terça-feira, 19 de abril de 2016

Resenha: “Como ler um texto de filosofia”, de Antônio Joaquim Severino.

Por Pedro Ferreira Nunes 

Em “Como ler um texto de filosofia”, Antônio Joaquim Severino – licenciado em filosofia pela Universidade Católica de Louvain – Bélgica, doutor pela PUC-SP e livre-docente em filosofia da educação da Universidade de São Paulo, onde atualmente é professor titular. Busca através desse livro dá algumas orientações, em especial para os jovens estudantes que se iniciam na leitura sistemática de textos filosóficos, pois como bem ressalta, a leitura de um texto filosófico é diferente de um texto literário. “Como ler um texto de filosofia” trata-se, portanto de uma obra expositiva, paradidática que procura transmitir conhecimento.
O livro é enumerado pelo autor da seguinte forma: Primeiro com a apresentação da obra ou a introdução. Segundo o desenvolvimento que é subdividido em quatro partes: Sendo que a primeira parte ele abordará a questão do texto, da comunicação e da leitura. A segunda parte será feito um exercício de leitura, a terceira parte teremos a abordagem da pesquisa no processo de leitura e a quarta parte um outro exercício de leitura. E por fim a conclusão do livro com as indicações bibliográficas.
A questão fundamental abordada pelo filosofo Antônio Joaquim Severino neste livro está expresso no nome da própria obra – como ler um texto de filosofia. Para tanto o autor vai apresentar uma espécie de manual que deverá ser seguido por aqueles que não têm familiaridade com esse estilo de escrita. Pois para o autor a leitura analítica de um texto filosófico tem que ser feito de uma forma sistemática.
E qual a importância de se ler um texto de filosofia numa sociedade que nega a importância do pensar filosófico? Em “Como ler um texto de filosofia”, Antônio Joaquim Severino dirá que é extremamente importante à leitura de textos filosóficos para o desenvolvimento do processo educacional, e que isso reflete na nossa própria existência. O fato é que não se pode negar a importância da filosofia na construção do pensamento ocidental, e que mesmo sendo desvalorizada a filosofia resiste.
Ainda segundo Antônio Joaquim Severino a filosofia é uma modalidade do conhecimento e filosofar é um exercício intelectual, um processo que não se dá de forma isolada, mas sim coletivamente. O autor também falará de como a experiência do pensamento e da linguagem se confundem. Sendo que a linguagem garante a objetividade e a exterioridade – questões importantes no processo de educação. Sendo que no processo de educacional há que se destacar a comunicação – que se dá tanto através da via oral como escrita, no entanto a oral vai se perdendo com o tempo, já a escrita permanece sempre viva.
É então que na primeira parte de “como ler um texto de filosofia”, o autor irá tratar do texto, da comunicação e da leitura. Da relação entre escritor e leitor – de como o meio de onde viemos e a nossa formação cultural pode interferir na forma com que compreendemos o texto.
Antônio Joaquim Severino irá dizer que quando um autor elabora um texto – ele concebe e codifica. Já o leitor busca a decodificação e a compreensão desse trabalho. Ele então dirá que não basta conhecer os símbolos é preciso também conhecer as ideias do autor para se fazer uma leitura analítica. Pois a leitura analítica nada mais é do que compreender o texto na sua totalidade. Por tanto em “como ler um texto de filosofia”, Antônio Joaquim Severino ressalta claramente que é possível se ler um texto quando se conhece os símbolos, porém não o compreendemos se não soubermos as ideias. Assim a leitura analítica deve abarcar toda essa totalidade – tanto decodificar como compreender.
É então que ele vai apresentar quais as etapas que o leitor deve seguir para fazer uma leitura analítica. São elas: Analise textual, analise temática, analise interpretativa, problematização e reflexiva.
O autor também mostrará a importância da preparação da leitura mediante uma analise textual. Que deve, por exemplo: Fazer a leitura por partes, conhecer o autor, saber para quem e para que o texto foi escrito. É também necessário fazer uma leitura panorâmica (conhecer o texto previamente). Pesquisar as fontes, as referencias e o vocabulário do qual não estamos familiarizado. Outra questão que deve ser feita é o resumo do texto, fazer uma analise temática (compreender o texto objetivamente).
Antônio Joaquim Severino deixa claro que compreender um texto não é interpreta-lo. O dialogo se dá num segundo momento quando o leitor vai dialogar com o autor e com o texto. No entanto para fazer esse dialogo é preciso ter maturidade intelectual – fazer a problematização e a reflexão pessoal. Por fim, registrar as referências utilizadas e as conclusões.
Na segunda parte o autor irá apresentar um exercício de leitura, para tanto se utilizara de um texto do pedagogo Paulo Freire, onde exemplificará como deve ser feito o processo que ele apresentou na primeira parte do livro. Mostrando passo a passo como deve ser feito a sistematização para leitura analítica.
Já na terceira parte o autor irá destacar a importância da pesquisa, sendo que “a atividade de pesquisa busca em fontes apropriadas subsídios, esclarecimentos, informações que nos darão conta da mensagem que o autor quis nos passar por meio do seu texto”. (como ler um texto de filosofia. Pag.51). Dai a sua importância. Nessa atividade de pesquisa deve ser feito por tanto uma ficha bibliográfica, uma ficha biográfica, ficha temática, fichário pessoal, as fontes de pesquisa em filosofia, textos clássicos, dicionários, histórias, introduções e revistas.
E na quarta parte o autor irá apresentar um outro exercício de leitura, para tanto se utilizará de um texto um pouco mais complexo do filosofo Descartes, onde exemplificará como deve ser feito o processo que ele apresentou na terceira parte do livro “como ler um texto de filosofia”. Aliás, o livro “como ler um texto de filosofia”, do filosofo Antônio Joaquim Severino não apresenta uma conclusão. O autor encerra a obra com as indicações bibliográficas.
A opção do autor em não fazer uma conclusão pode ser explicada pelo que foi colocado na apresentação dessa obra – o objetivo é apenas apresentar algumas orientações iniciais para jovens estudantes que estão se iniciando na leitura sistemática de textos filosóficos. Por tanto não é uma obra conclusiva. Ficando assim em aberto para possíveis modificações.
É fato que a leitura de um texto de filosofia não é algo simples, sobretudo para quem não está familiarizado com a linguagem filosófica. Por tanto é compreensível à preocupação do filosofo e professor Antônio Joaquim Severino que o levou a elaborar este livro que busca de forma inicial trazer algumas orientações de como deve ser feito a leitura de um texto de filosofia. No entanto há um grande risco, em vez de facilitar a leitura sistemática de textos filosóficos, “como ler um texto de filosofia” pode dificultar ou mecanizar este processo.
Ora, o próprio nome do livro já indica que o mesmo é uma espécie de manual – uma formula “matemática” de como ler um texto de filosofia. Mas é só a partir do esquema apresentando por Antônio Joaquim Severino que é possível ler um texto de filosofia? É fato que não. No entanto, o autor omite outras possibilidades. Sobretudo que não sejam tão mecânicas como a apresentada nesta obra.
É inegável a importância das questões abordada pelo autor – especialmente da relação escritor e leitor – e a cerca da compreensão e a interpretação. Aliás, a nossa critica não é a cerca do conteúdo apresentado pelo autor, os elementos que ele aponta para a leitura analítica de um texto filosófico é fundamental. A nossa critica se dá, sobretudo a cerca da forma com que é apresentado, ou melhor, á “formula”.
Com essa critica não estamos dizendo que o livro “como ler um texto de filosofia” seja descartável. O mesmo apresenta boas orientações iniciais de como fazermos uma leitura analítica. No entanto é preciso ressaltar, algo que o autor não fez, que não existe receita pronta e acabada para se ler um texto de filosofia tal como o livro sugere. O fato é que a forma mais eficaz de se ler um texto de filosofia é lendo. É lendo que se vai familiarizando com a linguagem filosófica e, por conseguinte se conseguirá compreende-lo e interpreta-lo.

*Trabalho apresentado para disciplina de Leitura e produção de texto cientifico, do primeiro período do curso de Filosofia da UFT.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Assembleia Geral dos Estudantes do Curso de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins e eleições para o CAFIL.

“Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”.
Rosa Luxemburgo

Devido aos questionamentos dos estudantes de filosofia quanto à organização, a falta de esclarecimentos e um processo eleitoral relâmpago – as eleições da nova coordenação do Centro Acadêmico de Filosofia, que deveria ter ocorrido em novembro de 2015, foram canceladas pela então comissão eleitoral. E desde então a coordenação do CAFIL encontra-se em vacância. Prejudicando assim, os estudantes do curso que estão sem representatividade nos fóruns deliberativos da comunidade acadêmica.

Diante deste fato foi convocada uma assembleia geral dos estudantes de filosofia para discussão e encaminhamentos a cerca de alterações no Estatuto do CAFIL bem como para eleição da comissão eleitoral para organização e convocação da eleição para nova coordenação do centro acadêmico.

A assembleia geral aconteceu na ultima segunda-feira (11/04) na sala 202, bloco J, no campus da UFT de Palmas. E contou com a participação de um pouco mais de 30 estudantes do curso de filosofia. E as principais deliberações da assembleia geral foram a cerca de alterações no estatuto do CAFIL criando novas coordenações e a eleição da comissão eleitoral responsável pela realização das eleições.

Alterações no Estatuto do CAFIL

A gestão anterior do centro acadêmico em uma assembleia geral havia criado duas novas coordenações relativas à questão de gênero, sexíssimo e racial. No entanto a ata e a lista de presença de tal assembleia não foram apresentadas, com isso tal alteração tornava-se nula. Diante disso a proposta de criação das duas novas coordenações foi novamente colocada em votação – sendo que 5 estudantes votaram favoravelmente pela criação das novas coordenações e 28 contrários. Por tanto, por ampla maioria os estudantes de filosofia decidiram não fazer nenhuma modificação no Estatuto.

Pelo menos não por enquanto, já que quase por unanimidade foi feito uma avaliação de que o Estatuto do CAFIL precisa de alterações, pois o mesmo é uma copia bastante ruim de outros estatutos. No entanto tais alterações precisam de estudo e de um debate mais aprofundado.

Comissão eleitoral e conselho fiscal

Para comissão eleitoral que ficará responsável por organizar, coordenar e realizar as eleições para o CAFIL foram eleitos por unanimidade os estudantes Caterine Melo, Jânio Sousa e Pedro Ferreira. Sendo que Caterine Melo será a presidente da comissão eleitoral. Além da comissão eleitoral também foi realizada a eleição para o conselho fiscal, composto por seis membros também eleitos por unanimidade.

Eleições para o CAFIL

É de fundamental importância a participação de todos os estudantes do curso de filosofia da Universidade Federal do Tocantins nesse processo eleitoral. Seja diretamente compondo uma chapa para disputar a direção do CAFIL ou através do seu voto escolhendo aqueles que de fato tem maior capacidade de representar todos os estudantes e não apenas seus interesses pessoais.

Nesse sentido aqueles que têm interesse em disputar a direção do centro acadêmico é importante se articular o quanto antes para montar suas chapas. Como também é importante o envolvimento de todos fiscalizando o processo eleitoral e a futura gestão a frente do CAFIL.

Construir um curso de filosofia cada vez mais forte na UFT

Um movimento estudantil forte é fundamental para que consigamos construir um curso de filosofia cada vez mais forte na UFT. Que assuma o papel protagonista e não que fique a reboque de outros cursos. E nesse sentido as eleições para o centro acadêmico se torna importantíssimo. Por tanto é fundamental a participação de todas e todos.

Pedro Ferreira Nunes é estudante de filosofia da Universidade Federal do Tocantins e membro da comissão eleitoral para as eleições do CAFIL. 

O fim da reforma agrária

Ao contrario do que tem noticiado a grande imprensa. O Tribunal de Contas da União não determinou a paralisação do processo de reforma agrária. Até por que a reforma agraria já esta parada há muito tempo, e não por culpa do TCU, mas sim dos governos de plantão que priorizam a agricultura patronal e o agronegócio. O que o TCU determinou foi a paralisação da politica de assentamento de novas famílias sem terra, o que já vem ocorrendo no governo Dilma Rousseff.

Quando comparamos os números de famílias sem terra assentadas nos últimos anos percebemos que o governo Dilma perde até mesmo para o governo de Fernando Collor.  E se formos comparar com os números dos governos FHC e de Lula, Dilma perde de goleada. E não adianta negar, até mesmo movimentos como o MST e a CONTAG que apoiam Dilma, criticam-na quando o assunto é a questão agrária. Sobretudo em relação à criação de novos assentamentos.

Com essa determinação o TCU esta fazendo um grande favor para o governo Dilma Rousseff , pois oficializa algo que já vinha sendo feito na prática, que é a paralisação do assentamentos de famílias sem terra. A justificativa do tribunal de contas da união é de que foi identificado mais de 578 mil beneficiários irregulares. Uma justificativa que não se sustenta. Ora, esse número representa apenas 30% (segundo o TCU) dos beneficiários com lotes da “reforma agrária”. O que quer dizer, portanto que a grande maioria é de pessoas que de fato necessitam. Logo não há por que paralisar todo o projeto prejudicando assim aqueles que honestamente lutam pelo seu pedaço de terra.

Em vez de paralisar o processo de assentamento de famílias sem terra, prejudicando assim aqueles que nada tem haver com a corrupção no INCRA e outros órgãos governamentais. O que deve ser feito é a punição de políticos e servidores públicos envolvidos nessas irregularidades, além da retomada desses lotes e a destinação dos mesmos para as famílias que estão em baixo de barracas de lona nas margens das rodovias esperando serem assentadas.

O que não será feito por este governo que está ai. Governo que não tem nenhum compromisso com o campesinato sem terra. Ao contrário, um governo que tem dado todo o apoio para o avanço do agronegócio no campo. Um governo que tem se caracterizado por uma politica de antirreforma agrária. E que mesmo assim conta com o apoio de movimentos campesinos – que tampam os ouvidos para base e defendem acriticamente um governo neoliberal que se faz de vitima. Mas que nos últimos anos tem se caracterizado por um grande retrocesso em relação aos direitos dos povos do campo.

Mesmo diante de tudo isso. Não declaramos o fim da reforma agrária. E não será por determinação do TCU ou pelo abandono do governo federal que deixaremos de lutar para que os camponeses sem terra possam conseguir o seu tão sonhado pedacinho de chão. Não será por causa de nenhum decreto que deixaremos de seguir entrincheirados lutando pelo fim do latifúndio e pela democratização do acesso a terra neste país. Por fim nos somamos aos milhares que estão nas margens das estradas resistindo bravamente e que inspirados por tantos outros que derramaram seu sangue por esta causa – gritamos: A reforma agrária virá – seja na lei ou na marra.


Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Alguns breves comentários sobre a conjuntura politica


Caros camaradas, vamos para mais uma rodada de breves comentários sobre a conjuntura politica, no melhor estilo punk – breve como um soco no estomago.
Sobre o Impeachment de Dilma Rousseff
Que o governo Dilma Rousseff não tem nenhuma condição de continuar a frente do país acho que não é segredo para ninguém, e ninguém em sana consciência ousa defender o atual governo. Aliás, nem mesmo o PT defende com veemência o governo da presidenta Dilma, como bem aponta os documentos aprovados no ultimo congresso do partido onde fazem duras criticas a politica econômica do governo. Com isso o processo de impeachment contra Dilma parece ser irreversível.
A saída do PMDB do governo Dilma
Sobretudo agora com a saída do PMDB de forma oportunista da base do governo. No entanto esse oportunismo não se revela só agora – em que o partido vislumbra “tomar” o poder. Mas desde que formou a aliança com o PT. Uma aliança que se deu não com base num programa comum de governo, mas na distribuição e ocupação de cargos públicos. Por tanto não é de se admirar que um partido que entrou de forma oportunista nessa aliança, saia da mesma forma.
O governo em desespero
Aliás, o que me causa estranheza é a surpresa de lideres do PT com a saída do PMDB da base do governo. Ora, é muita ingenuidade esperar fidelidade do PMDB. É obvio que isso iria acontecer em algum momento. É obvio que o PMDB pularia do barco quando estivesse afundando. Fez isso em todos os governos anteriores (Sarney, Collor e FHC). Por que agora seria diferente?!
Não vai ter golpe?
Enquanto isso os poucos que ainda defendem o governo Dilma se agarram a essa palavra de ordem. O que mostra que o governo já não tem nenhum argumento para salvar sua pele e tenta se fazer de vitima. Mas a população já não cai nessa. Basta ver as pesquisas que mostram a crescente desaprovação do governo como também o numero de manifestantes nas manifestações de apoio a Dilma e Lula.
O impeachment é a saída?
É fato que Dilma Rousseff não tem nenhuma condição para continuar a frente do governo até 2018. E não adianta se fazer de vitima dizendo que tal processo se trata de golpe ou que é preciso respeitar o voto. Não, isso já não cola mais. Por outro lado não nos iludamos, não será o impeachment de Dilma que resolverá a crise politica e econômica do país. Aliás, se Dilma cair, dá até náuseas pensar quem está na linha sucessória do governo – Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros.
O sujo falando do mal lavado”
O que também me causa náuseas é a comissão que esta responsável por analisar o processo de impeachment de Dilma. Nada mais, nada menos do que 28 deputados envolvidos na operação lava jato. Ora, é fato que com o congresso nacional que temos, com figuras como Eduardo Cunha e Renan Calheiros – não há legitimidade de condenar Dilma pelos crimes que a maioria deles cometeram. A não ser que todos sejam punidos igualmente – todos devem perder seus mandatos sem exceção. Começando pela presidenta e seu vice. E pelos presidentes da câmara e do senado.
Qual a saída então?!
Em uma discussão na Universidade Federal do Tocantins um professor disse que a saída é colocar Lula, FHC e Sarney para sentarem juntos e buscarem uma saída. Não, vocês não leram mal, é isso mesmo. A proposta do professor é conciliação, resolver as coisas por cima – isto é, vamos deixar as coisas como sempre estiveram, como sempre foram. Se não perderemos nossos privilégios. Lembrei-me de uma frase que diz que intelectuais gostam de revolução desde que elas aconteçam bem longe deles.
A saída é à esquerda – unificar a luta do povo trabalhador do campo e da cidade
Ao contrario do professor, acreditamos que a saída é pela esquerda – de baixo para cima e não de cima para baixo. É da capacidade de mobilização e unificação das organizações de luta da classe trabalhadora. Inclusive da capacidade dos trabalhadores que ainda tem ilusão no Lula e no PT de se desfazer dessa influência. É por esse caminho que conseguiremos sair dessa encruzilhada em que estamos.
Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Poeminha para Sophia

Ela Chegou


Ela chegou
As chuvas fecham o verão
A lua fina no céu
Anuncia aproxima estação.

Foi num dia frio de março
Que ela chegou
Os rios estão cheios
Os cajus já “fulorô”.

É tempo de abundância no sertão
O verde invade nosso olhar
Os pássaros em revoada
Cantam alegrando o lugar.

Ela chegou
Numa bela estação
Tranquilizando nosso espirito
Alegrando nosso coração.

Que seja bem vinda então
Como a chuva no sertão
Que chega na hora certa
Pra salvar a plantação.


Pedro Ferreira Nunes
Casa da Maria Lucia. Lajeado do Tocantins.
Lua Crescente, Invernada de 2016.


Sobre a má qualidade do ensino da matemática e as manifestações sociais no ultimo período no Brasil

A educação formal no Brasil está de mal a pior. E como diz a sabedoria popular – Não adianta tapar o sol com uma peneira. Pois de fato a educação brasileira não vai nada bem. Até ai nenhuma novidade. A questão é que parece que a coisa tem piorado assustadoramente. É a essa conclusão que tenho chegado quando assisto o noticiário a cerca das manifestações que tem tomado conta do país no ultimo período tanto contra como a favor do governo Dilma Rousseff.

Não, não estou falando isso por causa dos cartazes pedindo a volta da ditadura militar e outros tantos exemplos de uma total falta de conhecimento da história do país. Ou na mediocridade que se tornou o debate politico que mais parece briga de torcedores de times de futebol. A questão é ainda mais catastrófica – vamos a ela.

Não é nenhuma novidade que na educação formal o ensino das ciências exatas, especialmente da matemática, é um dos principais gargalos. Basta ver as notas do ENEM – onde as notas mais baixas são justamente nos conteúdos das disciplinas de ciências exatas. Uma das explicações para essa questão é de que a maioria dos professores que ministram matemática nas escolas públicas, sobretudo, não são formados na área.

Talvez ai esteja a explicação para a demonstração da pouca habilidade com a matemática que policiais, movimentos sociais e meios de comunicação tem nos revelado na discussão sobre o numero de participantes nas manifestações tanto contra como a favor do governo. O que me espanta, sobretudo é a disparidade dos números apontados pelos atores envolvidos – por exemplo, em uma manifestação em Goiânia os manifestantes disseram que havia 5 mil pessoas, já a policia disse que era apenas 500 pessoas. Em São Paulo certa vez a policia dizia que havia 500 mil pessoas, os manifestantes calculavam 1 milhão.

Ora, isso só pode ser reflexo de uma coisa – esses caras são péssimos em matemática, são péssimos em calculo e estatística. Que haja diferença entre o numero de participantes apresentado por policiais e manifestantes é razoável. Até por que é impossível calcular exatamente o numero de pessoas nessas manifestações. Pelo menos por enquanto, pode ser que de uma hora para outra inventam um aparelho para fazer essa medição. O fato é que não dá para aceitar uma disparidade tão grande entre o numero apresentado pelos policiais e o numero apresentado pelos manifestantes. Uma coisa é certa, alguém errou e errou feio.

O pior é que no noticiário a discussão sobre o numero de manifestantes muitas vezes torna-se mais importante do que o motivo pelo qual as pessoas estavam manifestando. Ai você meu caro camarada, que esta perdendo seu tempo lendo essa conversa sem pé e nem cabeça me pergunta – Do que esse maluco tá falando? Qual o sentido disso? Não se zangue comigo camarada – “a revolução não será televisionada”.E no final das contas, você há de reconhecer que tenho alguma razão ou não né?!

Pedro Ferreira Nunes é poeta e escritor popular tocantinense.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Breve reflexão sobre o Serviço Social nos hospitais públicos do Tocantins

“O Serviço Social tem na questão social a base de sua fundamentação enquanto especialização do trabalho. Nessa perspectiva, a atuação profissional deve estar pautada em uma proposta que vise o enfrentamento das expressões da questão social que repercutem nos diversos níveis de complexidade da saúde, desde a atenção básica até os serviços que se organizam a partir de ações de média e alta densidade tecnológica”. (CFESS, 2009).

Qual o papel do serviço social nos hospitais públicos do Tocantins? Buscar garantir que os usuários do sistema único de saúde tenham um atendimento decente ou ignorar apoio a estes usuários quando eles mais precisam?Omitindo-se ou assumindo uma postura submissa diante do total descaso com a saúde pública no Tocantins?

Não são raras as reclamações dos usuários do SUS com a falta de atendimento de qualidade nos hospitais tocantinenses – não há médicos suficientes, não há enfermeiros, não há materiais, não há infraestrutura.Se o paciente espera por um tratamento mais complexo é bom que tenha paciência ou condições para buscar tratamento no serviço privado. Lógico que para tanto é preciso tirar dinheiro de onde não tem.

Ora, e o que o serviço social tem haver com isso? Sim, de fato o serviço social não tem responsabilidade com o descaso dos governos de plantão com a política de saúde pública (seja a nível federal, estadual e municipal). No entanto isso tem que ficar claro. Os assistentes sociais não podem se omitir ou assumir uma postura submissa diante dessa realidade. Não é papel dos assistentes sociais que trabalham nos hospitais públicos do Tocantins ficar justificando e acobertando a incompetência do governo. Ou pior ainda, ignorar os usuários do serviço social no SUS quando estes procuram auxilio.

E por que isso acontece? Infelizmente é por que falta autonomia para os profissionais do serviço social que atuam no serviço público. Especialmente na área da saúde. Tal realidade é ainda mais cruel no Tocantins onde grande parte dos assistentes sociais que atuam nessa área é de contratados. A formação acadêmica é deficitária e o conselho regional de Serviço Social é pouco atuante.

Diante disso não é de se admirar a visão negativa que os usuários do sistema único de saúde têm em relação ao papel do serviço social nos hospitais públicos. É como se esse não existisse, pois não cumpri a sua função primordial que é de orientar os usuários a cerca dos seus direitos como também acompanhá-los na busca pela garantia dos mesmos.

Frequentamos o Hospital Regional de Miracema por quase um mês e nesse período pudemos conferir na prática como funciona o serviço social naquela unidade de saúde. Na verdade o que acompanhamos foi à posição submissa do serviço social – a total falta de autonomia na defesa dos direitos dos usuários do SUS. Submissão que não é apenas em relação ao governo, como também aos outros profissionais que atuam nos hospitais, como médicos, psicólogos e até enfermeiros.

Ora, o assistente social não pode abrir mão de exercer o seu papel, não pode ter medo de enfrentar quem quer que seja para que o usuário tenha o seu atendimento garantido.  Não é o nosso objetivo colocar um profissional contra o outro, mas é inaceitável qualquer relação de submissão entre estes profissionais, que devem atuar conjuntamente com o objetivo de prestar um bom atendimento aos pacientes.

Outra questão é a interferência direta de parlamentares e de lideranças ligadas ao partido que esta no governo no encaminhamento de pacientes para realização de exames e cirurgias. Função que deveria ser do assistente social que acompanha ou deveria acompanhar no dia a dia a necessidade de cada paciente. E não de terceiros que não conhecem a realidade.

Infelizmente esse quadro não é a realidade apenas do serviço social no hospital regional de Miracema, tal situação é ainda mais latente no hospital geral de Palmas e no Materno Infantil. Onde tivemos a oportunidade de conversar com pacientes que nos relataram um quadro não muito diferente da que presenciamos em Miracema. Um quadro que pode ser facilmente comprovado a partir de uma pesquisa com assistentes sociais e usuários dos serviços sociais nos hospitais públicos do Tocantins.

Eis ai um desafio para os pesquisadores do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Tocantins. Elaborar uma pesquisa que aponte a realidade do Serviço Social no sistema público de saúde do estado. É inaceitável que o principal curso de formação de profissionais do serviço social no Tocantins não levante essa bandeira.

É também necessário um Conselho Regional de Serviço social mais atuante, que não se omite e lute pelos direitos desses profissionais, para que possam exercer o seu papel com autonomia. Sem qualquer perseguição ou ameaça por parte do poder público. Nesse sentido é fundamental a reivindicação de um concurso público para substituir os contratos.

Aos assistentes sociais cabe se mobilizar e lutar por melhores condições de trabalho, não aceitando qualquer tipo de imposição ou usurpação do seu papel. E nesse sentido os usuários do serviço social não devem ser visto como “inimigos”, mas sim como aliados. Pois no final das contas o serviço social existe para servir os usuários que dele necessita.

Por fim, que todos nós que lutamos por um serviço social de luta, compromissado no seu projeto histórico com os interesses da classe trabalhadora. Possamos nos mobilizar e lutar para que o serviço social possa ser reconhecido e respeitado tanto pelos usuários, pelos demais profissionais e é claro, pelos governos de plantão.

“O assistente social pode dispor de um discurso de compromisso ético-político com a população, mas se não tiver uma análise das condições concretas pode reeditar programas e projetos alheios às necessidades dos usuários. O profissional precisa romper com a prática rotineira, acrítica e burocrática, procurando buscar a investigação da realidade a que estão submetidos os usuários dos serviços de saúde e a reorganização da sua atuação, tendo em vista as condições de vida dos mesmos e os referenciais teóricos e políticos hegemônicos na profissão, previstos na sua legislação, e no projeto de Reforma Sanitária”. (CFESS, 2009).


Pedro Ferreira Nunes é educador popular, cursou a faculdade de Serviço Social da Universidade Norte do Paraná e atualmente cursa filosofia na Universidade Federal do Tocantins.