Descobri o som da banda no instagram e imediatamente fui atrás de mais material para saber de quem se tratava. A pegada blues rock, as letras e o vocal rouco do Mário Bortolotto me fisgaram. Aliás, a performance do Botolotto foi algo que me chamou atenção. Até porque tratava-se de alguém que não me era estranho. No entanto como um personagem do Teatro e não como músico. Fui então atrás de mais informações e descobri que não se tratava de uma performance pontual mas um trabalho que já tem na sua discografia quatro discos. A partir daí esses discos passaram a fazer parte da minha playlist. Em especial algumas músicas cujo as letras são belos poemas marginais.
“Agora me diz o que é que eu vou fazer/mandar tudo a Merda pensando em você/e a passagem pro inferno em dias assim/o rato avisou que o queijo tava no fim”. Com uma linha de guitarra que dá o tom de dramaticidade da canção, inicia “balada para quem não me quis”. Que é na verdade a história de um clássico pé na bunda. No entanto, ao invés de virar revolta vira poesia: “eu não prometi nenhum paraíso/pra ter você, fiz o que foi preciso...”. Em outro trecho ele canta: “o dinheiro na cama, uma puta de saideira/seu retrato nua pregado na geladeira/os amigos no bar, a noite que me vomita/e agora toda essa paz... pro resto da vida...”.
Em “acordo com mulher” a história anterior se repete. “ela me propôs protelar o inevitável fim/sexo todo dia uma garrafa de Jim Beam/ela me propôs não ter amigos chatos/isso é quase impossível/vai pra casa do caralho”. Se anterior está mais para o blues. Essa pende mais para o lado do rock. O refrão é daqueles para ser cancelado por feministas: “então baby faça o que você quiser/faço acordo com diabo mas não faço com mulher”. E assim temos o inevitável fim. Apesar dele confessar que ama ela num determinado trecho. No entanto não está disposto a ceder.
Em “nossa vida não vale um chevrolet” temos mais uma canção que mostra a potência da banda. Aqui eu chamaria atenção sobretudo para a parte instrumental, em especial a linha de guitarra. Já a letra é uma reflexão sobre a vida – uma vida fudida que não irá mudar pois ele é assim e ponto. É a sua natureza. Num trecho ele canta: "Há muito tempo você anda comigo/você sabe eu me ferro, eu xinho, eu brigo...”. Adiante ele afirma que isso não vai mudar, por que ele é mau por natureza.
“Tô saindo fora, baby/tô chutando a porta./Tô saindo fora, baby/tô pulando a janela”. Assim começa “vulgar” – num ritmo acelerado. A canção segue a linha das anteriores que perpassa pela temática das aventuras e desventuras amorosas. Aqui, não é ela, mas ele que põem um ponto final na história: "você vulgarizou a palavra amor/ eu tô um trapo, um pobre coitado/ se eu tô feliz, eu desagrado/ se eu tô triste, eu encho o saco”.
“Se eu tivesse grana hoje” é outra canção que merece referência aqui. “Se eu tivesse grana hoje eu não marcava/eu comprava uma garrafa de whisky/eu fazia um interurbano e conversava com você até o fim da madrugada”. A banda também faz algumas versões. Entre elas “Laura, Laura”. Se começamos falando em pé na bunda com uma balada para quem não me quis. Aqui o pé na bunda quem dá é ele: "Laura, Laura sua trouxa/pega seus barulhos e ripa fora daqui/faz tempo que eu ti falo, você não serve para mim”.
Eis ai alguns exemplos para mostrar a força poética das composições do Mário Bortolotto para o seu Saco de Ratos. Óbvio que com a música a potência dessas letras é muito maior. Por tanto não deixe de ouvir. Os discos podem ser facilmente encontrado nas plataformas digitais como o youtube. Ao invés de ficar se alimentando de ressentimento através da música pop brasileira, em especial o sertanejo moderno. Eis ai uma música que faz a gente encarar o fim de uma relação de uma forma mais humorada.
Por Pedro Ferreira Nunes – um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.