segunda-feira, 23 de abril de 2018

Lajeado: Enquanto o prefeito anuncia para breve a inauguração de um dos principais pontos turísticos do Tocantins, estudantes universitários sofrem com a falta de transporte público.

Recentemente o atual prefeito do município de Lajeado do Tocantins (Tércio Neto do PSD) apareceu em um vídeo  https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=560771994309278&id=100011294475516 anunciando que será inaugurada no dia 05 de maio (data em que se comemora o aniversário da cidade) a praia do Segredo – que segundo ele – será um dos mais belos pontos turísticos do Tocantins. Pelo projeto divulgado pela gestão municipal de fato a praia do Segredo caminha para se tornar um ponto turístico de referência na região. Investimento para garantir que isso se concretize não tem faltado e com isso as obras estão a todo vapor. Mas será que essa deveria ser a prioridade da gestão Tércio Neto a frente da prefeitura municipal de Lajeado no momento atual?

Ora, enquanto a cidade está polvorosa com o anuncio dessa inauguração – os estudantes universitários há algumas semanas vem sofrendo com a falta de transporte público. A justificativa da gestão municipal é de que o transporte que serve os universitários está quebrado. E os outros veículos da frota municipal estão sobrecarregados da enorme demanda. No entanto na mesma semana que os estudantes universitários ficaram sem transporte público, a gestão municipal cedeu ônibus da sua frota veicular para transportar pessoas para uma festa privada na zona rural no munícipio de Miracema e para transportar evangélicos para um dia de lazer numa chácara na beira do lago. 

E enquanto isso os universitários tem que se virar como podem para poder ir à faculdade. Já que faltar uma semana de aula significa comprometer todo o período letivo. No entanto nem todos têm condições de arcar com um transporte alternativo e acabam tendo que trancar o curso na universidade ou simplesmente acabam sendo reprovados. Pois quando vão relatar para seus professores a cerca do problema com o transporte, simplesmente ouvem – se virem. Se não vierem, é falta.

Pelo que se observa no município a cerca da postura da gestão Tércio Neto (PSD) em relação ao transporte público dos universitários, a tendência é piorar. Inclusive chegando ao ponto em que não haverá mais ônibus para transportar os estudantes. Sobretudo porque se percebe claramente que a frota veicular do município está a cada dia mais envelhecida e sucateada. E não há por parte da gestão municipal nenhum movimento para mudar essa situação. E nem é por falta de recursos que não há esse movimento. 

Ora, não é por falta de recursos que não se investe na renovação da frota municipal de transporte. Não é por falta de recursos que, por exemplo, não se adquire um ônibus exclusivo para o transporte dos universitários (aliás, a aquisição de um ônibus novo para atender a demanda dos universitários de Lajeado foi uma das promessas de campanha do senhor Tércio Neto). Se não falta recurso, o que falta então? 

Falta vontade política, falta priorizar de fato a educação no município. É o que nos revela o exemplo que trouxemos inicialmente, isto é, há recursos disponíveis para se construir “um dos mais belos pontos turístico do Tocantins”, mas não há para investir na renovação da frota veicular para servir melhor a população, especialmente os estudantes. 

Em defesa da lei municipal 342/11 – Pela garantia de transporte público e gratuito para os universitários de Lajeado!!!

É importante ressaltar que os estudantes universitários do município de Lajeado não estão pedindo nenhum favor ao prefeito Tércio Neto e a sua gestão. O transporte público e gratuito dos universitários é um direito garantido em lei – a lei municipal 342/11 aprovada na Câmara de Vereadores e sancionada pela então prefeita Marcia Reis. 

A lei 342 determina ao poder público municipal a disponibilização de um ônibus para transportar sem custos “estudantes que frequentam cursos universitários fora do município de Lajeado, cujos cursos não sejam oferecidos nesta cidade”. Isto é, todos os estudantes universitários do município, já que não há oferta de cursos superiores e nem técnico profissionalizante na cidade.

No entanto é importante ressaltar que a lei por si só não é uma garantia de que a gestão municipal irá cumprir o que determina a legislação vigente. Não nos esqueçamos que há quase 01 ano a câmara de vereadores de Lajeado aprovou um projeto de lei que determina a disponibilização de um ônibus para transportar trabalhadores de Lajeado a Palmas – o que ainda não se cumpriu. Sendo assim, é preciso que os estudantes universitários de Lajeado se organizem e se mobilizem para fazer garantir os seus direitos.  Ou se não, como já dissemos, a tendência é piorar o que hoje já é ruim.

Pedro Ferreira Nunes – Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Poema: Farinhada

Levantar bem cedinho antes dos primeiros raios de sol,
tomar café com cuscuz,
depois seguir para a roça arrancar mandioca.

Uma parte é colocada de molho em água quente para amolecer,
outras serão raspadas e raladas,
ai é só misturar tudo e por para secar.

Depois é peneirar a massa,
e por o forno para esquentar.
Em seguida põem a massa no forno
para assar.

Enquanto isso na cozinha as camaradas estão com o almoço a preparar.
- Dona Maria o que tem pra almoçar?
- Arroz com pequi, chambari e feijão trepa pau.

Farinhada no norte é um momento de festa,
de juntar toda a família e a vizinhança também
todo o trabalho em feito em mutirão.

Para o campesinato cultivar a terra é uma necessidade,
e não uma obrigação.
Fazer isso coletivamente
Para o camponês é uma satisfação.

Pedro Ferreira Nunes
Casa da Maria Lucia. Lua Cheia – Verão de 2014.

terça-feira, 10 de abril de 2018

A oportunidade de Lula se reconciliar com sua origem histórica e contribuir para reconstrução das forças progressistas latino-americana.

Nesse momento de manifestações extremas tanto dos que apoiam quanto dos que são contrários à prisão de Lula. Em que o debate político está perdendo a “sua função critica básica” como diria Marcuse. Isto é, a “independência de pensamento, autonomia e direito à oposição” – o que estamos vendo mais se assemelha a uma disputa de torcida que não raramente termina em agressões físicas ou até em morte. Ariscarei algumas palavras que buscam ir além dos extremismos.

Um primeiro ponto que é possível destacar nesse episodio é a disputa por narrativas sobre os motivos da prisão de Lula. Por um lado há os que dizem que se trata de uma questão meramente jurídica, do outro, aqueles que dizem ser de ordem política. E não faltam argumentos dos dois lados no intuito de convencer a população a aceitar uma das duas narrativas. E o principal é qual dessas narrativas entrará para história oficial que será contada para as futuras gerações. 

Nessa linha é importante ressaltar o papel da imprensa que tem desempenhado um papel central no sentido de fortalecer a narrativa oficial reduzindo a prisão de Lula ao âmbito jurídico. Tanto que grande parte da cobertura jornalística tem se dedicado a repercutir o discurso dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Do outro lado estão partidos como PT, PC do B, PSOL, PCB, PCO e Organizações como a CUT, UNE, MST, MTST que se utilizando de meios alternativos se contrapõem com o discurso de que a prisão de Lula é uma prisão politica. 

Mas afinal de contas é uma prisão política ou jurídica? Ora, não dá para separar a questão jurídica da questão politica. E aqui não estamos reduzindo a politica a sua dimensão partidária. Mas sim na sua concepção clássica, isto é, nas palavras dos filósofos Danilo Marcondes e Hilton Japiassú “como ciência que pertence ao domínio do conhecimento prático e é de natureza normativa, estabelecendo os critérios da justiça e do bom governo e examinando as condições sob as quais o homem pode atingir a felicidade (o bem-estar) na sociedade, em sua existência coletiva”. 

Desse modo os que assim fazem, negando a politicidade das suas ações, estão justamente fazendo o contrario. Estão fazendo política e da pior espécie – a que se transverte de apolítica. Mas suas ações lhes denunciam como bem mostra a cobertura midiática em torno do caso envolvimento o Lula e que culminou com a sua prisão. O objetivo não é apenas noticiar e informar a população do que está acontecendo, mas sim destruir a figura de Lula. Mas por quê? Qual o objetivo? Afinal de contas os governos Lulistas passaram muito longe de serem de fato governos de esquerda. Não tocou nos interesses da burguesia, pelo contrário, aliou-se a ela. E se caso fosse eleito novamente não faria muito diferente. 

O fato é que no afã de humilha-lo as elites meteram os pés pelas mãos e está dando a chance dele se reconciliar com sua origem histórica. Dai o simbolismo do seu retorno ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e do apoio das diversas organizações da classe trabalhadora de Norte a Sul do Brasil e até outras partes do mundo. Há muito tempo não se via uma demonstração tão grande de solidariedade de classe. Num momento tão difícil com quem Lula pode contar? Com os sem terra, com os sem teto, com os estudantes e outros tantos trabalhadores.

E assim, se ao decretar à prisão de Lula as elites estavam pensando que este seria o seu fim, enganaram-se. Lula a partir de agora além da possibilidade de se reconciliar com sua origem histórica pode também desempenhar um papel importante na tão necessária reconstrução das forças progressistas latino-americana. Para tanto ele e o seu partido (PT) precisam fazer uma autocritica dos governos de conciliação de classe que estiveram à frente. Outro ponto é dar espaço para que haja uma renovação nos quadros progressistas, de modo que insistir com a candidatura de Lula a presidência é um desserviço nesse sentido. Resta saber se Lula e o PT estão dispostos a fazer esse movimento. 

Pedro Ferreira Nunes – é Educador Popular e graduando em Filosofia na Universidade Federal do Tocantins. Também faz parte da Coordenação Geral do Centro Acadêmico de Filosofia Prof. José Manoel Miranda e do Coletivo de Educação Popular José Porfírio.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

E agora Marcelo? E agora Tocantins? Quem perde e quem ganha com a cassação do governador emedebista?

                                        “Não estou culpando ninguém,
                                          não estou acusando ninguém.
                                                        apenas conto o que vi,
                                             apenas conto o que senti...”.
                                                                              Inocentes
A cassação pela terceira vez de um mandato eletivo de Marcelo Miranda (02 mandatos de governador e 01 de senador) pegou a todos de surpresa. Pois nem o mais otimista dos otimistas dos seus adversários ou o mais pessimista dos pessimistas dos seus aliados acreditava. Seja no meio político ou no jurídico, seja entre analistas ou jornalistas da área. E se quem acompanha diariamente esse processo não esperava imagine a população. Agora diante desse novo cenário só nos resta perguntar: E agora Marcelo? E agora Tocantins? Quem perde e quem ganha com a cassação do governador emedebista?

A cassação do atual mandato do governador Marcelo Miranda não foi recebida com nenhum entusiasmo pela maioria da população tocantinense. Mesmo diante de uma gestão marcada pelo descaso com a execução de políticas públicas que atenda ao bem comum. Ora se a população (sobretudo dos grandes centros) tem avaliado tão negativamente o governo Marcelo Miranda por que não comemorou sua cassação? Pelo fato de perceber que se tem alguém que ganha com a cassação do governador emedebista. Este alguém não é o povo. Mas sim o grupo politico que se apoderará da máquina pública estadual para fazer o mesmo que o então governador Marcelo Miranda vinha fazendo, mas agora em beneficio de si.

Seguindo essa linha é importante analisarmos o que fez o presidente da assembleia legislativa Mauro Carlesse (PHS) – sim, ele mesmo. O deputado que virou noticia no cenário nacional por ser preso em decorrência ao não pagamento de pensão alimentícia nos idos de 2015. Ao assumir provisoriamente o governo estadual, sem perda de tempo Carlesse mudou todo o alto escalão da administração pública. 

Tais mudanças se deram com o objetivo de melhorar a qualidade da administração pública e dos serviços públicos prestados a população? Engana-se quem compra esse discurso. O objetivo de Carlesse e seu grupo de sustentação política é permanecer à frente do executivo estadual. Pois, não nos esqueçamos, mesmo antes da cassação de Marcelo Miranda, o deputado Mauro Carlesse se apresentava como pré-candidato ao governo. Logo, não deixará de utilizar a máquina pública para alcançar este objetivo. 

Aliás, essa não é a motivação apenas de Carlesse, mas também dos outros que se colocam como candidatos. Pois o discurso recorrente é de que quem tiver a máquina pública estadual na mão em outubro terá vantagens sobre os demais adversários. Portanto seria arriscado não disputar as eleições para o mandato tampão (com previsão de acontecer no mês de junho). 

Como se vê, o debate politico até o momento tem se resumido em torno da questão: O que o meu grupo político pode ganhar ou perder participando ou não desse processo? Á nós resta questionar: E o povo, aonde entra o povo? Como fica a educação, a saúde, a geração de emprego, a cultura, a preservação do meio ambiente a segurança pública entre outras questões. 

O que fica evidente para nós é que a preocupação destes senhores e senhoras não é apresentar um projeto de melhoria da qualidade de vida da população, mas sim apoderar-se da máquina pública para atender a seus próprios interesses e dos seus respectivos grupos de sustentação política. 

Com isso estou querendo dizer que Marcelo Miranda não deveria ter tido o seu mandato cassado? Não, muito longe disso. No entanto não dá para engolir uma justiça que leva quase quatro anos para julgar uma ação impetrada ainda na campanha eleitoral de 2014. Se tivéssemos falando de um país sério Marcelo Miranda depois de ter sido cassado duas vezes não deveria se quer ter sua candidatura homologada e quanto mais assumir o governo do Tocantins e ficar 3 anos e 3 meses usufruindo das benesses do poder.

E agora a população que já teve o coro tirado nesses 3 anos e 3 meses de governo Marcelo Miranda (MDB) com aumento de impostos e retirada de direitos. Mais uma vez vai pagar a conta com a realização de duas eleições estaduais num curtíssimo período de tempo. E o pior é saber que independente de quem ganhar as coisas não mudaram muito. Ou talvez até piore. 

Ainda nos resta algumas palavras sobre as questões: E agora Marcelo? E agora Tocantins? Para Marcelo Miranda resta pousar de vitima e continuar tentando reverter a sua situação jurídica. Se não conseguir reverter é só tirar umas férias e usufruir dos “benefícios” que conseguiu na ultima gestão. E quando tiver a oportunidade novamente se candidatar correndo o risco de ser eleito e, por conseguinte cassado novamente. Já o Tocantins continuará nas mãos de sanguessugas políticos, das velhas oligarquias, ainda que estas se apresentem como novidades.

Pedro Ferreira Nunes - é Educador Popular e Graduando do Curso de Filosofia da UFT. Também milita no Coletivo José Porfírio e faz parte da Coordenação Geral do Centro Acadêmico Professor José Manoel Miranda.

terça-feira, 27 de março de 2018

Língua de Tradição e Língua Técnica: A oposição entre dois gêneros de língua.

Em “Língua de tradição e língua técnica”, Martin Heidegger ao abordar a questão da técnica relacionando-a com a linguagem fala da oposição entre duas formas de língua. De que gênero é essa oposição? Em que domínio se exerce? Como é relativa à nossa própria existência (Dasein)? 

Inicialmente é importante apontar o que é língua para o filósofo. De acordo com suas próprias palavras “a língua é expressão deste entremeio do sujeito e do objeto”, ou ainda, o que faz sermos aquilo que somos. Dessa maneira o filósofo se oporá ao reducionismo da língua como mero instrumento de informação. Fato que tem sido levado ao extremo pela técnica moderna. E por que isso ocorre? 

Para Heidegger esse fenômeno acontece por que ao se compreender como instrumento, a técnica moderna tende a “apresentar toda e qualquer coisa sob esse aspecto”. E isso nada mais é do que uma abordagem superficial tanto da técnica como da língua. Essa abordagem superficial acaba submetendo à língua a técnica. É dessa situação que surge o que o filósofo denomina de língua técnica, que de acordo com suas palavras “é a expressão mais violenta e mais perigosa contra o caráter próprio da língua”. Um exemplo dessa agressão violenta a língua pode ser observada pela teoria cibernética, que por sua vez é um grande exemplo da dominação da técnica moderna, sobretudo quando esta tenta estabelecer uma espécie de unificação da língua através da técnica. 

Heidegger diz que no contexto da cibernética a “língua está reduzida, isto é, limitada a produção de sinais, ao envio de mensagens”. Isso tem sido levado ao extremo na atualidade com as redes sociais. E inclusive avançado para o contexto educacional, aonde os defensores da teoria da informação tenta construir uma língua técnica que se imponha como a única – desprezando, portanto a língua natural ou da tradição. 

Se para Heidegger a língua técnica é uma invenção da técnica moderna que por se compreender como instrumento transforma tudo em mero instrumento. Do que se trata a língua de tradição? De acordo com as palavras do filósofo trata-se da “língua corrente que não foi tecnizada”. Essa língua pode ser compreendida também como língua natural. Que ainda que seja desprezada pela técnica moderna “é sempre conservada e permanece, por assim dizer, como pano de fundo de toda transformação técnica”.

Diante de tudo isso fica mais evidente as questões levantadas pelo filósofo relativas ao gênero da oposição entre língua de tradição e língua técnica, em que domínio se exerce essa oposição bem como porque é relativa à nossa própria existência (Dasein). Percebemos que para Heidegger essa oposição se dá pelo fato de que se trata de dois gêneros de língua – que como falamos anteriormente é diferente – enquanto uma surge espontaneamente à outra é imposta – imposição que se dá através de uma tentativa de unificação e, por conseguinte de dominação do homem. E ai surge à questão do por que esse problema é relativo à nossa própria existência. Por que reflete na nossa relação com o mundo – se muda a nossa relação com o mundo, muda o nosso modo de estar no mundo, muda o nosso modo de ser.

Para Heidegger quando a língua técnica interfere na nossa forma de relacionar com o mundo é um grande perigo. Dai que é necessário se discutir à relação do homem com a língua. O que nos permitirá descobrir o poder da língua. 

Por fim, ainda que não tenhamos condições de afirmar totalmente, nos parece que essa discussão com o avanço tecnológico já não está apenas no campo da metafísica tal como colocada por Heidegger. Mesmo assim pouco ou quase nada se discute a cerca da relação do homem com a língua. Por que a reflexão dessa relação tem sido desprezada? A teoria da informação triunfou? Com a internet e as redes sociais avançamos a passos largos para unificação da língua? E a academia o que tem feito? Reafirmado ainda mais o domínio da técnica moderna e, por conseguinte da língua técnica? Eis ai algumas questões em aberto que valem apena serem aprofundadas em relação a essa discussão.

Pedro Ferreira Nunes – é Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins e Coordenador do Centro Acadêmico de Filosofia – CAFIL/UFT.

Referência Bibliográfica 

HEIDEGGER, MARTIN. Língua de Tradição e Língua Técnica. Tradução: Mário Botas. Grafibastos. 1ª Ed.- Lisboa: 1985.

terça-feira, 20 de março de 2018

Crônica: A cidade das mulheres sem coração

Em Lajeado não é difícil encontrar essas mulheres, elas estão em cada esquina, em cada bar, em quase todas as casas. O município que é conhecido como a cidade das águas poderia muito bem receber o titulo de “a cidade das mulheres sem coração”. O que teria acontecido para que estas mulheres se tornassem pessoas assim? Sem coração. Quem os arrancou? Por que fizeram isso?

Para compreender esse fenômeno das mulheres sem coração no interior do interior do Brasil é preciso entender a dura sina dessas que ainda quando meninas são obrigadas a se tornar mulher. Nem bem saíram da infância e já começam a se relacionar sexualmente com um homem. Se apaixonam, casam, saem da casa dos pais e ficam grávidas. Muitas vezes essa ordem se inverte. Engravidam quando ainda esta namorando, dai são obrigadas pelos pais a se casarem, tornam-se por tanto donas de casa e deixam os estudos de lado. 

Essa jovem que é obrigada a virar mulher prematuramente logo percebe que não é fácil a vida a dois. O sonho da infância de encontrar o príncipe encantado e com ele viver tal como nas estórias de contos de fadas que ouvia quando criança ou nas estórias de amor dos filmes e novelas, que sempre tem um final feliz, esta longe de ser a sua realidade.

As brigas passam a fazer parte do seu cotidiano, seu companheiro chega tarde em casa e quase sempre alcoolizado. Este procura descontar na esposa suas frustrações diárias. Assim aos trancos e barrancos essa jovem tenta levar a vida de casada, no entanto a violência domestica a cada dia só aumenta, até que um dia ela não aguenta e põem as duras penas um ponto final nesse relacionamento.

A cultura patriarcal e machista enraizada na nossa sociedade faz com que o fim deste relacionamento não seja tão pacifico. Geralmente o homem com o sentimento de posse da mulher não aceita que ela o deixe e não raramente a família também não apoia a separação, mesmo tendo consciência da condição humilhante em que vive a jovem. Muitas vezes o final desse relacionamento pode terminar em tragédia.

Mesmo após uma dura experiência a jovem ainda guarda no coração a esperança de encontrar o príncipe encantado, e assim apaixona-se novamente, joga-se nos braços de outro amor, mas novamente o que encontra é desilusão. 

De relacionamento em relacionamento, de frustrações em frustrações o seu coração vai sendo destruído. Chega então o dia que ela já não acredita no príncipe encantado, não acredita mais no amor. E então toma uma decisão, de não mais acreditar em homem algum. E começa a fazer o que sempre fizeram com ela – usa-los, engana-los e trai-los. Descobre então que é assim que os homens lhes dão valor. 

Elas aprenderam as duras penas que a vida não é um conto de fada, nem muito menos um romance de cinema ou de telenovelas. E assim se tornam mulheres sem coração – que não acreditam mais no amor e muito menos na felicidade. No melhor estilo punk rock, ala Sex Pistols: “I got no feelings, a no feelings, a no feelings. For anibody else, except for myself...”. (Eu não tenho sentimentos, sem sentimentos, sem sentimentos. Por ninguém mais, exceto por mim mesmo...).  

As mulheres sem coração fará com que você fique sem coração. Por tanto, pobre do diabo que cair nas mãos de uma mulher sem coração. Sofrerá, sofrerá bastante. Ela tirará seu coro, arrancará seu coração – batera-o no liquidificador e tomará. Por tanto quando fores tirar o coração de uma mulher, pense duas vezes, pois como nos alerta a bela letra da banda punk brasiliense Plebe Rude. “o que se faz se paga, o que se faz aqui. Os danos nos seus rastros, não deixa de existir...”. 

Pedro Ferreira Nunes é – É “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importante e vindo do interior”.

terça-feira, 13 de março de 2018

Entre livros e sapatos.

Recentemente fui com uma camarada em uma das principais livrarias da capital tocantinense, localizada num shopping center. E sai dali extremamente revoltado com os valores exorbitantes de alguns livros. Em compensação de passagem por uma loja de artigos de vestuário e calçados vimos sapatos com o custo bastante popular. Pensei comigo, entre livros e sapatos a maioria do povo vai preferir os sapatos. E não por que não tenham “consciência” da importância dos livros e da leitura como dirão alguns. Mas sim porque, além da falta de hábito o valor dos livros torna-os artigos de luxo. 

Até mesmo para quem obrigatoriamente precisa ler que é o caso dos universitários e professores – que preferem baixar livros da internet ou xerocar apostilas. É claro que não é a mesma coisa, a leitura não tem a mesma qualidade e nem o mesmo prazer que o contato com o papel. No entanto é a única alternativa para que se tenha acesso há algumas obras – já que adquirir livros de valores alto mensalmente não cabe no nosso orçamento. Imagine então para o trabalhador, que mal tem tempo para comer, que diariamente tem que se espremer num transporte público lotado, que ganha um salario mínimo e tem que pagar aluguel, água, energia, alimentação, telefone, internet, vestuário e algum restante para a cerveja, já que ninguém é de ferro, não é mesmo?!

Anualmente é divulgada uma nova pesquisa apontando o baixo nível de leitura do brasileiro. Entre elas destaca-se a pesquisa “retratos da leitura no Brasil” que apontou “44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro”. É então que uma velha pergunta surge: Por que o brasileiro lê tão pouco? Existem diversas teses para este problema. A mais comum é a falta de hábito – onde se trás a dimensão cultural. De acordo com Mallon (2016) “os motivos são: o fato da cultura brasileira ser mais transmitida pela via oral e menos textual, alfabetização tardia, pouco investimento em educação, maus exemplos de celebridades que afirmam de uma forma errada que leitura não é importante, preguiça e preconceito...”. Certa vez assisti uma entrevista de um professor da USP (não me recordo o nome) que disse que o nosso problema é que saltamos da linguagem oral para linguagem visual (televisão) e assim pulamos a linguagem escrita. 

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) os países onde há um grande numero de leitores se caracterizam pelo fato de que “1) ler é uma tradição nacional, 2) o hábito de ler vem de casa e 3) são formados novos leitores”. Terminantemente não é o nosso caso. Ainda que tenham ocorrido mudanças, lentamente. Por exemplo, há hoje uma preocupação maior com a formação de novos leitores. Bem como de tornar os livros mais acessíveis através de projetos como das “geladeiras literárias”. Sem falar nos sarais e dos festivais literários de norte a sul do país.

Para Mallon (2016) “a culpa, da população, fugir da leitura não é do preço dos livros. Pois temos excelentes bibliotecas no Brasil, onde é possível emprestar quaisquer tipos de obras gratuitamente. A culpa também não é da internet porque através dela é possível baixar livros maravilhosos...”. Portanto o que se faz necessário é que “as famílias estimulem as novas gerações no hábito de ler”.

Para mim, trata-se de uma afirmação um tanto questionável, como podem imaginar, pois iniciei esse texto falando justamente do meu espanto em relação ao valor dos livros nas livrarias. É óbvio que isso não é determinante, mas que dificulta que tenhamos acesso a obras de qualidade (e não descartes), dificulta. Sobretudo a população que tem que fazer malabarismo com um salário de fome. Também não discordo que tenhamos excelentes bibliotecas, mas há que se questionar a onde elas estão? Com certeza não é no interior, nas periferias, nas escolas públicas – pois as conheço bem e mais se assemelham a depósitos de livros velhos. Já em relação à internet, sem dúvidas pode ser uma boa aliada, desde que saibamos usa-la, mas não nos esqueçamos que nem toda a população tem acesso a rede. E por fim, jogar nas costas unicamente da família o dever de estimular “as novas gerações no hábito de ler” é não querer resolver essa problemática.

Não podemos ser ingênuos. Há determinadas obras que são inacessíveis para maioria da população. Que obras são essas? Outra questão é: Será que é interessante para as elites um povo que saiba lê e escrever? Sobre tudo livros que fazem as pessoas refletirem? E a partir dai questionar. É, de fato é melhor estimular o povo a comprar sapatos.

Pedro Ferreira Nunes é – Educador Popular e Estudante de Filosofia da UFT.