sábado, 7 de agosto de 2021

Sobre a Privatização dos Parques Ecológicos do Tocantins

APA Serra do Lajeado 

O Governo Mauro Carlesse (PSL) encaminhou para a Assembleia Legislativa uma proposta de concessão dos Parques Ecológicos do Tocantins á iniciativa privada. Se o projeto for aprovado essas áreas passarão a ser controladas e exploradas comercialmente – dificultando o acesso da população em geral. Além dos impactos ambientais que certamente haverá com o aumento do fluxo de turistas. 

Óbvio que o discurso apresentado é diferente. De acordo com o governo o objetivo é, através do fomento do turismo, cultura e atividades ambientais, dar continuidade à preservação dos atrativos naturais do Tocantins. Nesse sentido as empresas concessionárias deverão coordenar atividades de visitação voltadas à educação ambiental, a preservação do meio ambiente, ao turismo ecológico e ao contato com a natureza. 

Caso o projeto seja aprovado as áreas em questão serão o Parque Estadual do Jalapão, o Parque Estadual do Cantão, o Parque Estadual do Lajeado e o Monumento Natural das Árvores Fossilizadas (com exceção dos territórios indígenas e quilombolas que estão nessas áreas). 

Um ponto a se ressaltar é que o projeto segue a linha do Projeto do Governo Federal, que através do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico Social (BNDES) irá financiar 26 projetos de parceria público-privado em todo o Brasil. Entre esses projetos estão o do Parque Estadual do Jalapão  e do Parque Estadual do Cantão. Por tanto trata-se de uma ação articulada nacionalmente pelo Governo de Jair Bolsonaro. 

Bem, é aí que aumenta a nossa preocupação, sobretudo por que estamos falando de um Governo que desde o primeiro momento declarou guerra as políticas de proteção ambiental e que tem patrocinado o desmantelamento dos órgãos de proteção ambiental. 

Os defensores do Projeto de Concessão dos Parques Ecológicos á iniciativa privada dizem que se trata de um modelo de sucesso seguido em todo mundo. O problema que o Brasil não é todo o mundo. A forma como os governos enxergam a questão ambiental no nosso país é uma evidência inquestionável.

Quem garante que os órgãos de fiscalização ambiental conseguiram acompanhar as ações coordenadas por essas empresas?! Pois um ponto fundamental em projetos como esse é a fiscalização para que não ocorra ações que prejudique a biodiversidade com o aumento do fluxo de pessoas nesses espaços. 

Outro ponto de preocupação deve ser a elitização dessas áreas como ocorre no Jalapão – onde o turismo tem como foco o lucro e não a preservação ambiental – lucro que não é revertido em investimentos que melhore a qualidade de vida da população local, mas para engordar as contas das agências de viagem.

Aliás,  encontramos ai uma contradição entre o discurso de preservação do Governo através do fomento do turismo em área de proteção ambiental pela iniciativa privada. Ora, não é possível conciliar os interesses do capital com preservação ambiental. Em última análise permanecerá os interesses do capital. 

Nessa linha destacamos o que diz Nathália Bastos do Vale Brito (2017): “O capitalismo, portanto, baseado na busca incessante pelo lucro, pela valorização monetária da riqueza, pela lógica do acúmulo e exploração gera um nível de degradação ambiental e humana sem precedentes... Nesses moldes, é difícil se pensar em sustentabilidade dentro do paradigma ideológico do capitalismo”.

Diante disso, finalizamos nos colocando contrário ao Projeto de Lei que pretende passar para iniciativa privada a exploração dos Parques Ecológicos do Jalapão, Cantão, Lajeado e o Monumento Natural das Árvores Fossilizadas. O Patrimônio Natural do Povo Tocantinense não pode ser entregue nas mãos de algumas empresas – que tem como interesse tudo, menos a preservação ambiental. Esperamos que os movimentos sociais, especialmente os ambientalistas e povos do campo se rebelem contra o mesmo.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

domingo, 1 de agosto de 2021

Pandemia, ansiedade e desempenho escolar

Avaliando as atividades escolares desenvolvidas remotamente pelos estudantes me chamou atenção, não o que conseguiram produzir, mas sim o que deixaram de produzir. Creio, que em grande medida, por falta de planejamento e organização. Essa falta de planejamento e organização é agravada pela ansiedade causada pela pandemia de COVID-19. E isso reflete no desempenho escolar. 

A pandemia e uma nova dinâmica de exploração 

Se já vivíamos na “Sociedade do cansaço” como defende Byung Chu Han. Com a pandemia então isso ficou evidente. A pandemia nos impôs uma nova dinâmica de vida. Seja em relação ao trabalho, ao estudo e até mesmo ao lazer. Num primeiro momento há a necessidade de uma desaceleração, mas logo a autoexploração é intensificada através das atividades remotas. Do dia para noite é dinamitado a barreira entre horário de serviço e horário de descanso. Na educação então nem se fala. A qualquer hora temos que está a postos para atender o estudante. O estudante por sua vez deve se virar, na maioria dos casos com material impresso, sem um professor para auxiliá-lo diretamente.

Afetos, insegurança e Ansiedade

A pandemia nos trouxe um ambiente de insegurança. E a medida que não se vislumbra uma superação imediata dela, essa insegurança aumenta. Vamos do Medo a Esperança e da Esperança ao Medo a cada nova notícia que surge. Por exemplo, quando vemos o número de infectados e de mortes aumentarem, sobretudo a nossa volta somos afetados pelo Medo. Já quando vemos a população ser imunizada somos afetados pela Esperança. A questão é que quando somos afetados pelo medo não deixamos de ter esperança. E da mesma forma quando somos afetados pela esperança. E ai vem a ansiedade – considerada por alguns especialistas como o mau do século – E que é agravada pelo contexto de insegurança trazido pela pandemia.

Como controlar a ansiedade?

A resposta para essa pergunta depende de cada um. De modo que não há uma receita milagrosa – uma resposta única. O desafio, por tanto, é sairmos do comodismo e imediatismo. E a partir daí procurarmos o que nos faz bem. Ou como diria Espinoza, o que aumenta a nossa potência de agir. A Filosofia pode ser o nosso ponto de partida sobretudo ao nos fazermos uma pergunta clássica: O que é a vida? Uma coisa eu posso afirmar. A vida não é um romance que você se envolve tanto com a estória e fica ansioso para saber como termina. E então é só acelerar a leitura ou ir para as últimas páginas. A vida também não é uma série que você pode maratonar num final de semana todos os episódios e assim chegar ao fim. A gente não tem nenhum controle sobre o futuro. Então para que tanta ansiedade? Vivamos o presente da melhor forma possível. 

Desempenho Escolar 

A maioria dos estudantes não tem acesso a um serviço de internet de qualidade e aparelhos adequados. De modo que as atividades remotas são desenvolvidas a partir de material impresso. Se na sala de aula com a presença de um professor especialista na área o aprendizado já se dava de forma limitada, imagine agora. Soma-se a isso a falta de um ambiente adequado, a falta de organização e planejamento. Isso reflete em atividades feitas pela metade ou pouco desenvolvidas. Ou ainda entregue em branco. Se o estudante tem 15 dias para desenvolver as atividades propostas. Ele deixa para resolver tudo em algumas horas. Ai o resultado já viu, né?! Todos esperam ansiosos o retorno “a normalidade” e não percebem que enquanto isso estão perdendo um tempo precioso na sua formação – o que, dificilmente, será recuperado.

Organização e Planejamento 

São fatores primordiais em qualquer contexto. Mas nesse marcado por mudanças ainda mais. O estudante não tem mais a estrutura controladora da escola para que pelo menos durante um pouco mais de 4h diárias desenvolva suas atividades. Ele deve, com o auxílio da família (óbvio, da Escola, de forma remota), estabelecer a sua rotina de estudo. Tal como horário diário para desenvolver as atividades, num ambiente propício. O que preciso fazer? Enquanto tempo? Quais as atividades que tenho mais dificuldade? Quais materiais preciso? Isso são alguns pontos básico para organizar e planejar uma rotina de estudo.

Conclusão 

O estudante ganhou autonomia, mas por não saber utilizá-la perde-se, e clama por controle. Por que isso ocorre? Por que o modelo de educação dominante caminha justamente nessa perspectiva – um modelo de educação que castra a curiosidade e a criatividade do estudante – não forma cidadãos livres, mas submissos. Diante disso é compreensivo que não consigam ter um desempenho escolar melhor nesse contexto ou em outro qualquer. Se quisermos mudar isso, devemos romper com esse modelo de educação. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Punkadas













E com alguns devaneios poéticos encerramos o primeiro semestre de 2021. Voltamos a nos encontrar em Agosto.


segunda-feira, 28 de junho de 2021

Muhammad Saeed al-Sahhaf ou “Onyx, o cômico”

A entrevista do Secretário Geral da Presidência da República do Governo Bolsonaro – o desprezível Onyx Lorenzoni – no episódio referente a Covaxin me fez lembrar de uma figura marcante na invasão do Iraque pelo exército estadunidense em 2003. O então Ministro da Informação de Sadan Hussein – Muhammad Saeed al-Sahhaf.

Eu, um estudante do ensino médio no interior tocantinense, acompanhava com interesse, através dos meios de comunicação, o conflito. Desde o atentado as torres gêmeas em 11 de Setembro que passei a acompanhar com maior interesse questões políticas internacionais. Cursava o ensino médio a noite e quando chegava ligava a televisão e ia assistir o Jornal da Globo.

Entre os personagens daquele episódio Al-Sahhaf – o então Ministro da Informação Iraquiano e Porta-Voz do Governo Sadan Hussein – me chamou atenção. Aliás, de todos que acompanhavam a cobertura da mídia. Primeiro por que ele era o único do Governo que dava as caras. Mas sobretudo pelo fato de que suas declarações iam totalmente contra os fatos. Isso fazia dele uma figura um tanto cômica mesmo diante do seu ar sério e uma fala sempre em tom ameaçador.

Diante disso lhe deram a alcunha de “Ali, o cômico”. O porta-Voz de um Governo em queda livre. Mas que ele insistia em dizer ser uma fortaleza.

Brasil, 2021. Olha só, temos o nosso Al-Sahhaf. Das tantas figuras medíocres que compõem esse governo. Onyx é o que mais se assemelha a figura de Al-Sahhaf, sobretudo quando analisamos a sua atuação na entrevista coletiva para tentar negar as acusações envolvendo o caso Covaxin. Ou suas declarações no Twitter como: “Sobre a covaxin: Pra atacar o Presidente vale qualquer coisa, vindo de qualquer um. Mais uma vez a verdade acaba com as narrativas e mentiras. Vamos entrar no 31° mês de governo sem corrupção. Isso incomoda demais.”

Não meus caros, não riam, não é uma piada. É uma declaração do Secretário Geral da Presidência da República do Governo Bolsonaro. Tal como Al-Sahhaf, as declarações de “Onyx, o cômico” não condiz com os fatos. Ele, assim como os seus pares vivem numa realidade paralela. Tenta mostrar força de um Governo que cheira a cadáver. Aí de nós, aí de nós. Seria cômico se não fosse trágico.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 


quarta-feira, 23 de junho de 2021

Por mais afetos alegres na Escola: Alguns pontos

Banksy
1- A Escola não é um espaço deslocado do resto da sociedade. De modo que várias expressões da questão social na sociedade são reproduzidas no ambiente escolar, o que faz com que as relações nesse ambiente sejam atravessadas por conflitos – conflitos políticos, conflitos de interesses, conflitos pessoais e conflitos emocionais;

2- Nesse contexto pandêmico os conflitos tendem a se intensificar pelo fato de que as emoções estão a flor da pele. As pessoas estão tão saturadas de tudo que uma gota qualquer faz o copo transbordar;


3- A carga de trabalho que os profissionais da educação estão tendo que suportar, não pode ser classificada de outra coisa se não de desumana – que, portanto, a médio e longo prazo é humanamente insuportável;


4- Quem atua na educação dificilmente não tem um exemplo de alguém que se afastou do trabalho ou preferiu se aventurar em outra área, por não suportar a carga de trabalho, as exigências burocráticas e, ainda mais, a falta de reconhecimento por parte da sociedade que propagou a ideia que não tendo aulas presenciais os profissionais da educação estavam recebendo sem trabalhar;


5- Entre os profissionais que atuam na educação há um grupo que merece uma atenção especial. Trata-se do pessoal que permaneceu na escola mesmo não tendo aulas presenciais. Sobretudo os que trabalham na higienização, garantindo que o ambiente escolar seja um ambiente seguro;


6- Em algumas escolas esses profissionais tiveram que se desdobrar para dá conta do serviço devido o afastamento de servidores do grupo de risco. E passado pouco mais de 1 ano de pandemia no Brasil e mais de 500 mil vidas perdidas. Esses servidores estão esgotados tanto físico como mentalmente;


7- O acolhimento socioemocional dos estudantes tornou-se uma prioridade. E de fato é algo essencial. Mas quem está fazendo o acolhimento socioemocional dos servidores? 


8- Precisamos fazer circular afetos alegres no ambiente escolar. Isso não quer dizer que tenhamos que negar os conflitos. Pelo contrário. Eles fazem parte da dinâmica das relações. No entanto devem ocorrer num ambiente de respeito;


9- Empatia e Cooperação não podem ser palavras vazias no currículo. Elas devem ser vivenciadas na escola. Por que se não virá demagogia. Ora, como eu vou falar em “exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza” (Competência 09 da BNCC). Se na relação com o meu colega de trabalho eu não prático isso?!


10- No contexto atual não há ninguém 100% bem mentalmente no ambiente escolar. Por tanto é preciso cuidado com cada gesto, ações e palavras – uma mensagem intempestiva, um comentário desnecessário. São coisas que fazem circular afetos com a capacidade de tornar o ambiente escolar insalubre, tóxico. E se temos a capacidade de fazer circular afetos, por que não fazermos circular afetos alegres? 


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Resistência e luta no interior do Tocantins

Diego Rivera
Chegaram no terreiro da humilde casa e fizeram o comunicado. – vocês precisaram deixar esse terreno, pois adquirimos o mesmo do antigo proprietário e agora ele nos pertence. 

Eles não puderam deixar de ficar abalados com aquela notícia. Para onde iriam? Já estavam há mais de 10 anos ocupando e cultivando aquele terreno e ter que abandona-lo assim do dia para noite não podia ser. – temos direitos e não iremos abrir mão deles.

- Que direito? Pobre não tem direito. Conformem-se, peguem as trouxas e vão embora. Eles tem muito dinheiro. Já mais vão abrir mão dessa terra. Dizia o povo da região. 

Foi então que eles perceberam que a luta seria dupla. Contra o suposto proprietário e contra a mentalidade conformista daqueles que preferiam abrir mão dos seus direitos a enfrentar os poderosos. Essa mentalidade, aliás, era pior. Pois além de desencorajar. Não conseguindo o objetivo, passava a criticar. Dizendo se tratar de uma ingratidão.

- Nos exploram. Querem nos expulsar da terra que adquirimos por direito. E isso é ingratidão? 

- Não. Não desistam. O direito de posse é de vocês.  E vocês precisam fazer esse direito valer. Vão na Defensoria Pública. Não confiem nas autoridades locais. Se elas puderem interferir de alguma forma será para favorecer os poderosos.

E assim eles fizeram. Seguiram o Conselho do Assistente Social e foram até a Defensoria Pública. Enquanto o defensor parecia não muito convicto da ação, o suposto proprietário agia. Agia por um lado articulando com funcionários da prefeitura. E por outro através de ações criminosas como mandando suspender de forma ilegal o fornecimento de água e energia do terreno. 

Eles não entenderam quando o serviço de água e energia fora suspenso. – ora, sempre pagamos a fatura em dia. O que está acontecendo? Descobriram que o suposto proprietário havia solicitado a transferência dos serviços para o seu nome e depois pedido a suspensão. A justificativa junto a justiça era que os posseiros não estavam pagando a fatura e com isso o nome do suposto proprietário estava ficando sujo.

O objetivo era intimidar os posseiros, fazer terrorismo. Mas o tiro saiu pela culatra. A justificativa utilizada pelo suposto proprietário para pedir a suspensão do serviço de água e energia era muito fácil de desmontar. Os registros das empresas fornecedora apontariam que esses serviços de água e energia nunca tiveram no nome do suposto proprietário. Como também de que nunca deixaram de ser pago – as vezes com atraso devido a condição de vida difícil da família de posseiros. 

- Como pode um Juiz, fora da sua jurisdição. Autorizar um absurdo desses. Não vamos deixar isso ficar assim. Vamos aonde for preciso. A Defensoria Pública precisa agir depois dessa se não cada vez mais eles se sentiram no direito de agir criminosamente contra vocês. Alertou o Assistente Social. 

- Se a Defensoria Pública no interior não quer entrar com a ação vamos para Capital.

- O que ele está esperando para agir?! O terreno pertence a vocês por direito. O defensor já deveria ter entrado com o pedido de posse. Nós aqui não podemos. Tem que ser ele lá no interior. 

Eles então voltaram para o interior. Chegando lá não tiveram grande dificuldade. O Defensor já tinha sido convencido, não se sabe por quem, a entrar com a ação. 

- Vocês são doidos.  Eles vão matar vocês. Desistam disso. Ao invés de apoio, era o que ouviam. Como também: -Ah, querem tomar a terra do homem. No fundo, não passava de um discurso que revelava o ressentimento contra aqueles que não se acomodam e lutam pelos seus direitos.

Quando chegou o momento de julgar a ação. Não houve disputa. Era tão evidente que o terreno pertencia aos posseiros que a defesa do suposto proprietário não teve muito o que fazer. Pior ainda teve que justificar a ação criminosa ao mandar suspender o serviço de água e energia do terreno.

Esse pequeno relato é de uma história real. Omito o nome dos envolvidos propositadamente, até por que o mais importante é o exemplo – o exemplo de que não devemos nos intimidar e deixar de lutar pelos nossos direitos. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Resenha crítica: Morte no Atlântico Sul

Um jovem casal se conhecem no litoral catarinense e se apaixonam perdidamente. Ele – um argentino, introvertido, que vive com sua mãe no país de Dieguito Maradona. Ela – uma estudante brasileira, romântica, que vive com os pais e um irmão. Para viver esse amor precisaram superar algumas barreiras: a timidez, a distância e a Guerra.

Eis ai em resumo a trama que o autor Pedro Alberici nos apresenta no romance “Morte no Atlântico Sul”. Uma obra publicada em espanhol no ano de 1987 com o título de “La história de Andrés”. E em português no ano de 1988, com o presente título. 

Estando na sua 10° edição(Editora Veloso), é a obra mais conhecida desse escritor carioca que morou por alguns anos em Santa Catarina, mas desde 2004 reside no Tocantins. Com uma vasta produção literária que perpassa por diversos gêneros, Alberici tem se tornado uma referência quando se fala em literatura produzida no Tocantins.

Em “Morte no Atlântico Sul”, o autor nos leva a uma viagem pelo litoral catarinense onde tem início a estória de amor de Andrés e Elita. Como já dissemos no início, ele é um jovem solitário argentino e ela uma estudante brasileira. Para viver essa estória eles precisaram vencer a timidez que impede que um fale o que está sentindo pelo outro – o que também contribuirá para esclarecer maus entendidos. Precisaram vencer a barreira territorial, pois vivem em países diferentes, apesar de não muito distante. E por fim, precisaram sobreviver a guerra.

A obra tem um pé no realismo e outro no romantismo. Mas eu diria que pende mais para o segundo. Nem tanto em relação ao estilo de escrita, mas sim a partir de uma análise da subjetividade da obra. Há uma idealização de uma espécie de amor puro. Há até mesmo uma idealização do lugar onde se passa a maior parte da estória – como se fosse o paraíso. Tanto que mesmo com o fato narrado sendo ambientado em 1982 não se vê nenhuma menção a situação política do país que naquele momento ainda estava sob o regime de uma Ditadura Civil-Militar. 

O evento histórico que marca a narrativa é a Guerra das Malvinas ocorrida no país vizinho. Mas que não é abordada de uma perspectiva realista, e sim romântica. A guerra aqui aparece como a grande ameaça ao amor idealizado de Andrés e Elita. O título da obra vem daí. Mas creio que o título em espanhol representa melhor o que é a estória de fato.

A obra do Pedro Alberici me lembrou muito as novelinhas “teen”. Certamente o público jovem se deliciará com a estória de amor de Andrés e Elita. É interessante como o autor vai intercalando a narrativa entre a vida de um e outro, até que ocorre o encontro. Interessante também é a personagem Clarisse que também poderia ser colocada como uma ameaça ao amor do casal protagonista. 

Enfim, é uma obra que pode muito bem contribuir para despertar o prazer da leitura entre os jovens. Com uma escrita objetiva e próxima do nosso cotidiano (no caso de quem não é do Sul certamente estranhará alguns termos)o leitor devorará a estória em poucas horas. Portanto fica aqui a dica, leiam “Morte no Atlântico Sul”, do Pedro Alberici. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.