Fabiano havia chegado há três semanas para dar aula na escola do povoado de Mirindiba. Havia acabado de se formar no curso de Historia pela Universidade Federal do Tocantins e logo conseguiu a oportunidade de dar aulas na zona rural. Mesmo com as dificuldades que teria pela frente ele não pensou duas vezes e aceitou o convite.
A vida por ali não era fácil, era a mesma coisa de morar em uma fazenda. Fabiano ia à cidade apenas de quinze em quinze dias. Sentia falta da família, da namorada, dos amigos e das farras que faziam. No entanto ele acreditava que com o tempo conseguiria se adaptar a vida em Mirindiba. Não seria fácil, mas conseguiria. E com o tempo, mostrando sua competência por ali. Quem sabe não conseguiria arranjar um trabalho na zona urbana, de preferencia na capital.
Fabiano caminhava tranquilamente pela única rua do local, de repente ao passar em frente ao bar do povoado viu uma moreninha varrendo o terreiro e encantou-se por ela.
- Que moreninha linda. Disse para si mesmo Fabiano.
Ele olhava hipnotizado para a moreninha que continuava varrendo o terreiro sem perceber que estava sendo observada. Ou talvez ela soubesse e apenas fingia não vê-lo. Foi quando então apareceu um homem caminhando em direção à moreninha. Fabiano espantou-se – olhou para um lado e outro para ver se via alguém, desviou o olhar do casal e continuou a caminhar.
-Hum, deve ser o marido dela. Pensou consigo.
Fabiano retornou para o barraco onde morava, mas não conseguia tirar a moreninha da cabeça. Sentia uma forte atração por ela, desejava beija-la ardorosamente e tê-la em seus braços. Que desejo louco era aquele? Que paixão maluca era aquela? Questionava-se Fabiano.
Ele tinha namorada, que não estava ali com ele, mas Fabiano era terminantemente apaixonado por ela, iriam inclusive se casar em algum momento. Mas aquela atração tão repentina por aquela moreninha, de onde vinha? Além disso, era só uma atração física ou havia algo mais? Ele não sabia, mas o fato era que ela não sai da sua cabeça.
- Fabiano, Fabiano. Tira o olho dessa moreninha que ela não é pra tu. Ela não é pro teu bico. Dizia ele para si mesmo.
Mas já era tarde, Fabiano havia sido enfeitiçado por aquela moreninha. Agora todos os dias ele caminhava por aquelas bandas a fim de vê-la. E ela estava lá todos os dias varrendo o chão do terreiro, que de tanto ser varrido já estava criando buracos. Ele passava todos os dias por ali, mas se quer tinha coragem de cumprimenta-la.
Mexerica companheiro da moreninha começou a observar uma mudança na rotinha da sua esposa. Esta agora lhe tratava com certa indiferença e se aprontava em demasia todos os dias antes de pegar a vassoura para varrer o terreiro. Mexerica notou que este comportamento se dera, sobretudo, após a chegada do professor Fabiano aquele povoado.
- Ora, essa muie agora anda com a idea de querer estudar?! Muie minha não estuda, tem é que trabaia. Dizia Mexerica para quem quisesse ouvir.
Ele começou a sentir um forte ciúme da mulher, a desconfiar que ela o estivesse traindo com o professor Fabiano. Na cabeça do Mexerica os dois se encontravam para córnea-lo quando ele saia para ir trabalhar no roçado.
- Esse professozim tá de zoi na minha muie. Eu posso até ser rudo, não ter a inteligência dele. Mas eu não sou besta. Se tiverem me traindo acabo com a vida dos dois. Dizia Mexerica quando tomava umas e outras.
A cada dia que passava ele sentia mais ciúmes de sua mulher com o professor Fabiano. E foi tendo a convicção que estava sendo corneado por ela. Assim começou a mudar a rotina, dizendo que ia para o trabalho e não indo a fim de tentar pegar sua mulher no flagra. No entanto ele nunca conseguira vê-la se quer conversando com o professor. Mesmo assim Mexerica não tirava da cabeça que sua mulher o estava traindo.
Os dias foram se passando e nada de Mexerica conseguir provar a traição da mulher.
Mais um dia no povoado de Mirindiba. Fabiano chega da escola e arruma-se para sua caminhada diária. Mal podia esperar para ver a moreninha que tirava o seu sono.
- Será que hoje terei coragem de falar com ela? Quem sabe ao menos acenar com a mão. Pensava consigo Fabiano.
A moreninha tomou um banho, arrumou-se e foi para o terreiro, pensando consigo:
- Será se o professor passará por aqui hoje?
Mexerica por sua vez não havia ido naquele dia trabalhar na roça, estava desde cedo tomando cachaça.
- É hoje que resolvo essa parada. Vou ensinar esse professozin a tirar o zoi das mulher dos outro.
De repente surgi na estrada o professor Fabiano. Mexerica observa sua mulher e o professor. Ao ver que esta sendo observado por Mexerica, Fabiano desvia o olhar da moreninha.
- Professor chegue aqui. Grita Mexerica.
Fabiano treme por dentro ao ouvir Mexerica lhe chamando.
- O que esse brejo quer comigo? Questionou-se mentalmente Fabiano. Que mesmo com receio foi até Mexerica.
A moreninha que sabia do temperamento do marido começou a ter receios do que poderia acontecer. Fabiano passa por ela e a cumprimenta, ela com a cabeça baixa responde-o timidamente.
- Pois não, no que posso lhe ajudar? Disse Fabiano a Mexerica.
- Que historia é essa do senhor tá de zoi na minha muie? O senhor todo dia passa aqui bicando ela, acha que eu já não percebi e sei que estão me traindo? Gritou Mexerica apontando o dedo para o rosto do Fabiano.
Mais do que imediatamente a moreninha meteu-se no meio dos dois e falou: - Deixe de laquera home. Tu tá doido, eu mal conheço o professor. E virando para Fabiano fala:
- Desculpe ele, professor. Isso é cachaça.
Fabiano estava sem reação. Mudo, tremendo de medo. Sua atitude era de quem de fato estava devendo algo.
- Cale a boca sua vagabunda. Gritou Mexerica partindo para cima da mulher e a esbofeteando. Fabiano não se conteve e parte para cima de Mexerica para salvar a Moreninha das garras daquela fera.
Essa atitude de Fabiano fez Mexerica ter mais convicção que os dois estavam tendo um caso. Assim ele não pensou duas vezes, após ver que não conseguia sair no braço com Fabiano, saiu correndo pegou uma cartucheira velha que guardava no seu quarto e descarregou na esposa e em Fabiano. Em seguida deu um tiro na própria cabeça.
Pedro Ferreira Nunes – Poeta e Escritor Popular.