Para Minhas irmãs Vera, Kátia Cleide e Katiane.
Mãezinha querida
quando vier das bandas do norte
não se esqueça de trazer:
Bofe de gado seco
Buchada fresquinha
E óleo de coco babaçu.
Traga também farinha de puba
Feijão trepa pau
E um pouco de andu.
Não se esqueça das macaúbas
Do doce de buriti
E dos cajus.
Queremos cachorra seca
Galinha caipira
E jau.
Traga nos fumo de corda
Da chácara dos nossos avós,
Uma cachacinha com murici
Não tem coisa melhor.
Esperamos-lhe no mês de junho
Para festa do divino.
De Goiânia a trindade vamos caminhar
Para nossas promessas pagar.
Traga nos noticia de vovó
Das nossas tias e de todos por ai.
Estamos todos com muita saudade
Esperamos que faça boa viagem.
Suas netas não vêem a hora
Da senhora chegar.
Faremos uma grande festa
E aquele chambari para almoçar.
Pedro Ferreira Nunes. Casa da Maria Lúcia. Lajeado-TO. Lua Nova. Verão de 2017.
terça-feira, 13 de junho de 2017
terça-feira, 6 de junho de 2017
Sobre a consulta eleitoral na UFT para Reitor e Vice-reitor
Nesta sexta-feira (09/06) a comunidade acadêmica da
Universidade Federal do Tocantins (nos seus setes campus) vai novamente as
urnas para escolher reitor e vice que comandará a principal universidade do
nosso estado no próximo período. Logo é importante a participação de toda a
comunidade acadêmica para garantir que os futuros ocupantes da reitoria tenham
o aval de todos os seguimentos da universidade, isto é, estudantes, professores
e técnicos administrativos.
Nesse sentido a consulta eleitoral é importante,
pois mesmo se tratando de uma consulta informal – onde estudantes, técnicos
administrativos e professores tem paridade no voto, é onde de fato definirá os
eleitos para reitoria, já que caberá ao Conselho Universitário posteriormente,
apenas homologar a decisão da comunidade acadêmica. Sendo assim, não podemos
boicotar o processo, pois queiramos ou não, haverá consulta eleitoral, e o
resultado dessa consulta eleitoral será homologada mesmo que apenas um segmento
da universidade, no caso os técnicos administrativos, joguem peso. Pois são de
fato, os que mais estão se mobilizando.
Fazemos esse alerta por que fomos um dos que desde o
inicio questionamos o porquê de um processo eleitoral tão importante como esse
ser feito á toque de caixa. Quando estamos finalizando um período letivo no
caso de Palmas, quando alguns cursos e alguns campus já estão em recesso,
quando boa parte dos estudantes e professores já estão com a cabeça nas férias.
Mas o fato é que apesar de todos os questionamentos, tanto por parte dos
estudantes (que se posicionaram publicamente através de uma nota assinada por
31 entidades estudantil do interior e da capital) como dos professores através
do SESDUFT, o fato é que a campanha eleitoral esta a todo vapor. E boicotar
para tentar reverter posteriormente na justiça não nos parece ser o melhor
caminho. É prolongar uma situação de incerteza que só prejudica toda a
comunidade acadêmica.
Viver
a UFT ou UFT Forte?
Duas chapas disputam as eleições para reitoria da
Universidade Federal do Tocantins. A chapa “Viver a UFT” com o número 11,
composta pelos professores Bovolato e Ana Lúcia, reitor e vice-reitora
respectivamente. E a chapa “UFT Forte” com o número 22, composta pelos
professores Adão e Márluce Zacariote, também reitor e vice-reitora
respectivamente.
Todos estes faziam parte do mesmo grupo dentro da
UFT e, por conseguinte defendiam o mesmo projeto de universidade. Por exemplo,
Bovolato já foi diretor do Campus de Araguaína e foi eleito vice- reitor na
ultima consulta eleitoral ao lado da professora Isabel Auler. Aná Lúcia é
atualmente a diretora do campus de Palmas. Adão foi secretário de educação no
primeiro ano do governo Marcelo Miranda (nessa atual gestão) e Marluce
atualmente é pró-reitora de comunicação da UFT. Todos são oriundos da antiga
Unitins.
O que aconteceu para que esse grupo se dividisse em
dois? A disputa eleitoral tem mostrado que se trata mais de uma briga pelo
poder do que por projetos diferentes de universidade.
E quem sai na frente é a chapa “Viver a UFT”, não
por que é o suprassumo da Universidade Federal do Tocantins, mas por que o
outro lado consegue ser pior. O professor Adão trás no currículo uma gestão
fracassada a frente da secretária estadual de educação e conta com o apoio do
ex-reitor Márcio da Silveira responsável por uma operação da Policia Federal no
campus de Palmas e de se silenciar diante das agressões de seguranças da Kátia
Abreu a estudantes dentro do campus. Com um apoio desses a chapa “UFT Forte”
tem mais a perder do que ganhar. Porém com uma campanha eleitoral que tem sido
travada, sobretudo no campo virtual, não dá para decretar a vitória de ninguém
de forma antecipada.
Construir
uma Alternativa de Esquerda na UFT para o próximo pleito eleitoral
Para além do atual processo eleitoral é necessário
que os setores de esquerda, coerente e consequente, se organizem para oferecer
a comunidade acadêmica um projeto alternativo de universidade. Pois é fato que
os dois grupos atuais que disputam a reitoria não representam um projeto
alternativo, mas a continuidade de um projeto em curso desde a criação da UFT.
Enquanto não nos unificarmos para construir essa alternativa continuaremos a
reboque, sem força para enfrentar as elites que no final das contas é quem tem
definido quais os rumos da Universidade Federal do Tocantins. O que é um tanto
arriscado, sobretudo na conjuntura de sucateamento das universidades públicas
e, por conseguinte de sua privatização.
Mais do que nunca precisamos de uma alternativa que
afirma a necessidade de uma universidade pública, gratuita e de qualidade. Essa
alternativa que deve ser verdadeiramente de esquerda, não é só necessária como
possível. Exemplo maior foi à vitória do professor André Luiz para direção do
campus de Miracema, derrotando um grupo que comandava aquele campus quando
ainda se tratava da Unitins. No entanto essa alternativa não é algo que se
constrói do dia para noite. Por tanto precisamos começar o quanto antes
construir esse projeto alternativo que vai muito além da mera disputa por
cargos na estrutura burocrática da universidade. Mas que seja sobretudo um polo
de transformação da sociedade atual.
Pedro
Ferreira Nunes é da Coordenação Geral do Centro Acadêmico de Filosofia da
Universidade Federal do Tocantins – CAFIL/UFT.
terça-feira, 30 de maio de 2017
O Governo Temer e a Ética do discurso
Qual
a ética do discurso do Governo Michel Temer (PMDB)? Existe uma ética
no discurso do atual governo? Não estamos falando aqui dos casos de
corrupção, especialmente da operação lava-jato e todas as
denúncias que atola na lama o presidente Michel Temer até o
pescoço. Nosso objetivo aqui é analisar a ética do discurso do
governo Temer em relação ás reformas que ele tem levado acabo,
especialmente a previdenciária e a do ensino médio. Mais
especificamente o discurso por meio das peças publicitárias que
busca promover tais reformas.
Ao
analisar a contribuição do filósofo alemão Jurgen Harbermas a
cerca da ética do discurso, Reese-Schafer (2008) afirma que “a
ética do discurso busca dar à ética um fundamento racional através
do que os pressupostos da comunicação interpessoal permite
identificar os princípios morais realmente irrenunciáveis que devem
ser a base de toda convivência humana: o reconhecimento do outro, a
não-coação da comunicação e a disposição para solução de
problemas e a fundamentação de normas através do discurso livre e
igual”.
Não
é o que vemos, por exemplo, no discurso do governo Temer através
das peças publicitárias que buscam justificar a reforma do ensino
médio e a reforma da previdência. Enquanto na reforma do ensino
médio o governo usa a torto e a direito as estatísticas que apontam
que mais de 80% da população, especialmente os jovens, apoiam a
reforma do ensino médio. O mesmo não se vê quando se trata da
reforma da previdência, até por que se sabe que as pesquisas
apontam que menos de 10% da população apoiam essa reforma.
Logo
podemos concluir que quando favorece aos objetivos do governo, a
opinião da população é levada em consideração, como também
serve para justificar a continuidade do projeto, mesmo que haja
questionamentos. Por outro lado, quando a população é contrária
aos objetivos do governo, essa posição é completamente ignorada. E
pior, o governo tenta coagir a população fazendo terrorismo
psicológico, obrigando o povo a comprar o discurso do governo. É
isso que vemos na peça publicitária que promove a reforma da
previdência onde vemos a afirma que se a tal reforma não for feita
não terá dinheiro para pagar as aposentadorias futuramente. Com
isso o governo busca colocar pânico em quem já está aposentado,
obrigando-os a defender a reforma da previdência. Com medo de não
receber seu dinheiro no futuro trabalhador briga com trabalhador.
É.
Lamentavelmente parte da população acaba comprando esse discurso
antiético, é o que vemos no avanço da reforma trabalhista em
discursão no senado federal e na própria reforma do ensino médio –
onde o governo exibe com orgulho as estatísticas que apontam a
aprovação da população. Agora se utilizam da mesma tática para
tentar reverter à desaprovação pela população da reforma da
previdência. Recursos nesse sentido não têm faltado. Isso sem
falar na propaganda extraoficial feito pela grande mídia.
Para
Harbermas (1978) “de acordo com a ética do discurso, uma norma só
pode pretender validez quando todos os que possam ser concernidos por
ela cheguem (ou possam chegar), enquanto participante do discurso
prático, a um acordo quanto à validez dessa norma”. No caso do
governo Michel Temer e suas reformas o que há é um discurso
impositivo que tenta através da coação obrigar a população a
aceitar o projeto de desmonte do estado e usurpação dos direitos
sociais. Quando esse discurso não funciona, como temos visto no caso
especifico da reforma previdenciária, o governo não pensa duas
vezes em impor suas vontades através das forças de repressão
policial, incluindo as forças armadas.
Por
fim cabe destacar que do ponto de vista da moral o governo Michel
Temer tem agido conforme os interesses da classe que representa. Logo
ao afirmarmos que não existe ética no seu discurso não estamos
dizendo que não há moral. E fazemos essa afirmação para que a
população não se iluda a respeito de quais interesses esse senhor
representa. Esperar, portanto, que ele haja de forma contrária é
iludir-se. Cabe a nós resistir, e não comprar esse discurso
antiético que nada interessa para classe trabalhadora. Pois é um
discurso das classes dominantes que pretende continuar com seus
privilégios e regalias, enquanto o trabalhador é cada dia mais
espoliado e aleijado dos seus direitos fundamentais.
Pedro
Ferreira Nunes – É Educador Popular, Coordenador Geral do Centro
Acadêmico de Filosofia da UFT e militante do Coletivo José
Porfírio.
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Breves comentários a cerca da conjuntura
A conjuntura atual não tem nos dado muito tempo para
sentarmos e fazermos uma analise conjuntural mais aprofundada. Isso não é tão
ruim, sobretudo por que significa que as ações práticas tem nos demandado mais
atenção. E sem duvidas é melhor agir do que ficar teorizando. No entanto não
poderia deixar de tecer mesmo que de forma breve alguns comentários a cerca de
questões conjunturais que muito nos incomoda, especialmente as questões
regionais que são muitas vezes secundarizadas diante de uma conjuntura nacional
cada vez mais caótica.
Não questiono esse fato, pois nós mesmos estivemos
no ultimo período nos dedicando a construção da greve geral quase que 24 horas
por dia bem como nas articulações para o fortalecimento do movimento estudantil
revolucionário e de luta na Universidade Federal do Tocantins. E agora
voltaremos as nossas energias mais uma vez para o Fora Temer e por diretas já!
Mas claro, em nenhum momento deixamos ou deixaremos de esquecer do nosso
quintal.
Nessa linha faremos aqui uma breve analise dos cinco
primeiros meses da administração do Tércio Neto (PSD) a frente do executivo
municipal de Lajeado. Depois comentaremos o projeto de lei que cria o feriado
municipal do “Dia dos pobres” no município. Após essa analise local partiremos
para questões regionais como a liberação da licença ambiental para construção
da UHE Monte Santo no Rio do Sono. E partindo dai falaremos da questão
ambiental no Tocantins – a necessidade da continuidade da luta contra a UHE
Monte Santo. Relacionando com essa questão ambiental falaremos do cinismo como
a marca do governo Marcelo Miranda (PMDB). E por fim, concluiremos falando sobre
o cenário politico regional – articulações e alianças para 2018. Especialmente,
o posicionamento da senadora Kátia Abreu que tem nos chamado atenção como também
de setores do PT, do PC do B e do PSOL.
1-O
velho vestido de novo
O que falar dos 5 primeiros meses da administração
do Tércio Neto (PSD) a frente do executivo municipal de Lajeado? O que tem sido
feito de diferente em relação à gestão anterior? O que foram as obras
inauguradas durante o aniversário da cidade no último dia 05 de maio (Quadra
poliesportiva, 5 casas populares, campo de futebol e torre telefônica na zona
rural) se não obras que foram deixadas pela gestão anterior quase concluídas? O
que a atual gestão tem feito se não manter a mesma estrutura e o mesmo programa
de governo da gestão anterior? Aliás, tem sim algo de diferente. Uma equipe de
comunicação/marketing muito atuante – que tem feito enorme barulho nas redes
sociais. Mas que certamente não moram e nem vivem a realidade dos lajeadenses,
pois se não, não estariam falando tanta besteira. Mas no final das contas são
pagos para isso – maquiar a realidade. No entanto, nesses 5 meses de
administração, o que está claro é o que sempre dissemos – Que essa
administração seria mais do mesmo – uma continuidade da gestão anterior, isto
é, o velho transvertido de novo.
2- Projeto
de lei tenta criar o feriado do “Dia dos pobres” em Lajeado
Enquanto isso na Câmara de Vereadores de Lajeado o
Vereador Adilson Mascarenhas (PTB) apresentou um projeto de leis criando o
feriado municipal do “Dia dos Pobres” a ser comemorado em outubro. Agora os
pobres de Lajeado não tem do que reclamar, pelo contrário, devem ter orgulho de
serem pobres, ainda mais agora que terão um dia para comemorar o orgulho de ser
pobre. E assim em vez de combater a pobreza, se aprovar esse projeto de lei, a
Câmara de Vereadores de Lajeado vai esta indo na contramão, pois instituir o
dia do pobre não é combater a pobreza, mas sim aceita-la. Ora essa. Se os
vereadores querem fazer alguma coisa pelos pobres do Lajeado, por que não
aprovam um projeto de leis diminuindo seus salários e destinando esse recurso
para projetos comunitários?! Por mais nobre que pareça, esse projeto de lei só
mostra uma coisa – que ao invés de encarar os problemas de frente, o que se
esta tentando é joga-lo para baixo do tapete. Ai, de nós, ai de nós. É muita
mediocridade, é muita mediocridade por parte desses que se dizem representantes
do povo.
3- Naturatins
libera licença ambiental para construção da UHE Monte Santo
O Naturatins cumprindo o seu papel de homologador
das demandas do hidronegócio e do agronegócio no Tocantins liberou a licença
ambiental para construção da Usina Hidrelétrica Monte Santo no Rio do Sono – na
divisa das cidades de Novo Acordo e Rio Sono. Logo se vê que em nenhum momento
o governo Estadual através do seu órgão de “proteção ambiental” levou em
consideração a população que nas audiências públicas na sua grande maioria se
posicionou contra a construção da UHE e nem o fato de que o projeto apresentado
pela empresa responsável pelo empreendimento apresentava de forma clara quais
seriam os impactos ambientais na região, denuncia apresentada pelo movimento
local contra a construção da UHE Monte Santo.
4- A
Luta continua: Não á UHE Monte Santo!
É preciso ressaltar que quando entramos nessa briga
e denunciamos a construção da UHE Monte Santo. Já havíamos alertado que não nos
iludíssemos quanto ao papel do Naturatins.
...
não podemos ter nenhuma duvida quanto ao papel do Naturatins nesse processo.
Pois o Naturatins no Tocantins existe justamente para homologar os interesses
das elites agrárias e correr atrás de pescador – logo, se a população não se
mobilizar, o Naturatins vai com certeza liberar a licença ambiental para
construção da UHE Monte Santo. (Nunes, 2016)
Não deixemos aqui de reconhecer a belíssima
mobilização feita pela população através do Comitê Popular Contra a Construção
da UHE Monte Santo. Mesmo com essa mobilização o Naturatins liberou a licença
ambiental. O que não quer dizer que tenhamos que dá essa luta como perdida.
Continuemos mobilizados, pois a luta continua. Gritemos – Não a UHE Monte
Santo.
5- O
cinismo como marca de Governo
Ao mesmo tempo em que o governo Marcelo Miranda
através do Naturatins aprova uma licença ambiental para construção de mais uma
Usina Hidrelétrica no Tocantins – impactando de forma irreversível o nosso
bioma. Realiza uma feira agropecuária com o tema “Água, sustentabilidade de
vida”. Ora, a construção de mais uma UHE vai justamente na contramão da
utilização sustentável dos recursos hídricos do Tocantins. Isso mostra muito
bem a característica desse governo – o cinismo. Isso mesmo, não há algo melhor
para caracterizar o governo Marcelo Miranda se não o cinismo. E não fazemos
essa afirmação diante dessa questão isolada. É só analisar as atitudes e ações
desse governo diante de várias questões como as greves no serviço público, o
caos na saúde, o ajuste fiscal, os casos de corrupção entre outros. Essa
questão especifica, é apenas mais um dos muitos exemplos que mostra o cinismo
como marca desse governo. Ora o tema da Agrotins deveria ser: Água,
mercantilização da vida! Pois é de fato o que esse governo a serviço do
agronegócio e do hidronégocio faz.
6- -
É golpista, mas não larga o osso
A militância de uma
corrente interna do PT no Tocantins não abre mão de acusar o PMDB de partido
golpista. No entanto recusam-se a deixar os cargos que ocupam no governo
Marcelo Miranda (PMDB). Chegam inclusive ao extremo de defender um governo
indefensável – vendo avanços que não existem. O que dá para perceber é que
esses burocratas estão mais preocupados com seus cargos do que propriamente com
o sucateamento do partido no Estado, que nas ultimas eleições municipais, por
exemplo, conseguiram eleger apenas dois prefeitos. Para manter a coerência no
discurso o rompimento do PT com o PMDB deveria ter ocorrido há muito tempo. Mas
só agora percebemos esse movimento, já quase no apagar das luzes desse governo,
mesmo assim, com resistência. Já que parte da militância recorreu à direção do
partido nacionalmente para continuar usufruindo das regalias do poder.
7- O
malabarismo teórico do PC do B
Recentemente o PC do B
no Tocantins soltou uma nota política justificando o seu apoio à
pré-candidatura de Carlos Amastha (PSB) ao governo do Tocantins em 2018. Tentam
fazer todo um malabarismo teórico para justificar o injustificável. Chegando
inclusive a afirmar que se trata de uma candidatura progressista. Sinceramente
não sei de onde eles tiram tanta criatividade. O fato é que não dá para levar a
sério um partido que tal como o PT afirma que a presidenta Dilma sofreu um
golpe. Mas faz parte de uma gestão onde os dois principais partidos (PSB do
prefeito Amastha e PSDB da vice Cintia Ribeiro) estavam diretamente envolvidos
na defesa do impeachment de Dilma Rousseff. E que se caso o megaempresário vier
a ser eleito governo do Estado, esse megaempresário que o PC do B diz ser a
alternativa progressista para o Tocantins, quem assumirá a prefeitura da
capital será o PSDB. Ora, senhores, dizei-me, que tática é essa de
fortalecimento da classe trabalhadora?
8- Os
efeitos dessa tática
A tática do PC do B do
Tocantins tem o seu lado positivo, por exemplo, tem atraído um bando de
oportunistas que estavam em outros partidos encantados pela possibilidade de
terem um quinhão no loteamento de cargos num possível governo Amastha. Quem se
deu bem nisso foi o PSOL, pois as figuras que deixaram o partido para irem para
o PC do B, incluindo a ex-presidente e o secretário geral da sigla no estado,
mais prejudicavam do que contribuíam para construção e fortalecimento do
PSOL-TO. A tática do PC do B do Tocantins é uma ótima oportunidade para os
oportunistas que vivem buscando um atalho para alcançar seus objetivos. Que vão
para o PC do B ou para o PT. E Deixem os partidos de luta para aqueles que
lutam.
9- Por
outro lado
É triste ver que um
partido de referência a nível nacional como o PSOL, com figuras como Glauber
Braga, Marcelo Freixo, Renato Roseno, Chico Alencar, Ivan Valente, Jean Willis,
Luiza Erundina, Edimilson Rodrigues entre outros, em terras tocantinenses tem
servido apenas como trampolim politico para diversos bandos de oportunistas que
hora e outra tomam o partido. Tal fato não ocorreria se setores do partido a
nível nacional não bancasse esses oportunistas. Por tanto, em ultima analise, a
responsabilidade pela falta de credibilidade bem como de crescimento do PSOL no
Tocantins não é dos oportunistas que hora e outra chegam à direção do partido
no estado. Muito pelo contrário, a responsabilidade é do setor majoritário do
PSOL Nacionalmente que banca esses oportunistas em detrimento da militância
verdadeiramente de esquerda, coerente e consequente. Que é minoria, mas não
mancha o nome do partido.
Por fim não poderíamos
deixar de comentar a nova imagem que a senadora Kátia Abreu tenta construir,
isto é, de um político progressista, e com isso tem inclusive flertado com
ideias de esquerda. Critica ferrenha do governo Marcelo Miranda – que ela
ajudou eleger. De Michel Temer – que a trouxe para o PMDB. E uma das principais
vozes contra a o impeachment de Dilma Rousseff – de quem foi ministra da
Agricultura. Entrando assim em rota de coalizão com setores mais radicais dos ruralistas
e da direita tradicional. Kátia Abreu que outrora fora uma das parlamentares preferidas
da revista Veja, tida como uma grande liderança da direita a nível nacional,
eleita pelos movimentos ambientais como a miss motosserra, principal
financiadora do MATOPIBA, agora tenta mudar sua imagem. Ora, o que uma
pretensão politica não faz com alguém. A radical Kátia Abreu posa agora de boa
moça. Tudo para obter apoio a sua pretensão de se candidatar ao governo do
Estado. E não faltaram oportunistas que se dizem de esquerda que caíram nesse
engodo.
11- Pela
construção de uma verdadeira alternativa de esquerda no Tocantins
De acordo com Netto
(2013) “A crise contemporânea do mundo do capital abre para nós uma
oportunidade concreta de, exercitando a crítica radical, fomentar a
reconstituição e a renovação de uma cultura política socialista”. Sabemos que
não é uma tarefa fácil, especialmente no Tocantins, onde não temos uma tradição
de lutas da esquerda revolucionária. No entanto não podemos abrir mão de
exercitar a crítica radical, seja a quem quer que seja, sobretudo a setores que
se dizem de esquerda, mas que estão a serviço da direita. Como bem mostramos
nos exemplos acima. Além da crítica radical devemos esta de forma incondicional
nas lutas da classe trabalhadora no campo e na cidade. É na luta que nos
tornaremos referência. Esse é com
certeza o caminho para construirmos uma verdadeira alternativa de esquerda no
Tocantins.
Pedro
Ferreira Nunes – é Educador Popular, Bacharel em
Serviço Social, faz parte da Coordenação Geral do Centro Acadêmico de Filosofia
da UFT e Milita no Coletivo José Porfírio.
quarta-feira, 17 de maio de 2017
Obrigado Belchior!
Conheci
as canções de Belchior no final da minha adolescência e logo se
tornaram parte da trilha sonora da minha vida. As três primeiras
canções desse grande artista que conheci e que me marcaram
profundamente foram – “Comentários a respeito de John”, “Como
nossos pais” e “Tudo outra vez”. Eram canções que ouvíamos
nas noites frias lajeadenses conversando sobre educação, política
e poesia – “saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho, deixem
que eu descida a minha vida...”. Mas foi quando deixei o interior
tocantinense para morar em terras goianas que as canções de
Belchior se tornaram mais presente na minha vida – aquelas letras
um tanto melancólicas refletiam justamente o momento que estava
vivendo.
Uma
das letras que marcaram os meus primeiros dias em terras goianas era
“Tudo outra vez – há tempo, muito tempo que estou longe de casa
e nessas ilhas cheias de distância o meu blusão de couro já se
estragou, ouvi dizer num papo da rapaziada que aquele amigo que
embarcou comigo, cheio de esperança e fé já se mandou”. Essa
canção sempre me vinha na cabeça, sobretudo quando sentava em
algum terminal esperando o ônibus para ir para o trabalho ou
voltando para o barracão onde morava. Lembrava que estava longe de
casa e que a companheira que havia ido comigo não aguentara e
voltara para o Tocantins. Ah, como sentia falta do Tocantins, do
Lajeado – das ruas, do rio, da serra, dos amigos e dos amores que
aqui deixara.
“Apenas
um rapaz latino americano” e “Apalo seco” foram canções
significativas também nesse período. “Tenho 25 anos de sonho e de
sangue e de américa do sul, por força desse destino um tango
argentino vai bem melhor que um blues”. Desde então quando era
questionado quem eu era e de onde vinha – dizia: “Eu sou apenas
um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes
importantes e vindo do interior”. Eu não seria capaz de fazer de
minha própria inspiração uma definição tão perfeita de mim
mesmo. E quando entrei para faculdade de Serviço Social, Belchior
continuou a me acompanhar. Nesse período ouvia muito “Galos,
noites e quintais” nas minhas noite de solidão lembrando da minha
adolescência no Lajeado – “quando eu não tinha o olhar
lacrimoso que hoje trago e tenho... eu era alegre como um rio, um
bicho, um bando de pardais, como galos quando havia, quando havia
galos noites e quintais, mas veio o vento forte e a força fez comigo
o mal que a força sempre faz, não sou feliz, mas não sou mudo,
hoje eu canto muito mais”.
Depois
veio a militância politica junto aos operários, aos camponeses
pobres e aos estudantes. Embalado pelos versos de “Velha roupa
colorida – Você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de
lhe dizer meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer”.
De “Conheço o meu lugar – não há motivo para festa ora essa
não sei rir a toa, fique você com a mente positiva, eu quero voz
ativa ela é que é uma boa”. Passava noites em claro escrevendo
propaganda subversiva para espalhar nos acampamentos e assentamentos
de camponeses pobres interior à dentro como também em outras
frentes de lutas que participávamos. O que relatei nos bastidores do
diário da ocupação da superintendência do INCRA-GO: “Á noticia
também chegou ao ouvido de outros camaradas que começaram a
comemorar, no entanto foi preciso alertar para que não se fizesse
muito alarde e nem se espalhasse. Em seguida segui para a sede do
movimento Terra Livre no setor universitário, chegando lá comprei
umas cervejas, coloquei algumas canções do Belchior e comecei a me
inspirar para escrever as notas”. (2014; 92).
E
essa não foi à única vez que fiz questão de declarar a
importância das canções desse grande artista para mim – do
quanto me influenciaram e continuam a me influenciar, por exemplo, no
poema “Minhas Paixões” onde declaro: “Ouvir Belchior, tomar
uma cerveja gelada, fumar um gostoso palheiro, andar nas ruas de
madrugada”. Ou no poema “Teu olhar” que escrevi: “Teu olhar
de menina me fascina, como as canções de Belchior, como a vida no
interior, como um guerrilheiro que luta movido pelo amor”. Belchior
também esta presente nas minhas crônicas e contos. Como por
exemplo, na crônica “Tudo bem que se fizesse um shopping em
Miracema, mas era mesmo preciso acabar com o mercadão?” Escrevi:
“Como diz a bela
canção do Belchior ‘ É você que ama o passado e que não vê
que o novo sempre vem’. Será que sou assim? Não é que eu odeie o
novo e muito menos amo o passado. O fato é que eu não posso aceitar
a lógica de que o novo para subsistir precisa destruir a nossa
história. Não, não posso aceitar essa lógica. Claro que o novo
deve vir, mas para tanto não precisamos destruir a nossa história”.
(2013; 2).
Já
se passaram muitos anos desde que escutei pela primeira vez “saia
do meu caminho, eu prefiro andar sozinho, deixem que eu descida a
minha vida...” Muita coisa mudou, mas continuo fazendo desses
versos uma filosofia de vida. E assim continuo sendo um rapaz latino
americano com um diploma de sofrer de outra universidade e que ainda
é um estudante que sonha e escreve em letras grandes pelos muros do
país que viver é melhor que sonhar e que o amor é uma coisa boa.
Obrigado Belchior! Obrigado por esta ao meu lado estes anos todos
fazendo parte da trilha sonora da minha vida. Uma vida que continua
não sei até quando, mas da qual espero me despedir fumando um
cachimbo, tomando um conhaque e ouvindo suas canções.
Pedro
Ferreira Nunes
terça-feira, 9 de maio de 2017
Filosofia e Cinema: Problemas Filosoficos em Dolls: A Esfera Pública e a Esfera Privada e a Questão Ética e Moral.
Em
Dolls, Takeshi Kitano nos apresenta uma estória violenta e poética
ao mesmo tempo – estória de alguns personagens que ao romper com
ás tradições da sociedade japonesa acabam tendo um destino
trágico. No embate entre manter a tradição ou subverte-la, entre
cumprir o dever com a coletividade ou satisfazer sentimentos
individuais percebemos uma discussão entre ética e moral. Nessa
linha salientamos o pensamento de Adolfo Sanchez Vasquez a cerca
dessa questão. Para este autor as questões éticas não dizem
respeito apenas a nós, mas também a outras pessoas. Já a moral são
atos e formas de comportamento dos homens em face de determinados
problemas. (Vasquez, 1984). Logo nosso objetivo nesse breve artigo é
abordar a questão ética e moral á partir da perspectiva de Adolfo
Sanchez Vasquez no filme Dolls de Takeshi Kitano. Antes faremos uma
breve abordagem a cerca da questão da coletividade versus
individualidade, relacionando tal temática com a influência do
pensamento de Confúcio na sociedade japonesa. E ainda nessa linha
faremos uma relação do problema a cerca da coletividade versus
individualidade com a questão da esfera pública e da esfera privada
a partir do pensamento de Hanna Arendt. E por fim abordaremos a
violência apresentada em Dolls – uma violência que não é
explicita, mas que não deixa de ser impactante. Aliás, o impacto da
violência em Dolls esta no fato de que ela não é explicita.
Dolls
e a questão da coletividade versus individualidade
O
problema a cerca do dever com a coletividade versus a individualidade
– de manter a tradição ou subvertê-la é uma das questões
centrais que percebemos nas estórias dos personagens de Dolls. Por
exemplo, quando Matsumoto decide abandonar o casamento no ultimo
momento com a filha do Chefe para resgatar sua antiga noiva que
tentara o suicídio após o termino da relação. Já Nukui abandona
o seu dever no trabalho para se aproximar do seu ídolo. E Hiro ao
romper com as regras rígidas da máfia ao se relacionar em público
com sua amada. Em todas essas estórias percebemos o rompimento com o
dever com um coletivo para satisfação de desejos individuais. E
nesse embate entre deveres coletivos e sentimentos individuais
percebemos a influência da filosofia confucionista que ainda hoje
tem forte presença na cultura japonesa.
Segundo
Ferreira (2008) “a manutenção desse pensamento se dá não apenas
num estabelecimento de uma relação hierárquica dentro da
sociedade, mas principalmente na força de um pensamento que valoriza
o sentimento comunitário, o pertencimento a um grupo, que pode ser a
família, a turma, a empresa, acima das individualidades. As relações
hierárquicas vão se estabelecer muitas vezes dentro desse
sentimento de grupo”. Logo quando os personagens de Dolls rompem
com essa logica acabam sendo punidos – todos acabam tendo um
destino trágico por romperem com a tradição, com o dever, com a
coletividade. E tais decisões acabam desencadeando uma cadeia de
violência. Que, aliás, é uma característica desse filme.
A
violência em Dolls ou a beleza da dor
Em
Dolls, Takeshi Kitano nos apresenta uma perspectiva diferente da
violência. Não aquela violência de uns contra os outros que
geralmente vemos no cinema, mas sim uma violência contra si mesmo –
uma espécie de autopunição, de autodestruição. É o que
percebemos, por exemplo, na estória do fã (Nukui) que cega os
próprios olhos para se aproximar do seu ídolo – e como
consequência acaba morrendo atropelado. Ou do casal de mendigos
acorrentados (Sawako e Matsumoto) que caminham para o precipício. Ou
do chefão da máfia (Hiro) que por tentar reviver um antigo romance
do passado acaba sendo assassinado por não cumprir as regras que seu
cargo de chefe da máfia exige. Também podemos afirmar que a
violência que mais chama atenção em Dolls não é a violência
explicita, mas sim aquela que está em pequenos gestos como, por
exemplo, quando o fã pega o estilete para furar os olhos – não
precisamos vê-lo furando os olhos para sentir a dor, ou quando o
mesmo é atropelado e vemos apenas o vermelho do seu sangue – não
precisamos ver o seu corpo ensanguentado para sentir a dor. Já no
caso do chefão da máfia a violência não esta quando ele leva os
tiros, mas nos segundos antes quando ele olha para os seus capangas
que o esperam no carro e percebe que será morto pelas costas. E no
caso do casal de mendigos acorrentados é o momento em que ele pega a
corda e fica analisando-a, pensando no que irá fazer. Ali percebemos
o ponto extremo a que eles chegaram e que os levará para o abismo.
Segundo
Ferreira (2012) “em Dolls destaca-se uma violência que não é
física, mas sim uma violência dos sentimentos, presente nas
relações entre os personagens, na impossibilidade de realização
desses relacionamentos”. Porém toda essa violência nos é
apresentada de uma forma poética, de uma forma bela. E a beleza tal
como a violência esta nas ações e nos gestos. Ações que os levam
a romper com os “status cos”, com o pensamento hegemônico, com o
“tu deves” – ações que são “gritos de liberdade preso na
garganta”. (Garatos Podres, 1993). Ainda nessa linha sobre a forma
poética como a violência é apresentada em Dolls é importante
destacar a contribuição de Ariano Suassuna ao analisar o pensamento
de Aristóteles sobre as categorias de beleza, em especial o sublime
e o trágico. Para Suassuna (2008) o Sublime é aparentado com o
Trágico, por que ambos despertam o terror e a piedade. A distinção
entre os dois se encontra no fato de que enquanto o Trágico é
despertado por uma ação, o Sublime se dá pelo pensamento. Logo
podemos afirmar que o Sublime está ligado mais as artes literárias,
como por exemplo, a poesia épica e a filosofia. Já a tragédia esta
mais ligada ao Teatro. E é justamente no Teatro Bunraku que Takeshi
Kitano vai se inspirar para contar as estórias trágicas e violentas
de seus personagens no filme Dolls.
Dolls
e a questão da esfera pública e da esfera privada
Para
Arendt (2011) a esfera pública é aquilo que é comum a todos. Logo
“a esfera pública, enquanto mundo comum reúne-nos na companhia
uns dos outros e, contudo evita que colidamos uns com os outros”.
(Arendt, 2011). Percebemos ai a questão do dever – o dever é
fundamental para que não colidamos uns com os outros. A coletividade
também contribui para que não caminhemos para o isolamento radical.
E a partir dai para um processo de negação da pluralidade que pode
levar os homens a se tornarem seres privados. Privados no sentido de
não conseguir dialogar com o outro. Podemos perceber tal fato em
Dolls, sobretudo na estória de Matsumoto e Sawako que caminham para
um completo isolamento.
Por
outro lado Arendt (2011) também ressalta o risco de se perder a
privacidade. Das pessoas não terem direito a viver seus sentimentos
para atender o coletivo. Nessa linha a esfera privada acaba se
tornando um refugio para o homem diante do mundo comum. Sendo que
quando se vive apenas em público acabaríamos tendo uma vida
superficial. É justamente disso que os personagens de Dolls buscam
fugir – de uma vida superficial. Pois se aceitasse se casar com a
filha do chefe Matsumoto não estaria fazendo o que gostaria mais sim
a vontade dos seus pais. Logo o que resultaria de uma união forçada
era uma vida superficial. Da mesma forma Nukui e Hiro.
Segundo
Arendt (2011) “não é de forma alguma verdadeiro que somente o
necessário o fútil e o vergonhoso tenham o seu lugar adequado na
esfera privada. O significado mais elementar das duas esferas indica
que há coisas que devem ser ocultadas e outras que necessitam ser
expostas em público para que possam adquirir alguma forma de
existência”. A partir dessa reflexão percebemos como é
fundamental garantir a existência tanto de uma esfera pública como
de uma esfera privada. Á perca de uma dessas ou das duas é
perigoso. Nesse sentido podemos concluir que se Matsumoto, Nukui e
Hiro optassem por atender aos deveres coletivos, ao invés de
sucumbir aos sentimentos individuais, não teriam um destino menos
trágico. Pois abrir mão da nossa individualidade de viver o que
sentimos para assumir o papel que a sociedade nos impõe não deixa
de ser uma violência, uma tragédia. Logo é preciso buscar um meio
termo – onde o público e o privado coexistam. Porém em uma
sociedade tradicional e hierárquica isso não é uma tarefa fácil.
Dai que a saída do auto sacrifício parece ser uma perspectiva mais
honrosa. E foi justamente esse o caminho trilhado por Matsumoto e
Sawako – o casal de mendigos acorrentados, pelo jovem Nukui – o
fã que cegou os olhos, e por Hiro – o chefe da máfia.
Dolls
e a questão ética e moral
O
problema central em Dolls é a cerca do dilema entre manter a
tradição ou subverte-la, em cumprir os deveres com o coletivo ou
realizar seus desejos individuais. Nas estórias que se entrelaçam
os personagens decidem romper com o coletivo para viver seus desejos
individuais. Eles decidem se isolar na esfera privada e se afastarem
completamente da esfera pública. E tal decisão acaba os levando
para um final trágico. Por outro lado, se eles houvessem optado em
seguir um caminho oposto, isto é, se cumprissem os deveres exigidos
pelo coletivo, teriam tido um destino menos trágico? Como afirmamos
anteriormente, acreditamos que não. E do ponto de vista da ética e
da moral como podemos ver essa questão central que nos apresenta
Takeshi Kitano em seu Dolls? Antes propriamente de abordar essa
questão nos cabe aqui brevemente diferenciar a ética de moral.
Nessa
linha ressaltamos que a ética é generalista, logo seus princípios
devem ser universais. Ela se torna, portanto de caráter mais teórico
do que prático. Logo o que se faz concretamente está mais ligado à
questão moral do que ética. Sendo assim, a ética esta ligada a
teoria enquanto a moral a prática. Diante disso fica claro que em
Dolls as ações dos personagens são de ordem moral e não éticas.
É
possível falar em comportamento moral somente quando o sujeito que
assim se comporta é responsável pelos seus atos, mas isto, por sua
vez, envolve o pressuposto de que pôde fazer o que queria fazer, ou
seja, de que pôde escolher entre duas ou mais alternativas, e agir
de acordo com a decisão tomada. O problema da liberdade da vontade,
por isso, é inseparável do da responsabilidade. (Vasquéz,
1984)
Matsomoto,
Sawako, Nukui e Hiro agiram moralmente pelo fato de que todos eram
responsaveis pelos seus proprios atos, tinham mais de uma opção, e
quando decidiram por tal opção seguiram até as ultimas
consequências. Logo ao exercerem a liberdade de escolha, tiveram que
arracar com as responsabilidades adivindas de suas decisões. Mas
esse comportamento moral baseado na individualidade choca com a
moralidade hegemonica. Isto é, com a moralidade da comunidade. E
isso percebemos claramente em Dolls, um conflito entre morais
distintas. Tal fato é uma caracteristica de uma sociedade
fundamentada na divisão de classes, concepções diferentes de
morais, e, por conseguinte uma disputa entre estas. Assim Vasquéz
(1984) vai afirmar que a moral tende a se diversificar de acordo com
os interesses antagonicos. E isso contribuie para que se tenha um
progresso moral. Claro que numa sociedade tradicionalista e
hierarquica como é a japonesa esse progresso moral é um tanto mais
lento como em outros países – onde existe uma maior disputa de
classes e, por conseguinte de morais. É justamente nesse interim que
entra a ética.
Segundo
Vasquéz (1984) “A ética parte do fato da existência da história
da moral, isto é, toma como ponto de partida à diversidade de
morais no tempo, com seus respectivos valores, princípios e normas.
Como teoria, não se identifica com os princípios e normas de
nenhuma moral em particular e tampouco pode adotar uma atitude
indiferente ou eclética diante delas. Juntamente com a
explicação de suas diferenças, deve investigar o princípio que
permita compreendê-las no seu movimento e no seu
desenvolvimento”.
Nessa
linha podemos fazer uma leitura de Dolls como uma obra que aborda a
questão ética – o filme de Takeshi Kitano não busca determinar
ou criar uma nova moral, mais sim analisar a história da moral no
Japão e como ela se consolidou. Uma moral hegemônica baseada num
dever com o coletivo, com a hierarquia e a tradição. Mas sem
esconder os conflitos morais que existe no país. Assim Kitano
contribui com seu filme não apenas para que compreendamos a moral ou
as morais japonesa, mas também o seu desenvolvimento.
Conclusão
Partindo
da concepção de que a Filosofia possui problemas, sendo que segundo
Porto (2002) a unidade dinâmica interna desses problemas é o que
está na base da multiplicidade e da mudança de temas e opiniões. E
ainda que o caminho para entendermos um autor é ver a sua filosofia
como resposta “ao” problema que ele se coloca. Assim buscamos
analisar e compreender o filme Dolls
do cineasta Japones Takeshi Kitano a partir dos problemas filosoficos
que ele nos apresenta, isto é, a questão da esfera pública e da
esfera privada e a questão da ética e da moral. E para compreender
essas questões buscamos as reflexões dos filosofos Aldofo Sánches
Vasquéz e de Hanna Arendt. O que nos levou a concluir que a ética e
a moral é um tema central discutido em Dolls.
Referências
bibliográficas
ARENDT,
H. A Condição
humana. 10º ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2011.
FERREIRA,
GUSTAVO HERINQUE LIMA.
Dolls: O teatro Bunraku no cinema de Takeshi Kitano. UFRN -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. AVANCA | CINEMA
2012.
GAROTOS
PODRES. Aos fuzilados
da CSN. CD canções para ninar. Vol. 01 – São Paulo:
Independente, 1993.
PORTO,
MARIO ARIEL GONZALEZ.
A filosofia a partir de seus problemas. São Paulo: Ed. Loyola, 2002.
SUASSUNA,
ARIANO. Iniciação á
Estética. – 9º edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
VÁSQUEZ,
ADOLFO SÁNCHEZ.
Ética. - 4º ed. Barcelona: Editorial critica, 1984.
quarta-feira, 3 de maio de 2017
Notas de um dia histórico: Estudantes, Professores e Técnicos Administrativos da Universidade Federal do Tocantins participam da maior Greve Geral da História do Brasil.
Era
pouco mais das 05h30 da manhã quando chegamos ao campus Palmas da
Universidade Federal do Tocantins para nos somarmos aos técnicos
administrativos e professores do Comitê Reage UFT que ali estavam
para fazer um piquete e mobilizar a comunidade acadêmica a aderir à
greve geral. Não perdemos tempo e logo abrimos nossas faixas que
davam o recado: GREVE GERAL! FORA TEMER: EM DEFESA DOS NOSSOS
DIREITOS. SERVIDORES DA UFT NA LUTA! UFT NA LUTA E NAS RUAS: CONTRA
AS REFORMAS DO GOVERNO TEMER! UFT NA GREVE GERAL: EM DEFESA DOS
DIREITOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS! Com megafone em punho anunciávamos
– 28 de Abril é Greve no Brasil. E assim, aos poucos mais e mais
pessoas foram se incorporando ao movimento que também recebia a
solidariedade dos motoristas que por ali passavam seguindo rumo a BR
– 153.
Os
primeiros raios do sol da manhã chegaram trazendo consigo os
primeiros ônibus. Logo pensamos, é agora que começará os
questionamentos e as tentativas de furarem o piquete. Mas para nossa
felicidade á maiorias dos ônibus que chegavam estavam completamente
vazios. Apenas um ou outro estudante desavisado que não criou
problema algum. Isso nos mostrou o quanto havia sido bem sucedido o
trabalho de mobilização para greve geral realizado pelo comitê
Reage UFT – um trabalho que começou ainda no início de abril e
que realizou reuniões, assembleias e discussões com toda a
comunidade acadêmica no sentido de convencê-la da importância de
aderir a greve geral. E como fruto desse trabalho árduo não houve
nenhuma resistência por parte de professores, estudantes, técnicos
administrativos ou dos terceirizados no sentido de furar a greve
geral na UFT.
O
gozado é que esse professor que obrigou os seus estudantes a irem
para aula e não participar da greve, pois se não perderiam a prova
e levariam bomba, nos acusou de obrigar as pessoas a aderir ao
movimento grevista. Ora, qual a moral de um sujeito desses que
fazendo uso de sua autoridade tentou obrigar seus estudantes a
boicotar o movimento grevista? Foi à mesma atitude de patrões que
ameaçaram cortar o ponto de seus funcionários e dos governos de
plantão que se utilizando das forças policiais reprimiu os
manifestantes Brasil afora. No entanto não conseguiram impedir que a
greve geral fosse realizada com êxito. Mas esse episódio também
deve nos servir de lição para que na próxima façamos um trabalho
de base na Unitins tal como fizemos na UFT e no IFTO.
Marcha
Unificada das Centrais Sindicais e Movimentos Sociais na JK
O
Sol estava alto, enquanto isso mais pessoas se somavam ao piquete na
entrada do campus Palmas. As noticias que nos chegavam de outras
partes eram animadoras – São Paulo e outros grandes centros estão
parados. O interior do Tocantins também em luta – Porto Nacional,
Araguaína, Gurupi, Tocantinópolis, Divinópolis, Miracema. Na
avenida JK em frente ao Colégio São Francisco milhares de
manifestantes se concentravam para marcha unificada.
Com
o nosso primeiro objetivo cumprido ali no portão da UFT era o
momento de se somar aos outros trabalhadores e organizações sociais
na marcha unificada. E assim fizemos, saímos em comboio pelas ruas
de Palmas até o local da concentração. Ao longo do caminho não
pude deixar de notar o estacionamento do shopping vazio – o que nos
trouxe grande felicidade. Vazio também estava o comercio na avenida
JK e os ônibus que circulavam com um ou outro desavisado.
Era
por volta das 09h da manhã quando a marcha partiu cortando á
avenida JK em sentido ao palácio Araguaia. Eram milhares de
trabalhadores de diversas categorias – com faixas, bandeiras e
cartazes – professores, servidores gerais, trabalhadores sem teto,
trabalhadores sem terra e a juventude. Aliás, era a juventude com
seu fervor e entusiasmo – cantando, dançando, e gritando palavras
de ordem que seguia na linha de frente. Estudantes, Professores e
Técnicos Administrativos da UFT vinham em seguida com grande
entusiasmo. Entusiasmo que ia aumentando com a incorporação cada
vez maior de estudantes, professores e técnicos administrativos que
haviam ido direto para a marcha. O que fez com que o bloco coordenado
pelo comitê Reage UFT fosse um dos mais destacados na manifestação.
Enquanto
a marcha seguia triunfante, um helicóptero da policia militar a
mando do governador Marcelo Miranda (PMDB) nos provocava
ameaçadoramente com agentes fortemente armados. Os policiais que
acompanhavam do chão tentavam impedir que tomássemos toda a pista.
Mas não tiveram êxito, as provocações por parte do aparelho
repressivo só aumentou a nossa disposição. E assim a marcha
seguiu. Seguiu firme até chegar ao seu destino final. E ali
encerramos com um grande ato onde as diversas organizações
presentes falaram contra as reformas do governo Temer, pediram por
sua saída e conclamaram por eleições gerais já.
Algo
que gostaríamos de destacar foi de fato o caráter unitário da
manifestação em Palmas. Algo que eu particularmente ainda não
havia visto. Centrais sindicais e movimentos sociais deixando de lado
suas diferenças para marchar conjuntamente numa luta comum – sem
brigas, sem disputa de ego para ver quem dirigia o movimento. CUT,
UGT, Força Sindical, CTB, CSP-Conlutas, NCST. Além dos sindicatos,
dos movimentos sociais, e da juventude trabalhadora. Me dei conta
dessa unidade quando num dado momento uma camarada passou por mim com
uma camisa da CUT, um chapéu da UGT e uma bandeira da CTB na mão.
Breve
balanço
O
principal objetivo de uma greve geral não é apenas colocar milhares
de trabalhadores nas ruas. Mas sim atingir o bolso do capitalista,
parar economicamente o país, e incomodar governos e patrões. E esse
objetivo a greve do dia 28 de Abril alcançou inquestionavelmente.
Ora, a mesma impressa que tenta desqualificar o movimento noticia que
houve locais em que a queda das vendas no comercio chegou a 70%.
Outro veiculo de comunicação aponta uma estimativa de perca de 5
bilhões de faturamento em todo o Brasil. As imagens do comercio com
portas fechadas, ruas vazias e ônibus e metrôs parados falam por si
só e é muito mais significativo do que milhares de pessoas com uma
camisa da seleção brasileira de futebol num domingo a tarde
caminhando como gado obedecendo a elite oligárquica que comanda o
país.
Ao
contrário de alguns camaradas, não me causa nenhuma indignação à
cobertura da imprensa brasileira a cerca da greve geral. Muito pelo
contrário, isso é um ótimo sintoma. Senti fortemente os ares de
junho de 2013 quando as manifestações que começaram a crescer a
cada dia obrigou a grande imprensa e os governos de plantão a mudar
o discurso. Ora não é nenhuma surpresa a tentativa por parte do
governo e da imprensa de desqualificar o movimento legitimo dos
trabalhadores e, por conseguinte criminaliza-lo. Novamente vemos o
discurso que tenta dividir os “bons manifestantes e os maus
manifestantes”, como também uma linha de dar ênfase maior nos
confrontos violentos. Tudo isso é um sintoma forte do abalo causado
pela greve geral.
Ora,
“dizei-me anêmicos e anões” desde quando se faz movimento
grevista para agradar o patronato e o governo? Se faz greve
justamente para incomodar. E o fato é que incomodamos, incomodamos e
muito. E isso sim é democracia, como afirma o professor José Paulo
Netto “quem quer democracia conversando do palácio com luva de
pelica, na verdade nem quer conversar e nem quer democracia”.
Por
fim é preciso destacar uma diferença da greve geral com as
manifestações de junho de 2013. Agora temos uma direção política
e esse fato abre uma grande perspectiva para o próximo período,
logo não tenho duvida que uma próxima greve geral, á qual não
devemos ter receio e nem devemos perder tempo em começar a
articular, será muito maior e mais histórica do que essa greve.
Sigamos sem vacilar nessa luta, hasta la victoria siempre!
*Coordenador
do Centro Acadêmico de Filosofia da Universidade Federal do
Tocantins, Membro do Comitê Reage UFT e militante do Coletivo José
Porfírio.
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