Biblioteca
não é deposito de livros. Professor que não lê não ensina a ler e a importância
da literatura regional no estimulo a leitura.
A escola que deveria
ser um local de estimulo a leitura, sobretudo em um país onde há um baixo nível
de leitura – em média o brasileiro lê apenas dois livros por ano. Percebemos o
contrario como aponta o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(PISA). Os resultados aponta que 50,99 dos estudantes estão abaixo do nível de
leitura adequado. E se formos analisar á realidade regional percebemos que o
Tocantins esta numa situação ainda pior.Ora, numa avaliação onde o Brasil ficou
nas ultimas colocações, o Tocantins conseguiu o feito juntamente com outros
quatorze estados de ficar abaixo da média nacional.
Isso mesmo, enquanto na
média nacional em leitura o Brasil ficou com 407 pontos o Tocantins conseguiu
apenas 376. O que o coloca entre os seis piores estados nesse quesito.Diante
disso o que fazer para que a escola pública, sobretudo, ao contraio de
desestimular, desperte o gosto pela leitura? Não são poucos os especialistas
que se desdobram tentando responder essa questão, no entanto até o momento não
se tem uma resposta pronta e acabada. Na nossa visão é preciso avançar em três
questões para que a escola contribua para a melhora do nível de leitura:
Primeiro – Professor que não lê não pode ensinar a ler. Segundo – Biblioteca
não é deposito de livros. E Terceiro –a importância da literatura regional no
estimulo a leitura.Precisamos avançar nessa compreensão, que parece simples,
mas que na prática não é bem assim.
Na prática grande parte
dos professores não lê. E não por que não querem ou não acham importante. Mas
pelo fato de uma carga de trabalho excessiva que consome todo o seu tempo. No
entanto um professor que não lê não tem nenhuma condição de despertar no
estudante o gosto pela leitura. O que acontece é que esse professor que não lê
é incapaz de trazer alguma novidade e assim se agarra a uma lista de leituras
obrigatórias que ele também não lê. Assim ao invés de passar o hábito da
leitura como algo prazeroso, o que se faz é obrigar o aluno a ler. Esse por sua
vez finge que lê, mas nada entende. Certa vez um escritor no programa “Sempre
um papo” da TV Câmara afirmou que “deveria ser considerado crime, alguém que
não gosta de literatura dar aula de literatura”. Isso não saiu da minha cabeça,
pois é de fato o que acontece na escola pública – professores que não entendem
de literatura, que não lê –exigindo que o aluno se torne um leitor. Ora, esse
professor que não lê a única coisa que conseguirá é assassinar o prazer da
leitura.
Biblioteca
não é deposito de livros
A biblioteca deveria
ser um espaço de estimulo a leitura. Um ambiente que possibilite o encontro do
estudante com o prazer de ler um bom livro. Mas na prática as bibliotecas mais
se assemelham a depósitos de livros. Geralmente fica numa sala isolada, sem
muito espaço, com uma formalidade excessiva e pouco convidativa. Com uma
bibliotecária que passa um bom tempo organizando os livros, mas que é incapaz
de conversar com os estudantes e lhes dá uma boa dica de leitura. Assim os
estudantes só vão lá quando são obrigados a ler algum livro para fazer um
trabalho.
Quando eu era estudante
do ensino fundamental só vim descobrir que a escola tinha uma biblioteca e que
lá se podia pegar livros emprestados para lê em casa quando estava na 5º série.
E foi acidentalmente, entrei por acaso na biblioteca, por não querer participar
da aula de educação física, ai a bibliotecária veio falar comigo e me indicou a
leitura de um romance infanto-juvenil – “A ilha perdida”, da Maria José Dupré. E
disse que eu podia levar para ler. Espantado questionei:
Eu posso levar para casa? – Sim, claro. Você só precisa preencher a ficha. E
desde então semanalmente eu ia até a biblioteca pegar um novo livro. Desde
então as coisas não mudaram tanto, pelos lugares onde estudei, inclusive hoje
na Universidade Federal do Tocantins, a biblioteca se assemelha mais a um
deposito de livros do que um lugar de estimulo a leitura. E que muitas vezes
parte dos alunos se quer sabe que existe.
É preciso, portanto, mudar
essa realidade. É preciso ocupar as bibliotecas – lhes dá vida através de
eventos literários – oficinas literárias, leituras coletivas, sarais, roda de
conversa com poetas e escritores. É preciso transformar toda a escola numa
biblioteca e não condicionar a coleção de livros apenas uma sala ou um lugar
qualquer. Só assim as bibliotecas se transformaram num lugar atrativo e não num
espaço que o estudante procura apenas quando tem que fazer algum trabalho. Ou
pior, num deposito de livros.
A
importância da literatura regional no estimulo a leitura
Além da compreensão de
que professor que não lê não ensina a ler, de que biblioteca não é deposito de
livros. Também precisamos nos atentar para importância da literatura regional
no estimulo a leitura. Nesse sentido é preciso que as escolas incentivem e
trabalhem a leitura de obras regionais. Essas obras no geral falam da realidade
que os jovens estão inseridos e por tanto mais fáceis de serem compreendidas. A
proposta aqui não é substituir a leitura de clássicos por obras regionais, pelo
contrario, a leitura de obras regionais é apenas uma porta de entrada para
obras clássicas da literatura brasileira e mundial. Trabalhar com escritores
regionais também dá a possibilidade de uma interação entre escritores e
leitores e, por conseguinte a desmitificação de que escrever é algo para
“escolhidos”. Além do fato de que não há ninguém melhor para estimular a
leitura do que o próprio escritor, que é antes de tudo um grande leitor.
Nessa linha é
lamentável que o salão do livro tenha sido mais uma vez engavetado pelo Governo
do Tocantins, pois “o salão do livro tem um papel importante na promoção da
literatura, sobretudo a que é feita a duras penas no nosso Estado. Como também
sendo um espaço de estimulo ao gosto pela leitura – conquistando novos leitores
e estimulando o surgimento de novos escritores”. (Nunes, 2015).
Segundo Guevara (1959)
“um povo que não sabe ler nem escrever é fácil de ser enganado”. O que nos faz
questionar se os governos de plantão estão tão preocupados com o baixo nível de
leitura dos estudantes. Já que esse baixo nível favorece justamente para que
estes senhores permaneçam no poder. E se analisarmos a MP da reforma do ensino
médio perceberemos que a ideia é manter as coisas como estão. Por tanto não
tenhamos a ilusão de que ações tomadas de cima para baixo modificaram alguma
coisa. Pelo contrário, a MP da reforma do ensino médio e o projeto da “escola
sem partido” vem no sentido de piorar o que já é ruim – o nível de leitura.
Pois não modificaram questões essenciais como Biblioteca não é deposito de
livros, Professor que não lê não ensina a ler e a importância da literatura
regional no estimulo a leitura.
Pedro
Ferreira Nunes é – Poeta, Escritor e Educador Popular.