Paulo Freire escreveu sobre o caráter autoritário dos intelectuais brasileiros no artigo “Para trabalhar com o povo” (1983). Autoritarismo que está presente mesmo quando se é de esquerda. Diz ele: “Nosso autoritarismo se transformou na arrogância, na sabedoria com que falamos, nas exigências de leitura que fazemos, no comportamento nos cursos e seminários. Citamos uns 40 livros e mandamos o aluno ler uns 200 capítulos, além dos 40 livros” (2012, p. 30). Esse autoritarismo fica mais evidente no processo de orientação de trabalhos de conclusão de curso. E leva a uma situação tão difícil que, ou o estudante troca de orientador, ou pior, paga alguém para fazer o seu trabalho.
Alguns acadêmicos nessa situação tem me procurado desesperado por não conseguirem desenvolver o TCC. E em muitos casos tenho observado que, em que pese a deficiência desses estudantes, o pior é a orientação que eles recebem – orientações que deveriam contribuir para que desenvolvam satisfatoriamente o trabalho de escrita do TCC, mas que acaba desorientando-os pela questão do autoritarismo. Quando alguém nessa situação me procura o meu trabalho é evitar que esse alguém não estoure – não desista do curso, do TCC, troque de orientador ou pague outra pessoa para fazer seu trabalho. Como? Você que lê essas linhas deve está se perguntando.
O primeiro passo é tranquilizar a criatura. Mostrar que aquilo que ela vê como impossível é totalmente possível. Mostrar que construir um artigo acadêmico não é coisa para superdotados. Há um padrão que você deve seguir, e seguindo esse padrão as possibilidades de erros diminuem enormemente. O segundo passo é convencê-la de que não adianta mudar de orientador sobretudo quando já se está num determinado estágio. O melhor é não contestá-lo, bater de frente com ele. Você precisa dele mais do que ele de você. Por tanto busque atender o que ele exige. Tentar ir contra é se estressar á toa. Terceiro, tento convencê-la a não pagar alguém para fazer o seu TCC, mas sim buscar uma espécie de coorientação.
É fato que tem algumas criaturas que por mais que queiram não conseguem escrever sozinhas – não conseguem colocar suas ideias no papel de acordo com o padrão exigido em trabalhos científicos. Isso é reflexo do nível deficitário de leitura e escrita dos nossos estudantes. Um problema que tem origem na educação básica e que na Universidade não se resolve, pelo contrário. Ai é que esse problema se explicita ainda mais a medida que o nível de exigência de leitura e escrita aumenta.
Geralmente os cursos ofertam uma disciplina para remediar essa questão (no curso de licenciatura em Filosofia da UFT, por exemplo, essa disciplina se chama “leitura e produção de textos científicos”), que no entanto não é suficiente – tanto pela didática dos professores como pela carga horária pequena. Com isso vai se empurrando o problema ao longo do curso até que chega o pré-projeto e em seguida o TCC onde não há mais como escapar. Ou você produz um trabalho de acordo com as exigências do meio acadêmico ou não concluí o curso.
Pode se questionar si de fato é necessário todo esse peso que si joga no TCC. Se de fato é isso que define se si pode concluir o curso ou não. Que se será ou não um bom profissional. Ou se no final das contas trata-se apenas de um ritual de passagem que na prática servirá apenas para o orientador enriquecer seu currículo lattes. Independente do que seja, o fato é que as instituições de ensino exigem, portanto não há para onde correr. E se não tem para onde correr o jeito é encarar.
Daí a importância de saber escolher bem quem será o seu orientador (ou orientadora) para que essa jornada seja menos traumática possível. Ele saberá indicar se o problema que você pretende trabalhar é de fato viável e a partir daí lhe orientar para que seu objetivo seja alcançado. Um ponto que você deve ficar atento é para não ser usado pelo orientador, fazendo um trabalho em torno de um problema que não é do seu interesse mas dele. É preciso buscar um orientador que dialogue com você e não que lhe dê ordens.
Não é um caminho fácil, não se iluda quanto a isso. Por mais domínio que você tenha sobre a leitura e escrita de textos acadêmicos as dificuldades surgirão. Imagina então para quem não tem esse domínio. No entanto você pode e deve tomar algumas decisões que farão com que essa dificuldade diminua – entre essas decisões está a de buscar ajuda de um coorientador. Ele não irá fazer o seu trabalho mas sim um acompanhamento mais próximo – a ideia é tornar compreensível a orientação do orientador.
Para tanto o coorientador não pode ter um perfil autoritário. Ele deve ter a capacidade de desenvolver uma didática a base do diálogo. Compreender as fragilidades do orientando e traçar estratégias para supera-las. O coorientador deve pacificar a relação entre orientador e orientando pois assim o processo caminhará mais rapidamente. E sempre tomar consciência se o orientando está de fato compreendendo o que está fazendo – se o trabalho final corresponde aquilo que ele pensa. Pois será ele que irá encarar a banca avaliadora e, por tanto, deve está preparado para esse momento.
Para concluir, defendo a tese que o TCC não é nenhum bicho de sete cabeças, de modo que não vale a pena surtar e cortar os pulsos. É possível sim tomar algumas medidas (creio ter mostrado algumas nesse breve texto) que ajudará a diminuir as dificuldades que você por ventura encontrar durante essa jornada. E assim fazer desse momento um momento de aprendizado e não de tortura.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.