A pandemia e uma nova dinâmica de exploração
Se já vivíamos na “Sociedade do cansaço” como defende Byung Chu Han. Com a pandemia então isso ficou evidente. A pandemia nos impôs uma nova dinâmica de vida. Seja em relação ao trabalho, ao estudo e até mesmo ao lazer. Num primeiro momento há a necessidade de uma desaceleração, mas logo a autoexploração é intensificada através das atividades remotas. Do dia para noite é dinamitado a barreira entre horário de serviço e horário de descanso. Na educação então nem se fala. A qualquer hora temos que está a postos para atender o estudante. O estudante por sua vez deve se virar, na maioria dos casos com material impresso, sem um professor para auxiliá-lo diretamente.
Afetos, insegurança e Ansiedade
A pandemia nos trouxe um ambiente de insegurança. E a medida que não se vislumbra uma superação imediata dela, essa insegurança aumenta. Vamos do Medo a Esperança e da Esperança ao Medo a cada nova notícia que surge. Por exemplo, quando vemos o número de infectados e de mortes aumentarem, sobretudo a nossa volta somos afetados pelo Medo. Já quando vemos a população ser imunizada somos afetados pela Esperança. A questão é que quando somos afetados pelo medo não deixamos de ter esperança. E da mesma forma quando somos afetados pela esperança. E ai vem a ansiedade – considerada por alguns especialistas como o mau do século – E que é agravada pelo contexto de insegurança trazido pela pandemia.
Como controlar a ansiedade?
A resposta para essa pergunta depende de cada um. De modo que não há uma receita milagrosa – uma resposta única. O desafio, por tanto, é sairmos do comodismo e imediatismo. E a partir daí procurarmos o que nos faz bem. Ou como diria Espinoza, o que aumenta a nossa potência de agir. A Filosofia pode ser o nosso ponto de partida sobretudo ao nos fazermos uma pergunta clássica: O que é a vida? Uma coisa eu posso afirmar. A vida não é um romance que você se envolve tanto com a estória e fica ansioso para saber como termina. E então é só acelerar a leitura ou ir para as últimas páginas. A vida também não é uma série que você pode maratonar num final de semana todos os episódios e assim chegar ao fim. A gente não tem nenhum controle sobre o futuro. Então para que tanta ansiedade? Vivamos o presente da melhor forma possível.
Desempenho Escolar
A maioria dos estudantes não tem acesso a um serviço de internet de qualidade e aparelhos adequados. De modo que as atividades remotas são desenvolvidas a partir de material impresso. Se na sala de aula com a presença de um professor especialista na área o aprendizado já se dava de forma limitada, imagine agora. Soma-se a isso a falta de um ambiente adequado, a falta de organização e planejamento. Isso reflete em atividades feitas pela metade ou pouco desenvolvidas. Ou ainda entregue em branco. Se o estudante tem 15 dias para desenvolver as atividades propostas. Ele deixa para resolver tudo em algumas horas. Ai o resultado já viu, né?! Todos esperam ansiosos o retorno “a normalidade” e não percebem que enquanto isso estão perdendo um tempo precioso na sua formação – o que, dificilmente, será recuperado.
Organização e Planejamento
São fatores primordiais em qualquer contexto. Mas nesse marcado por mudanças ainda mais. O estudante não tem mais a estrutura controladora da escola para que pelo menos durante um pouco mais de 4h diárias desenvolva suas atividades. Ele deve, com o auxílio da família (óbvio, da Escola, de forma remota), estabelecer a sua rotina de estudo. Tal como horário diário para desenvolver as atividades, num ambiente propício. O que preciso fazer? Enquanto tempo? Quais as atividades que tenho mais dificuldade? Quais materiais preciso? Isso são alguns pontos básico para organizar e planejar uma rotina de estudo.
Conclusão
O estudante ganhou autonomia, mas por não saber utilizá-la perde-se, e clama por controle. Por que isso ocorre? Por que o modelo de educação dominante caminha justamente nessa perspectiva – um modelo de educação que castra a curiosidade e a criatividade do estudante – não forma cidadãos livres, mas submissos. Diante disso é compreensivo que não consigam ter um desempenho escolar melhor nesse contexto ou em outro qualquer. Se quisermos mudar isso, devemos romper com esse modelo de educação.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.