“Sangra o coração do Brasil,
o belo monstro rouba as terras dos seus filhos,
devora matas e seca os rios,
tanta riqueza que a cobiça destruiu!”.
No país das maravilhas
dos ruralistas para que diabo índio quer terra “se não planta e não produz”? No
país das maravilhas dos ruralistas florestas são atrasos para o “progresso”.
Logo devem ser derrubadas como também aqueles que as protegem, isto é os índios.
No país das maravilhas dos ruralistas usar agrotóxico para produzir alimentos é
a única forma para se ofertar produtos baratos. E qualquer problema de saúde
futuro será tratado eficazmente no inquestionável sistema de saúde pública. No
país das maravilhas dos ruralistas eles são os grandes heróis da nação. Por
tanto não devemos contestar, mas sim glorificar o modelo agrícola pautado na
concentração de terra, na monocultura, da destruição do meio ambiente, no uso
abusivo de agrotóxico, no trabalho escravo e na violência contra os povos
tradicionais. E nesse país das maravilhas dos ruralistas a trilha sonora é o
sertanejo universitário e suas letras descartáveis.
Ora, sendo assim, que
ousadia de uma escola de samba levar para avenida um samba-enredo que diz: “Sangra o coração do Brasil, o belo
monstro rouba as terras dos seus filhos, devora matas e seca os rios, tanta
riqueza que a cobiça destruiu!”. Um grito de denuncia que não ecoará apenas
na Sapucaí, ou nos quatro cantos do Brasil, mas sim em todo o mundo. Pois o
desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro é um espetáculo visto em todo o
mundo. E grande parte do mundo consome os produtos exportados pelos ruralistas.
E com certeza pensaram duas vezes antes de consumir estes produtos. É dai que
vem todo o ódio dos ruralistas, por essa eles não esperavam – ver sua mascara
caindo diante do planeta, ainda por cima na tela da Rede Globo – que vem
enaltecendo no último período através da campanha “sou agro” o agronegócio
brasileiro. Dá até para imaginar como será a transmissão do desfile e a saia
justa em que ficaram os apresentadores e comentaristas da emissora carioca.
Diante disso, o que
tenta fazer os ruralistas? Criminalizar a Imperatriz Leopoldinense e o seu
samba-enredo “Xingu – O Clamor que vem da floresta”. Essa tática não é nova.
Sempre que são questionados os ruralistas usam sua força e influência no
congresso nacional para tentar intimidar aqueles que questionam o seu modelo de
desenvolvimento. Foi nesse sentido que o senador Ronaldo Caiado (DEM) ameaçou
criar uma CPI para investigar quem esta financiando a Imperatriz Leopoldinense
e o seu samba-enredo. Os ruralistas utilizaram essa tática recentemente criando
a CPI da FUNAI para investigar possíveis irregularidades na demarcação de
terras indígenas e a CPMI para investigar os movimentos sociais de luta pela
terra. Em ambas as CPI´s nada foi comprovado de ilegal. Mas cumpriram o seu
papel de intimidar seus inimigos. Agora tentam mais uma vez se utilizarem dessa
tática. Esperamos que a Imperatriz Leopoldinense não sucumba à pressão e nem
recue um milímetro na sua disposição de mostrar ao mundo a verdadeira face dos
ruralistas brasileiros. Que têm conseguido sem muito esforço avançar o seu
projeto de dominação.
Sem muita dificuldade e
questionamentos os ruralistas têm aprovado projetos de leis que flexibilizam a
legislação ambiental e que retiram direitos dos povos tradicionais. Ainda nos
governos petista de Lula e Dilma não tiveram muita dificuldade em colocar em
curso um projeto de antirreforma agrária e aprovar no congresso nacional a
reforma do código florestal e uma intensa ofensiva contra os povos indígenas.
Agora no governo Temer (PMDB) esses ataques se intensificam. A reforma agrária
foi enterrada de vez, a FUNAI esta sendo sucateada – sucateamento que caminha
no sentido de fortalecimento da PEC 215 que tramita no congresso nacional, na
flexibilização do código florestal, na reforma do código mineral entre outros
projetos. Todos esses projetos são extremamente nocivos ao meio ambiente e aos
povos do campo, das águas e das florestas. Mas os ruralistas não aceitam
qualquer tipo de questionamentos, pois afinal de contas eles são “os salvadores
da pátria”, “os senhores do progresso e do desenvolvimento”. Dai que ficaram
tão indignados com a ousadia da Imperatriz Leopoldinense. Mas, por mais que
queiram nem todos se curvam as suas vontades. Nem todos aceitam o seu dinheiro
sujo para defender ou se calar diante das mazelas que estes senhores nos
impõem.
Nesse carnaval
estaremos juntos com a Imperatriz Leopoldinense cantando a pleno pulmões:
“Jamais se curvar, lutar e aprender, escuta menino, Raoni ensinou. Liberdade é
o nosso destino. Memória sagrada, razão de viver. Andar onde ninguém andou.
Chegar aonde ninguém chegou. Lembrar a coragem e o amor dos irmãos. E outros
heróis guardiões. Aventuras de fé e paixão. O sonho de integrar uma nação”. Em
uma conjuntura de intensificação da ofensiva ruralista mais do que nunca
precisamos nos integrar – camponeses pobres, indígenas e quilombolas. Na luta
contra esse modelo hegemônico que concentra terras e riquezas na mão de uma
minoria e devasta os nossos recursos naturais e as comunidades tradicionais.
Pedro
Ferreira Nunes – É Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.