“Logo verás que nossas balas, são para os nossos generais...”
A Internacional
Imagine se os povos indígenas, os quilombolas, os sem terra, os sem teto com os seus fuzis. A classe dominante pensaria duas vezes antes de cometer qualquer agressão contra os seus territórios. Imagine cada trabalhador com o seu fuzil – queria ver as greves serem criminalizadas, as manifestações reprimidas e os direitos usurpados. Imagina cada cidadão com um fuzil, quem está no poder não teria uma noite de sono tranquila.
A policia seria desnecessária. Ora para que policia se cada um faz a sua própria segurança? Todo o gasto desnecessário que temos com a segurança pública, já que as polícias não conseguem fazer o seu dever poderia ser utilizado para outras coisas. Por que não propomos essa discussão?!
Não desprezemos o fuzil, ele sempre foi um aliado importante na luta contra a opressão. Que o diga os comunados, os bolcheviques, os rebeldes cubanos entre outros. É só não nos esquecermos para quem devemos direcionar nossas balas.
Lênin (2010) no seu célebre “O Estado e a Revolução” aborda essa questão do armamento da população a partir do pensamento de Engels. Ele salienta que pelo fato da sociedade ser dividida em classes antagônicas é previsível que esse armamento desembocaria numa luta armada. Daí que se busca pelo monopólio da força. “A classe dominante se empenha em reconstituir, a seu serviço, corpos de homens armados” e a classe oprimida, por sua vez, “se empenha em criar uma nova organização do mesmo gênero, para pô-la ao serviço, não mais dos exploradores, mas dos explorados” (LÊNIN, 2010, p. 30).
Bolsonaro e seus aliados sabem muito bem disso. Quando defendem o armamento da população na verdade estão defendendo o armamento da classe dominante – que já tem sobre o seu poder as forças armadas oficiais. Desse modo o objetivo não é quebrar o monopólio da força do Estado, mas fortalece-lo mais ainda. Pois eles sabem que se toda a população se armar a rebelião contra o estado de coisas atual será feroz.
Diante disso, ganha mais força o questionamento: Por que não fuzil? Ao invés de nos opormos ao desarmamento, façamos o contrário, defendamos o armamento de toda a população. Defendamos o direito dos trabalhadores se armarem – de cada sindicato ter uma sessão militar. Dos indígenas se armarem, dos quilombolas, dos sem terra, dos sem teto.
Há uma certa ingenuidade nos setores da esquerda achando que tudo se resolve com uma vitória eleitoral. Esqueceram-se do que disse Lênin, sobre o fato do voto ser um instrumento de dominação da classe dominante. Esqueceram-se também, como diz Paulo Arantes, que política é luta – e que quando necessário deve-se inclusive pegar em armas como se fez durante a ditadura militar. Aliás, há um discurso hegemônico no campo da esquerda que a resistência armada contra a Ditadura Civil-Militar foi um equívoco – o que certamente contribuí para esse rechaço ao fuzil. Diante disso é importante lembrar das palavras do Vladimir Safatle:
“A esquerda precisa entender de uma vez por todas a natureza do embate, ouvir aqueles mais dispostos ao confronto, esses que não tiveram medo de ir para a rua hoje, e assumir uma lógica de polarização. Isso implica que ela precisa mobilizar a partir da sua própria noção de ruptura, em alto e bom som. Uma ruptura contra outra. Não há mais nada a salvar ou a preservar nesse país. Ele acabou. Um país cuja data de sua independência é comemorada dessa forma simplesmente acabou. Se for para lutar, que não seja para salvá-lo, mas para criar outro.”
Estamos a altura dessa tarefa histórica? Ou vamos continuar achando que tudo se resolverá na próxima eleição? Se a nossa opção for criar outro país e não continuar tentando salvar esse, o fuzil será um instrumento importante.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.