terça-feira, 6 de dezembro de 2016

NÃO A UHE MONTE SANTO! NÃO AO HIDRONEGOCIO! PELO FIM DA DESTRUIÇÃO DO RIO TOCANTINS E SEUS AFLUENTES!


Esta em curso mais um projeto de construção de uma Usina Hidrelétrica no Tocantins que impactará diretamente as comunidades tradicionais e o bioma da região. Trata-se da UHE Monte Santo um empreendimento que pretendem implementar no Rio do Sono, na cidade do Novo Acordo. O projeto encontra-se na fase de licenciamento ambiental que esta sendo conduzido pelo Naturatins.

A UHE Monte Santo é mais uma expressão do modelo de desenvolvimento que está em curso há vários anos no Tocantins. Um modelo de desenvolvimento baseado na destruição do patrimônio histórico, cultural e ambiental. E uma das vertentes desse modelo é o chamado hidronegócio – produção de energia para comercializar e não para atender a necessidade da população. Partindo dessa logica o que importa é o lucro e não os impactos socioambientais desses empreendimentos. Como exemplo, podemos citar a UHE Luiz Eduardo Magalhães (Lajeado) e a UHE Peixe Angical (Peixe).

O legado do hidronégocio no Tocantins

Água para vida ou para o lucro? Para o hidronégocio não há duvida – para o lucro. E os empreendimentos hidrelétricos construídos no Tocantins estão a serviço do lucro e não da vida. Basta ver o rastro de destruição ambiental e os impactos sociais que ficaram de legado para população atingida pela construção das UHE Luiz Eduardo Magalhães e Peixe Angical. O progresso prometido só deixou rastro de destruição, como por exemplo, diversas vezes os noticiários nacionais repercutiram a mortandade de peixes no rio Tocantins em decorrência da operacionalização das UHEs. Centenas de famílias tiveram que deixar suas terras e foram assentadas em terras inférteis, a produção nas vazantes do rio acabaram prejudicando a produção de alimentos na região – e se quer esses pequenos camponeses foram indenizados. A cada ano a quantidade de peixe diminui como também a diversidade de espécies. O que também tem diminuído é o volume de água do rio Tocantins, chegando ao ponto de quase se conseguir atravessar caminhando o trecho entre Miracema e Tocantinia.

UHE no Rio do Sono também afetará o Rio Tocantins

O Rio do Sono é o maior rio localizado inteiramente no território tocantinense. E que deságua no Rio Tocantins na altura do município de Pedro Afonso. Logo, se construído uma UHE no Rio do Sono, o Rio Tocantins também será impactado. E a situação critica do principal rio que banha o Estado tende a piorar. O que vemos, portanto é que após destruírem o principal rio do Estado – o rio Tocantins, agora querem destruir o segundo mais importante – o rio do Sono. E se a população não se mobilizar para dar um basta nesse modelo de desenvolvimento os rios do Tocantins continuaram sendo destruídos por essa burguesia agrária que governa o Estado.

Progresso e Desenvolvimento para quem?

Que progresso é esse que para existir precisa destruir o patrimônio histórico, cultural e ambiental? É a ordem capitalista que avança interior adentro. E que em busca de lucros exorbitantes não pensa duas vezes em destruir o patrimônio local. Esse é o progresso que defende os empreendedores e os defensores da UHE Monte Santo. Progresso que não serve aos indígenas, aos quilombolas, aos ribeirinhos e nem a maioria da população. Progresso que gera lucros para as elites enquanto migalhas são jogadas para o resto da população. Já sobre o desenvolvimento prometido basta ver a realidade dos municípios onde foram construídas a UHE Luiz Eduardo Magalhães e Peixe Angical – pouca coisa mudou a não ser os casos de corrupção que pipocam a cada dia e também o aumento da criminalidade e da pobreza. Os serviços públicos são precários e o desemprego expulsa anualmente centenas de pessoas de sua terra natal. Além de tudo isso a responsabilidade social com a comunidade por parte dos empreendedores é nula. Por exemplo, no município de Lajeado, não existe nenhum projeto de educação ambiental patrocinado pela multinacional portuguesa (EDP/Investco) que hoje controla a UHE Luiz Eduardo Magalhães.

População de Novo Acordo se Mobiliza contra a UHE Monte Santo

Ao contrario de anos atrás, sobretudo, quando da construção da UHE Luiz Eduardo Magalhães no município de Lajeado – que a hidrelétrica foi enfiada goela abaixo da população sem nenhuma resistência. Sobretudo pela falta de informação dos impactos socioambientais que atingiriam a região. A realidade agora é outra – o que ficou latente na audiência realizado pelo Naturatins no ultimo dia 23 de novembro em Novo Acordo. Que contou com uma grande participação popular – a população se mostrou bastante preocupada com os impactos da construção da UHE Monte Santo. O que é de extrema importância, pois só a mobilização popular pode barrar esse projeto. Nesse sentido não podemos ter nenhuma duvida quanto ao papel do Naturatins nesse processo. Pois o Naturatins no Tocantins existe justamente para homologar os interesses das elites agrárias e correr atrás de pescador – logo, se a população na se mobilizar, o Naturatins vai com certeza liberar a licença ambiental para construção da UHE Monte Santo.

Abaixo-assinado contra a UHE Monte Santo

E a população da região esta mostrando que vai ter mobilização e resistência. Foi nesse intuito que o abaixo-assinado contra a UHE Monte Santo foi criado. Abaixo-assinado para o NATURATINS, IBAMA, Governo Estadual, Governo Federal e Supremo Tribunal Federal. A população contraria a UHE Monte Santo denuncia: “A construção da UHE Monte Santo ocasionará muitos malefícios ao ecossistema, a população ribeirinha local e todos atingidos diretos e indiretamente pela edificação da usina prevista para ser construída no Rio do Sono”.

O texto do abaixo-assinado chama atenção para o fato de que a região faz parte do Jalapão que é um importante patrimônio brasileiro e também para os impactos socioambientais – tanto na flora e na fauna como também no modo de vida dos ribeirinhos. Por fim, denunciam o estudo realizado pela empresa que fez a consultoria ambiental: “Consideramos que o estudo apresentado pela empresa que fez a consultoria ambiental não apresenta de forma integral as características que fundamentam a obra”. O que não nos surpreende, pois essas empresas servem na verdade para maquiar a realidade. O que eles mostram não passa nem perto do que de fato ocorrerá. Diante disso nós do Coletivo José Porfírio nos somamos aos que se colocam contra esse empreendimento, bem como conclamamos a todo o povo tocantinense a se somar a essa luta. Luta que não é apenas daqueles que serão impactados diretamente. Mas de todos os tocantinenses que não concordam com esse modelo de desenvolvimento que coloca o lucro acima da vida. Por fim convocamos a todos a assinarem o abaixo-assinado e a compartilha-lo amplamente. Enviem mensagens contrarias a construção da UHE Monte Santo para os órgãos de fiscalização ambiental para que não liberem a licença ambiental e para os governos. Vamos todas e todos gritar juntos – Não a UHE Monte Santo! Água para vida, não para o lucro! 

Acesse o abaixo-assinado no link: http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR96097 

Pedro Ferreira Nunes

Coletivo José Porfírio

Lajeado-TO, Lua Nova. Inverno de 2016.

Pescador

Tem sua politica:

A vara e a isca.

O peixe

Tem sua boca

Para cuspi-la”.

Dom Pedro Casaldáliga



quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Poema em homenagem ao comandante Fidel Castro

Ao Comandante Fidel Castro

Eu confesso
Chorei
Chorei ao saber
Que tu se foi.


 Chorei como
Se tivesse perdido
Um pai, um irmão, um amigo.


Eu chorei
Confesso
Ao ler o comunicado
Da tua partida camarada.
Foi como tivesse levado uma facada
Como se uma parte de mim fosse arrancada.


Sei que merece repousar
Dessa longa caminhada
E que de onde estiver
Continuará a nos guiar.
Pois tua marca indelével
Já mais irá se apagar.

Mas é difícil saber
Que tu se foi camarada
Mesmo sabendo que uma hora
Essa hora ia chegar.
Tento não chorar
Mas não dá pra segurar.


Dizem: - Morreu o ultimo revolucionário!
À esquerda esta acabada.


Besteira, baboseira
Dos que se apressam a apagar.
A apagar
O que não pode ser apagado.
A enterrar
O que não pode ser enterrado.
A exterminar
O que não pode ser exterminado.


Foste um grande homem
Que errou e acertou
Pois sendo humano
Como poderia não errar?


Mas os acertos foram maiores
Por isso é tão amado
E também odiado.


E quando vemos
Quem comemora sua morte
E os que lamentam.
Vemos que trilhaste
Pela senda verdadeira.


Os tempos estão difíceis
Comandante
Para nós revolucionários.
Que teu exemplo nos guie.


Será mais uma estrela no céu
Ao lado do Che, do Camilo e do Almeida
Agora e sempre
Sempre a brilhar.


Aqui continuaremos
Pois é preciso continuar
Guiados por teu exemplo
A história nos absorverá.

Pedro Ferreira Nunes
Casa da Maria Lucia. Lajeado-TO, Lua Minguante, Inverno de 2016.

Assista ao vídeo do poema declamado: https://www.youtube.com/watch?v=JqojyxtoRfU&feature=youtu.be

Intolerância Religiosa: O Papel da Educação no Processo de Desconstrução da Visão Hegemônica a Cerca das Religiões Afro-Brasileiras.

Adriana C. Bezerra, Francisco Laércio A. de Holanda,
Pedro F. Nunes e Wesley S. da Silva.

Introdução

Quando falamos em intolerância religiosa é inegável que os adeptos das religiões de matrizes africanas são os que mais sofrem violência no Brasil. Por exemplo, levantamento realizado pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR) aponta que mais de 70% de casos de ofensas, abusos e atos violentos registrados no Estado entre 2012 e 2015 são contra praticantes de religiões de matrizes africanas. No Tocantins essa realidade não é muito diferente, foi o que sentimos na visita a dona Romana em Natividade – que nos relatou casos de intolerância partindo da própria família – como, por exemplo, o afastamento de seus irmãos que não concordam com sua crença. Já no Brasil os casos de intolerância religiosa contra religiões de matrizes africanas são rotineiros e não raramente descabam para violência. No entanto o levantamento desses dados ainda é muito deficitário. Diante desse problema, nosso objetivo nesse breve artigo é refletir como a educação pode contribuir para descontruir a visão hegemônica racista e preconceituosa em torno das religiões de matrizes africanas. Para tanto nos utilizaremos do artigo “Religiões afro-brasileiras e violência” da Professora Drª em Teologia Irene Dias de Oliveira e outros trabalhos.

Religiões afro-brasileiras e violência

É inegável a hegemonia do cristianismo na sociedade ocidental. Tal hegemonia se construiu em torno de uma concepção de que “o Cristianismo era a única religião verdadeira e superior ás demais”. (Oliveira, 2011; 16) No entanto essa concepção de dona da verdade e de superioridade não é exclusiva do Cristianismo, encontramos essa afirmação em religiões como o Judaísmo e o Islamismo. Tal fato mostra segundo Oliveira (2011) “o espirito de intolerância, de absolutismo, de exclusivismo e da certeza de que cada uma, a seu modo, é detentora exclusiva da verdade”. E é a partir dessa concepção que percebemos uma legitimação da violência contra aqueles que não seguem determinados dogmas. Não são poucos os exemplos na história que aponta guerras em nome de deus. Aliás, na América Latina, Deus foi utilizado para justificar a catequização dos índios e a escravidão dos negros. Violência que persiste nos dias atuais, por exemplo, na invasão de templos neopentecostais nas aldeias indígenas e na satanização de religiões de matrizes africanas. Nessa linha Oliveira (2011) ressalta que a violência que os praticantes dessas religiões sofrem é, sobretudo, uma violência simbólica. E ainda que “a violência destrói não só o corpo, mas o espirito também”. E essa violência não é contra uma religião simplesmente ela se desdobra para o “não reconhecimento da alteridade, das diferenças e da desvalorização dos direitos individuais, sociais, civis culturais e econômicos de uma etnia”. (Oliveira, 2011; 18). É por isso que é visto como um insulto à utilização de um símbolo cristão em determinados ambientes, como por exemplo, numa parada gay, já a utilização de um termo preconceituoso como “chuta que é macumba” é visto com normalidade.
Não há como falar em intolerância religiosa no Brasil e não falar da situação do negro na nossa sociedade. O negro ao longo da nossa história não era visto como um ser humano, mas sim como um animal, logo tudo que vem de um ser inferior não presta. Nessa linha Oliveira (2011) destaca que “a tese escravagista entendia que os negros eram desprovidos de inteligência e que não possuíam alma. De outro lado, com a abolição os negros foram condenados à imobilidade social, travando as possibilidades educacionais e econômicas e trazendo prejuízos acumulados ao longo do milênio”. Diante dessa afirmação é necessário apontar a contribuição das ciências, em especial da antropologia nos seus primórdios, na defesa e promoção dessa tese. Toda essa negação do negro como cidadão ao longo de nossa história tem seus resquícios até os dias atuais. “... Sabemos que a “invisibilidade” não é reconhecida nem discutida. A história narrada na escola é branca, a inteligência e a beleza mostradas pela mídia também o são, os cultos religiosos são frequentados pela maioria branca”. (Oliveira, 2011; 18). Por mais que se negue, e ressalvado pequenos avanços é inegável que vivemos sobre uma ditadura branca – fundamentada numa concepção eurocêntrica da sociedade. Onde a família tradicional, a mídia, a escola e a religião desempenham um papel central. Se fosse diferente por que então uma politica de cotas? A politica de cotas, que diga se de passagem sofre bastantes ataques por parte das elites brancas, é justamente a prova de que não existe igualdade na sociedade. E não é raro á utilização de princípios religiosos para justificação do desrespeito as diferenças e a intolerância. E o que resulta dai é claramente um processo de discriminação, o racismo e o preconceito. Segundo Oliveira (2011) “o preconceito e o racismo são, portanto, atitudes ou modo de ver certas pessoas ou grupos raciais, enquanto a discriminação é a ação ou o comportamento que prejudica as pessoas”. O povo negro não só sofre com o racismo e o preconceito na nossa sociedade, como também, e como consequência disso sofre com a discriminação. Isto é, tudo aquilo que vem da cultura negra não é valorizado e muito menos respeitado. Pelo contrário, busca-se exterminar para que não influencie negativamente o modelo hegemônico fundamentado numa sociedade de brancos e para brancos.
Ora, mas justamente a religião que prega a salvação e a paz, o amor e a harmonia utiliza-se da violência para se impor. E tal imposição não é característica apenas do Cristianismo, não nos esqueçamos dos horrores que o Estado Islâmico tem feito no Iraque e na Síria. E o que os seus aliados tem feito no continente Africano. Segundo Oliveira (2011) a impressão muitas vezes é de que as religiões só conseguem impor-se fazendo uma lavagem cerebral no convertido – desenraizando-o de seu universo familiar, cultural e religioso. Sendo assim nos somamos a Oliveira (2011) nos questionando a cerca do papel da religião – se como algo que mantem ou que busca erradicar a alteridade. Diante dos exemplos acima concluímos que na realidade as religiões não estão preocupadas com a alteridade. E tal fato se reflete no aumento de casos de intolerância religiosa não só no Brasil como em todo o mundo. Intolerância que se concretiza não apenas através da violência simbólica, mas também através da violência explicita como apedrejamento, decapitação e destruição de templos. Nesse sentido é necessário avançarmos para uma compreensão de que “as diferenças, longe de constituírem motivo para a discriminação, à violência e a exclusão, são motivo de riqueza, de aprendizagem de novos saberes, de troca de experiência e nos conduzem cada vez mais para a abertura e o acolhimento do “desconhecido”, do diferente, eliminando, assim, as barreira que nos tornam intolerantes e nos levam a ver no diferente um inimigo contra o qual lutar e manter distância”. (Oliveira, 2011; 22). Mas isso só será possível se as religiões em vez de negar a alteridade – buscar a sua manutenção. E não só no discurso como temos visto no último período por parte da Igreja Católica, mas através de ações concretas.

O Papel da Educação no Processo de Desconstrução da Visão Hegemônica a Cerca das Religiões Afro-Brasileiras.

No Brasil não dá para negar a visão hegemônica cristã que se afirma como a verdadeira e superior às demais. Visão que descamba para um processo de intolerância contra todas as demais, porém são as religiões de matrizes africanas que mais sofrem com os preconceitos e discriminações advinda dessa hegemonia crista. E tal fato ocorre não apenas pelo principio religioso como também por uma questão politica. Por isso é ainda mais difícil descontruir através da educação essa visão hegemônica a cerca das religiões Afro-brasileira. Pois a escola muitas vezes reproduz a violência simbólica que vemos na sociedade. Os filósofos franceses Bordieu e Passeron desenvolvem o conceito de violência simbólica. Sendo que para estes pensadores “a escola não exerce necessariamente a violência física, mas sim a violência simbólica, mediante forças simbólicas, ou seja, pela doutrinação que força as pessoas a pensarem e agirem de determinada forma, sem perceberem que legitimam com isso a ordem vigente”. (Aranha, 1993; 41).
O problema da escola na nossa sociedade não é nem tanto o que se ensina, mas, sobretudo o que se omite, por exemplo, em relação à situação do racismo, do preconceito e da discriminação – e esse silêncio contribui para intolerância. Logo se faz necessário superar esse modelo de escola que apenas reproduz a visão hegemônica – o que só será possível com a superação do modelo de sociedade vigente. Por isso que a luta por uma educação transformadora e não dogmática deve ser feita conjuntamente com a luta pela superação da sociedade capitalista. E essa luta contra hegemônica perpassa pela desconstrução do racismo, do preconceito e da discriminação que atinge, sobretudo, a população afrodescendente e a sua cultura. Uma luta que deve ser travada no cotidiano, pois não devemos abrir mão da alteridade nas nossas praticas pedagógicas. Pois uma educação que discriminação não é educação, mas uma aberração que não pode ser de forma alguma aceita com normalidade.

Referências Bibliográficas
Aranha, Maria Lucia de Arruda. Filosofando: Introdução à filosofia. 2. Ed. rev. atual. –São Paulo: Moderna, 1993.
Oliveira, Irene Dias de. Religiões Afro-brasileiras e Violência. Ciberteologia – Revista de Teologia & Cultura – Ano VII, n.35. 2011.

Puff, Jefferson. Por que as religiões de matriz africana são principal alvo de intolerância no Brasil? Disponível em bbc.com. Acesso em: 20 de Outubro de 2016.
*Trabalho apresentado à disciplina de Antropologia Cultural, do curso de Filosofia e Teatro da Universidade Federal do Tocantins. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

RESENHA: Nem tudo é relativo – A questão da verdade. De Hilton Japiassu.



“Uma vida sem interrogação e sem paixão não merece ser vivida.”
Hilton Japiassu

O maranhense de Carolina Hilton Japiassu, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), licenciado em filosofia pela PUC/RJ, com mestrado e doutorado em Grenoble na França. E com estudos avançados na área de epistemologia em Estrasburgo também na França. Dedica-se desde 1968 ao estudo da epistemologia área na qual é uma autoridade reconhecida internacionalmente. Influenciado por Jean Piaget e Barchelard. Já escreveu diversos livros, entre eles: Nascimento e Morte das Ciências Humanas, Introdução ao Pensamento Epistemológico, Introdução a Ciências Humanas, Um Desafio da Filosofia, Interdisciplinaridade e patologia do saber entre outros.

Em “Nem tudo é relativo – A questão da verdade”, Hilton Japiassu tece uma critica veemente ao relativismo e os defensores de tal teoria que tem crescido vertiginosamente no último período. Especialmente, após a década de 1970 com a derrocada das ideias de esquerda e a consolidação da hegemonia neoliberal.
Com uma linguagem objetiva e clara, uma defesa apaixonante das ciências, do universalismo e da razão, claro, sem deixar de apontar alguns problemas que deve ser superado pelo conhecimento científico, especialmente o ocidental. Japiassu denuncia o risco do pensamento relativista e o dogmatismo a que isso pode nos levar. Sem abrir mão da polêmica e de uma critica consciente e consequente, aliás, o que segundo ele deve ser o papel de todo intelectual – não aceitar a naturalização das coisas, pois se não acabamos nos tornando justificadores da ordem estabelecida e nos somando aqueles que querem enterrar os conflitos sociais e politico – o que caracteriza a conjuntura atual. Partindo dai Japiassu faz uma forte critica a sociedade atual marcada por um conformismo generalizado e por sujeitos passivos (teleconsumidores). Como também por uma arte modernista de museu, que cultua o vazio politico e onde “os filósofos de televisão” buscam dá sentido ao insignificante

Em Nem tudo é relativo – A questão da Verdade. Japiassu também irá abordar a disputa entre racionalistas e relativistas, apontando as contradições do discurso de ambos. Pois mesmo sendo um defensor do racionalismo Japiassu não deixa de reconhecer alguns problemas que devem ser superados por esse pensamento. No entanto é no relativismo, como aponta o próprio nome do seu livro, que ele descarrega sua metralhadora giratória de criticas.

No primeiro capitulo do livro Hilton Japiassu mostra a onda relativista identificada como o pensamento pós-moderno – que se caracteriza pela negação da universalidade, da ciência com um conhecimento universalmente valido, e a verdade sendo reduzida ao que se ajusta ao dado sistema de crenças. Segundo o pensamento relativista nem a lógica nem a evidência desempenham um papel importante na construção do conhecimento. Dai que para Japiassu o relativismo deve ser entendido como determinismo social. O autor aponta que até 1970 a critica dos relativistas era em cima da ideologia dominante, dai para frente voltou-se para ciências. E dai surge a posição relativista de que a universalidade das ciências é uma ilusão – o que Japiassu vai refutar com veemência – questionando a questão da neutralidade absoluta, da negação da razão, e da ditadura da razão.  Japiassu alerta os riscos tanto do relativismo positivista baseado na tradição de Augusto Comte como do relativismo perspectivista dos Nietzchenianos, aliás, o relativismo perspectivista acaba desembocando no niilismo. Dai que para Japiassu não dá para pegar o pensamento relativista totalmente como verdadeiro, especialmente o que afirma que a ciências deve ser considerada como um conto de fadas. 

Hilton Japiassu não faz uma defesa cega das ciências. Muito pelo contrario, ele aponta com clareza os seus limites. No entanto para ele só pode haver ciência racional e só pode haver razão universal – o que confronta com as afirmações relativistas.

No segundo capitulo do livro “Nem tudo é relativo – a questão da verdade”. Hilton Japiassu vai abordar “o relativismo em questão”. Onde ele começa reconhecendo o fato de que o pensamento relativista nos ajuda a romper com o velho racionalismo. O qual ele ver como um problema para a busca da verdade. Japiassu afirma que não há como relativizar a razão sem racionalizar a relatividade. Logo para ele falta ao relativismo um pouco mais de ceticismo. Partindo desse pressuposto Japiassu vai apontar oito pontos que deve ser pensados para superarmos tanto o relativismo como o velho racionalismo;

1-      O risco do cientificismo que busca converter a ciência numa religião;
2-      A racionalidade cientifica precisa se tornar critica e autocritica;
3-      A necessidade de confrontar-se com outras culturas;
4-      Superar a ideia de que o racionalismo ocidental é o racionalismo universal;
5-      A necessidade de superar o relativismo cultural;
6-      Afirmar o relativismo como uma teoria intolerante;
7-      Não aceitar e fazer a critica ao etnocentrismo;
8-      Ao negar o eurocentrismo e o etnocentrismo tomar cuidado para não cair no relativismo irracionalista.

Em Nem tudo é relativo – A questão da verdade. Japiassu abordará a necessidade de se fazer uma critica consciente e bem fundamentada. Não se pode rejeitar, mas também não se pode aceitar tudo. É preciso ter autocritica. Nesse sentido Japiassu vai concluir seu livro descarregando uma artilharia de critica ao relativismo quando este tem por fim cair no ceticismo, que acaba por rotular erroneamente as diferenças entre ocidente e oriente e acaba caminhando para o irracionalismo – um caminho que pode levar a justificação de dogmatismos. Para Japiassu não dá para aceitar a fabula de uma sociedade sem conflitos defendida pelos relativistas. O autor de Nem tudo é relativo – a questão da verdade deixa claro que sem criticas a sociedade não evolui. Para os relativistas, segundo Japiassu, numa sociedade não há espaço para contestadores, logo pode se afirmar que os relativistas são conformistas, e os indivíduos em tal sociedade são privatizados. O que é contestado com veemência pelo autor.  Por fim para Japiassu não é aceitável a negação da universalidade pelos relativistas. Pois é fato que algumas coisas nos transcendem independente de nossas crenças e cultura. Logo para ele a aceitação do universal esta na afirmação do que o outro não nos é estranho logo é possível à comunicação.

Podemos classificar o livro Nem tudo é relativo – a questão da verdade, de Hilton Japiassu como um manifesto, uma apaixonante defesa da razão, da racionalidade, da ciência e do conhecimento cientifico. É um livro corajoso, que não tem medo de criticar, de polemizar, de buscar dialogo sem abrir mão de suas posições, que, diga-se de passagem, estão bem fundamentadas. Tal obra precisa ser reverenciada especialmente em um período onde aqueles que ousam levantar a voz contra a ordem estabelecida, contra o status cos são simbolicamente violentados. Diante da exposição empolgante de Hilton Japiassu em Nem tudo é relativo – a questão da verdade. Devemos nos perguntar a que serve tal teoria? Uma teoria que rejeita a critica, os conflitos sociais e prega a existência de uma sociedade perfeita. Que privatiza o individuo e nega completamente o conhecimento cientifico. Não neguemos algumas contribuições desse pensamento pós-moderno, mas não nos deixemos enganar – nem tudo é relativo.

Esse debate colocado por Hilton Japiassu neste livro deve ser travado, não só no âmbito da academia, mas na sociedade como um todo. Aliás, é um erro que vem sendo cometido no ultimo período pelos intelectuais, não transpor os debates para além dos muros da universidade, a forma acessível da escrita de Japiassu contribui para que mais pessoas tenham acesso a esta discussão. E no período de crise que vivemos é fundamental travarmos tal debate. 

“Uma vida sem interrogação e sem paixão não merece ser vivida” – essa frase emblemática escrita por Japiassu na introdução do seu livro fala por si mesma. Mesmo em uma conjuntura difícil, onde a mediocridade permeia todos os campos da sociedade – seja na politica, na economia, na cultura. Não podemos abrir mão de exercer o nosso papel de questionar, de criticar, de subverter a ordem estabelecida. Pois como escreveu o grande poeta alemão Bertold Brecht – não aceiteis o que é de habito como natural, pois nada é impossível de mudar.

Pedro Ferreira Nunes – Estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins

Referência Bibliográfica

JAPIASSU, HILTON. Nem Tudo é Relativo – A Questão da Verdade – São Paulo: Editora Letras & Letras, 2000.


*Trabalho apresentado à disciplina de Leitura e Produção de Textos Científicos. Do Curso de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. Revisado para o blog “Das barrancas do Rio Tocantins”.

Acesse o documento em pdf no link: https://drive.google.com/drive/my-drive 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Crônicas da UFT: Que fazer?!


Não, esse texto não se trata de uma resenha a cerca do celebre livro “Que fazer” do grande Lênin. Mas em tempos como esses que a esquerda brasileira ou o que sobrou dela esta batendo cabeça sem saber o que fazer, não deixa de ser recomendável a leitura desse clássico do marxismo-leninismo. Como também pelo fato de que recentemente comemoramos os 99 anos da revolução de outubro e agora caminhamos para comemorar os 100 anos – uma data que deve servir para fazermos um profundo balanço da luta proletária e camponesa desde então – os avanços e retrocessos. Mas voltemos ao nosso objetivo principal falar do debate sobre a politica de formação de professores de Artes e Filosofia no âmbito da MP 746/2016 que ocorreu na IV Semana Intercursos de Filosofia, Teatro e Pedagogia da UFT – Campus de Palmas.

O que fazer foi a principal questão que surgiu após a fala dos Professores João Cardoso P. Filho (UNESP), Alessandro Rodrigues Pimenta (UFT) e Marcelo Rythowem (IFTO). Sobretudo pelo fato que não houve desacordo com a analise apresentada a cerca da nocividade da MP 746/2016. Não há duvidas como bem salientou o Professor João Cardoso de que se trata de uma ponte de volta ao passado e não ao futuro como dizem os defensores da reforma. Aliás, Cardoso alertou que o objetivo do atual governo é gastar o menos possível com a educação e nesse sentido a reforma do ensino médio esta intimamente ligada com a PEC 55 que congela os gastos públicos. O professor Alessandro Rodrigues afirmou que as conquistas obtidas a partir de 2008 que conseguiu que a filosofia se tornasse disciplina obrigatória no ensino médio esta em risco, e com isso se aprovada a politica de formação de professores será impactada imediatamente. Rodrigues ressaltou muito bem ao dizer que as mudanças na educação pública vêm ocorrendo desde a década de 1990, o atual governo com a MP da reforma do ensino médio esta apenas aprofundando essas reformas. Seguindo assim a cartilha do Banco Mundial e da UNESCO – é a logica mercadológica que inclusive vemos nas universidades. E qual o papel da Universidade Pública? Ser um espaço de busca do conhecimento ou de formação de mão de obra qualificada para o mercado? Questionou Rodrigues. Já o professor Marcelo Rythowem destacou que a politica de permanência na Universidade irá desaparecer se caso a PEC 55 for aprovada e com isso os cursos de licenciatura esvaziaram mais ainda.
Na linha de que a MP 746/2016 significa um retrocesso, o professor João Cardoso destacou que ao contrario do que se diz o aluno não terá nenhuma liberdade de escolher o currículo – esse será definido pelo sistema, pelo secretário de educação. Afirmou que as diretrizes curriculares estão sendo ignoradas pelo projeto de reforma do ensino médio e que o PNE de 2014 não será cumprido. Cardoso também chamou atenção para o fato de que há 40 anos o foco do ensino tem sido em Português e Matemática, o que segundo ele é um erro, pois não tivemos importantes avanços no aprendizado, nesse sentido ele defendeu a necessidade do currículo ser integrado bem como de uma maior valorização do ensino das artes. O professor Alessandro Rodrigues chamou atenção para o fato de que a profissão de professor vem sendo sucateada e tal fato dificulta para que estes possam construir lutas contra hegemônica. Já o professor Marcelo Rythowem comentou a frase de uma colega que disse que no tempo do FHC vivíamos no paraíso se comparado ao momento que estamos vivendo. A esse respeito é preciso ressaltar que no governo FHC tínhamos organizações da classe trabalhadora muito mais fortes e mais combativas – entre elas a CUT, O MST e a UNE. Ao contrario de agora que só temos a brava resistência do movimento estudantil secundarista que na maioria dos casos não são ligados a nenhuma organização tradicional.
Ao final da ótima analise a cerca da MP 746/2016 e dos seus impactos na formação de professores o que ecoou no auditório do Cuica foi à frase – que fazer? E não é que o professor Marcelo Rythowem disse que deveríamos retomar a leitura dos clássicos começando pelo “Que fazer” do Lênin. Sim devemos ler os clássicos, mas com os olhos de hoje. Também veio do auditório uma fala dizendo que estamos num momento de luto, mas que não temos muito tempo para ficar chorando. Me lembrei de um debate entre uma militante do PSTU e do PCO nas eleições municipais – onde a camarada do PSTU mandou a do PCO soltar a alça do caixão do PT. Também surgiu o exemplo do movimento estudantil que estão ocupando escolas e universidades públicas de norte a sul do país. – Eles estão lutando. E nós? Foi à fala desesperada de uma professora do Teatro. E houve também quem não se esquecesse da greve. Ora, mas greve não são férias. Lembrou o professor Cardoso – não adianta fazer greve e ir para o litoral ou viajar para outro país.
No meu canto apenas observando o debate ia tendo a convicção cada vez maior que o nosso problema é de fato organizacional. E essa não é uma questão secundaria camaradas, pois sem organização acabamos caindo no espontaneísmo e o espontaneísmo nunca fez revolução em canto algum. Precisamos construir uma contra hegemonia, organizar o povo, forma-lo politicamente e conduzi-lo a luta. Mas não posso deixar de notar que enquanto a discussão vai se aprofundando o auditório vai esvaziando. E no final ficam alguns poucos dispostos a fazer. Há alguma coisa de errado com o nosso discurso? O povo já não acredita mais ser possível a transformação? Se não estão dispostos a discutir, imaginem lutar. Não posso deixar de pensar nessas questões diante do auditório esvaziado – auditório que só vi cheio por duas vezes quando dona Kátia Abreu por ali esteve promovendo o seu MATOPIBA.
Ora, não dá para ficar se lamentando. Quando é que nós que “não escolhemos o lado fácil da história” tivemos vida fácil? Lembremo-nos de Maiakóvski – Poeta Russo. “É preciso arrancar alegria ao futuro”. Nesse sentido ressaltamos o que falou os professores Cardoso, Rodrigues e Rythowem – eles podem ganhar essa, mas não vamos entregar de bandeja. Vai ter resistência, vai ter luta. A verdade é que já esta tendo – não é pouca coisa o que o movimento estudantil esta fazendo nesse país. Mas é possível fazer mais, precisamos o quanto antes caminhar rumo à greve geral – que os dias 11 e 25 de novembro sejam a centelha rumo a esse objetivo.
Por fim não poderíamos deixar de falar da importância da semana intercursos de Filosofia, Teatro e Pedagogia do Campus de Palmas em promover esse espaço de dialogo e debate a cerca dessas questões importantes – especialmente a reforma do ensino médio (MP 764/2016) e a pec. que congela os gastos públicos (PEC 55). Á analise dos Professores João Cardoso P. Filho (UNESP), Alessandro Rodrigues Pimenta (UFT) e Marcelo Rythowem (IFTO). Foram de extrema relevância para que nos mobilizemos, nos organizemos e lutemos para resistir aos ataques aos nossos direitos que tendem a se aprofundar no próximo período – tanto dentro como fora dos muros da universidade.

Pedro Ferreira Nunes – Estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.


Seguimos por uma estrada escarpada e difícil, segurando-nos fortemente pela mão. De todos os lados, estamos cercados de inimigos, e é preciso marchar quase constantemente debaixo de fogo. Estamos unidos por uma decisão livremente tomada, precisamente a fim de combater o inimigo e não cair no pântano ao lado, cujos habitantes desde o início nos culpam de termos formado um grupo à parte, e preferido o caminho da luta ao caminho da conciliação”.
Lênin.