terça-feira, 6 de dezembro de 2016
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Poema em homenagem ao comandante Fidel Castro
Eu
confesso
Chorei
Chorei
ao saber
Que
tu se foi.
Chorei
como
Se
tivesse perdido
Um
pai, um irmão, um amigo.
Eu
chorei
Confesso
Ao
ler o comunicado
Da
tua partida camarada.
Foi
como tivesse levado uma facada
Como
se uma parte de mim fosse arrancada.
Sei
que merece repousar
Dessa
longa caminhada
E
que de onde estiver
Continuará
a nos guiar.
Pois
tua marca indelével
Já
mais irá se apagar.
Mas
é difícil saber
Que
tu se foi camarada
Mesmo
sabendo que uma hora
Essa
hora ia chegar.
Tento
não chorar
Mas
não dá pra segurar.
Dizem:
- Morreu o ultimo revolucionário!
À
esquerda esta acabada.
Besteira,
baboseira
Dos
que se apressam a apagar.
A
apagar
O
que não pode ser apagado.
A
enterrar
O
que não pode ser enterrado.
A
exterminar
O
que não pode ser exterminado.
Foste
um grande homem
Que
errou e acertou
Pois
sendo humano
Como
poderia não errar?
Mas
os acertos foram maiores
Por
isso é tão amado
E
também odiado.
E
quando vemos
Quem
comemora sua morte
E
os que lamentam.
Vemos
que trilhaste
Pela
senda verdadeira.
Os
tempos estão difíceis
Comandante
Para
nós revolucionários.
Que
teu exemplo nos guie.
Será
mais uma estrela no céu
Ao
lado do Che, do Camilo e do Almeida
Agora
e sempre
Sempre
a brilhar.
Aqui
continuaremos
Pois
é preciso continuar
Guiados
por teu exemplo
A
história nos absorverá.
Pedro
Ferreira Nunes
Casa
da Maria Lucia. Lajeado-TO,
Lua Minguante, Inverno de 2016.
Assista ao vídeo do poema declamado: https://www.youtube.com/watch?v=JqojyxtoRfU&feature=youtu.be
Intolerância Religiosa: O Papel da Educação no Processo de Desconstrução da Visão Hegemônica a Cerca das Religiões Afro-Brasileiras.
Introdução
Quando
falamos em intolerância religiosa é inegável que os adeptos das
religiões de matrizes africanas são os que mais sofrem violência
no Brasil. Por exemplo, levantamento realizado pela Comissão de
Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR) aponta
que mais de 70% de casos de ofensas, abusos e atos violentos
registrados no Estado entre 2012 e 2015 são contra praticantes de
religiões de matrizes africanas. No Tocantins essa realidade não é
muito diferente, foi o que sentimos na visita a dona Romana em
Natividade – que nos relatou casos de intolerância partindo da
própria família – como, por exemplo, o afastamento de seus irmãos
que não concordam com sua crença. Já no Brasil os casos de
intolerância religiosa contra religiões de matrizes africanas são
rotineiros e não raramente descabam para violência. No entanto o
levantamento desses dados ainda é muito deficitário. Diante desse
problema, nosso objetivo nesse breve artigo é refletir como a
educação pode contribuir para descontruir a visão hegemônica
racista e preconceituosa em torno das religiões de matrizes
africanas. Para tanto nos utilizaremos do artigo “Religiões
afro-brasileiras e violência” da Professora Drª em Teologia Irene
Dias de Oliveira e outros trabalhos.
Religiões
afro-brasileiras e violência
É
inegável a hegemonia do cristianismo na sociedade ocidental. Tal
hegemonia se construiu em torno de uma concepção de que “o
Cristianismo era a única religião verdadeira e superior ás
demais”. (Oliveira, 2011; 16) No entanto essa concepção de dona
da verdade e de superioridade não é exclusiva do Cristianismo,
encontramos essa afirmação em religiões como o Judaísmo e o
Islamismo. Tal fato mostra segundo Oliveira (2011) “o espirito de
intolerância, de absolutismo, de exclusivismo e da certeza de que
cada uma, a seu modo, é detentora exclusiva da verdade”. E é a
partir dessa concepção que percebemos uma legitimação da
violência contra aqueles que não seguem determinados dogmas. Não
são poucos os exemplos na história que aponta guerras em nome de
deus. Aliás, na América Latina, Deus foi utilizado para justificar
a catequização dos índios e a escravidão dos negros. Violência
que persiste nos dias atuais, por exemplo, na invasão de templos
neopentecostais nas aldeias indígenas e na satanização de
religiões de matrizes africanas. Nessa linha Oliveira (2011)
ressalta que a violência que os praticantes dessas religiões sofrem
é, sobretudo, uma violência simbólica. E ainda que “a violência
destrói não só o corpo, mas o espirito também”. E essa
violência não é contra uma religião simplesmente ela se desdobra
para o “não reconhecimento da alteridade, das diferenças e da
desvalorização dos direitos individuais, sociais, civis culturais e
econômicos de uma etnia”. (Oliveira, 2011; 18). É por isso que é
visto como um insulto à utilização de um símbolo cristão em
determinados ambientes, como por exemplo, numa parada gay, já a
utilização de um termo preconceituoso como “chuta que é macumba”
é visto com normalidade.
Não
há como falar em intolerância religiosa no Brasil e não falar da
situação do negro na nossa sociedade. O negro ao longo da nossa
história não era visto como um ser humano, mas sim como um animal,
logo tudo que vem de um ser inferior não presta. Nessa linha
Oliveira (2011) destaca que “a tese escravagista entendia que os
negros eram desprovidos de inteligência e que não possuíam alma.
De outro lado, com a abolição os negros foram condenados à
imobilidade social, travando as possibilidades educacionais e
econômicas e trazendo prejuízos acumulados ao longo do milênio”.
Diante dessa afirmação é necessário apontar a contribuição das
ciências, em especial da antropologia nos seus primórdios, na
defesa e promoção dessa tese. Toda essa negação do negro como
cidadão ao longo de nossa história tem seus resquícios até os
dias atuais. “... Sabemos que a “invisibilidade” não é
reconhecida nem discutida. A história narrada na escola é branca, a
inteligência e a beleza mostradas pela mídia também o são, os
cultos religiosos são frequentados pela maioria branca”.
(Oliveira, 2011; 18). Por mais que se negue, e ressalvado pequenos
avanços é inegável que vivemos sobre uma ditadura branca –
fundamentada numa concepção eurocêntrica da sociedade. Onde a
família tradicional, a mídia, a escola e a religião desempenham um
papel central. Se fosse diferente por que então uma politica de
cotas? A politica de cotas, que diga se de passagem sofre bastantes
ataques por parte das elites brancas, é justamente a prova de que
não existe igualdade na sociedade. E não é raro á utilização de
princípios religiosos para justificação do desrespeito as
diferenças e a intolerância. E o que resulta dai é claramente um
processo de discriminação, o racismo e o preconceito. Segundo
Oliveira (2011) “o preconceito e o racismo são, portanto, atitudes
ou modo de ver certas pessoas ou grupos raciais, enquanto a
discriminação é a ação ou o comportamento que prejudica as
pessoas”. O povo negro não só sofre com o racismo e o preconceito
na nossa sociedade, como também, e como consequência disso sofre
com a discriminação. Isto é, tudo aquilo que vem da cultura negra
não é valorizado e muito menos respeitado. Pelo contrário,
busca-se exterminar para que não influencie negativamente o modelo
hegemônico fundamentado numa sociedade de brancos e para brancos.
Ora,
mas justamente a religião que prega a salvação e a paz, o amor e a
harmonia utiliza-se da violência para se impor. E tal imposição
não é característica apenas do Cristianismo, não nos esqueçamos
dos horrores que o Estado Islâmico tem feito no Iraque e na Síria.
E o que os seus aliados tem feito no continente Africano. Segundo
Oliveira (2011) a impressão muitas vezes é de que as religiões só
conseguem impor-se fazendo uma lavagem cerebral no convertido –
desenraizando-o de seu universo familiar, cultural e religioso. Sendo
assim nos somamos a Oliveira (2011) nos questionando a cerca do papel
da religião – se como algo que mantem ou que busca erradicar a
alteridade. Diante dos exemplos acima concluímos que na realidade as
religiões não estão preocupadas com a alteridade. E tal fato se
reflete no aumento de casos de intolerância religiosa não só no
Brasil como em todo o mundo. Intolerância que se concretiza não
apenas através da violência simbólica, mas também através da
violência explicita como apedrejamento, decapitação e destruição
de templos. Nesse sentido é necessário avançarmos para uma
compreensão de que “as diferenças, longe de constituírem motivo
para a discriminação, à violência e a exclusão, são motivo de
riqueza, de aprendizagem de novos saberes, de troca de experiência e
nos conduzem cada vez mais para a abertura e o acolhimento do
“desconhecido”, do diferente, eliminando, assim, as barreira que
nos tornam intolerantes e nos levam a ver no diferente um inimigo
contra o qual lutar e manter distância”. (Oliveira, 2011; 22).
Mas isso só será possível se as religiões em vez de negar a
alteridade – buscar a sua manutenção. E não só no discurso como
temos visto no último período por parte da Igreja Católica, mas
através de ações concretas.
O
Papel da Educação no Processo de Desconstrução da Visão
Hegemônica a Cerca das Religiões Afro-Brasileiras.
No
Brasil não dá para negar a visão hegemônica cristã que se afirma
como a verdadeira e superior às demais. Visão que descamba para um
processo de intolerância contra todas as demais, porém são as
religiões de matrizes africanas que mais sofrem com os preconceitos
e discriminações advinda dessa hegemonia crista. E tal fato ocorre
não apenas pelo principio religioso como também por uma questão
politica. Por isso é ainda mais difícil descontruir através da
educação essa visão hegemônica a cerca das religiões
Afro-brasileira. Pois a escola muitas vezes reproduz a violência
simbólica que vemos na sociedade. Os filósofos franceses Bordieu e
Passeron desenvolvem o conceito de violência simbólica. Sendo que
para estes pensadores “a escola não exerce necessariamente a
violência física, mas sim a violência simbólica, mediante forças
simbólicas, ou seja, pela doutrinação que força as pessoas a
pensarem e agirem de determinada forma, sem perceberem que legitimam
com isso a ordem vigente”. (Aranha, 1993; 41).
O
problema da escola na nossa sociedade não é nem tanto o que se
ensina, mas, sobretudo o que se omite, por exemplo, em relação à
situação do racismo, do preconceito e da discriminação – e esse
silêncio contribui para intolerância. Logo se faz necessário
superar esse modelo de escola que apenas reproduz a visão hegemônica
– o que só será possível com a superação do modelo de
sociedade vigente. Por isso que a luta por uma educação
transformadora e não dogmática deve ser feita conjuntamente com a
luta pela superação da sociedade capitalista. E essa luta contra
hegemônica perpassa pela desconstrução do racismo, do preconceito
e da discriminação que atinge, sobretudo, a população
afrodescendente e a sua cultura. Uma luta que deve ser travada no
cotidiano, pois não devemos abrir mão da alteridade nas nossas
praticas pedagógicas. Pois uma educação que discriminação não é
educação, mas uma aberração que não pode ser de forma alguma
aceita com normalidade.
Aranha,
Maria Lucia de Arruda. Filosofando: Introdução à filosofia. 2. Ed.
rev. atual. –São Paulo: Moderna, 1993.
Oliveira,
Irene Dias de. Religiões Afro-brasileiras e Violência.
Ciberteologia – Revista de Teologia & Cultura – Ano VII,
n.35. 2011.
Puff,
Jefferson. Por que as religiões de matriz africana são principal
alvo de intolerância no Brasil? Disponível em bbc.com. Acesso em:
20 de Outubro de 2016.
*Trabalho
apresentado à disciplina de Antropologia Cultural, do curso de Filosofia e Teatro da Universidade Federal do Tocantins.
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
RESENHA: Nem tudo é relativo – A questão da verdade. De Hilton Japiassu.
Hilton
Japiassu
O
maranhense de Carolina Hilton Japiassu, professor da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), licenciado em filosofia pela PUC/RJ, com mestrado e
doutorado em Grenoble na França. E com estudos avançados na área de
epistemologia em Estrasburgo também na França. Dedica-se desde 1968 ao estudo
da epistemologia área na qual é uma autoridade reconhecida internacionalmente.
Influenciado por Jean Piaget e Barchelard. Já escreveu diversos livros, entre
eles: Nascimento e Morte das Ciências Humanas, Introdução ao Pensamento
Epistemológico, Introdução a Ciências Humanas, Um Desafio da Filosofia,
Interdisciplinaridade e patologia do saber entre outros.
Em
“Nem tudo é relativo – A questão da verdade”, Hilton Japiassu tece uma critica
veemente ao relativismo e os defensores de tal teoria que tem crescido
vertiginosamente no último período. Especialmente, após a década de 1970 com a
derrocada das ideias de esquerda e a consolidação da hegemonia neoliberal.
Com
uma linguagem objetiva e clara, uma defesa apaixonante das ciências, do
universalismo e da razão, claro, sem deixar de apontar alguns problemas que
deve ser superado pelo conhecimento científico, especialmente o ocidental.
Japiassu denuncia o risco do pensamento relativista e o dogmatismo a que isso
pode nos levar. Sem abrir mão da polêmica e de uma critica consciente e
consequente, aliás, o que segundo ele deve ser o papel de todo intelectual – não aceitar a naturalização das coisas,
pois se não acabamos nos tornando justificadores da ordem estabelecida e nos
somando aqueles que querem enterrar os conflitos sociais e politico – o que
caracteriza a conjuntura atual. Partindo dai Japiassu faz uma forte critica a
sociedade atual marcada por um conformismo generalizado e por sujeitos passivos
(teleconsumidores). Como também por uma arte modernista de museu, que cultua o vazio politico e onde “os
filósofos de televisão” buscam dá sentido ao insignificante.
Em
Nem tudo é relativo – A questão da Verdade. Japiassu também irá abordar a
disputa entre racionalistas e relativistas, apontando as contradições do
discurso de ambos. Pois mesmo sendo um defensor do racionalismo Japiassu não
deixa de reconhecer alguns problemas que devem ser superados por esse
pensamento. No entanto é no relativismo, como aponta o próprio nome do seu
livro, que ele descarrega sua metralhadora giratória de criticas.
No
primeiro capitulo do livro Hilton Japiassu mostra a onda relativista
identificada como o pensamento pós-moderno – que se caracteriza pela negação da
universalidade, da ciência com um conhecimento universalmente valido, e a
verdade sendo reduzida ao que se ajusta ao dado sistema de crenças. Segundo o pensamento
relativista nem a lógica nem a evidência desempenham um papel importante na
construção do conhecimento. Dai que para Japiassu o relativismo deve ser entendido como determinismo social. O autor
aponta que até 1970 a critica dos relativistas era em cima da ideologia
dominante, dai para frente voltou-se para ciências. E dai surge a posição
relativista de que a universalidade das ciências é uma ilusão – o que Japiassu
vai refutar com veemência – questionando a questão da neutralidade absoluta, da
negação da razão, e da ditadura da razão.
Japiassu alerta os riscos tanto do relativismo positivista baseado na
tradição de Augusto Comte como do relativismo perspectivista dos
Nietzchenianos, aliás, o relativismo perspectivista acaba desembocando no niilismo.
Dai que para Japiassu não dá para pegar o pensamento relativista totalmente
como verdadeiro, especialmente o que afirma que a ciências deve ser considerada
como um conto de fadas.
Hilton
Japiassu não faz uma defesa cega das ciências. Muito pelo contrario, ele aponta
com clareza os seus limites. No entanto para ele só pode haver ciência racional
e só pode haver razão universal – o que confronta com as afirmações
relativistas.
No
segundo capitulo do livro “Nem tudo é relativo – a questão da verdade”. Hilton
Japiassu vai abordar “o relativismo em questão”. Onde ele começa reconhecendo o
fato de que o pensamento relativista nos ajuda a romper com o velho
racionalismo. O qual ele ver como um problema para a busca da verdade. Japiassu
afirma que não há como relativizar a razão sem racionalizar a relatividade.
Logo para ele falta ao relativismo um pouco mais de ceticismo. Partindo desse
pressuposto Japiassu vai apontar oito pontos que deve ser pensados para
superarmos tanto o relativismo como o velho racionalismo;
1- O
risco do cientificismo que busca converter a ciência numa religião;
2- A
racionalidade cientifica precisa se tornar critica e autocritica;
3- A
necessidade de confrontar-se com outras culturas;
4- Superar
a ideia de que o racionalismo ocidental é o racionalismo universal;
5- A
necessidade de superar o relativismo cultural;
6- Afirmar
o relativismo como uma teoria intolerante;
7- Não
aceitar e fazer a critica ao etnocentrismo;
8- Ao
negar o eurocentrismo e o etnocentrismo tomar cuidado para não cair no
relativismo irracionalista.
Em
Nem tudo é relativo – A questão da verdade. Japiassu abordará a necessidade de
se fazer uma critica consciente e bem fundamentada. Não se pode rejeitar, mas
também não se pode aceitar tudo. É preciso ter autocritica. Nesse sentido
Japiassu vai concluir seu livro descarregando uma artilharia de critica ao relativismo quando este tem por
fim cair no ceticismo, que acaba por rotular erroneamente as diferenças entre
ocidente e oriente e acaba caminhando para o irracionalismo – um caminho
que pode levar a justificação de dogmatismos. Para Japiassu não dá para aceitar
a fabula de uma sociedade sem conflitos defendida pelos relativistas. O autor
de Nem tudo é relativo – a questão da verdade deixa claro que sem criticas a
sociedade não evolui. Para os relativistas, segundo Japiassu, numa sociedade não há espaço para
contestadores, logo pode se afirmar que os relativistas são conformistas, e os
indivíduos em tal sociedade são privatizados. O que é contestado com
veemência pelo autor. Por fim para
Japiassu não é aceitável a negação da universalidade pelos relativistas. Pois é
fato que algumas coisas nos transcendem independente de nossas crenças e
cultura. Logo para ele a aceitação do
universal esta na afirmação do que o outro não nos é estranho logo é possível à
comunicação.
Podemos
classificar o livro Nem tudo é relativo – a questão da verdade, de Hilton
Japiassu como um manifesto, uma apaixonante defesa da razão, da racionalidade,
da ciência e do conhecimento cientifico. É um livro corajoso, que não tem medo
de criticar, de polemizar, de buscar dialogo sem abrir mão de suas posições,
que, diga-se de passagem, estão bem fundamentadas. Tal obra precisa ser
reverenciada especialmente em um período onde aqueles que ousam levantar a voz
contra a ordem estabelecida, contra o status cos são simbolicamente
violentados. Diante da exposição empolgante de Hilton Japiassu em Nem tudo é
relativo – a questão da verdade. Devemos nos perguntar a que serve tal teoria?
Uma teoria que rejeita a critica, os conflitos sociais e prega a existência de
uma sociedade perfeita. Que privatiza o individuo e nega completamente o
conhecimento cientifico. Não neguemos algumas contribuições desse pensamento
pós-moderno, mas não nos deixemos enganar – nem tudo é relativo.
Esse
debate colocado por Hilton Japiassu neste livro deve ser travado, não só no
âmbito da academia, mas na sociedade como um todo. Aliás, é um erro que vem
sendo cometido no ultimo período pelos intelectuais, não transpor os debates
para além dos muros da universidade, a forma acessível da escrita de Japiassu
contribui para que mais pessoas tenham acesso a esta discussão. E no período de
crise que vivemos é fundamental travarmos tal debate.
“Uma
vida sem interrogação e sem paixão não merece ser vivida” – essa frase
emblemática escrita por Japiassu na introdução do seu livro fala por si mesma.
Mesmo em uma conjuntura difícil, onde a mediocridade permeia todos os campos da
sociedade – seja na politica, na economia, na cultura. Não podemos abrir mão de
exercer o nosso papel de questionar, de criticar, de subverter a ordem
estabelecida. Pois como escreveu o grande poeta alemão Bertold Brecht – não
aceiteis o que é de habito como natural, pois nada é impossível de mudar.
Pedro
Ferreira Nunes – Estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins
Referência
Bibliográfica
JAPIASSU,
HILTON. Nem Tudo é Relativo – A Questão da Verdade – São Paulo:
Editora Letras & Letras, 2000.
*Trabalho
apresentado à disciplina de Leitura e Produção de Textos Científicos. Do Curso
de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. Revisado para o blog “Das
barrancas do Rio Tocantins”.
Acesse o documento em pdf no link: https://drive.google.com/drive/my-drive
Acesse o documento em pdf no link: https://drive.google.com/drive/my-drive
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Crônicas da UFT: Que fazer?!
Não, esse texto não se trata de uma resenha a cerca do celebre livro “Que fazer” do grande Lênin. Mas em tempos como esses que a esquerda brasileira ou o que sobrou dela esta batendo cabeça sem saber o que fazer, não deixa de ser recomendável a leitura desse clássico do marxismo-leninismo. Como também pelo fato de que recentemente comemoramos os 99 anos da revolução de outubro e agora caminhamos para comemorar os 100 anos – uma data que deve servir para fazermos um profundo balanço da luta proletária e camponesa desde então – os avanços e retrocessos. Mas voltemos ao nosso objetivo principal falar do debate sobre a politica de formação de professores de Artes e Filosofia no âmbito da MP 746/2016 que ocorreu na IV Semana Intercursos de Filosofia, Teatro e Pedagogia da UFT – Campus de Palmas.
O
que fazer foi a principal questão que surgiu após a fala dos
Professores João Cardoso P. Filho (UNESP), Alessandro Rodrigues
Pimenta (UFT) e Marcelo Rythowem (IFTO). Sobretudo pelo fato que não
houve desacordo com a analise apresentada a cerca da nocividade da MP
746/2016. Não há duvidas como bem salientou o Professor João
Cardoso de que se trata de uma ponte de volta ao passado e não ao
futuro como dizem os defensores da reforma. Aliás, Cardoso alertou
que o objetivo do atual governo é gastar o menos possível com a
educação e nesse sentido a reforma do ensino médio esta
intimamente ligada com a PEC 55 que congela os gastos públicos. O
professor Alessandro Rodrigues afirmou que as conquistas obtidas a
partir de 2008 que conseguiu que a filosofia se tornasse disciplina
obrigatória no ensino médio esta em risco, e com isso se aprovada a
politica de formação de professores será impactada imediatamente.
Rodrigues ressaltou muito bem ao dizer que as mudanças na educação
pública vêm ocorrendo desde a década de 1990, o atual governo com
a MP da reforma do ensino médio esta apenas aprofundando essas
reformas. Seguindo assim a cartilha do Banco Mundial e da UNESCO –
é a logica mercadológica que inclusive vemos nas universidades. E
qual o papel da Universidade Pública? Ser um espaço de busca do
conhecimento ou de formação de mão de obra qualificada para o
mercado? Questionou Rodrigues. Já o professor Marcelo Rythowem
destacou que a politica de permanência na Universidade irá
desaparecer se caso a PEC 55 for aprovada e com isso os cursos de
licenciatura esvaziaram mais ainda.
Na
linha de que a MP 746/2016 significa um retrocesso, o professor João
Cardoso destacou que ao contrario do que se diz o aluno não terá
nenhuma liberdade de escolher o currículo – esse será definido
pelo sistema, pelo secretário de educação. Afirmou que as
diretrizes curriculares estão sendo ignoradas pelo projeto de
reforma do ensino médio e que o PNE de 2014 não será cumprido.
Cardoso também chamou atenção para o fato de que há 40 anos o
foco do ensino tem sido em Português e Matemática, o que segundo
ele é um erro, pois não tivemos importantes avanços no
aprendizado, nesse sentido ele defendeu a necessidade do currículo
ser integrado bem como de uma maior valorização do ensino das
artes. O professor Alessandro Rodrigues chamou atenção para o fato
de que a profissão de professor vem sendo sucateada e tal fato
dificulta para que estes possam construir lutas contra hegemônica.
Já o professor Marcelo Rythowem comentou a frase de uma colega que
disse que no tempo do FHC vivíamos no paraíso se comparado ao
momento que estamos vivendo. A esse respeito é preciso ressaltar que
no governo FHC tínhamos organizações da classe trabalhadora muito
mais fortes e mais combativas – entre elas a CUT, O MST e a UNE. Ao
contrario de agora que só temos a brava resistência do movimento
estudantil secundarista que na maioria dos casos não são ligados a
nenhuma organização tradicional.
Ao
final da ótima analise a cerca da MP 746/2016 e dos seus impactos na
formação de professores o que ecoou no auditório do Cuica foi à
frase – que fazer? E não é que o professor Marcelo Rythowem disse
que deveríamos retomar a leitura dos clássicos começando pelo “Que
fazer” do Lênin. Sim devemos ler os clássicos, mas com os olhos
de hoje. Também veio do auditório uma fala dizendo que estamos num
momento de luto, mas que não temos muito tempo para ficar chorando.
Me lembrei de um debate entre uma militante do PSTU e do PCO nas
eleições municipais – onde a camarada do PSTU mandou a do PCO
soltar a alça do caixão do PT. Também surgiu o exemplo do
movimento estudantil que estão ocupando escolas e universidades
públicas de norte a sul do país. – Eles estão lutando. E nós?
Foi à fala desesperada de uma professora do Teatro. E houve também
quem não se esquecesse da greve. Ora, mas greve não são férias.
Lembrou o professor Cardoso – não adianta fazer greve e ir para o
litoral ou viajar para outro país.
No
meu canto apenas observando o debate ia tendo a convicção cada vez
maior que o nosso problema é de fato organizacional. E essa não é
uma questão secundaria camaradas, pois sem organização acabamos
caindo no espontaneísmo e o espontaneísmo nunca fez revolução em
canto algum. Precisamos construir uma contra hegemonia, organizar o
povo, forma-lo politicamente e conduzi-lo a luta. Mas não posso
deixar de notar que enquanto a discussão vai se aprofundando o
auditório vai esvaziando. E no final ficam alguns poucos dispostos a
fazer. Há alguma coisa de errado com o nosso discurso? O povo já
não acredita mais ser possível a transformação? Se não estão
dispostos a discutir, imaginem lutar. Não posso deixar de pensar
nessas questões diante do auditório esvaziado – auditório que só
vi cheio por duas vezes quando dona Kátia Abreu por ali esteve
promovendo o seu MATOPIBA.
Ora,
não dá para ficar se lamentando. Quando é que nós que “não
escolhemos o lado fácil da história” tivemos vida fácil?
Lembremo-nos de Maiakóvski – Poeta Russo. “É preciso arrancar
alegria ao futuro”. Nesse sentido ressaltamos o que falou os
professores Cardoso, Rodrigues e Rythowem – eles podem ganhar essa,
mas não vamos entregar de bandeja. Vai ter resistência, vai ter
luta. A verdade é que já esta tendo – não é pouca coisa o que o
movimento estudantil esta fazendo nesse país. Mas é possível fazer
mais, precisamos o quanto antes caminhar rumo à greve geral – que
os dias 11 e 25 de novembro sejam a centelha rumo a esse objetivo.
Por
fim não poderíamos deixar de falar da importância da semana
intercursos de Filosofia, Teatro e Pedagogia do Campus de Palmas em
promover esse espaço de dialogo e debate a cerca dessas questões
importantes – especialmente a reforma do ensino médio (MP
764/2016) e a pec. que congela os gastos públicos (PEC 55). Á
analise dos Professores João Cardoso P. Filho (UNESP), Alessandro
Rodrigues Pimenta (UFT) e Marcelo Rythowem (IFTO). Foram de extrema
relevância para que nos mobilizemos, nos organizemos e lutemos para
resistir aos ataques aos nossos direitos que tendem a se aprofundar
no próximo período – tanto dentro como fora dos muros da
universidade.
Pedro
Ferreira Nunes – Estudante de Filosofia da Universidade Federal do
Tocantins.
“Seguimos
por uma estrada escarpada e difícil, segurando-nos fortemente pela
mão. De todos os lados, estamos cercados de inimigos, e é preciso
marchar quase constantemente debaixo de fogo. Estamos unidos por uma
decisão livremente tomada, precisamente a fim de combater o inimigo
e não cair no pântano ao lado, cujos habitantes desde o início nos
culpam de termos formado um grupo à parte, e preferido o caminho da
luta ao caminho da conciliação”.
Lênin.
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