As pessoas que estavam circulando, naquele domingo á tarde, na Praça das Crianças, em Lajeado. Olhavam á distancia, com um olhar desconfiado, a aquela trupe. Já as crianças, naturalmente curiosas, não só olharam, logo se aproximaram e foram convidadas a assistir os espetáculos. E assim o receio inicial diante do diferente, foi desaparecendo a medida que uma criança saía deslumbrada falando para as demais da experiência que tivera. O resultado foi uma maratona que exigiu da Trupe muita disposição.
As crianças, estavam tendo a oportunidade de ter uma experiência estética que não é muito comum no interior tocantinense – carente de eventos culturais mais diversificado, sobretudo na área das Artes Cênicas. E ai está um dos méritos desse Projeto contemplado com recursos estaduais da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc. Além do Lajeado, que foi escolhido para ser o lugar de encerramento do Projeto. A Trupe também esteve em Taquarussu (Palmas), Porto Nacional e Paraíso.
Utilizando o Teatro Lambe Lambe, o Circo de Caixeiras consistia na apresentação de três
No olhar de encantamento da criançada naquela tarde em Lajeado podíamos sentir o impacto daquela experiência. Elas circulavam entre uma caixa e outra comentando entre si qual espetáculo mais haviam gostado e qual havia sido o mais divertido. Foi interessante notar que para alguns o mais divertido, não foi necessariamente o que mais gostaram. Alguns assistiam o espetáculo até mais de uma vez. E Giovana com todo o seu jeitinho calmo perguntava: - Você quer assistir de novo por que gostou muito ou por que não entendeu a estória?
Alguns olhavam curiosos para aquela engenharia jurando que dava conta de fazer: - É só pegar uma caixa de papelão. Você vai ver. Vou fazer uma para mim. E aparentemente parece ser fácil. Mas não é tão fácil assim. Requer muito profissionalismo para que o simples consiga ti transportar para outra realidade, tal como fez a Trupe.
Muitas daquelas crianças nunca tiveram a oportunidade de ir ao Teatro. E talvez, já mais terão. Mas naquela tarde, por alguns instantes, era como se eles tivessem no Teatro. Como disse Ester – é uma experiência que muitos deles já mais vão esquecer. Foi desse comentário que me veio a ideia de experiência estética marcante.
De acordo com Erikson Rodrigues do Espírito Santo (2019) “a partir do momento em que o ser humano se encontra maravilhado com a totalidade do percebido por conta do seu estado estético diante de uma obra de arte, sua percepção deixa de ser utilitária e passa a ser estética, nesse instante acontece a experiência estética.”
Me emocionei assistindo os três espetáculos, mas me emocionei mais ainda ao ver a alegria no olhar das crianças. E ali percebi a importância de propiciarmos experiências estéticas para elas. Nós que trabalhamos com o Componente Curricular de Arte na Educação Básica, sobretudo no interior. Sabemos o quanto isso é difícil. Por isso projetos como o da Trupe-Açu são bem-vindos. Esperamos que isso possa se repetir mais vezes na nossa cidade. Para tanto o apoio do poder público é fundamental.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.