segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Um retrato do fazer profissional do assistente social em Lajeado

Esses dias observando o trabalho de um assistente social na secretaria de assistência social em Lajeado me veio na lembrança às conversas com estudantes do serviço social a cerca do fazer profissional do assistente social. Especialmente por parte daqueles que já estão no campo de estagio – sobretudo no serviço público e se deparavam com um fosso muito grande entre aquilo que eles aprendiam na graduação e o que eles viam na prática.

Enquanto os estudantes recebem uma formação numa perspectiva progressista, especialmente nas universidades públicas, quando vão exercer a profissão acabam se tornando “operacionalizadores de politicas terminais” como diz o professor Dr. José Paulo Netto. Atitude que é tão criticada na formação, mas que, é a realidade da estrutura burocrática do estado brasileiro. Vejamos esse exemplo, que mostra bem o retrato do fazer profissional do assistente social em Lajeado.

A secretaria de assistência social de Lajeado estava fazendo um recadastramento e o cadastramento de famílias que estão solicitando do poder público uma área para construção de casas no projeto de expansão urbana do município que tem sido promovido pela prefeita Márcia Reis (PSD). Até ai tudo bem. De fato cabe ao serviço social do município fazer esse cadastro para verificar a realidade socioeconômica das famílias, e assim contemplar aquelas que de fato necessitam. No entanto, não é bem assim que as coisas funcionam. Não no serviço social no interior do interior do Brasil. A verdade é que o assistente social estava ali apenas para homologar uma decisão de cima para baixo, apenas executar o que já estava decidido. As pessoas que iam ali fazer o cadastro já havia ganhado seus lotes, independente da sua situação socioeconômica, elas apenas repassavam o numero do lote e a quadra e o assistente social fazia o cadastro que não passava de mera formalidade – Uma prova caso surja algum processo questionando a doação de áreas públicas em Lajeado em troca de apoio politico.

Qual deveria ser a postura do assistente social nesse processo? De duas uma – Ou ele se rebela contra essa farsa – denunciando ao ministério público e buscando apoio junto ao conselho regional de Serviço Social – e com isso atraindo alguns inimigos e correndo o risco de ser demitido. Ou aceita o papel de operacionalizador de politicas terminais – de um simples profissional fadado a preencher e assinar fichas homologando decisões de cima para baixo. Esta que, aliás, parece ter sido a decisão do assistente social de Lajeado. Mas não nos aprecemos em condenar o pobre assistente social da secretaria de assistência social de Lajeado. Sozinho, o que ele poderia fazer?

Ao contrario da maioria dos estudantes de serviço social – essas questões sobre o fosso que existe entre a formação e o fazer profissional do assistente social nunca me incomodaram durante o período em que estava cursando a faculdade de serviço social. Sobretudo por que para mim sempre esteve muito claro os limites do assistente social no serviço público. Dai que a minha opção foi militar junto ao movimento popular onde poderia atuar numa perspectiva libertadora. Já que é obvio que o serviço social no espaço institucional serve unicamente para manter a ordem estabelecida – o assistente social não fará mais do que executar politicas terminais,pois esta é a logica de funcionamento da assistência social institucionalizada.

Certa vez um camarada do curso de Serviço Social da Unifesp em Santos que acabava de chegar de um encontro de profissionais e estudantes questionava o fato de que nesses espaços e durante a formação não se retratava a realidade do fazer profissional tal como era na prática. Que tal fato contribuía para que muitos estudantes se desiludissem com a profissão. Pois quando iam para o exercício profissional percebiam que nada daquilo que haviam aprendido durante o curso lhes serviria ali. Isso mostra a necessidade de uma ampla discussão no seio do serviço social a cerca de como diminuir o enorme fosso entre a formação e a prática, pois é fato que esse fosso existe. E a saída desse fosso tem que ser de forma coletiva.


Pedro Ferreira Nunes – cursou a faculdade de Serviço Social. É educador popular e militante do Coletivo José Porfírio

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Crônicas da UFT: Repórter calango e o agronegócio tocantinense.

Se há uma característica marcante na cobertura da grande mídia brasileira das questões da nossa sociedade poderíamos dizer que é a omissão. Logo podemos dizer que o problema não é a cerca do que se diz, mas o que não se diz. E ao ouvir o repórter calango – programa experimental dos estudantes do curso de comunicação da UFT, veiculado na UFT-FM sobre o agronegócio tocantinense percebi que a UFT não tem deixado nada a desejar na formação de profissionais que seguiram essa linha.

Quem ouviu o programa pôde perceber a força e pujança do agronegócio tocantinense que é tido como o motor propulsor da economia local. Até ai nenhuma novidade – o programa não disse nenhuma inverdade. Ora, não é segredo para ninguém a força econômica do agronegócio, que na “crise” atual foi o único setor que não foi atingido. O que mereceu inclusive uma campanha da rede Globo para o setor. Logo, portanto o nosso objetivo aqui não é falar sobre o que foi dito, mas o contrario, o que não foi dito, isto é, o que se omitiu. Faremos isso em dez questões e para tanto nos utilizaremos dá ultima frase dita pelos apresentadores – “o agronegócio tocantinense esta indo no caminho certo”. Será que de fato o agronegócio tocantinense esta indo no caminho certo?

1-      Se isso significa gerar riqueza para uma minoria através da espoliação dos povos campesinos então é verdade, está indo no caminho certo;
2-      Se isso significa priorizar o cultivo de monocultura para exportação em detrimento da produção diversificada de alimentos então é verdade, está indo no caminho certo;
3-      Se isso significa grilar terras públicas e de comunidades tradicionais para ampliação desse tipo de lavoura e criação de gado então é verdade, está indo no caminho certo;
4-      Se isso significa utilização de mão de obra escravizada, onde o Tocantins esta sempre ocupando as primeiras posições então é verdade, está indo no caminho certo;
5-      Se isso significa a utilização abusiva de agrotóxico contaminando o meio ambiente, a produção de alimentos e a saúde da população então é verdade, está indo no caminho certo;
6-      Se isso significa o aumento da violência contra os povos tradicionais – indígenas, quilombolas e camponeses pobres e a usurpação dos seus territórios então é verdade, está indo no caminho certo;
7-      Se isso significa a substituição das florestas nativas e do bioma natural do cerrado pela monocultura da soja então é verdade, está indo no caminho certo;
8-      Se isso significa a construção de usinas hidrelétricas destruindo os rios para gerar energia para o agronegócio então é verdade, está indo no caminho certo;
9-      Se isso significa a flexibilização de leis ambientais que permitam o avanço de projetos como o MATOPIBA então é verdade, está indo no caminho certo;
10-  E por fim, se isso significa a expulsão gradativa dos povos tradicionais do campo para periferia das grandes cidades, para dar lugar à monocultura gerando riquezas apenas para uma pequena elite agrária então é verdade, está indo no caminho certo.

Sim, é verdade que o agronegócio tocantinense esta indo no caminho certo. Mas caminho certo para quem? Isso infelizmente é omitido. Bem como todos os pontos que elencamos acima. O lamentável é que numa universidade onde se deveria primar pelo debate e a pluralidade de ideias – mostra-se apenas um lado. O lado daqueles que querem que as coisas continuem caminhando no caminho certo, certo para eles, não para a maioria da população – que no final das contas é quem paga a conta.

Pedro Ferreira Nunes – é Estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.

“...Então, na mesma fala dos relâmpagos, digo:
essa é uma nação de bois.
Aqui entre arame e arame,
nos corredores, empurrados pela força das cercas
e pelas armas da nação
formamos um ajuntamento de gente saqueada ...”
                                                                                     Poema de um posseiro do norte do Tocantins

Algumas palavras sobre a aliança entre PT e PSOL para disputa municipal em Palmas.

Há alguns dias atrás havíamos escrito sobre “o triste retrato de um partido de esquerda no Tocantins”, onde relatávamos a situação do PSOL-Tocantins, sobretudo a cerca de que o partido das ruas e das lutas a nível nacional, no cenário regional havia se transformado num partido das urnas. Para nós tal fato se dava pelo caráter oportunista da direção regional do partido. Naquele período a legenda havia lançado a pré-candidatura de Cassius Assunção – presidente regional do partido – para disputar á prefeitura de Palmas. O que não víamos com muito entusiasmo pelo fato de não ter há visto uma discussão a partir da base para discutir um nome adequado da legenda para essa tarefa.

No entanto em vez de corrigir os erros e tentar direcionar o partido a nível regional para linha politica que o partido tem tido a nível nacional. A decisão tomada de aliar-se ao PT só afirmou mais ainda o caráter oportunista da atual direção do partido a nível regional. Tal posição vai na contramão da linha politica acertada que o PSOL tem tomado a nível nacional – linha de se colocar como alternativa de esquerda ao projeto falido do PT. Fato que, aliás, tem colocado o partido numa situação privilegiada nas disputas eleitorais em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Natal, Fortaleza entre outros. Um fato a se destacar nestas localidades é a busca pela construção de uma frente de esquerda, claro sem o PT e o PC do B, já que estes partidos já não representam mais os anseios daqueles que acreditam que a saída é pela esquerda.

No Tocantins o partido ignora tudo isso, ignora, aliás, que por aqui o PT nunca fora de fato de esquerda. Que até pouco tempo atrás compunha a base de apoio do prefeito Carlos Amastha, ocupando inclusive secretarias, que também faz parte do governo Marcelo Miranda, sendo que o líder deste governo é deputado do PT e também ocupa cargos na gestão estadual. Que José Roberto, deputado estadual e candidato do PT a disputa pela prefeitura de Palmas fez parte da base de apoio de Siqueira Campos, mesmo sendo do PT.

Em vez de construir com o PCB, PSTU e movimentos sociais uma candidatura alternativa, o PSOL-TO preferiu aliar-se ao PT, inclusive abrindo mão da cabeça de chapa para indicar o vice. Se tal fato ocorresse para apoiar a candidatura do PCB ou PSTU, tudo bem. Mas ignorar completamente a perspectiva de construção de uma frente de esquerda para apoiar o PT é inaceitável. Sobretudo por que do ponto de vista da tática eleitoral não haverá nenhum ganho para o partido, e do ponto de vista estratégico para construção do partido a nível municipal e estadual também não há nenhum ganho, pelo contrario só ônus em aliar-se a um partido tão desgastado como o Partido dos Trabalhadores. Mas que, sobretudo há muito tempo não representa mais um instrumento de defesa das bandeiras históricas da classe trabalhadora tocantinense e brasileira.

Diante disso esperamos que a direção nacional do PSOL barre essa politica de aliança equivocada da direção regional da legenda. Politica que alias como ressaltamos anteriormente vai na contramão da linha politica acertada do partido a nível nacional. E que não tem nenhuma razão por que ser diferente, pois a única justificativa para se defender tal aliança é de caráter oportunista e não para o fortalecimento da esquerda como declarou o presidente da legenda no município de Palmas.


Pedro Ferreira Nunes – é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Poema: Conversa no terreiro ou cantiga da saudade

Onde estão meus velhos amigos?
Companheiros do estradar.
Onde estão meus camaradas
Que não vejo mais por cá?

No pé de pequi ou na ilha verde
Onde é que eles estão?
Onde estão meus companheiros?
Se perderão no mundão.

Lembro-me do querido Bida
Gostava tanto de pescar
De tomar sua cachaça
E no córrego banhar.

Ninguém poderia imaginar
Que naquele dia chapado
Ao ir banhar na ilha verde
Ele morreria afogado.

E o grande Manoel mentira
Dançarino de primeira
Sempre com um carote no bolso
Rodava a cidade inteira.

Um dia trabalhando na roça
Uma sicura lhe invadiu
Antes de chegar no córrego
Já sem vida ele caiu.

Quem não se lembra do raposão
Famoso ladrão de galinhas
Não havia cerca que o segurava
Quando ele queria pegar as bichinhas.

Tomava cachaça de mais
Começou a delirar
Logo perdeu o juízo
Não demorou em se matar.

E o meleta então
Jovem sonhador
Queria aprender a tocar
Queria ser um cantor.

Se apaixonou por uma morena
E por ela se perdeu
Por ela, ele matou
Por ela, ele morreu.

E o boca de matraca
Marido da Madalena
Depois que ela o abandonou
Sua vida não valia a pena.

Invernou na cachaça
Dia e noite sem parar
Seu coração não suportou
Na boca da noite caiu sem respirar.

Nas madrugadas lajeadenses
Quando os galos descambam a cantar
A cachorrada latindo
É difícil não lembrar.

Dos meus velhos amigos
Companheiros do estradar
Que sumiram no oco do mundo
Para nunca mais voltar.

Pedro Ferreira Nunes

Casa da Maria Lucia. Lajeado-TO.
Lua minguante, Verão de 2016.
*Poema inspirado pela canção “Chula no terreiro” do Elomar Figueira Melo. 

terça-feira, 28 de junho de 2016

A mediocridade como marca da disputa política em Palmas


Amastha e Claudia Lelis
O recente conflito em decorrência da passagem da tocha olímpica pela capital que gerou mais um bate-boca público e ameaças de ambos os lados através das redes sociais entre o prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB) e a vice-governadora Claudia Lelís (PV) não foi um fato isolado. Não é de hoje que Carlos Amastha utiliza as redes sociais para agredir o governo Estadual e outros adversários políticos. Mostrando a sua total falta de condição de ser o gestor de uma capital e mais ainda o quanto é um politico medíocre. Por outro lado, os seus adversários não ficam atrás. E mostram que estão no mesmo nível do Amastha. E tal fato mostra que a mediocridade é a marca da politica feita na capital nestes últimos anos.
Em vez de se travar um debate de alto nível sobre os diversos problemas que assolam a capital tocantinense – por exemplo, o aumento da criminalidade, a péssima qualidade do transporte coletivo, o descumprimento dos acordos com os servidores públicos, especialmente da educação. Briga-se por quem terá mais publicidades e holofotes nos eventos nacionais como foi no evento de recepção da tocha olímpica e no lançamento do “zica zero” com a presença do ministro da saúde. Se o evento esta sendo organizado pela prefeitura de Palmas, o governo se quer é mencionado. Se for o contrário, o mesmo acontece. Diante disso não há outra palavra para classificar estes senhores se não de medíocres.
Ai depois é acusação de todos os lados – o prefeito acusa o governo estadual e o governo estadual acusa o prefeito. Enquanto isso lamentavelmente é a população palmense que paga a conta por essa “guerra fria”. Uma briga que não é por mais recursos para o município – que não é pela melhoria de vida da população. Mas única e exclusivamente pela disputa eleitoral – pela dominação da maquina pública.
Amastha (PSB) buscará a reeleição em outubro, e a vice-governadora Claudia Lelís (PV) ao lado do ex-prefeito Raul Filho (PR) tem se configurado em um dos seus principais adversários. Aliás, Claudia Lelís não tem feito outra coisa se não usar seu cargo para fazer campanha antecipada. Amastha por sua vez não fica atrás. Que a população palmense não se iluda, a marca desses senhores é a mediocridade, e sendo políticos tão medíocres, não é surpresa que suas administrações sejam medíocres. Dessa forma que o povo possa se conscientizar e desfazer desses “políticos” e a oportunidade para tanto é agora.
Pedro Ferreira Nunes – Educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

Algumas palavras sobre o Movimento de União dos Servidores Públicos Civis e Militares do Estado do Tocantins – MUSME e a luta por melhores condições de trabalho e valorização salarial.


Desde o inicio do mandato do governo Marcelo Miranda (PMDB) os servidores públicos estaduais vem se mobilizando por melhores condições de trabalho e valorização salarial bem como contra os ataques do atual governo aos direitos conquistados pela categoria. Diante disso vimos varias greves pipocarem no serviço público estadual a exemplo, dos policiais civis, dos professores, do quadro geral e da saúde. No entanto, todas acabaram fracassando, sobretudo pela falta de unidade de toda a categoria como também pela falta de competência e o caráter oportunista dos dirigentes das organizações dos trabalhadores do serviço público.
Para nós sempre esteve claro que a luta dos servidores públicos estaduais só alcançaria algum êxito se houvesse uma unidade entre as diversas categorias para rechaçar os ataques do governo Marcelo Miranda. O que defendíamos desde o inicio do ano passado em balanços que fizemos dos movimentos grevistas;
A luta contra os ataques e retiradas de direitos de servidores públicos das diversas categorias pelo governador Marcelo Miranda (PMDB) tem que ser construída unitariamente. Os servidores públicos do Paraná nos deu uma importante lição a cerca da importância da luta unitária para rechaçar os ataques de governos e patrões aos direitos dos trabalhadores”. (Nunes, 2015)
Mesmo diante do nosso alerta os movimentos grevistas continuaram sendo tocado por suas direções de forma especifica meramente, o que levou ao seu isolamento e fracasso. Tanto que nenhuma categoria conseguiu reverter os ataques do governo Marcelo Miranda. E as poucas migalhas conquistadas não saíram do papel. Tal fato se deu, sobretudo pelo caráter pelego e oportunistas das direções sindicais, por tanto para que houvesse uma mudança de perspectiva era necessário um movimento a partir da base.
Enfim, encerramos chamando a base das categorias de servidores públicos estaduais a passar por cima das atuais direções sindicais que estão burocratizadas e estagnadas. Esta é uma tarefa imediata, desfazer-se dessas velhas direções e construir novas ferramentas no estado que de fato defendam os interesses e anseios do povo trabalhador tocantinense. Construam a unidade na luta, lutem pelos seus direitos. A categoria não precisa de direções vendidas e corrompidas para tal tarefa, forjemos novos lideres. E a palavra de ordem deve ser – o trabalhador não pode pagar pela crise! Nenhuma redução de direitos!”. (Nunes, 2015)
Agora os servidores públicos estaduais do Tocantins parecem ter despertado para o que já vínhamos alertando há algum tempo. E criaram um movimento unitário das diversas categorias dos trabalhadores do funcionalismo público estadual – o MUSME (Movimento de União dos Servidores Públicos Civis e Militares do Estado do Tocantins). Com isso as perspectiva para reverter os ataques do governo Marcelo Miranda aos direitos dos trabalhadores bem como ampliar para conquistas de mais direitos encontra-se num novo patamar. Tal movimento tem condições concretas de barrar os ataques do atual governo. Mas para tanto é preciso que não se esfarele a partir de disputas internas e ações oportunistas de seus lideres.
Greve geral no serviço público estadual
Nas ultimas semanas o MUSME tem repercutido a possibilidade de uma greve geral no serviço público estadual. Si de fato sair do papel será a primeira greve geral da história do Tocantins. No entanto alertamos para que tal ameaça não fique apenas nos discursos dos seus lideres, pois se não o movimento pode cair no descredito como tantos outros movimentos grevistas que surgiram no Tocantins que muito falam e pouco fazem. Desde já o que se faz necessário é a organização de um dia estadual de paralização dos servidores públicos para que então amadureça a greve geral. E mais uma vez ressaltamos o papel importante da base dessas categorias em não deixar apenas nas mãos das direções o rumo do movimento.
Devemos, portanto reconhecer a importância da criação do MUSME como um importante instrumento de articulação e unidade dos servidores públicos estaduais. Como também a disposição para construção de uma greve geral no Tocantins. Tal fato abre uma nova perspectiva para o conjunto da classe trabalhadora tocantinense na luta pelos seus direitos. Por fim, que tal iniciativa não seja apenas uma ação pontual, mas que possa se consolidar através de ações concretas.
Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Conto: Um certo barbudo

Era quase noite, a criançada tomava as ruas para brincar despreocupadamente, os vizinhos sentados em suas cadeiras jogavam conversa fora, outros desciam rumo ao colégio. O vento frio do mês de junho descia das serras e deixava aquela pequena cidade com um clima agradável, totalmente ao contrario do calor infernal que fizera durante o dia.

Quando aquela figura passou por ali, chamou a atenção de todos. Em uma cidade onde todo mundo conhece todo mundo, não seria difícil perceber que aquela figura não era dali. Ainda mais um sujeito tão diferente – era de altura mediana, tinha a pele morena, um olhar triste, seguia com a cabeça baixa, usava uma calça jeans azul desbotada, e uma camiseta verde, tinha um chapéu preto na cabeça e uma grande mochila nas costas, a tira colo trazia um embornal de crochê e um violão na mão, era possível ver varias tatuagens em seu braço - em destaque uns lagartos e um nome de uma mulher, além das tattos chamava muito atenção a sua longa barba.

Sem falar ou cumprimentar ninguém ele seguiu o seu caminho. Deixando todos ali intrigados – quem seria tal figura? De onde vinha? O que queria ali aquele barbudo?

O tal barbudo instalou-se em uma casa a muito abandonada, mas que ainda se encontrava bem conservada. Ficava próximo a uma praça, um pouco afastada do centro da cidade, mas com uma vista maravilhosa para a cordilheira de serras que cercavam o local.

Como a cidade não era grande bem como o numero de habitantes logo a novidade da chegada de figura tão diferente naquele local tornou-se de conhecimento de todos. As crianças encantaram-se por aquele barbudo, os jovens o admiravam, algumas mocinhas até suspiravam ao vê-lo, mesmo ele não sendo bonito. Os adultos achavam que ele seria um vagabundo, outros, em especial os mais idosos tinham medo dele.

Ele seguia a sua vida por ali, não tinha contato e nem amizade com ninguém dali. Passava grande parte do seu tempo em casa fazendo seu artesanato – sim ele era um artesão. Quando terminava de fazer seu trabalho jogava tudo na mochila seguia até a beira da rodovia para pegar um carro até a capital ou mesmo outras grandes cidades do interior do estado onde vendia seus trampos. As vezes passava até uma semana ou mais sem voltar para casa. Todos na pequena cidade já começavam a imaginar que fim teria tido o barbudo – era assim que ele era conhecido por ali, já que ninguém sabia o seu nome. Mas de repente ele aparecia de novo por ali, passava mais algum tempo fazendo mais artesanato com material que ele recolhia nas serras do local e depois desaparecia novamente.

Ele chegava em sua casa sempre na boca da noite. Ligava o som, gostava de ouvir uma musica diferente da que o pessoal dali ouvia. Diziam que era rock clássico – Janis Joplin, Bob Dilan, The Doors. Um que todos conheciam era Raul Seixas. Da janela podia vê-lo preparando um mate quente para tomar. Mas as vezes ele acendia um cachimbo e sentava em uma cadeira de balanço olhando para o céu, ou então tomava um conhaque e tocava seu violão cantarolando aquela musica diferente que ele tanto gostava.

Dificilmente o viam sorrindo, conversando com alguém – era um solitário. Tinha um olhar triste, o que teria acontecido para que ele vivesse daquela forma tão melancólica? Muitos tinham vontade de aproximar-se dele, de conversar, de fazer amizade, no entanto tinham receio de serem repelidos já que ele aparentava ser tão fechado.

Quem seria responsável por tamanha tristeza. Ele tinha o nome de uma mulher tatuado no braço – Maria Lucia seria ela a responsável por tamanha tristeza? Quem sabe.

Era manhã cedo, no horizonte surgiam os primeiros raios de sol. Eu seguia para o colégio e como sempre passei em frente à casa do barbudo para quem sabe vê-lo por ali, mesmo de longe. Mas eu bem sabia que ele não era de levantar muito cedo.

 Eu era muito jovem, uma criança ainda, mas era apaixonado por aquela figura incrível, eu o admirava muito, ele fora com certeza a minha primeira paixão. Mesmo que ele não falasse comigo, que se quer me desse um sorriso, mas eu estava lá todos os dias a tarde brincando na rua em frente a sua casa para vê-lo com sua guapa de tereré.

Eu era uma criança ainda, mas era apaixonada por ele, como queria ser eu a mulher que tinha o nome tatuado no braço dele. Mas ele se quer notava que eu existia, também eu era apenas uma criança. Porém eu tinha a esperança de me tornar um dia a sua companheira e juntos, andaríamos por esse mundo afora embelezando as pessoas com nosso artesanato.

Naquela manhã que eu passava em frente a sua casa indo para o colégio aconteceu algo incrível. Para minha surpresa quando eu me aproximo da casa dele me deparo com ele. Estava trajado tal como no dia que chegara ali. A minha surpresa maior ainda foi quando pela primeira vez desde que ali chegara ele me cumprimentou, olhou para mim e sorriu. Eu retribuí o gesto radiante de felicidade.

- Bom dia.

- Bom dia. Tudo bom contigo meu!?

- Sim. E com o senhor?

- Eu estou bem. Você esta indo para a escola?

- Sim.

- Posso ti dar um presente?


Eu era ainda muito jovem, ainda uma criança, mas aquele seria o dia mais feliz da minha vida e também o mais triste. Feliz por que ele falou comigo e me deu um presente que ainda guardo até hoje – um símbolo da paz. Mas triste por que aquela foi a ultima vez que o vi, pois ele nunca mais voltou ali. Ninguém dali soube que fim ele levou, mas eu espero que ele tenha reencontrado a sua Maria Lucia.

Pedro Ferreira Nunes - Poeta e escritor popular tocantinense.