Pensando a política racionalmente, sobretudo seguindo o ponto de vista aristotélico, esse não deveria ser o ponto, ou seja o dilema entre continuidade ou mudança. Até por que quando falamos em continuidade ou mudança. Uma resposta prudente seria: depende. Pois mudar não necessariamente significa que vai melhorar. Por outro lado continuar como está não significa que não vai piorar.
Nesse sentido, mais importante do que o discurso de continuidade ou mudança, seria questionar qual o projeto que um determinado grupo tem para a cidade. É um projeto de direita ou de esquerda – liberal, socialdemocrata, conservador, comunista. Entre outros.
Costumo falar nas minhas aulas de filosofia sobre política que esta não se reduz a um processo eleitoral de escolha de representantes. Mas como um meio pelo qual a cidade em que vivemos seja aquilo que ela é. Ou seja, se é boa ou ruim é fruto do projeto político hegemônico. Se é um projeto de direita certamente a preocupação é com a manutenção dos privilégios da classe dominante. Se for de esquerda, necessariamente deve se preocupar com o bem comum.
Certamente haverá aqueles que se diram neutros. Ou seja, que não são nem de esquerda ou de direita. Esses não merecem credibilidade. São oportunistas que se comportam conforme a musica que está tocando.
Mas voltemos às eleições municipais que ocorreram esse ano.
Se o eleitor se comportace racionalmente não seria muito difícil decidir em quem votar. Analisaria os diferentes projetos em disputa. E optaria por aquele que avaliasse como o melhor para a cidade. Pois se o projeto é bom para a cidade consequentemente será bom para todos que ali vive.
Mas sabemos que não é bem assim. O comportamento passional se sobrepõe ao racional. E com isso os eleitores se tornam mais manipuláveis.
Um político hábil tem consciência disso. E por isso faz circular afetos que alimentam esse tipo de comportamento.
Um dos afetos preferidos é o medo. O medo de perder um emprego, o carro, a casa e até o que não tem. Outra estratégia é alimentar o ego das pessoas. Há indivíduos que tem o ego que não cabe em si. Sabendo alimentar isso o político o terá facilmente em suas mãos.
Nas eleições desse ano esse movimento não será diferente. Os eleitores movidos pelos seus interesses pessoais irão votar a partir desse pressuposto: Se está bom para mim irei votar pela continuidade. Se não está bom irei votar pela mudança. Os eleitos serão aqueles que melhor encarnar esses anseios.
É necessário ressaltar que nem todos se comportam assim. Ainda que estes sejam uma minoria. Mas mesmo sendo uma minoria é um exemplo que precisa ser ressaltado. Sobretudo por que apontam para a possibilidade de um dia haver uma mudança de paradigma. Ou seja, de que todos os eleitores votem racionalmente. E votando racionamente pensem no coletivo e não apenas em si.
Nesse contexto, a educação cumpre um papel fundamental – educação numa perspectiva crítica. Ao desconstruir a visão que se tem da política como um meio para se alcançar interesses pessoais (é daí que vem a corrupção). E também desconstruir a ideia de que podemos viver alheios a política. Esta é inerente a vida em comunidade. De modo que gostamos ou não, é a partir dela que se estabelece as condições de vida numa cidade. Portanto é preciso compreende-la para que possamos usá-la em nosso proveito. Não numa perspectiva individualista, mas pensando na coletividade.
Por Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.