Divididos em duas partes, o documentário mostra a partir da ótica de uma das famílias pioneira do Projeto, a história e os desafios enfrentados ao longo de 7 anos. Entre os desafios está a busca por mais apoio do poder público e acesso a crédito para que possam investir e desenvolver ainda mais a cadeia produtiva de pescado em tanque rede. Mesmo com as limitações, a força coletiva do Projeto tem conseguido superar os desafios e garantir renda e melhor qualidade de vida as familias que ali vivem.
Apesar de produzido de forma amadora, sem grandes recursos técnico, o documentário consegue nos levar para dentro do projeto mostrando a sua dinâmica a partir da fala daqueles que o constrói. Com isso evidência uma realidade pouco conhecida da comunidade local.
Aí está um dos méritos não só do documentário como também do Projeto Educação Ambiental e Biossegurança do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência – a valorização da sabedoria popular e mostrar que é possível uma relação responsável com o Meio Ambiente.
Nesse sentido um ponto importante ressaltado é a diferença entre a Criação de Peixe em tanque rede e a Pesca Artesanal. Enquanto na primeira, com planejamento e organização, você tem uma produção garantida de pescado. Na segunda é preciso contar com a sorte, além da necessidade do respeito ao ciclo da natureza, algo que nem todo mundo faz, e acaba pescando em períodos que não deveria pescar (como a época de reprodução dos peixes, popularmente conhecida como Piracema). Sem falar na pesca predatória com redes e tarrafas, que certamente é um dos fatores que contribui para o aumento da escassez de Peixe no Rio Tocantins (Um dos fatores pois não podemos nos esquecer dos impactos gerados pela construção de UHEs).
O fator econômico não pode deixar de ser ressaltado. Além de fonte de sobrevivência para famílias que vivem da criação de Peixe em tanque rede no Parque Aquícola Miracema-Lajeado, há um potencial de movimentação de toda uma cadeia de serviço, gerando emprego e renda. Já o consumidor tem a garantia de ter na sua mesa um produto com origem. O que em tempos de consumo consciente (pelo menos no discurso) é um fator primordial.
Dito isso é importante salientar o que diz Maria Lúcia de Arruda Aranha sobre o consumo. De acordo com essa autora (2003) “O consumo consciente supõe, mesmo diante de influências externas, que a pessoa mantenha a possibilidade de escolha autônoma”. Outro ponto importante do consumo consciente, de acordo com nossa autora, é que ele “nunca é um fim em si, mas sempre um meio para outra coisa qualquer”. Isto é, mesmo com a propaganda, optamos por consumir determinado produto pois acreditamos que isso contribuirá para determinado fim. No caso do peixe criado em tanque rede, a proteção ao meio ambiente ao não fortalecer práticas predatórias.
Enfim, o documentário é uma oportunidade para quem não conhece o Projeto Parque Aquícola Miracema-Lajeado conhecê-lo. A lente da Câmara nos pega na mão e nos leva para dentro da realidade vivida por Geandro e família. Em meio a uma paisagem exuberante, você entenderá por que mesmo em meio a adversidades, eles falam com tanto amor e entusiasmo do Projeto. Afinal de contas, lembrando da fala da jovem Gislaine, fazer o que se gosta, num lugar desses, tendo a liberdade de ir e vir, não tem preço.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.
Parte 01