. Ou da clausula de barreira que penaliza as minorias, apoiada inclusive pelos deputados de partidos progressistas como o PSOL.

Aonde vamos parar...

Sinceramente não sei, mas o fato é que os ataques de patrões e governos aos direitos dos trabalhadores não cessaram. E o pior é que não conseguimos vislumbrar á curto prazo alternativas para reverter tal quadro. Portanto nunca foi tão necessário construir uma frente de luta unitária das organizações da classe trabalhadora de norte a sul do país para que nas ruas e na luta consigamos reverter estes ataques.

Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Todo apoio a greve nas instituições de ensino superior! Por uma greve geral no Brasil já!

Ninguém gosta de greve, nem mesmo aqueles que a fazem. Pois ao contrario do que se pensa fazer greve não é algo simples, não é simplesmente cruzar os braços. Mas requer envolvimento, disposição, dedicação e sacrifício de toda categoria. Sobretudo, se pretende que a greve seja vitoriosa.

Se ninguém gosta de greve, se a greve prejudica a todos, tanto os que são atingidos diretamente, como indiretamente. Por que então fazemos greve? Por que os governos e patrões não nos dão alternativa. E a greve é, portanto o principal instrumento na luta dos trabalhadores pelos seus direitos.

Sabemos de todos os problemas que uma greve nas IFES acarretará no inicio do semestre para estudantes e professores. No entanto temos total clareza da condição caótica que se encontram as IFES Brasil afora, e agora diante do anuncio dos cortes no orçamento, onde só na educação alcançará um montante acima de 9 bilhões o governo não nos dá alternativa se não ‘cruzar os braços’.

Assim, na atual conjuntura por que passa o país, onde um governo que tem como lema a educação como prioridade, mas que na realidade retira recursos e sucateia as Instituições Federais de Ensino Superior, além de tentar jogar nas costas do trabalhador a responsabilidade por uma crise que não foi criada por eles, a greve é mais do que necessária.

E se essas breves linhas não servir de argumento para justificar as greves nas IFES, ou as reportagens que mostram a situação deplorável nas instituições federais de ensino superior Brasil afora, convidamos os tocantinenses a visitar o campus da UFT em Palmas – encontraram salas sujas, um campus mal iluminado, banheiros interditado por falta de manutenção, demissão da metade dos terceirizado, lanchonete fechada, além do corte de bolsas permanência, pesquisas entre outros.

Além do fato de que em vez de negociar com os professores e técnicos administrativos, o governo simplesmente abandonou a mesa de negociações. Inclusive se negando a cumprir o acordo firmado com a categoria na greve de 2012.

Lamentamos que mesmo diante desse quadro caótico tenha professores e grande parte dos estudantes na UFT que são contrários a greve. Que pensam apenas no seu umbigo e não na educação como um todo. Pois essa greve tem como razão de ser, sobretudo, ao discutir qual o modelo de educação queremos para o nosso país. E com certeza o modelo de educação que defendemos não é o da ‘pátria educadora’ de Dilma e do Mangabeira Úngue – que pretende transformar as universidades e escolas públicas em escolas-empresas.

Lamentamos também a ausência de um movimento estudantil na UFT compromissado com as causas populares. Ao contrario, temos um diretório central dos estudantes e centros acadêmicos mais preocupados em fazer festas do que discutir as questões fundamentais que atinge as IFES e a sociedade como um todo.

Por exemplo, na programação da calourada unificada, não houve um ponto para discutir a questão da greve.  Não houve um ponto para discutir o corte no orçamento da área da educação. Não houve um ponto para discutir a situação de total abandono do campus da UFT em Palmas. Não houve se quer um ponto para se discutir o ‘’pátria educadora’’. Em resumo, não houve um ponto para discutir a conjuntura nacional e os reflexos na educação.

Bem se ver como o movimento estudantil na UFT esta sintonizada com os problemas que acontecem hoje no país. É por tanto necessário lutarmos para construir um movimento estudantil na UFT compromissado com o movimento popular. Um movimento estudantil independente de governos e patrões. E radicalmente de luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade.

Esperamos que a greve nas IFES possa ser o motor propulsor para desencadearmos uma greve geral no país. Uma greve geral mais do que necessária, sobretudo após o ajuste fiscal que será aprovado no congresso nacional que retira direitos dos trabalhadores como também do anuncio do maior corte no orçamento da historia, cortes estes que atinge ferozmente as áreas sociais.

É inaceitável que as organizações da classe trabalhadora aceite sem resistir e questionar a adoção do governo federal da cartilha do FMI. Não, não podemos ficar de braços cruzados ante de tantos ataques aos direitos fundamentais dos trabalhadores. Precisamos nos mobilizar para reverter nas ruas e na luta esses ataques.

Por fim, terminamos dando o nosso apoio incondicional a greve nas IFES, em especial na UFT onde atuamos. Por compreender a necessidade do movimento grevista como uma forma de lutar contra o sucateamento da educação publica e a retirada de direitos dos trabalhadores em geral. Fazemos também um chamado aos estudantes da UFT e demais instituições públicas de ensino superior a apoiar essa luta.

Pedro Ferreira Nunes – é estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. Bacharel em Serviço Social pela UNOPAR, Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio.


terça-feira, 26 de maio de 2015

Crônica: A triste partida

Hoje mais um amigo deixou a cidade rumo a capital, como tantos outros irá em busca de trabalho, em busca de uma condição de vida melhor. Trabalho encontrará provavelmente na construção civil, como tantos outros. Já uma condição de vida melhor não esta garantido. Mas pelo menos não precisará ficar se humilhando no pé do gestor público municipal por um cargo comissionado em algum canto da cidade ou sobreviver fazendo bicos ou no rio pescando.

Eis a sina de quem mora no interior do interior do Brasil, sair vagando pelo país em busca de trabalho e uma condição de vida melhor. Já que isso lhes é negado em sua terra natal. Todos os dias parte um, sobretudo os mais jovens, já que os mais velhos cansados vão permanecendo por aqui. Alguns depois de um tempo retornam, outros só vem à visita, mas há também os que nunca voltaram.

E assim a cidade vai sendo mutilada, pois quando alguém parte é como se um pouco de nós também partisse. As coisas vão se envelhecendo, o lugar vai se empobrecendo e o futuro vai se perdendo. Sem o frescor e o entusiasmo da juventude perdemos a capacidade de renovação, de transformação, de mudar essa triste sina que nos é tão cara.

E o que mais nos deixa triste é saber que tudo poderia ser diferente. Que se as riquezas da cidade, que não são poucas, fossem utilizadas para o bem comum e não para privilegiar uma pequena elite. Nosso povo não precisaria deixar o município em busca de trabalho e uma vida melhor nos grandes centros urbanos do país.

No entanto enquanto as riquezas que produzimos continuar sendo apropriada por uma pequena elite, e o resto da população esperando pelas migalhas, esse suplício continuará. Como também continuará a decadência da cidade. Decadência essa que interessa a essa elite retrograda que há anos domina o local.

Nos entristece também o fato de saber que enquanto continuarmos abandonando o município em vez de permanecer aqui para lutar e mudar essa realidade, as coisas não mudaram. As coisas continuaram sendo como sempre foram, pois a depender da elite que controla o poder na cidade, as coisas permaneceram como sempre foram.

E assim as velhas e futuras gerações de interioranos continuaram fadadas ao mesmo destino. Sair vagando pelo país em busca de trabalho e uma condição de vida digna. Mas não demoraram a perceber que a vida não é dura apenas no interior, ao contrario, na cidade grande a exploração é ainda mais intensa. Ai alguns resolve voltar, outros tantos já não tem mais animo.

Pedro Ferreira Nunes é poeta e escritor tocantinense.
“Distante da terra
Tão seca mais boa
Exposto a garoa
A lama e o pau
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No norte e no sul”

Patativa do Assaré

Administração Amastha é socialista?

Quem anda pelas ruas da capital tocantinense, não terá dificuldades em se deparar com grandes outdoors com os dizeres ‘’administrações socialistas pelo Brasil’’, entre estas a atual gestão frente à prefeitura de Palmas. Tal referencia se dá após a transferência de Carlos Amastha (prefeito de Palmas) do Partido Progressista (PP) para o Partido Socialista Brasileiro (PSB). No entanto, quem tem o mínimo de inteligência e visão critica, sabe muito bem que a administração Carlos Amastha frente à prefeitura de Palmas esta muito longe de ser socialista, ao contrario, é uma administração que desde seu inicio se coloca em defesa de empresários e especuladores. Por tanto segui rigidamente a cartilha neoliberal e os interesses capitalistas.

Não precisamos ir muito longe, é só ver o ataque que Carlos Amastha (PSB) tem feito à educação em Palmas – ora negando, ora retirando direitos. Como também perseguindo os professores que se organizam e lutam contra a politica de sucateamento da educação. Também poderíamos citar a truculência e o descaso da atual gestão com as famílias sem teto que lutam por moradia digna na capital. Aliás, o prefeito não vacila um segundo em colocar a policia para reprimir com violência manifestações legitimas dos trabalhadores palmenses pelos seus direitos. Poderíamos citar, por exemplo, a repressão sofrida pelo MTST quando da ocupação da prefeitura de Palmas ou do movimento ocupa Palmas pela guarda metropolitana.

Se analisarmos bem, veremos que as politicas implementada pela atual gestão mais favorece os empresários do que os trabalhadores. E é nesse sentido que foi aprovado recentemente o aumento da tarifa do transporte coletivo na capital.

Ora, dizer que tal administração é socialista é duvidar da nossa inteligência. Governar para elite não é socialismo, governar para as elites é fazer mais do mesmo, é manter a ordem vigente, é conservar o capitalismo. E é isso que Carlos Amastha (PSB) fez e continuará fazendo.  Já que o mesmo é um grande empresário, um grande capitalista que continuará implementando politicas que lhe favoreça como também a classe a qual ele pertence.

Não é pelo fato de está em um partido que se diz socialista, aliás, socialista só no nome, já que na prática há muito tempo o PSB deixou de ser socialista, isto é, se algum dia já foi, não faz da administração Amastha uma administração socialista. Ao contrario, a atual administração a frente da prefeitura de Palmas não pode ser classificada nem de uma administração progressista, quanto mais socialista.

Tal propaganda só traz mais confusão para a cabeça das pessoas. Enquanto alguns ingênuos propagam essa falsa ideia outros mal caráter aproveitam para jogar nas costas do movimento socialista uma gestão caótica que não tem nada a ver com o socialismo.

Nesse sentido uma das tarefas fundamentais dos socialistas revolucionários é se desfazer desses falsos socialistas. Desses lobos vestidos em pele de cordeiro. Precisamos deixar claro que organizações partidárias como PT, PC do B e PSB mais mancham a historia e tradição socialista do que contribuem para o fortalecimento dessa causa.

Essa questão não é novidade ao longo da historia, se formos pesquisarmos, veremos que sempre houve organizações que pregavam uma coisa e faziam outra. Que dizia esta ao lado do trabalhador, mas quando chegava ao poder acabava se aliando a burguesia. Podemos citar, por exemplo, o papel contra revolucionário de Kerensky e os mencheviques na Rússia. Ou então o caso recente do governo petista nos últimos 12 anos no Brasil.

Por tanto é tarefa nossa, socialistas revolucionários, combatermos com veemência esses falsos defensores da causa proletária e camponesa. Denunciando e explicitando os interesses escusos por trás desses falsos socialistas. Como também defendendo e lutando pelas bandeiras verdadeiras da esquerda. Assim, dizer que a administração Carlos Amastha frente à prefeitura de Palmas é socialista deve ser encarado por nós, como uma piada, uma piada de muito mau gosto.


Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio