Esses dias observando o trabalho de um assistente
social na secretaria de assistência social em Lajeado me veio na lembrança às conversas
com estudantes do serviço social a cerca do fazer profissional do assistente
social. Especialmente por parte daqueles que já estão no campo de estagio –
sobretudo no serviço público e se deparavam com um fosso muito grande entre
aquilo que eles aprendiam na graduação e o que eles viam na prática.
Enquanto os estudantes recebem uma formação numa
perspectiva progressista, especialmente nas universidades públicas, quando vão
exercer a profissão acabam se tornando “operacionalizadores de politicas
terminais” como diz o professor Dr. José Paulo Netto. Atitude que é tão
criticada na formação, mas que, é a realidade da estrutura burocrática do
estado brasileiro. Vejamos esse exemplo, que mostra bem o retrato do fazer
profissional do assistente social em Lajeado.
A secretaria de assistência social de Lajeado estava
fazendo um recadastramento e o cadastramento de famílias que estão solicitando
do poder público uma área para construção de casas no projeto de expansão
urbana do município que tem sido promovido pela prefeita Márcia Reis (PSD). Até
ai tudo bem. De fato cabe ao serviço social do município fazer esse cadastro
para verificar a realidade socioeconômica das famílias, e assim contemplar
aquelas que de fato necessitam. No entanto, não é bem assim que as coisas
funcionam. Não no serviço social no interior do interior do Brasil. A verdade é
que o assistente social estava ali apenas para homologar uma decisão de cima
para baixo, apenas executar o que já estava decidido. As pessoas que iam ali
fazer o cadastro já havia ganhado seus lotes, independente da sua situação
socioeconômica, elas apenas repassavam o numero do lote e a quadra e o
assistente social fazia o cadastro que não passava de mera formalidade – Uma
prova caso surja algum processo questionando a doação de áreas públicas em
Lajeado em troca de apoio politico.
Qual deveria ser a postura do assistente social
nesse processo? De duas uma – Ou ele se rebela contra essa farsa – denunciando
ao ministério público e buscando apoio junto ao conselho regional de Serviço
Social – e com isso atraindo alguns inimigos e correndo o risco de ser
demitido. Ou aceita o papel de operacionalizador de politicas terminais – de um
simples profissional fadado a preencher e assinar fichas homologando decisões
de cima para baixo. Esta que, aliás, parece ter sido a decisão do assistente
social de Lajeado. Mas não nos aprecemos em condenar o pobre assistente social
da secretaria de assistência social de Lajeado. Sozinho, o que ele poderia
fazer?
Ao contrario da maioria dos estudantes de serviço social
– essas questões sobre o fosso que existe entre a formação e o fazer
profissional do assistente social nunca me incomodaram durante o período em que
estava cursando a faculdade de serviço social. Sobretudo por que para mim
sempre esteve muito claro os limites do assistente social no serviço público. Dai
que a minha opção foi militar junto ao movimento popular onde poderia atuar
numa perspectiva libertadora. Já que é obvio que o serviço social no espaço
institucional serve unicamente para manter a ordem estabelecida – o assistente
social não fará mais do que executar politicas terminais,pois esta é a logica
de funcionamento da assistência social institucionalizada.
Certa vez um camarada do curso de Serviço Social da
Unifesp em Santos que acabava de chegar de um encontro de profissionais e
estudantes questionava o fato de que nesses espaços e durante a formação não se
retratava a realidade do fazer profissional tal como era na prática. Que tal
fato contribuía para que muitos estudantes se desiludissem com a profissão.
Pois quando iam para o exercício profissional percebiam que nada daquilo que
haviam aprendido durante o curso lhes serviria ali. Isso mostra a necessidade
de uma ampla discussão no seio do serviço social a cerca de como diminuir o enorme fosso entre a formação e a prática, pois é
fato que esse fosso existe. E a saída desse fosso tem que ser de forma
coletiva.
Pedro
Ferreira Nunes – cursou a faculdade de Serviço Social. É educador popular e
militante do Coletivo José Porfírio