quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Ida ao salão do livro do Tocantins

Apesar de ser um amante dos livros, da literatura – tanto que acabei me enveredando pela poesia e pela prosa – nunca havia ido a um encontro literário. Mas ao tomar conhecimento da realização da 9º edição do salão do livro do Tocantins. Vi que era a oportunidade de viver essa experiência. E assim eu fiz – joguei uma mochila nas costas, peguei um ônibus e segui rumo ao parque do povo – centro de convenções de Palmas onde estava sendo realizado o evento.

Tal como muitos amantes dos livros – estudantes, músicos, atores, poetas e escritores tocantinenses – recebi com muita empolgação a noticia da realização da 9º edição do salão do livro, ainda mais após dois anos sem o mesmo ser realizado. Pois nós que sabemos da importância da leitura e ousamos fazer literatura nesse país – um país onde à leitura não é levada a sério. Não podemos negar a importância do salão do livro para construção de uma cultura literária no e do Tocantins.

E foi com toda essa empolgação que fui ao salão do livro, participar do primeiro evento literário da minha vida. E não me arrependi, ao contrario, enlouqueci. Fiquei louco diante de tantos livros – nunca havia visto tanto livro na minha vida. Ali no meio daquele tanto de livros – eu me sentia como uma criança numa fabrica de chocolates ou num parque de diversão. Como uma mulher consumista num shopping center ou melhor – um cão faminto diante de uma vitrine de carnes num açougue.

- Ah, como queria ter muita grana para comprar muitos livros – um caminhão de livros. Diante disso ficar ali passou a ser uma tortura – ver e não poder levar – não poder levar tanta coisa boa que não encontramos no dia a dia. Mesmo sem muita grana consegui comprar alguns livros – coisas finíssimas que há muito tempo procurava – mas eu queria muito mais. E foi por isso que tive que sair dali rapidamente para não enlouquecer mais ainda.

Mas a verdade é que foi uma experiência incrível a minha ida na 9º edição do salão do livro do Tocantins – um amante de livros tal como sou não poderia ser diferente. Imagino o tanto de gente que não teve a mesma sensação. Especialmente as crianças e jovens que por ali estiveram pela primeira vez. Espero que este importante evento nunca mais saia do calendário de atividades realizadas pelo governo do Tocantins.

O salão do livro é um patrimônio do povo tocantinense – um instrumento importantíssimo para construção de uma cultura literária no e do Tocantins. E por isso precisa ter continuidade independente do governo de plantão. Aliás, que o salão do livro seja uma politica de estado e não de governo. E que os organizadores possam a partir do ano que vem fazer ações para interiorizar o salão do livro.

Pedro Ferreira Nunes é poeta, escritor e educador popular.


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Patrimônio histórico e cultural na serra do Lajeado esta ameaçada de acabar em até 10 anos

O alerta foi da Arqueóloga Drª Julia Cristina de Almeida Berra do IPHAN, numa palestra sobre a arte rupestre da serra do Lajeado, no encontro internacional de arte e cultura realizado nos dias 17 e 18 de setembro na cidade de Lajeado do Tocantins. A Drª Julia Cristina afirmou que o estado de conservação das pinturas rupestres é péssimo e com mais duas queimadas, tal como a que aconteceu recentemente no município, essas pinturas poderão desaparecer.

A arte rupestre da serra do Lajeado é um patrimônio histórico e cultural pouco conhecido pela população tocantinense, desconhecida, sobretudo, pela população que vive na região onde se encontra os sítios arqueológicos. Desconhecimento que tem levado a destruição dessa riqueza.

Os estudos que levaram a descoberta dos primeiros sítios arqueológicos nessa região iniciaram-se com a construção de Palmas. Hoje existem 52 sítios ao todo. A arte rupestre encontrada na serra do Lajeado tem como característica a variedade de pinturas, algo que não se encontra em outros sítios arqueológicos pelo Brasil. Essa característica também mostra que a região fora habitada por povos nômades diversos.

Não há estudos que apontam quem fez estes desenhos. Ou que aponta um período preciso de quando foram feitas. Alguns são bem antigos, outros mais recentes. Pesquisadores acreditam que estes desenhos podem ter sidos produzidos entre 12 a 7 mil anos. O fato desses povos terem sido exterminados dificulta os estudos para saber a origem dessa arte.

Descaso do poder público, Falta de estrutura para fazer pesquisas e poucos profissionais

Essa é a realidade de quem faz arqueologia no Tocantins, como bem colocou o professor Drº Marcos Aurélio Câmara Zimmermann da UNITINS. Na discussão sobre artefatos líticos e cerâmicos com o professor Drº Marcos Aurélio ficou claro que o descaso do poder público, a falta de estrutura para fazer pesquisas e a escassez de profissionais reflete no fato de que não é possível dar conta da demanda existente no Tocantins.

A discussão mostrou também a responsabilidade da comunidade na proteção desse patrimônio histórico e cultural. No entanto para que a população possa desempenhar este papel é preciso que ela tome conhecimento disso – da importância dessas riquezas históricas. Dai a necessidade da educação patrimonial nas escolas. Mas cabe ao poder público garantir através de leis a estrutura adequada para concretizar essa proteção.

Outra questão importante colocada pelo professor Marco Aurélio foi à necessidade da construção de um museu na cidade de Lajeado para que os objetos explorados nos sítios arqueológicos da cidade, que estão hoje num museu em Porto Nacional possam retornar para Lajeado. É preciso também que a câmara de vereadores aprove o quanto antes leis para garantir a preservação do patrimônio histórico e cultural tal como foi feito em outros municípios tocantinenses, por exemplo, Palmas e Gurupi.

O quadro apresentando pela Arqueóloga Julia Cristina e pelo Professor Marcos Aurélio sobre a situação da arqueologia no Tocantins – arte rupestre e os artefatos líticos e cerâmicos – não é nem um pouco animador. O risco da perda desse patrimônio histórico e cultural é eminente. Especialmente a arte rupestre. Nesse sentido é fundamental que o poder público e a comunidade tocantinense em geral despertem para necessidade de preservarmos essa riqueza. Riqueza que pertence a todos nós. E que é preciso que nos apropriemos dela de forma consciente – nas escolas, nas universidades, entre outros espaços – para podermos preserva-la.

O encontro internacional de arte e cultura do município de Lajeado

Além da discussão sobre arte rupestre na serra do Lajeado e dos artefatos líticos e cerâmicos nos
sítios arqueológicos do município de Lajeado. Discutiu-se a cosmologia do povo xerente, a necessidade da educação patrimonial nas escolas e o nucleamento inicial de Lajeado a partir de 1850.
Realizou-se também no encontro oficinas de argila, cestaria, fantoche e lítica. Apresentações culturais das escolas – teatro e dança. Apresentação de artistas populares – musica, literatura de cordel, fantoches e exibição de filmes.

A exposição de artefatos líticos e cerâmicos de Lajeado organizado pelo Núcleo tocantinense de arqueologia foi um dos pontos altos do encontro. Como também a exposição dos trabalhos artesanais feitos pela Associação das Mulheres Artesãs.

Aliás, o encontro internacional de arte e cultura do município de Lajeado foi organizado e realizado pela Associação das Mulheres Artesãs – AMAE. E foi com certeza um marco importante para cultura da cidade de Lajeado como também do estado do Tocantins. Resgatar a historia do município e preservar o patrimônio histórico e cultural invejável que o Tocantins possui, e especialmente a cidade de Lajeado, é dever de toda a sociedade. E este encontro realizado pela AMAE foi com certeza o primeiro passo nesse sentido.

Diante disso é fundamental que outras edições desse encontro possam se realizar, para que a cada ano possamos discutir, debater e apontar – sociedade e poder público – ações para preservar esse patrimônio histórico e cultural.


Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Breve reflexão sobre o processo das conferências públicas no Brasil



Não é de hoje que tenho uma posição critica as conferências realizadas pelo poder público tanto a nível regional como nacional. Especialmente a partir do momento que tomei conhecimento de que as políticas aprovadas coletivamente nestes espaços são simplesmente engavetadas pelos governos de plantão. Podemos apontar um exemplo emblemático – a conferencia nacional de comunicação realizada em 2010, onde uma série de questões para democratização da mídia no Brasil – foram aprovadas, mas cinco anos depois, nenhuma saiu do papel.

Há vários outros exemplos, o que careceria de um estudo mais aprofundado para aponta-los, o que não é o objetivo desse breve artigo, fica ai por tanto a tarefa para nossa academia. O que proponho aqui é uma breve reflexão sobre o processo das conferencias – se de fato estão cumprindo o seu papel que é de debater, propor e elaborar coletivamente politicas públicas para melhorar a vida da população. 

Ora, se as decisões levantadas nestes espaços são simplesmente engavetadas não é desperdício de dinheiro público a sua realização? Pois é de conhecimento de todos que não é barato o custo para realização das conferencias – gasto com material impresso, camisetas, transporte, alimentação, hospedagem entre outros. Tudo isso com recursos públicos para realizar uma farsa, pois infelizmente é isto que tem caracterizado estas conferências públicas. 

Outro fator a se refletir é a participação da sociedade civil organizada neste processo. Uma participação mínima. E isso é reflexo da falta de credibilidade da população neste espaço como um instrumento para construção coletiva de politicas públicas para melhorar a vida da comunidade. Nas conferências municipais, especialmente no interior essa realidade é ainda pior, poucas pessoas da sociedade civil comparecem, e os que lá vão, não participam ativamente, ficam apenas aplaudindo e levantando crachás.

Nas poucas conferências públicas que tive a oportunidade de participar como a de juventude nos municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia e das cidades em Palmas o maior numero de participantes são de burocratas ligados ao serviço público. São eles que coordenam e dirigem os trabalhos, são eles que propõem as politicas que devem ser aprovadas e são eleitos como delegados. Na maioria das vezes propostas rebaixadíssimas que mesmo assim não são colocadas em praticas – tanto no município, nem no estado e pior ainda a nível nacional.

Em uma conversa recente com uma servidora pública do município de Lajeado – ela comentava que não via sentido na realização da conferência municipal de assistência social na cidade, pois não via sentido perder tempo discutindo, elaborando e aprovando propostas que já mais seriam colocadas em praticas pela prefeitura municipal. Ela dizia saber muito bem disso, pois havia participado da conferência anterior que não tinha dado em nada.

Foi a partir desse dialogo e do acompanhamento de duas conferências públicas que se realizaram recentemente no município de Lajeado (assistência social e segurança alimentar). Que reavivou as críticas que trago comigo já há algum tempo a cerca do processo das conferências públicas no Brasil. Crítica que se tornou mais contundente ao presenciar como se dá este processo no interior – assim podemos afirmar – se nas grandes cidades as conferências tem todos os problemas que já relatamos a cima, imaginem no interior do interior do Brasil.

No Lajeado, por exemplo, grande parte das pessoas que foram convidadas se quer sabiam que iriam participar de uma conferência pública municipal ou pior ainda, não sabiam se quer o que é uma conferência pública. Na conferência de assistência social o convite para os idosos não dizia em momento algum que o evento se tratava de uma conferência, mas sim de um momento de recreação. Já na de segurança alimentar o convite dizia que era para um jantar em homenagem ao dia dos pais. Ora, que contribuição que essas pessoas podiam dar em uma discussão que elas se quer sabiam do que se tratava e  com que proposito se dava. Sem falar na desonestidade e a falta de respeito com essas pessoas que foram ludibriadas a participar dessas conferências.

Estes exemplos mostram que o próprio poder público não leva os processos de conferência a sério, que realizam por realizar, simplesmente para cumprir tabela, já que eles mesmos sabem que nada do que será aprovado ali iram colocar em prática. E se o poder público que é o responsável por efetivar as políticas que são aprovadas nestes espaços não leva as conferências a sério. Qual o estímulo à população tem para participar? E assim segue a realização das conferências públicas no Brasil.

Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Campos Lindos: Celeiro do agronegócio é a pior cidade para se viver no Tocantins

Plantação de soja irrigada em Campos Lindos
É o que revela o levantamento do IPEA (Instituto de Pesquisas e Estatísticas Aplicadas) divulgado recentemente. A cidade que esta localizada na região do nordeste tocantinense, na divisa com o Maranhão, tem 9. 408 habitantes, e é uma das maiores produtoras de grãos do estado. No entanto as riquezas produzidas pelo agronegócio em vez de melhorar a condição de vida de quem vive em Campos Lindos e região, simplesmente gera mais desigualdade social.

Este não é o primeiro levantamento que mostra a desigualdade social e a miséria no meio rural tocantinense. Outros estudos já mostraram que o avanço do agronegócio no Tocantins tem gerado mais miséria do que desenvolvimento para população desses territórios. Isso se dá pelo fato de que o modelo de desenvolvimento no campo brasileiro busca o lucro e não a melhoria das condições de vida da população. Um modelo que gera riquezas apenas para burguesia agrária – para as multinacionais que atuam no campo e para os latifundiários.

Com a omissão do estado e a anuência da justiça – vários camponeses perderam suas terras em Campos Lindos para dar lugar à monocultura da soja. Tal politica foi responsável para que o município alcançasse o triste titulo de pior cidade do Tocantins para se viver.  Pois as riquezas produzidas pelo agronegócio bem como o desenvolvimento e o progresso prometido chega apenas para alguns, alguns poucos privilegiados que mantem suas riquezas graças à miséria de muitos.

Recentemente o ministério da agricultura comandado pela senadora Kátia Abreu (PMDB) lançou o programa ‘classe média no campo’, o objetivo segundo a ministra – é combater a desigualdade social no meio rural. O que não passa de marketing politico, um engodo a população campesina. Pois o programa não enfrenta a questão principal que gera a desigualdade e a miséria no campo – que é a grande concentração de terras na mão de poucos. Qualquer programa que não paute uma reforma agrária de fato neste país, não passa de enganação. Não resolve a questão da desigualdade, da violência e da miséria no meio rural.

O levantamento que revelou que Campos Lindos é a pior cidade para se viver no Tocantins. Não nos causa espanto, pois sabemos muito bem a que e a quem serve o agronegócio, e não é aos campesinos ou muito menos ao povo trabalhador das cidades. O que nos causa espanto é o fato de que esse modelo agrícola baseado na grande concentração de terras, na monocultura, na destruição ambiental, na contaminação de alimentos com uso de agrotóxico, no trabalho escravo e na violência contra camponeses, indígenas e quilombolas só tem avançado cada vez mais. Isso sim nos causa espanto.

Por isso gritamos: Para combater a desigualdade social, a miséria a violência no campo – reforma agrária já!

Pedro Ferreira Nunes
Militante do Coletivo José Porfírio

“Reforma agrária é uma luta de todos e aqui de novo viemos reafirmar – uma aliança entre o campo e a cidade, pois a verdade amanhã triunfará. Não adianta inventar outros caminhos,por que já mais vão conseguir nos convencer – capitalismo nunca foi de quem trabalha – nossos direitos só a luta faz valer.”

Zé Pinto

terça-feira, 1 de setembro de 2015

2º Festival de poesia ‘elitizada’de Palmas

A segunda edição do festival de poesia falada realizada pela prefeitura de Palmas poderia mudar de nome – em vez do atual, poderia passar a se chamar – festival de poesia elitizada. Um nome bem mais apropriado diante de uma burocracia exagerada para se inscrever e participar do evento.

É inegável a importância de um festival de poesia em um estado onde não há uma grande tradição literária. Onde os poetas e os amantes da poesia têm pouco espaço e incentivo para produzir e divulgar sua arte. Nesse sentido não há como negar a importância dessa rara exceção. Exceção mesmo já que não há no Tocantins e até mesmo no resto do Brasil um festival de poesia com uma premiação interessante.

Não que a premiação de mais de 27 mil reais seja o que dá importância ao festival, o importante é ter um espaço para os poetas e os amantes da poesia divulgar sua arte – e assim fortalecer a poesia feita no Tocantins, bem como despertar o gosto pela leitura de poesia em novos leitores e, por conseguinte formar novos poetas. Porém não podemos negar a importância da premiação que com certeza é um grande incentivo para os poetas tocantinenses produzir, publicar e divulgar suas obras.

Porém quem lê o edital do 2º festival de poesia falada de Palmas em vez de se sentir estimulado a participar logo se desanima. É tanto documento, tanta exigência, tanta burocracia que desmotiva qualquer um. Ora, para que tanta burocracia para se inscrever num festival de poesia falada? Para que tanta documentação? Até parece que vamos abrir uma firma. Os organizadores deste festival só podem esta com a cabeça no século passado. Se utilizassem minimamente os meios tecnológicos que temos hoje, 90% da burocracia existente no edital seriam evitadas.

Tanta burocracia só tem um sentido – elitizar o festival de poesia falada. Pois serão poucos que terão condições para correr atrás de tanta documentação para se inscrever. Nesse sentido poucos poetas populares, sobretudo no interior do Tocantins terão condição de participar. Pois conhecendo bem a realidade de quem faz poesia, sobretudo poesia popular, não tem condições estruturais para atender tantas exigências burocráticas.

A que serve um festival de poesia elitizada? Com certeza não é para fortalecer os poetas e muito menos a poesia feita no Tocantins. Quanto mais democrático for o festival melhor para a literatura tocantinense – pois só um festival verdadeiramente democrático possibilita o surgimento de novos poetas, sobretudo poetas populares como também novos leitores de poesia. Com este modelo de festival elitizado e burocratizado não conseguiremos fortalecer os poetas e a poesia feita no e do Tocantins.

Quem tiver saco para atender tanta burocracia boa sorte. Eu não tenho. E como protesto não irei participar do mesmo. Quem sabe numa futura edição?! Espero que nas próximas tenhamos um festival menos burocrático e mais democrático.

Pedro Ferreira Nunes

Poeta, escritor e educador popular

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Breves comentários sobre a conjuntura nacional III

‘’Tem que respeitar o voto’’

Essa é a frase mais utilizada nas ultimas semanas pela presidenta Dilma Rousseff. É um argumento um tanto frágil para defender o seu governo de um possível processo de impeachment. Ora o povo não é obrigado esperar quatro anos para tirar um governo que não esta correspondendo aos seus anseios. Aliás, deveria si aprovar uma lei no congresso nacional dando instrumentos para o eleitor revogar mandatos de políticos que não estão cumprindo o seu papel de representantes do povo.

Impeachment?!

Com isso não estou defendendo o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Por tanto não me venham acusar de golpista ou de fazer o jogo da direita. O fato é que até o momento não há nada que justifique a instauração de um processo de impeachment contra Dilma, faze-lo neste momento é golpismo. Porém a população tal como pediu o fora Collor, pediu o foro FHC, pediu o fora Lula no episodio do mensalão, tem todo o direito de pedir o fora Dilma. Agora conseguir é outros quinhentos.

Vale tudo

Ouvir a presidenta Dilma criticando o vale tudo eleitoral foi um tanto cômico. Logo ela que praticou magistralmente o vale tudo eleitoral durante a campanha de 2014. Ora, Dilma e o PT não tem nenhuma moral em criticar algo que começou com eles. Agora o feitiço virou contra o feiticeiro.

Mais uma vez PT X PSDB

O PSDB acusa o PT de fazer tudo que ele fez. E o PT faz tudo aquilo que criticava o PSDB de fazer. O que significa que o si o PSDB voltar ao poder não fará nada de diferente do que o PT esta fazendo. Por tanto precisamos construir uma alternativa que vai além destes dois projetos que no fundo é um só.

Parlamentarismo é a saída?!

É o que vários partidos como PV, PPS entre outros estão dizendo. Será mesmo? Se com o poder que o parlamento brasileiro tem hoje já tem tantos mensalões, tantas falcatruas. Imagine si eles tiverem em suas mãos o poder de tirar e colocar ao seu bel prazer quem deve comandar o país. Ora, esse poder deve esta nas mãos do povo e só do povo.

Ajuste fiscal

Aprovar as medidas que retiram direitos dos trabalhadores no congresso nacional não foi difícil. Até parlamentares do PSDB e do DEM votaram com o governo. Agora quando esta em discussão medidas que onera as empresas a coisa mudou totalmente de figura. E estes senhores ainda tem a cara de pau de dizer que estão defendendo os interesses dos trabalhadores.

Mais sobre o ajuste fiscal

Vejam só o caso do PT e do PC do B que recusaram-se a assinar um manifesto de organizações populares que criticam o ajuste fiscal. Isso mostra que o discurso em defesa dos trabalhadores é simplesmente farsa destes partidos. No fundo eles estão comprometidos com um projeto que tenta jogar nas costas do trabalhador a conta de uma crise que não foi criada por eles.

“Estado mínimo”

A velha palavra de ordem neoliberal esta na moda novamente. Apontando um caminho que nós sabemos muito bem onde nos levará. Estes senhores parassem se esquecer que foi a logica neoliberal que trouxe a situação catastrófica que nos encontramos hoje. Parecem se esquecer que foi as politicas neoliberais que culminou com a crise que eclodiu nos EUA e na Europa em 2008. A verdade é que não esqueceram, estão apenas fingindo, o que eles sabem fazer com maestria.

Enxugar a maquina pública

O corte de ministérios tem sido apontado como uma das soluções para superar a crise politica, econômica e social que vivemos no Brasil. Tal proposta vai de encontro com a logica neoliberal da politica de estado mínimo – que na verdade é mínimo para o trabalhador e máximo para o capital. Deixemos de ingenuidade, não será cortando ministério que resolveremos a crise que o país enfrenta. O problema não é o numero elevado de ministério, que sinceramente não sei se é tão elevado assim. O problema é a logica de funcionamento dos mesmos. É o loteamento de cargos, é o aparelhismo politico partidário e a corrupção existente nestes órgãos. Ai sim esta o problema.

Esquerda x Direita

Essa falsa polarização entre esquerda x direita que estão tentando nos enfiar goela abaixo hoje no Brasil não existe. É uma disputa que infelizmente não esta colocada em pauta. Digo infelizmente por que gostaria muito que assim fosse, mas não é. A disputa que esta colocada hoje não são entre projetos antagônicos, salvo pequenas diferenças, PT e PSDB representam projetos complementares.

Desde quando um governo que tem em sua composição PT, PMDB, PR, PP, PRB, PROS, PC do B, PSD entre outros pode ser considerado de esquerda? Um governo que privatiza, retira direto dos trabalhadores e criminaliza a luta do movimento popular? Tentar colocar nas costas da esquerda as ‘merdas’ que o atual governo faz é pilantragem. Tal discurso busca apenas confundir a população. E que acaba sendo reproduzido por uma cambada de ingênuos que trocam alhos por bugalhos. Massa de manobra que faz de boatos verdades absolutas.

A revolução não será televisionada

Não há como não comparar à cobertura da mídia brasileira das manifestações lideradas pela direita com o papel da imprensa venezuelana no episódio do golpe contra o governo Hugo Chaves retratado no documentário ‘a revolução não será televisionada’. Percebe-se muito bem a que interesses estes senhores da grande impressa na América latina servem. Até quando vamos esperar para fazer uma reforma agraria na mídia brasileira e latino americana?

Boas exceções 

Recentemente com um especial intitulado ‘Trotsky e a lata de lixo da historia’ da TV Brasil no programa observatório da imprensa. O especial que foi dividido em dois episodio resgata a historia e o pensamento desse grande revolucionário da causa socialista. Mostrando que o seu pensamento esta mais atual do que nunca, sobretudo nesse período de avanço de ideias conservadoras. O programa mostrou magistralmente que Leon Trotsky esta hoje no lugar onde deveria esta e não na lata de lixo que o stalinismo tentou lhe jogar. Aqueles que o assassinaram é que hoje estão na lata de lixo da historia.

Diante disto não poderíamos deixar de falar que a imprensa brasileira não é feita apenas de reacionarismos. E a TV Brasil e o programa Observatório da Imprensa são gratas exceções.

Carta à nação

O manifesto assinado pelas principais organizações patronais apontando saídas para crise politica, econômica e social mostra que a direita esta unida e tem um projeto definido para o Brasil. Enquanto a esquerda bate cabeça e briga entre si.

É isso por enquanto...

Pedro Ferreira Nunes

Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Crônica: E os muros invadem o interior.

Quem anda pelas ruas de alguma cidade do interior tocantinense dificilmente encontrará aquela famosa cena de pessoas sentadas na porta de suas casas conversando animadamente com os seus vizinhos a cerca de questões cotidianas. Infelizmente essa cena tornou-se algo raro de si ver pelo interior. As ruas da cidade estão vazias, enquanto as pessoas estão escondidas atrás de muros.

Isso mesmo –muros. Os muros tornou-se uma presença cada vez mais constante nas residências de cidades interioranas. O que era raríssimo há doze anos tornou-se comum. Os muros se propagam isolando as pessoas em suas residências privando-as do que o interior tem de melhor que é a convivência harmoniosa entre as pessoas e a paisagem exuberante.

Os muros são comuns em grandes cidades, especialmente nas capitais. Aonde as relações sociais são mínimas. Muitas vezes você passa um mês ou mais sem ver o seu vizinho do lado, sem trocar uma palavra com ele. Pois cada um esta preso em suas casas, em suas vidas – esquecessem-se de si relacionar com quem esta do seu lado. E agora tal realidade também esta chegando no interior.

Antigamente eram até comum as cercas de pau ou de arame farpado no interior. Esta, no entanto não isolava as pessoas. Era mais uma proteção para que animais não invadissem os quintais para comer a plantação. Aliás, as plantações de legumes, verduras e frutas são cada vez mais raras nos quintais, agora é o cimento que reina ou então o uso de veneno para matar os matos e que acaba matando também o solo.

Hoje em dia o muro tornou-se um objeto de desejo de todos aqueles que têm ou conseguem adquirir uma casa. O que mais ouvimos daqueles que ainda não construíram o seu muro é que não veem a hora de conseguir. Tal obsessão si dá pela busca de privacidade e segurança. Pelo menos é isso que dizem.

O fato é que não é se escondendo atrás de muros que estaremos mais protegidos. Si assim fosse os índices de criminalidade nas grandes cidades seriam mínimas. Outro fato é a questão da privacidade – ora, que privacidade quando nós mesmos publicizamos toda a nossa vida através das redes sociais?!

Aliás, as redes sociais é um muro bem mais perigoso do que o muro de concreto e de tijolos. As redes sociais cria um muro virtual dentro de nossas próprias casas, entre as pessoas que vivem sobre o mesmo teto. E assim, cada dia que se passa vamos ficando mais isolados e sozinhos. Pois nossas relações virtuais são apenas relações virtuais. No entanto as pessoas estão tão fechadas dentro de si que são incapazes de perceber que si tornaram escravas de um mundo de ilusões. Que estão presas em celas criadas por elas mesmas.

Mais ainda há tempo. Que os muros virtuais e reais possam cair. Que ao menos uma vez por semana possamos ocupar as calçadas em frente nossas casas – ascender uma fogueira, preparar um mate ou um cafezinho, picar aquele fumo de corda e conversar sobre as questões cotidianas da nossa cidade.

Pedro Ferreira Nunes

Poeta, Escritor e Educador Popular.